sábado, 20 de agosto de 2016

Carlos Castaneda e a Fresta entre os Mundos
Vislumbres da Filosofia Ānahuacah no Século XXI
por

Luis Carlos de Morais Junior

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Fenda entre os mundos

Carlos Castaneda e a Fresta entre os Mundos
Vislumbres da Filosofia Ānahuacah no Século XXI
por
Luis Carlos de Morais Junior







Dedico os Vislumbres ao povo brasileiro










Soneto 7

Luis Carlos de Morais Junior

Nagualismo? Não importa o que isso seja!
Minha religião é o universo...
Fluxo turbilhonante aonde adeja
A força clara e rútila do verso.

Chego a pensar que seja um pluriverso
Que ruge e ri, se harmoniza e troveja.
Está em si e além, é o verso e o inverso,
E então renasce, quando se deseja

Com desejo profundo e bem sincero.
Seu nome é Eros, mas tem qualquer nome
Porque é uma fera; urge, sente fome

E arde em fogo que nunca se consome.
É Ouroboros, e, com todo o esmero,
Ele me gera e (ao mesmo tempo) o gero.

(In Sonetos)






Aruskipasipxañanakasakipunirakïspawa
(É meu conhecimento pessoal que é necessário para todos nós, inclusive você, fazer o esforço de nos comunicarmos)

Abape arapora, oicó, nde jabé? (Que criatura há, como tu?)

Pila de sangre bendita,/lo bautizó, Santos Niebla:/por la niebla de la historia,/la cerrazón de la tierra/y el polvo de aquella carga/donde lo besó una estrella!
(Pia de sangue abençoado/batizou Santos Niebla:/pela névoa da história,/a cerração desta terra/e o pó daquela carga/onde o beijou uma estrela)

There is no dark side of the moon really. Matter of fact it’s all dark.
(Não há lado escuro da lua realmente. Na verdade é tudo escuro.)

O melhor lugar do mundo é aqui e agora

Mas onde otro criollo pasa/Martin Fierro ha de pasar;/Nada lo hace recular/Ni los fantasmas lo espantan,/Y dende que todos cantan/Yo también quiero cantar.
(Mas onde outro “criolo” passa/Martin Fierro há de passar;/Nada o fará recuar/Nem os fantasmas o espantam,/E visto que todos cantam/Eu também quero cantar.)

A energia criadora expressa pelo número um indica que, aqui, todos os requisitos necessários à concretização de objetivos estão presentes. A mensagem essencial do Mago é que é preciso “acreditar” nos próprios talentos para empreender as ações que se querem realizar.
Quando esta fé está presente, abrem-se para o ser humano infinitas possibilidades e ele se torna, simbolicamente, o mago que domina o poder de “manipular as ilusões” e trazer à tona todo o seu potencial mental, emocional, físico e intuitivo. Em seu aspecto negativo traz a recusa em utilizar os talentos para o próprio crescimento e evolução.

Tepeitic tonacatlalpa, xochitlalpa nechcalaquiqueo oncan on ahuachtotonameyotimani, oncan niquittacaya in nepapan tlazoahuiac xochitl, tlazohuelic xochitl ahuach quequentoc, ayauhcozamalotonameyotimani, oncan nechilhuia, xixochitetequi, in catlehuatl toconnequiz, ma mellelquiza in ticuicani, tiquinmacataciz in tocnihuan in teteuctin in quellelquixtizque in tlalticpaque.
(Eles me conduziram para um vale fértil, uma mancha florida, onde o orvalho se espalha em brilhante esplendor, e onde eu vi várias lindas e perfumadas flores, maravilhosas flores odoríferas, vestidas com o orvalho, espalhadas na glória do arco-íris, e lá eles me disseram: “Colha as flores, as que tu quiseres, possas tu, cantor, ser feliz, e as dê aos teus amigos, aos nobres, para que eles possam se regozijar na terra”.)

Auh nicnocuecuexantia in nepapan ahuiacxochitl, in huel teyolquima, in huel tetlamachti, nic itoaya manozo aca tohuanti hual calaquini, ma cenca miec in ticmamani; auh ca tel ye onimatico nitlanonotztahciz imixpan in tocnihuan nican mochipa tiqualtetequizque in tlazo nepapan ahuiac xochitl ihuan ticuiquihui in nepapan yectliyancuicatl ic tiquimellelquixtizque in tocnihuan in tlalticpactlaca in tepilhuan quauhtliya ocelotl.
(Então, eu reuni nas dobras da minha roupa as várias flores fragrantes, perfumadas, delicadas, deliciosas, e eu disse: possam alguns dos nossos vir aqui, possam muitos de nós estar aqui; e eu pensei que deveria anunciar aos nossos amigos que todos nós podemos nos regozijar com as diferentes, lindas, olorosas flores, e que nós devemos cantar muitas canções doces, com as quais podemos alegrar nossos amigos aqui na terra, e os nobres, em sua grandeza e dignidade.)

Ca moch nicuitoya in nicuicani ic niquimicpac xochiti in tepilhuan inic niquimapan in can in mac niquinten; niman niquehuaya yectli yacuicatl ic netimalolo in tepilhuan ixpan in tloque in nahuaque, auh in atley y maceuallo.
(E aí eu, o cantor, reuni todas as flores, para colocá-las sobre os nobres, para vesti-los com elas e pô-las em suas mãos, e, logo, eu levantei a minha voz, em uma música digna, glorificando os nobres, diante da face da Causa de Tudo, onde não há nenhuma servidão.)



Sumário:

1 - A Apresentação: Nanahualtin, Nauallotl - as Histórias Alegóricas? 07
2 - As Huehuetlahtolli - as Palavras Antigas 43
3 - Os Nove Caminhos 75
4 - Os Passos de Poder (os Passes Mágicos, a Tensegridade) 79
5 - A Recapitulação 93
6 - Os Não-fazeres 100
7 - Os Pequenos Tiranos 106
8 - As Técnicas de Observação 108
9 - O Silêncio Total (o Silêncio Interior) 116
10 - A Impecabilidade 120
11 - O Ensonho 128
12 - A Espreita 139
A Inconclusão ou: os Contos da Energia 157
Anexo A: As Notas de campo de Carlos Castaneda 160
Anexo B: A Entrevista com Luiz Carlos Maciel, em 08/07/2005 176
Anexo C: A Carta de Carlos Castaneda a Robert Gordon Wasson, de 06/09/1968 198
A Bibliografia 202














1 - A Apresentação: Nanahualtin, Nauallotl - as Histórias Alegóricas?
In Nawalli In Atlakatl
(El nagual no es humano)
O Nagual não é humano
Bernardino de Sahagún

Okse nechka...
Abrimos o livro, e começa uma história.
Vemos um jovem, de idade indefinida, que tanto pode ser vinte e tantos quanto trinta e tantos anos, não é americano, mas mora nos Estados Unidos e estuda na UCLA, Universidade da Califórnia; esse rapaz viaja periodicamente ao México, com seu carro, para procurar um índio, Don Juan (mas, declara que esse não é o seu verdadeiro nome), e com ele aprender feitiçaria.
O jovem se chama Carlos, e sobre tal informação, também alega ser falsa. Em certo momento, quando Don Juan vai lhe apresentar seu companheiro de feitiçaria Don Genero, dirá algo assim: eu já lhe falei que nunca deve revelar o nome ou o local onde está um feiticeiro.
O texto do livro (que, na verdade, são vários, o mesmo aprendizado se desdobra, aprofunda e diferencia em cada novo volume) nos envolve.
O auto-retrado que Carlos pinta é de um rapaz de baixa estatura, que se considera inadequado, tímido, covarde, mal-sucedido nos trabalhos e estudos, não tem grana, é latino, e nem se sabe de onde ele é.
Parece não ter imaginação e, a cada nova revelação do aprendizado, ele vem com um monte de objeções do senso comum mais chocho; tem medo até da própria sombra, que dirá ficar sozinho na mata ou no deserto, ou encontrar com criaturas de “outros mundos”. Morre de pavor, a cada nova aventura.
E Don Juan é terrível, inclemente. E tem superpoderes, sendo, o menos escandaloso deles, talvez, ficar dias sem comer e beber água, andando pelo deserto, e tentando induzir Carlos a fazer o mesmo .
Ou, na preparação do uso da erva do diabo para voar:
/.../ Disse que ia deixá-la ali até o dia seguinte, porque seriam necessários dois dias para preparar essa segunda porção. Disse que, enquanto isso, eu não comesse nada. Podia beber água, mas não podia ingerir nenhum alimento.
No capítulo seguinte, ao preparar a mistura que Don Juan chamava de “fuminho”:
Na quinta-feira, 26 de dezembro, tive minha primeira experiência com o aliado de dom Juan, o fumo. O dia todo andei de carro com ele, e trabalhei para ele. Voltamos para casa à tardinha. Mencionei que não tínhamos comido nada o dia todo. Não se preocupou nem um pouco; em vez disso, começou a dizer-me que era essencial que eu me familiarizasse com o fumo. /.../
E haveria vários outros exemplos, ao longo da obra, do desprezo de Don Juan pela rotina da alimentação.
O velho índio o vai fazendo passar por todas as provações, que quase enlouquecem Carlos, e fazem-no sempre se sentir muito mal, fisicamente, depois.
- Confie em seu poder pessoal - falou, em meu ouvido. - É isso tudo o que temos neste mundo misterioso. /.../
Quando Dom Juan acabou de me dar todas essas instruções, eu estava praticamente em pânico. Agarrei-o pelo braço e não o queria largar. Levei dois ou três minutos para me acalmar o suficiente para poder pronunciar as palavras. Um tremor nervoso corria pelo meu estômago e abdômen, impedindo-me de falar coerentemente.
Numa voz calma e baixa, disse-me para eu me controlar, pois a escuridão era como o vento, uma entidade desconhecida à solta, que poderia pegar-me se eu não tivesse cuidado. E eu tinha de ficar inteiramente calmo para poder lidar com ele.
- Você deve entregar-se, para seu poder pessoal poder fundir-se com o poder da noite - falou em meu ouvido. Depois, explicou que ia passar à minha frente; e tive outro acesso de um medo irracional.
- Mas isto é loucura - protestei.
Dom Juan não ficou zangado nem impaciente. Riu baixinho e sussurrou uma coisa em meu ouvido que eu não entendi bem.
- O que foi que você disse? - perguntei alto, os dentes batendo.
Dom Juan tapou minha boca com a mão e disse, cochicando, que um guerreiro agia como se soubesse o que estava fazendo, quando, na verdade, não sabia nada. Repetiu uma frase três ou quatro vezes, como se quisesse que eu a decorasse. Falou:
- Um guerreiro é impecável quando confia em seu poder pessoal, sem considerar que ele seja pequeno ou grande.
Por outro lado, Carlos tem experiências maravilhosas.
Vê um universo novo e gigantesco, muito maior do que estava acostumado, e ele e seu mundo crescem página a página, com cada experiência ou aprendizado que faz.
Todo capítulo, pequeno ou grande, dependendo do livro, é uma catarse completa, geral, genial. Cada frase, quase, é uma supermartelada nietzscheana (Deleuze dirá, espinosista).
E o fato de Carlos ser um homem comum, sem especiais força, beleza, inteligência ou coragem, ou, pelo menos, se retratar assim, o tempo todo, na obra, como um Sancho Pança que vira Dom Quixote, quase sem querer, esse fator nos envolve totalmente.
E o leitor, que se julgava burro, inadequado, medroso (mas, não tinha coragem de confessar isso a ninguém), sente-se o próprio protagonista dos fatos extraordinários que lê, dos “contos de poder” que Carlos lhe conta. E intui que o aprendizado é possível, para ele, também.
O livro jorra revoluções, nas revelações éticas libertadoras e superpotentes, junto com técnicas curativas para o corpo e a alma, e uma explicação sobre como é o universo (ontológica), que não deve em nada a todas as visões místicas orientais e ocidentais que conhecemos, e que pode ser perfeitamente sintonizada e sincronizada com o estágio que a ciência alcançou nos Séculos 20 e 21 (física quântica, relatividade geral, teoria da supercordas).
“Carlos Castaneda foi um dos pensadores mais profundos e influentes do século XX. Suas idéias estão definindo a direção da futura evolução da consciência humana. Todos nós lhe devemos muito”.
Deepak Chopra
/.../
“Somos incrivelmente afortunados em ter os livros de Carlos Castaneda. Tomados em conjunto, formam uma obra que está entre o melhor que a ciência da antropologia já produziu”.
The New York Times
Mas, veja bem, este não é um relatório de certezas; esta é a saga das minhas perplexidades, ante a sua obra.
Que é somente a ponta de um iceberg.
Carlos Castaneda fez algo duplamente revolucionário, em seu trabalho de campo e relato.
Ele mudou não só os conceitos de ontologia, feitiçaria, antropologia e ciência social, como enriqueceu e tornou possível um complexo conhecimento genuíno das civilizações americanas pré-colombianas, não marcado pela visão eurocêntrica, mas deixando a tradição falar por si mesma. Segundo suas palavras: “O sistema de crenças que vim estudar me devorou”.
O outro lado da sua revolução é que ele trouxe uma possibilidade de evolução real para o ser humano, enquanto espécie e enquanto indivíduo (conectados e ao mesmo tempo independentes), através da possibilidade de nos relacionarmos com o nauallotl (o nagualismo).
Há quem defenda que ele fazia uma antropogia emic, mas, penso que a coisa vai muito mais além, bastante, mesmo.
Emic é uma visão antropológica feita em termos significativos para o agente que as realiza, a forma como inconsciente ou conscientemente o sujeito pesquisado explica para si e para a sua sociedade os motivos do costume, “descrição de dentro”.
Opõe-se à abordagem etic (que não se traduz como “ética”, se mantém, em português, na forma “etic”), que é uma “descrição de fora”, quer dizer, como os eventos e valores são observados por qualquer observador, desprovido da intenção de descobrir o significado que os agentes envolvidos lhes dão.
(O Professor Clement) Meighan limpou a garganta e olhou para o tabuleiro. “Eu o conheço desde que ele era um estudante de graduação aqui, e estou absolutamente convencido de que ele é um pensador extremamente criativo, e que ele está fazendo antropologia. Ele está trabalhando em uma área de aprendizagem cognitiva, com todo o cruzamento cultural. Ele colocou a mão em coisas nas quais nenhum outro antropólogo foi sequer capaz de tocar, em parte por sorte, em parte por causa de sua personalidade particular. Ele é capaz de obter informações que outros antropólogos não conseguem, porque ele se parece com um índio e fala espanhol com fluência, e porque ele é um ouvinte inteligente”.
(O mesmo professor Meighan, sempre tão meigo com Carlos, que o ajudou tanto e sempre o defendeu, o convidou para fazer um filme acadêmico sobre a pintura dos índios nas rochas, em sua casa em Topanga. Carlos foi, foi divertido, “it was such a picnic”, mas ele sempre se lembraria do filme no qual só aparecem suas mãos, preparando material de pintura rústico e pintando, um artista “neolítico”. Isso foi logo depois do lançamento do seu livro de estreia. )
Outros defendem que Castaneda fazia parte da tradicional prática dos feiticeiros “story tellers”, contadores de histórias, que curam e evoluem as pessoas com narrativas fabulosas (Margaret Castaneda conta que Douglas Shanon lhe disse: “Eu tenho a impressão de que Carlos é um mestre contador de histórias e isso é típico para muitos peruanos” ). Esse me parece o caso especialmente de Kay Cordell Whitaker , que assumidamente é uma xamã contadora de histórias e performer de cânticos curativos.
Porém, de novo, Carlos nos traz algo mais.
Seu quarto livro se intitula Tales of Power, “Contos de Poder” (que, na tradução em português no Brasil, de forma estapafúrdia, ficou como Porta para o Infinito), mas estes, os contos, são um passo do processo; a sua pesquisa ontológica vai muito mais além, a obra citada justamente criticando o guerreiro que se contenta só com “los cuentos”, “the tales”, as histórias, ou estabelecendo o quanto os contos de poder são como tocar na superfície do aprendizado (em Tales of Power, fala em “Testemunha dos atos de poder”, é o nome de uma das três partes, a inicial; sendo as outras duas: “O ‘tonal’ e o ‘nagual’” e “A explicação dos feiticeiros”).
Anunciou ainda um livro que seria escrito por Carol, a naguala, chamado Tales of Energy, “Contos de Energia”. Mas este, que talvez não tenha sido feito, ainda, não sabemos o que a dupla de Nanahualtin (naguais) pensava que ele seria, ou queria que ele fosse.
Já no seu The Active Side of Infinity , O Lado Ativo do Infinito, por outro lado, fala em “álbum de fatos memoráveis”, coleção de histórias reais da vida da pessoa, que servem como aberturas para o intento e como guias para o aprendizado.
Semelha que Martin Goodman tenha buscado fazer algo assim no livro I was Carlos Castaneda , a quem Martin encontra nos Pirineus franceses, logo depois da morte de Carlos, e que lhe pede o tempo todo que conte histórias de sua vida, que têm um significado revelador para ele, Goodman, e, consequentemente, para o leitor.
Carlos César Salvador Aranha Castaneda, segundo ele mesmo, nasceu no Brasil, em 25 de dezembro de 1935, no extinto município de Juqueri , hoje Mairiporã , no estado de São Paulo, e falam que era sobrinho de Oswaldo Aranha .
Porém, a pesquisa de uma repórter da revista Time, realizada em 1973, junto à imigração, o coloca como tendo nascido em Cajamarca, no Peru, nos mesmos dia e mês, só que em 1925. Margaret Runyan Castaneda declara que (ela acha que) ele nasceu no dia de Natal, em Cajamarca, só que no ano de 1926.
Ela mesma, Margaret, nasceu em Charleston, West Virginia, Kanawha County, em 14 de novembro de 1921. Ela e Carlos se casaram em janeiro de 1960, se separaram em julho do mesmo ano, mas só se divorciaram legalmente em 17 de dezembro de 1973.
Sobre ser sobrinho de Oswald Aranha, vemos no livro de Margaret Margaret Runyan Castaneda, A Magical Journey with Carlos Castaneda , que ele mesmo lhe contou isso várias vezes, assim como a muitos outros amigos e conhecidos.
A ficha catolográfica de A Erva do Diabo (23ª ed, 1993) no Brasil traz 25 como sendo a data de nascimento; eis as minudências da catalogação: ISBN 85-01-007 19-6; 93-0997; CDD - 299.792; CDU - 299.77. Vem assim classificado:
1. Castaneda, Carlos, 1925- . 2. Juan, Don, 1891-1973. 3. Índios Yaqui - Religião e mitologia. 4. Alucinógenos e experiência religiosa. 5. Conscientização. I. Título.
É claro que, no mínimo, a informação da Time está errada; muito provavelmente, todas.
Seguindo a ordem do regulamento que propõe apagar a história pessoal, ele tinha obrigação de não contar seus dados verdadeiros, nem deixar que eles fossem encontrados.
Logo, ele pode ter qualquer nome, e ter nascido em qualquer lugar da América do Sul, ou do mundo. Em uma entrevista, fala algo que nos dá a ideia de que ele poderia ser chileno:
Deixa de ser homem, macho latino, afrouxa as rédeas. Tua mãe te fez crer que eras extraordinário, porque eras um homem do Chile. Te ensinaram que as mulheres são para teu uso, como dizia Aristóteles: as mulheres são homens aleijados. O fato de que muitas mulheres, e Carol Tiggs, sejam melhores que eu, isso é revolução.
Há uns indícios perturbadores, como, por exemplo, sua competência linguística. Várias pessoas que conversaram com ele testemunham que Carlos falava com pronúncia e gírias nas línguas: inglesa, como americano e como latino (pode-se ouvir sua voz numa entrevista de rádio, com duração - editada - de 10 minutos, gravada com ele no site http://www.youtube.com/watch?v=3ihfeOpyTDc; ao ouvi-la, pelo seu sotaque, eu diria que ele é hindu!); espanhola, como peruano, chileno, argentino e mexicano; portuguesa, às vezes como brasileiro, e às vezes como português, de Portugal. Além disso, sabia jargão, hinos nacionais, cantigas folclóricas e canções infantis de todos os países latino-americanos (às vezes; para Ana Catan fingiu não saber).
Margaret Runyan Castaneda, que foi sua amiga, namorada e esposa, antes da fama, refere a admiração de Carlos pelo poema epicurista De Rerum Natura (Sobre a Natureza das Coisas, século I A.C.), de Tito Lucrécio Caro, que, segundo ela, ele estudava, e ainda comenta:
Se ele falou para algumas pessoas que ele era da terra de Lucrécio (Itália), também disse que era do Brasil, e tornou claro para mim que estava a par dos clássicos daquele país da América do Sul. No outono, me deu um dos seus álbuns, Bachianas Brasileiras nº 5, uma suíte de Villa-Lobos, uma coleção de canções populares brasileiras, com cinco árias de Puccini do outro lado. A suíte e as canções folclóricas eram em português, e Carlos parecia entender a linguagem, como aconteceria se tivesse vindo do Brasil. Até 1960, ele recebia cartas regulares de seu lar, e eu nunca prestei atenção se elas estavam ou não em português. Ele sempre as lia para mim em inglês, então eu nunca soube.
Por outro lado, talvez ele tenha escondido a verdade, como no conto “A carta roubada” de Edgar Allan Poe, que também podemos ler em francês “A carta/letra roubada/escondida”, numa análise de Jacques Lacan . Carlos pode ter apagado a sua história pessoal. contando-a realmente, sendo ele mesmo um brasileiro, e o afirmando, ninguém acreditaria que ele o era, como no caso da carta do conto, que estava o tempo todo à vista, e por isso quem a procurava em um esconderijo não a via.
No relato de Ana Catan, seu benfeitor (dela) Cesar realiza a espreita o tempo todo, como quando duvida bruscamente da seriedade de “Carlos Castaneda”:
- Você é muito tola, Ana... o que este homem escreve não passa de ficção científica!
Aquela parte obscura do meu ser teve a sensação de ter perdido uma magnífica oportunidade. A parte mais superficial teve uma crise de raiva. Comecei a gritar que Castaneda era de uma honestidade sem limites. Que seus livros relatavam somente a verdade. E que eu tinha certeza que tudo aquilo era possível.
Sem me interromper, ele esperou que eu terminasse e depois respondeu com um muxoxo de desprezo:
- Como é que você pode ter certeza?... Ninguém sabe quem é este homem!
Eu não podia contra-argumentar. A minha fé inabalável naquela verdade estranha não era suficiente. Eu precisava de provas. E não havia. Senti que estava desmoronando e tive uma violenta crise de choro. /.../
Ana nos conta que conheceu Carlos Castaneda com o nome de César Pagliardi, na cidade de São Paulo, no início da década de 90, e ele iniciou-a no aprendizado, e manteve uma relação amorosa com ela.
Ficava muito tempo distante, e ela começou a desconfiar que ele fosse Carlos Castaneda, para quem escreveu uma carta, e de quem recebeu uma chamada telefônica, depois. Num sonho, Carlos e as guerreiras apareceram para ela, dizendo-lhe urgentemente alguma coisa, mas, parecia que eles falavam em uma outra velocidade, e ela não conseguia entender. Com gestos, então, eles lhe ordenaram que escrevesse um livro, contando as suas experiências com César/Carlos.
Diz-se, por exemplo, que houve outro Carlos Castañeda que nasceu no Peru, havendo assim confusão quanto a seu nascimento e dados pessoais.
Algum peruano, nascido em 1925, entrou nos Estados Unidos, e esse se chamava Carlos Castañeda (com til no ene). Desse nada se sabe mais, o rastro se perdeu. Nosso herói era brasileiro, nasceu em 1935, e se chamava Carlos Aranha, ou melhor, Cesar Aranha; talvez.
Assim é a espreita: ele contou a sua verdade o tempo todo, e a maioria não acreditou.
Havia um historiador, não muito famoso nos Estados Unidos, quando nosso autor lá chegou, chamado Carlos Castañeda: pode ser que tenha sido dele que tomou o nome, falso, ao se registrar na imigração; e, para se diferenciar, tirou o til do n, inventando um novo, que seria como os anglófonos grafavam aquele, realmente espanhol, já que não possuíam em suas máquinas de escrever e compor tipos a letra hispânica ñ, na época.
Esse raciocínio eu desenvolvi, bem como o de que o seu verdadeiro nome talvez seja César Salvador Aranha. E bem consoante com a espreita (ou representando a ligação total entre o tonal e o nagual, e ainda Quetzalcóatl, a Serpente Emplumada, a mesma Nahualpiltzintli, o Príncipe dos Naguais, a integração da Serpente e da Águia), ele se apresentou a certa altura como Carlos César Araña Castaneda, tendo espanizado o patronímico português Aranha, o qual aparece assim, referindo-se a ele, em português, com nh, mesmo em fontes hispânicas; a wikipedia em espanhol escreve Aranha, e ainda acrescenta o prenome, Salvador.
Gosto de pensar em Carlos Castaneda como sendo César Salvador Aranha.
No entanto, ele mesmo declara na carta que escreveu a Robert Gordon Wasson, em 6 de setembro de 1968, que seu verdadeiro nome é Carlos Aranha (bem como que o de Don Juan seria realmente Juan; afirma, no mesmo documento, que reproduzo no Anexo C, que não conseguiu mudar o nome, tão marcante, de seu mestre). Em vários outros momentos, como seminários, reafirmou Carlos Aranha como sendo o seu nome.
Florinda lhe dedicou Shabono assim: “Para a aranha de cinco patas/que me carrega/em suas costas”, dando a entender que seu nome real é Aranha.
Mas, é claro, o substantivo pode ganhar aí uma carga metafórica, aquele que enreda.
As cinco patas poderiam se referir ao fato secreto de que, aparentemente, segundo se sabe hoje, o grupo novo de nagual de três pontas de Carlos talvez se constituísse de cinco elementos: ele mesmo, Florinda Donner-Grau, Taisha Abelar, a mulher nagual (naguala) Carol Tiggs (que depois se nomeou Carolina Aranha, com nh, no site da Cleargreen em espanhol, dando a entender que utilizava a forma em português ), e a muito secreta Joan Baker (esta especulação é totalmente minha, parece que foram grandes amigos, e moraram todos em casas geminadas).
Há outros elementos que aparecem depois, que seriam como novos grupos, não lineares, já que a reprodução facultada pelo nagual de três pontas é radial e multiplicadora: Blue Scout, isto é, o Batedor Azul, ou a Batedora Azul; Orange Scout, o Batedor Laranja, ou a Batedora Laranja; as Chacmoles , os aprendizes ou ouvintes mexicanos, os que participaram dos seminários pelo mundo, os leitores praticantes etc. (Os scouts, batedores ou exploradores, são os verdadeiros aliados, pois são SI que vêm de outras regiões do espaço, e seu encontro com os seres humanos resulta ser produtivo; SI da banda gêmea de faixas de emanção da nossa, orgânica, não são considerados como Ally, aliado, porque são muito parecidos conosco, e não produzem evolução ou aprendizado no guerreiro).
Por outro lado, há outra hipótese: Carlos seria, ou poderia vir a se tornar, depois de transpassar a segunda e a terceira atenções, um nagual de cinco pontas? Seria a isso que ela se refere? Esta leitura é muito ousada, mas cheguei a pensar nisso: Aranha de cinco patas, nagual de cinco pontas.
Na física existem as forças elásticas (que alongam o corpo sem moldá-lo) e as forças plásticas (que moldam o corpo). Penso que o energético biológico é uma terceira força, que implica em características das duas, concomitante e simultaneamente. Quer dizer, a energia vital tanto se adapta quanto se transmuta (e aqui temos uma nova hipótese evolucionista, que apresento, no estilo de A Evolução Criadora, de Henri Bergson ).
Don Juan dizia para Carlos e ele nos falou que, devido ao domínio que a humanidade tem sobre outras espécies animais, não era mais possível a evolução biológica da espécie pelo processo convencional ; que, agora, a evolução deveria ser no campo da consciência. Como sempre foi, aliás. E que esta pode se dar, tanto no plano individual como coletivo (e este, tanto enquanto um grupo maior ou menor, quanto como espécie).
Há indícios de que a força vital é tanto plástica quanto elástica. Assim, o dom ou presente da águia tanto é entrar em terceira atenção espontaneamente (ou através do esforço do aprendizado) quanto já nascer duplicado, um nagual de três a cinco pontas, ou se tornar um (outra teoria minha: todos nascem “naguais” de duas pontas, alguns abençoados nascem duplicados em 3, 4 e 5, mas o esforço pode fazer uma alteração plástica do casulo).
A mestra Florinda disse a sua discípula:
- Ser um bruxo, um mago ou uma feiticeira não significa ser um nagual. Mas qualquer um pode se tornar um deles, a partir do momento em que ele ou ela se tornam responsáveis por um grupo de homens e mulheres e em que encaminham este grupo para um envolvimento em uma questão específica do conhecimento.
Depois que o grupo de Don Juan entrou em terceira (ou segunda) atenção, dona Florinda ficou para guiar Carlos, Carol, Florinda moça e Taisha Abelar, e talvez também o grupo de homens (Pablito, Benigno e Nestor) e mulheres (Elena, Rosa, Lidia, Josefina e, talvez, La Soledad), que tinham sido o primeiro grupo de Carlos, quando todos viam que ele era um nagual de quatro pontas (que ele não era, o falsário).
Carlos não devia sentir tanto o peso de a imprensa, a academia e o público desconfiarem que ele era um vigarista, porque ele se sentia assim mesmo, pois foi acolhido no ninho do nagual, e não pôde corresponder, pois era um nagual de três pontas, que levou o grupo de Don Juan ao fim (e fez com que seus segredos fossem revelados). Aliás, todos nos sentimos assim, sempre.
Por isso, Pablito tentou se tornar um nagual, e, segundo as irmãzinhas, isso teria sido possível, se ele tivesse tido poder pessoal suficiente.
E Florinda, a mestra, se torna naguala dos jovens, depois que Don Juan se foi.
- Quando morreu Dom Juan?
- Em 1973.
- Você tomou conta do grupo após sua morte?
- Não. Dona Florinda, a companheira de Dom Juan, continuou guiando-nos até que ela mesma se foi.
- Quando ocorreu a morte de dona Florinda?
- Em 1985. Florinda - e indica Florinda Donner - adotou o nome como lembrança dela.
Agora compreendo por que durante a refeição Castaneda se referiu às vezes a ela como “Gina”; provavelmente é o seu nome verdadeiro.
Florinda Donner já se assinou assim em seu livro /Shabono/, publicado três anos antes da morte de dona Florinda. A troca de nome enquanto a companheira de Dom Juan ainda vivia sugere mais um sinal de continuidade do que uma lembrança da ausente.
Florinda ficou pouco tempo ao lado de Dom Juan; apesar disso, e a julgar pelo respeito e cumplicidade com que Castaneda a trata, ambos pareciam compartilhar a dedicação “às premissas da bruxaria”. Mas Castaneda não pôde iniciá-la, já que ele mesmo declara não ser um mestre. A explicação talvez seja de que a frágil e discreta Florinda Donner foi aprendiz de dona Florinda, que transmitiu, numa época, seus conhecimentos ao próprio Castaneda.
Essa anciã foi nagual e mestra do grupo durante doze anos.
O nagual de cinco pontas (e a quarta e quinta atenções) são revelados por Domingo Delgado Solórzano em El Nahual de Cinco Puntas. Essa é uma realização, depois da terceira atenção, e uma possibilidade aberta aos nanahualtin (naguais) de três ou quatro pontos, o que nos leva a pensar que Carlos não seria, mas poderia se tornar um.
A capa de seu livro, que tem design do próprio Domingo, na primeira edição original, financiada por ele mesmo, traz um intrigante desenho (um dos hieróglifos e inscrições da Cueva de Pom-Arum), que desencadeia o intento e é um mapa para a quinta atenção: Montes & Montes Salazar # 91. Na contrapaca, com outro enigmático desenho, ele mesmo esclarece:
O conhecimento cosmogônico e cosmológico legado por nossos antepassados permanece escondido, esperando que a roda do destino gire de novo do materialismo social, até a percepção da energia.
Enquanto isso, o Poder de perceber decidiu nos mostrar um caminho que nos conduza ao encontro com o outro ser que existe dentro de nosso corpo paralelo.
Os nahuas do município de Aquila, Michoacán, nos Estados Unidos Mexicanos, praticam várias disciplinas cuja tradução seria Nahualogia ou Percéptica.
Perceber a energia tal qual é e viajar nela; um destino maravilhoso. Expandir sua capacidade perceptiva até formar com o seu ovo luminoso um gigantesco ponto de encaixe e, por sua vez, ir estendendo-o até o converter na totalidade, para ser parido na quinta atenção, onde moram as águias, como mais uma delas.
(Em The Art of Stalking Parallel Perception, Lujan Matus também coloca hieróglifos que servem para a espreita e o intento: “The Hieroglyph of Haunted Awareness” e “The Hierophyph of Inner Light” , que são esquemas/diagramas e portais, bem diferentes daqueles de Domingo, e no entanto estranhamente semelhantes; pois advêm todos do intento tolteca.)
Ao ler Domingo, depreendo que as pontas são os pontos de aglutinação, que o homem comum tem dois, e que o nagual pode ter três, quatro ou cinco (esta conta é minha, pois cheguei à conclusão de que o casulo tem no mínimo dois pontos de encaixe, e vou explicar isso melhor daqui a pouco).
Em seu site, Domingo nos explica que a:
Percéptica é a ciência da percepção. Divide-se em três nahualogias: a energia primária secundária individual ou consciências inorgânicas e orgânicas, a constante vibratória proporcional dos corpos ou o universo infinito de LUGAR e o universo finito-lineal e a cosmogonia e cosmologia nahualteca ou a civilização primigênia. (Os nahualtecas de Aztlania, hoje Antártida, a primeira civilização de Zápoda, hoje a terra; cujos descendentes chamúes, quéchuas, olmecas, teotihuacas, mayas e astecas desenvolveram a toltecachtl ou filosofia primigênia e a energia vibratória para transcender os portais atencionais e a nahuatlaca, ciência auxiliar da percéptica que estuda os nahuais de três e quatro pontas e o nahual de cinco pontas, primário independente, secundário adicional e o ponto de encaixe artificial.)
Carlos Castaneda teve muitos outros nomes, e isso faz parte da eminência de um nagual, da sua estratégia de apagar a história pessoal, de se tornar fluido e imprevisível até para si mesmo, da sua configuração energética global que inclui características das quatro direções (norte, sul, leste, oeste), dos três tipos de homens (de ação, de conhecimento e por trás dos bastidores) e das duas famílias de um grupo: os sonhadores (na espreita dos nomes do grupo de guerreiros de Don Juan, a família Donner, ou Donner-Grau, à qual se filiam Florinda e Carlos) e os espreitadores (Abelar, subgrupo da Taisha). Semelha que Grau também seja o nome da família dos espreitadores no grupo de Don Juan, o que complica tudo, porque, se for assim, Florinda apensou os dois sobrenomes, das duas famílias, ao seu. Pois a mestra de espreita de Taisha é Clara Grau, espreitadora.
O norte é força, vontade; o oeste é sentimento, poder; o sul é crescimento, testemunho; e o leste é ordem, pesquisa (os tipos de guerreiras, sonhadoras e espreitadoras, de cada uma dessas direções trazem as suas características).
Carlos afirmava, nos seus tempos de professor da UCLA recém famoso, sobre os quatro ventos de um nagual, as quatro guerreiras que lutam com ele a batalha (com os aliados, para encontrar a fresta entre os mundos, para penetrar na segunda atenção etc). Essa informação aparece no livro de Margaret, e acontece no livro Uma Estranha Realidade, com a metáfora das armas e escudos do guerreiro.
Há uma sonhadora do sul e uma espreitadora do sul, que têm como características o crescimento e o testemunho; e assim sucessivamente.
Os tipos de guerreiros homens são: de conhecimento (Leste), pesquisa; de ação (Norte), vontade; por trás dos bastidores (Oeste), poder; mensageiro (Sul), assistente, testemunha.
Os mensageiros podem ser homens ou mulheres.
No grupo de Don Juan, como relatado por Carlos Castaneda, Juan Tuma era um mensageiro. O mensageiro do grupo de Carlos seria o brilhante guerreiro Eligio, que, segundo nosso autor nos conta, se decepcionou com ele, por não ter conseguido acompanhá-lo para ver a glória - sendo assim o primeiro a perceber que na verdade Carlos não era um nagual de quatro pontas, não era para eles (o Segundo círculo de poder, os aprendizes de Don Juan).
Vicente Manuel era um homem de conhecimento , um estudioso e erudito, especialista em cura e plantas.
Genaro um homem de ação, que não se explicava muito bem falando, mas fazia proezas com seu corpo físico e com seu corpo sonhador, e induzia efeitos de medo e movimentação do ponto de encaixe nos aprendizes (especialmente em Carlos, pois ele era o seu benfeitor, “benefactor” em espanhol, aquele que lhe mostra o nagual; enquanto Don Juan era seu mestre, aquele que ordena a sua ilha do tonal).
Don Juan (mesmo sendo o nagual de seu grupo) e Don Genaro seguiam as diretrizes de Silvio Elia (o homem por trás dos bastidores do grupo de Don Juan) no aprendizado de Carlos, por vários motivos (um nagual nunca fica oficialmente na frente de nada, sempre espreita a espreita), entre estes, o fato de eles “verem” que Carlos não era um nagual de quatro pontas, um verdadeiro sucessor de Don Juan.
Os nanahualtin (naguais) também ganham um sobrenome do subgrupo de sua família, isto é, sonhadores ou espreitadores, por terem mais facilidade com uma das duas técnicas.
Carlos era Donner, Don Juan Abelar etc (pode ser que haja alternância na liderança, em relação à preponderância das gerações). Mas, na verdade, essa divisão é eminentemente feminina; e um nagual é o centro, aglutina tudo, tem todas as características. Um nagual é muitos homens num só, tem um nome para cada ocasião, ou pessoa ou situação. Essa é uma manifestação da sua espreita.
Florinda conta em Sonhos Lúcidos que o grupo de guerreiras do nagual Don Juan chamava Carlos de Isidoro Baltasar para ela, assim como ela deveria nomear Don Juan como Mariano Aureliano (Florinda publicou três livros - nos outros dois cita brevemente Don Juan e sua mestra Florinda -, este é o melhor; Taisha um só; os livros delas são muito importantes, por comprovarem ou pelo menos servirem de testemunho do aprendizado de Carlos, por iluminarem outras facetas do grupo de Don Juan, e por trazerem informações sobre o aprendizado feminino, para a espreitadora, Taisha, e para a sonhadora, Florinda. No entanto, todas as obras ligadas à de Carlos não chegam aos pés das dele, no que tange à profundidade, polissemia, inovação, choque, [r]evolução e “benfeitoria”).
O próprio Carlos nos revela em entrevistas (como, por exemplo, Conversando com Carlos Castaneda, para Carmina Fort) que durante muitos anos foi um trabalhador latino e humilde, chamado José Luiz Cortes, Joe Cortes, identidade sob a qual foi cozinheiro de uma lanchonete por certo período, por exemplo.
Por um lado, o homem de conhecimento deve cultivar a sua própria pluralidade, ele é muitos em um só, porque tem acesso a outras posições do seu ponto de encaixe e, consequentemente, a outras emanações que estão dentro de seu casulo, mas que não são usualmente utilizadas: 1 - por ele, 2 - pelos seus relacionados e relacionamentos, 3 - pelo seu entorno, 4 - pela sua época, 5 - pela sua região, 6 - pela humanidade; mas que são reais, e estão ali, e ele pode acessar, através da sua disciplina.
É a foto do historiador Carlos Eduardo Castañeda, que foi divulgada por seus associados, para a imprensa, quando da sua morte ou mudança de atenção, em junho de 1998 (o passamento de Carlos Castaneda, nosso autor, aconteceu dois meses antes, 27 de abril).
Carlos Eduardo Castañeda nasceu em Camargo, Tamaulipas, México, a 11 de novembro de 1886. Era professor da Universidade do Texas e Austin. Um de seus livros importantes foi The Mexican Side of the Texas Revolution, O Lado Mexicano da Revolução do Texas.
Até hoje muitos sites mostram esta foto como sendo a do nosso autor, aliás, há duas versões, que são apresentadas como sendo dele, um jovem e um maduro, ambas de Carlos Eduardo Castañeda.
Há ainda a foto de Carlos Mauricio Castañeda, jornalista, que nasceu em Cuba, em 1932, e morreu em Lisboa, Portugal, em 2000. Alguns sites atribuem esta foto ao nosso Carlos Castaneda.
Há também registros fotográficos do casamento a que o nosso Carlos compareceu, junto com Joan Baker; aquela do livro de sua ex-esposa Margaret Runyan Castaneda, A Magical Journey with Carlos Castaneda, publicado em 1997, dele com o filho de Margaret e seu adotivo Adrian Vashon, também chamado C. J. Castaneda, e dele, na própria formatura, com beca, e ainda outra, escondendo parcialmente o rosto com a mão, estas duas divulgadas na entrevista da revista Time.
Amy Wallace reproduz estas fotos, e acrescenta uma em que ela é beijada no rosto por Carlos, mas este está de costas, no seu livro Sorcerer’s Apprentice. Ela ainda coloca a foto da folha de rosto de A Separate Reality; further conversations with Don Juan, Uma Estranha Realidade, na primeira edição original (da Simon and Schuster, New York), com uma dedicatória autografada de Carlos para ela:
Para Amy Wallace
com os melhores votos.
“O caminho para a liberdade algumas vezes é um sussurro no ouvido”,
don Juan disse isso.
A frase é boa, intrigante, como tudo que vem de Carlos, sempre, em cada entrevista, em cada conversa que ele não sabia que iria ser reproduzida, sempre a mesma sensação de poder e de algo muito grande, “a fresta entre os mundos”, a possibilidade de a cada segundo poder realizar a liberdade total.
Amy se limita a observar que a sintaxe não é a mais bem construída para os padrões da língua inglesa, e especula que Carlos pode ter tido revisores das editoras nos seus livros, que tivessem mexido nas construções frasais, apesar de ele ter declarado que não, como se isso tivesse alguma relevância. E ele estava citando uma fala de Don Juan! Logo, a sintaxe não era dele, mas de seu mestre, índio ladino, americano/mexicano/yaqui (Don Juan viveu no Arizona, nos EUA, e em Sonora, no México, entre outros lugares; a pesquisa de Carlos e seu aprendizado com ele se processou nos dois países; Don Juan falava espanhol e inglês, ao lado de muitas línguas indígenas).
Voltando à foto em que Carlos coloca a mão na frente da face, existe uma fotografia de Chico Buarque em que ele faz a mesma pose de esconder a cara com a mão e mostrar os olhos, e que está na capa do livro Chico Buarque do Brasil, com vários artigos sobre o cantor, organizado por Rinaldo Fernandes e editado pela Garamond e pela Biblioteca Nacional.
Pessoas escondida nas latas de lixo da casa de Carlos filmaram e fotografaram o nagual já idoso, várias vezes, acompanhado de seus associados. Estas fotos, a do casamento, aquela junto com o filho e a da formatura se parecem e são consideradas como sendo o “verdadeiro” Carlos Castaneda, de Os Ensinamentos de Don Juan.
Se o fez, não foi por acaso que Carlos escolheu o nome de Carlos Eduardo Castañeda como seu pseudônimo, pois o professor mexicano foi um grande pesquisador da história de seu país, que Castaneda também muito contribuiu para resgatar. Provavelmente, foi um gesto simbólico de Carlos, que entrou em cena logo depois que o historiador morreu.
A rigor, não existe um homem chamado Carlos Castaneda, e pensar isso é bobagem.
Assim, como outras figuras mitológicas, Zoroastro, Cristo, Buda, Carlos Castaneda é um mito, um relato, um conto de poder, que pode ser muito poderoso para nós, que pode nos transmutar, e que só faz sentido se o faz.
Como todo mundo, o mito é feito de pó e poder: e o poder pode se potencializar.
Por outro lado, Carlos Castaneda é o mito vivo, pois conseguiu sacudir as pessoas da sua modorra e do seu sono dogmático, seja ele do senso comum, da ciência, da filosofia ou da religião.
Castaneda se torna um personagem, por seus livros, suas entrevistas, suas palestras e toda a imaginação das pessoas a seu respeito. Assim, torna-se duplo de si mesmo, e se refaz em duplos, que são também reais, pois efetivos, afetivos.

Tantas versões de sua vida, fotos de rostos diferentes, fatos contraditórios, tanta informação na imprensa e na internet, assim como nos livros, parece um estranho e formidável uso que um nagual pode fazer de seu campo de caça, no caso, a sociedade ocidental da transição do século XX ao XXI.
Don Juan fala para Carlos que um guerreiro usa o seu campo de caça, o dele era o deserto de Sonora, o de Carlos é a cidade grande e o mundo acadêmico, e depois se tornou o público dos livros, dos seminários e da internet.
Se Castaneda tivesse nascido no dia 25 de dezembro de 1925, em Cajamarca, no Peru, a sua carta astrológica seria como a que foi realizada por Michael D. Robbins, e que está no site e no livro de mesmo nome Tapestry of the Gods (Tapeçaria dos Deuses) , Volume III, de 2005.
A noção de subjetividade, de individualidade e de intersubjetividade ficam problematizadas na toltequidade (nauallotl), o que leva muita gente a acusar, de maneira infundada, esse conhecimento de esquizofrenia ou algo semelhante.
Houve algumas críticas mais bem elaboradas, mas poucas, tirando um senso comum disseminado, que desabonam a obra, apenas por possuírem uma visão tolhida sobre tudo que o aprendizado implica.
Eu não pensei muito sobre o uso da metáfora estranha. Ele estava há muito tempo falando dessa forma, desde os primeiros dias de seu trabalho de campo. Em conversas informais, ele usava palavras que ele nunca teria usado antes de 1960, palavras como “impecável” e “guerreiro” e “invencível”, neoprimitivismos absolutos, os mais duvidosos. Eu realmente nunca duvidei de que Carlos estava gastando seu tempo entre os índios e assumi que estas estranhas adições ao seu vocabulário eram um efeito natural disto.
Entre as mais fortes, podemos contar Richard DeMille (filho do cineasta Cecil Blount DeMille, dos filmes hollywoodianos como O Rei dos Reis), com os livros Castaneda’s Journey: The Power and the Allegory (1976) e The Don Juan Papers (1980) e Jay Courtney Fikes, autor de Carlos Castaneda, Academic Opportunism and the Psychedelic Sixties (1993) , obras estas totalmente dedicadas a “desmascarar” a “farsa” “Castaneda”.
O clássico Cows, Pigs, Wars, and Witches: The Riddles of Culture , de Marvin Harris, publicado em 1975, critica a visão “eurocêntrica” e “reacionária”, com a qual Carlos teria pintado seu “personagem” Don Juan, o qual não se preocupa com as injustiças sociais comentidas contra os yaquis, nem se apieda de meninos engraxates do México, que comiam restos em um restaurante.
Mesmo assumindo a veracidade bem essencial do relato de Castaneda, Marvin Harris dedicou um capítulo de seu livro Vacas, Porcos, Guerras e Bruxas (Vacas, Porcos, Guerras e Bruxas, 1974) para criticar o que ele considerava um trabalho antropológico de má qualidade, que aceita sem crítica a perspectiva emic do objeto de estudo e não mantém a objetividade necessária uma investigação digna desse nome. Também critica a ideologia do trabalho, que torna paradoxal o seu êxito entre os rebeldes da contracultura. Harris assinala: Por acaso, haveria um exemplo mais desolador de tecnocrata, do que aquele do mago yaqui, para quem os problemas sociais de seu povo não merecem nem um minuto de atenção?, a propósito de uma passagem descrita por Castaneda, na qual o xamã yaqui diz que os meninos que mendigam no lugar onde ele se encontra - em companhia de Castaneda - jamais poderiam se tornar homens de conhecimento. (Isso é incorreto: foi Castaneda quem disse que esses garotos não tinham possibilidades, Don Juan afirmava que essas crianças e Carlos tiveram a mesma chance de se tornar um homem de conhecimento.)
Nem Harris nem Wikipédia! Don Juan não estava com Carlos, este que lhe contou o que viu; os meninos não eram yaquis, não se menciona sua etnia; também não mendigavam, mas engraxavam sapatos e comiam o que sobrava nas mesas do restaurante; Don Juan não disse nem isso nem aquilo: ele falou que qualquer um daqueles garotos tinha muito mais possibilidade de ser tornar um homem de conhecimento do que Carlos, que o seu mundo certinho e bem arrumado não o havia ajudado em nada, em relação àquilo que ele considerava o mais importante: o aprendizado. E que todos os homens de conhecimento que ele conhecia tinham sido como aqueles garotos, que comiam os restos das mesas. Ele disse: “não tenha pena deles”, que era o que Carlos estava sentindo.
- Você uma vez não me disse que, em sua opinião, a maior realização de uma pessoa era tornar-se um homem de conhecimento? /.../
- Acha que o seu mundo muito rico algum dia o ajudaria a tornar-se um homem de conhecimento? - perguntou dom Juan, com um ligeiro sarcasmo.
Não respondi, e ele tornou a fazer a pergunta de maneira diferente, coisa que sempre faço com ele quando acho que não está entendendo.
- Em outras palavras - disse ele, sorrindo abertamente, sabendo com certeza que eu estava consciente de seu artifício -, a sua liberdade e as suas oportunidades o ajudam a tornar-se um homem de conhecimento?
- Não! - respondei, enfaticamente.
- Então, como é que pode ter pena daquelas crianças? - continuou ele, muito sério. - Qualquer uma delas pode tornar-se um homem de conhecimento. Todos os homens de conheciemnto que conheço foram garotos como os que você viu comendo sobras e lambendo as mesas.
Ora, o não pietismo, o não humanismo, o não conformismo com os valores vigentes (forma de educação, modo de ser), a total liberdade do homem de conhecimento em relação aos conflitos dos homens em cada época, aos altos e baixos da sociedade, é justamente o ponto de partida da libertação que o guerreiro constrói em sua energia, com o aprendizado. Marvin não entendeu feio.
A psicanálise também nos ofereceria suas críticas, pertinentes, talvez, mas limitadas. Referindo-se ao narcisismo, Sigmundo Freud diz:
Um terceiro elemento que concorre para essa extensão - legítima, ao que me parece - da teoria da libido vem de nossas observações e concepções da vida das crianças e dos povos primitivos. Encontramos neles traços que, isoladamente, podem ser atribuídos à megalomania: uma superestimação do poder de seus desejos e atos psíquicos, a “onipotência dos pensamentos”, uma crença na força mágica das palavras, uma técnica de lidar com o mundo externo, a “magia”, que aparece como aplicação coerente dessas grandiosas premissas.
Como disse Nietzsche, é preciso ir além do homem; é urgente e necessário reinventar as ciências humanas, como nos mostram Gilles Deleuze e Félix Guattari, em Mil Platôs.
Não vou explorar aqui esta relação, que penso ser muito promissora: o aprendizado de Castaneda, segundo meu pensamento, se liga àquilo que Deleuze chama de virtual, diferentemente do idealismo platônico, do espiritualismo religioso ou da magia do senso comum.
Há dois reais: o real atual e o real virtual.
Eu penso que Deleuze faz o trabalho mais importante no sentido de revelar ou resgatar a natureza mais íntima e genuína da filosofia: o pensamento do tempo, do tempo puro, da ontologia do tempo, a ontologia do pensamento.
Platão sabia disso, e, por algum motivo, o traiu.
Os estoicos bem o sabem e não nos enrolam: os corpos existem no presente, os acontecimentos subsistem no passado e no futuro.
Carlos conta que Don Juan lhe dizia que os feiticeiros não têm passado nem futuro, os feiticeiros vivem sempre no presente.
Aliás, todos nós.
Isso é o tempo puro. A questão germinal da filosofia. Nietzsche sabia, e falou com todas as letras. Os loucos são os outros.
Quando os Stevens nos ensinam a “viagem xamãnica” dos índios da norteamérica , do que eles nos falam, que experiência é esta?
Ensonhar, o corpo sonhador (CsO, de Deleuze e Guattari), as fibras de consciência que nos constituem, e que saem do ventre para atuar, tocar nas coisas, a vontade que dispara do meio do corpo como uma flecha, o duplo, o nagual, umas estranhas realidades.
O virtual.
Vou fazer uns parêntesis aqui para usar uma definição de guerreiro que não tem nada a ver com a tradição nagualista, e que, no entanto, tem tudo a ver, pasmem senhores, a proposta de viver como um guerreiro está nos quatro cantos do mundo:
/.../ O caminho que intenciono descrever neste livro chama-se o caminho Shambhala do guerreiro. Os ensinamentos Shambhala descrevem a vida humana comum, vivida plena e completamente, como um caminho da arte do guerreiro. Ser um guerreiro, homem ou mulher, significa ousar viver genuinamente, mesmo em face de obstáculos como o medo, a dúvida, a depressão e a agressão externa. Ser um guerreiro não mantém nenhuma relação com travar uma guerra. Ser um guerreiro significa ter a coragem de saber completa e totalmente quem você é. Quer se julgue bom ou mau, quer seja feliz ou deprimido, jovem ou velho, neurótico ou equilibrado, como um autêntico guerreiro você reconhece a inerente bondade básica, mais profunda e duradoura do que todos esses efêmeros altos e baixos. Quando se é genuinamente autêntico, fica-se aberto a essa bondade fundamental existente em si e nos outros, mesmo quando ela parece obscura ou completamente enterrada. Os guerreiros nunca desistem de ninguém, inclusive de si mesmos.
Por outro lado, tais pessoas que julgam Carlos e outros naguais sem os conhecer, não sabem o que eles constroem e fazem com seu conhecimento e seu poder, para o bem da sociedade e o aprimoramento do homem, ou, nas palavras de Don Juan, como eles sempre estão a depositor quantias “na conta do ser humano”, que tem saldo muito baixo, em seu afeto sem condições, o qual, na verdade, é o amor pelo ser no qual vivemos, a Terra. (E a ciência ocidental começa a perceber isto, como, por exemplo, na genial Hipótese Gaia de James Lovelock .)
A última vez que o vi, foi em 12 de fevereio de 1996, no evento “Os Novos Caminhos da Tensegridade” (“Los Nuevos Senderos de la Tensegridad”), organizado no Centro Asturiano por Guillermo Díaz /.../.
Para mim, este evento foi muito importante, porque, como encarregada da difusão, me coube organizar uma conferência para a imprensa - a única que (Carlos) deu em toda a sua carreira -. Um detalhe comovente foi que o dinheiro arrecadado, acima de 150 mil pesos, foi doado a uma instituição de assitência à infância mexicana; me tocou estar presente no dia da entrega do dinheiro.
E os toltecas agem assim para pagarem suas dívidas. Eles sabem que não há ação sem reação, e sempre devolvem o que lhes é doado, seja bom ou ruim.
No caso, cada um de nós vem se beneficiando desde que foi concebido, com o dom da Águia, o alimento da terra, o carinho e o ensinamento de nossos pais e da sociedade, o conhecimento que nos legam os precursores e as manifestações do espírito. Um guerreiro sempre salda suas dívidas.
Voltando às violentas críticas contra Carlos, não vou analisar argumento por argumento, das três obras mais fundamentadas, que se opõem à de Carlos Castaneda.
Colocando juntas várias questões, devemos levar em consideração, para não cair na armadilha antievolutiva ou antievolucionária de tais críticas, o seguinte:
1 - Don Juan não representa uma cultura, nem yaqui nem alguma outra. É bobagem argumentar que quem usa o Mescalito, peyotl, o peiote, são os huicholes, e não os yaquis (Margaret nos conta que Carlos viajou com Don Juan para a terra dos huicholes, para participar de uma grande sessão de peyotl, o que está relatada em Uma Estranha Realidade, e na qual ele explica que ficou tentando encontrar um acordo tácito e uma forma não verbal de comunicação para definir o teor das revelações, coisa que, claro, não encontrou ). Carlos deixa bem claro que a toltequidade (nauallotl), o conhecimento tolteca, sua disciplina e sua luta, não se restringem a uma certa cultura, a uma sintaxe específica. Muito pelo contrário, o que se faz aqui é sair dos valores e limitações de qualquer visão de mundo, é explorar o ir além das possibilidades humanas. O lema dos toltecas é plus ultra. O lema dos reacionários, que eles nunca aceitam, é o nec plus ultra, o slogan medieval que dizia: você não pode ir além. Os europeus da Idade Média diziam isso sobre o mar que conheciam, os antievolucinários atuais dizem isso do “oceano da consciência”, outra expressão dos livros de Carlos. E isso também incomoda muita gente, média. Tenhamos em mente que há na linha de Don Juan guerreiros de várias nações indígenas, mexicanos, descendentes de europeus, americanos, e até pelo menos um chinês, o Nagual Lujan (o antigo, da linha de Don Juan Matus, não o autor atual de The Art of Stalking Parallel Perception, the Living Tapestry of Lujan Matus, do qual nada se sabe, mas que pelo uso que faz do inglês mostra ser estadunidense de nascimento, muito provavelmente, e se declara aprendiz energético e de ensonho do antigo nagual, de quem herdou o nome). Por outro lado, Carlos foi o mais fiel possível no seu intuito de relatar antropologicamente a cultura que encontrou, mas o que ele relata é a cultura profunda, aquela que sobreviveu em tantos povos autóctones como o grande plano tolteca que havia antes da invasão dos europeus e não deixou de haver, por trás das várias diferenças das designações dos povos do México (e da América).
2 - A “viagem a Ixtlan” de Carlos é iniciática, e todos os acontecimentos e personagens têm significados pragmáticos, para gerar no leitor um sonho de poder. Ele mesmo reforça, os seus são “Contos de Poder”, “Tales of Power”. Não faz sentido nenhum fazer verificações práticas dentro de esquemas preestabelecidos, do tipo tal fato cultural pertence a tal tribo, tal palavra é ou não falada por tal grupo, essa planta ou esse animal se encontram ou não na região citada. Seu relato é mágico, como um sonho, e tudo pode acontecer, e acontece. Sorriem porque fala de plantas que não há no deserto de Sonora, ou porque caminha por horas através dele ao lado de Don Juan, o que desidrataria qualquer um. Esquecem que em O Poder do Silêncio Carlos é perseguido por um jaguar (que ele mesmo relata que não existe na região, fato sobre o qual Don Juan faz ironia), e se torna um gigante para poder escapar. Ou que ele se desloca quilômetros em segundos, viaja na água, no fogo, através de paredes, no tempo, fica sem massa e penetra em outros corpos, vira um corvo, e se transforma em uma minhoca gigante com La Catalina. O texto é mágico, é uma máquina de experimentação, e não um amestrado e dócil rol de fatos comprovados ou prováveis. O que não faz dele literatura (ele costuma ser relacionado com o realismo fantástico latinoamericano, que é genial, mas é outra coisa; esse realismo fantástico tão importante como manifestação original da América Latina, e tão ligado às literaturas dos povos indígenas ). Nem quer mais ser uma “ciência social”, nem nenhuma ciência ocidental, que são, essas sim, ou estas também, malgrado sua pretensão, e sua presunção, mitos. A toltecáyotl se erige em Gaia Ciência, Ciência Real, real aqui entendido no sentido de realidade e realeza.
3 - Do mesmo modo com todas as verificações “sherlockianas”, que vão buscar documentos para comprovar que ele não estava onde dizia estar, ou que o tempo não era suficiente para o que ele diz que aconteceu, etc. Ora, a manipulação do ponto de encaixe e o acesso a outras emanações do casulo luminoso (e até fora dele) possibilitam feitos incríveis, como alterar o humor, a aparência, as feições, o sexo, a altura, a idade, e muitas outras características do feiticeiro, à vontade. E lhe permite também condensar o tempo em várias modulações, pois todos nós o fazemos, o tempo nunca transcorre “igual”. O feiticeiro, todavia, condensa muito mais, sendo capaz de viajar quilômetros em segundos, fazer uma cena se repetir na realidade, ou estar em dois ou mais lugares ao mesmo tempo. Podemos aplicar a tudo, inclusive a Castaneda, o crivo de Nietzsche: não importa se algo é verdadeiro ou falso, mas que modo de vida aquilo produz, se é forte (potente) ou tolo.
4 - Apareceram ex-discípulos decepcionados. A internet ajudou muito na eclosão deste fenômeno. Nem todos os sites são contra, é claro, a maioria é laudatória, e/ou traz recursos e informações importantes: downloads dos livros (principalmente em inglês e espanhol), as únicas notas de campo que chegaram até nós (Anexo A), fotos, entrevistas, resenhas de livros sobre ele etc. O “avô de todos os sites” deste tipo foi o http://nagual.net/. Importantes também, entre muitos outros, são o http://www.oldnagualnet.com/ e http://toltec-nagual.com/. A página Interviews do site Nagualism.com http://www.nagualism.com/interviews-articles.html oferece vinte e três entrevistas com Carlos, as bruxas, os instrutores de tensegridade e os rastreadores de energia, em língua inglesa, traz notas de seminários, in http://www.nagualism.com/warriors-notes.html, e links, in http://www.nagualism.com/nagualism-links.html. Víctor Sánchez, e sua organização AVP (La Arte de Vivir a Propósito), que promove seminários, nos oferece o sítio http://www.toltecas.com/. Há também o site Sustained Action, http://www.sustainedaction.org/, criado por Corey Donovan, que foi seguidor de Carlos e se decepcionou, e que traz a cronologia de nosso autor e das suas companheiras feiticeiras (essas cronologias, tão violentas para com a proposta do nagualismo, são uma espécie de filé mignon do site, e foram muito reproduzidas e muito facilmente aceitas por todos, sem questionamentos), reproduções de documentos, e bastante argumentação sobre a suposta não-cientificidade de sua obra, falsidade ideológica, relações com outras fontes que poderiam ter sido plagiadas, e explanações sobre “culto da personalidade” em seitas, coisa de que também o acusam. Ora, Carlos era um nagual de três pontas, ele tinha por natureza não reproduzir a sua linha, não ensinar aprendizes pessoais, mas sim fazer eclodir o conhecimento em incontáveis linhas novas, através da sua divulgação, o que, com certeza, ele fez. É o próprio fato de ter sido tão honesto, sincero e generoso que o leva a ser tão criticado. Ele revelou muita coisa, deu os instrumentos evolutivos para todos que quiserem aprender. Ainda, sua técnica de ensinamento radial o levava a atacar os egos e auto-imagens de todos, a começar por si mesmo. Muita gente não suporta isso, ou o fato de que ele não era “bonzinho”, humanista, mas sim evolutivo.
Mudando de tema, o que você nos pode dizer sobre os detratores da mensagem de Carlos?
Em geral, são pessoas que se sentem defraudadas. É como se o Nagual lhes tivesse prometido algo e não o houvesse cumprido. São pessoas despeitadas. Aquilo que têm é pura importância pessoal.
5 - Antropológica e politicamente, Carlos Castaneda inaugura nos meios acadêmicos e editoriais ocidentais a ideia e a proposta real e séria de que os índios da América pré-colombiana não eram “primitivos”, “selvagens” e “neolíticos”, mas tinham sim um conhecimento teórico e prático que, no mínimo, se ombreia em complexidade, racionalidade e funcionalidade com a ciência e a filosofia de origem europeia. Ele traz a presença de um índio forte, sábio, poderoso e rico. Não é mais o interesse “filatélico” por palavras e artefatos, como curiosidades bobas. O que ele nos mostra é uma máquina incrivelmente potente de transmutação e evolução, que existe nos dias de hoje, está presente, e é a verdadeira cara da cultura panamericana dos povos ameríndios não aculturados e que têm muito a nos ensinar: a toltequidade.
Um que entendeu tão melhor a sua proposta, e logo, foi o poeta Octavio Paz.
Estranhamente, o governo mexicano promoveu um delay entre a publicação ianque dos Teachings of Don Juan e a versão em espanhol, Las Enseñazas. Dizia-se que temiam que os jovens americanos entrassem pelo México, e que os próprios mexicanos vasculhassem tudo, atrás de Don Juan. Estranhos motivos... pra esse atraso!
O livro foi publicado em 1968 nos EUA, e em 1974, no México. Esta edição, do Fondo de Cultura Económica, ganhou um brilhante, entusiasmado e entusiasmante prólogo de Octavio Paz, intitulado “La Mirada Anterior”, que é todo muito importante, e vou citar apenas um pequeno trecho aqui, remetendo o leitor para o texto, cuja fonte, “El Mercurio”, encontrará citada na referência:
O que pensará Carlos Castaneda da imensa popularidade de suas obras? Provavelmente, encolherá os ombros: um equívoco a mais, em uma obra que, desde a sua aparição, provoca confusão e incerteza. A revista Time publicou há alguns meses uma extensa entrevista com Castaneda. Confesso que o “mistério Castaneda” me interessa menos do que a sua obra. O segredo de sua origem - é peruano, brasileiro ou chicano? – me parece um enigma medíocre, especialmente se você pensar sobre o enigmas que nos propõem os seus livros. O primeiro desses enigmas se refere à sua natureza: é antropologia ou ficção literária? Dirão que a minha pergunta é ociosa: documento antropológico ou ficção, o significado da obra é o mesmo. A ficção literária é já um documento etnográfico e o documento, como seus mais ferozes críticos reconhecem, tem inegável valor literário. A exemplo de Tristes Trópicos - autobiografia de um antropólogo e testemunho etnográfico - responde à pergunta. Mas responde, realmente? Se os livros de Castaneda são uma obra de ficção literária, o são de uma maneira muito estranha: seu tema é a derrota da antropologia e da vitória da magia; se eles são obras de antropologia, o tema não pode ser menos que: a vingança do “objeto” antropológico (um bruxo) sobre o antropólogo, até convertê-lo em um feiticeiro. Antiantropologia.
Quero esclarecer também que o título deste trabalho sendo Carlos Castaneda e a Fresta entre os Mundos [Vislumbres da Filosofia Ānahuacah no Século XXI], pode-se pensar que tento fazer o levantamento do que é a filosofia vinda dos povos pré-colombianos na América até os dias de hoje, um pouco como Pierre Clastres encontra os vestígios de uma filosofia tupi em A Sociedade Contra o Estado .
Bem, sim e não. Eu faço aqui a pesquisa e a análise crítica de muita coisa que se está conhecendo agora sobre o pensamento Tolteca, a Toltecáyotl ou Nauallotl, isso é verdade. E considero sim que este pensamento está vivo e atuando em nosso mundo hoje.
Mas não posso dizer que a Nauallotl seja uma “Filosofia”, sem demérito de nenhuma das duas. A Toltequidade (Nauallotl) é uma visão de mundo, tem uma ontologia, uma ética, uma terapia e práticas de desenvolvimento. Mas não é uma filosofia, pois esta traz as características chamadas de “ocidentais” de ter nascido na Grécia, na pólis, associada à política e à democracia, à laicização da palavra e à comunização do saber , e, principalmente, aos princípios da razão, que vou cotejar com a Nauallotl no próximo capítulo.
O que podemos pensar é que esses grandes rios se encontram, de alguma forma, nos tempos atuais. Que há algo muito forte e afirmativo acontecendo, quando os preconceitos e barreiras vão caindo, e temos a promessa de uma Bacia Amazônica, ou até mesmo de todo um Oceano Atlântico, e da pororoca desse oceano para dentro dos rios desses saberes e visões de mundo.
Assim fala Luís Augusto Weber Salvi no seu livro A Tradição Tolteca (ele escreve Castañeda, com til, seu único senão), importantíssimo estudo de comparação de tradições e de levantamento das fontes mais antigas do conhecimento americano, trabalho sério e alentado:
Como homem de outra cultura e como representante de uma época ecumênica, Castañeda não se “resignou” a ser apenas mais um repositório oculto de uma cultura antiga, tornando-se antes um divulgador para o mundo, fiel nisto ao espírito acadêmico, o que foi aceito por seus mentores místicos como uma decisão do destino. Já os seus tutores de formação moderna não aceitaram tão bem este envolvimento profundo com outra cultura, algo geralmente considerado como de uma ousadia intolerável, gerando certo ostracismo de que o autor se ressentiria.
Os meios acadêmicos sempre veem as culturas antigas como “primárias”, e não admitem envolvimentos sérios por parte do estudioso moderno. Isto soa ameaçador ou desprezível. De qualquer forma, infelizmente o preconceito fala mais alto.
Mas a verdade é que esta atitude de síntese de Castañeda teve uma importância ainda insuspeita para a “história das religiões” e até na formação de uma nova mentalidade, sendo necessária ao homem de amanhã. /.../
Que maravilha de texto, que análise brilhante!
Luís Augusto fala muito bem sobre a forma como os preconceitos atuaram, e ainda tentam barrar a mensagem de Carlos, e o quanto ela é importante para o homem de amanhã, e de hoje.
Na mesma obra, Luís Augusto nos esclarece sobre quem eram e qual a importância dos toltecas, na sua visão, que sim, é mística (ele tem vários outros livros sobre outros aspectos esotéricos):
Os toltecas representaram muito provavelmente a expressão máxima da cultura pré-colombiana na sua complexidade e nos seus dramas. Nenhuma outra teve tamanha vitalidade, prova disto é que, de um modo ou de outro, têm chegado aos nossos dias através de certas linhagens xamânicas, sobrevivendo e se adaptando através dos séculos, até mesmo à intensa aculturação iniciada após a Conquista.
A palavra tolteca significa “povo de Tula”, nome da cidade mais importante por eles criada e sede da dinastia de seu deus, Quetzalcóatl. Herdeiro de uma riquíssima tradição cultural e responsável pela abertura de um novo ciclo cultural - o do “Quinto Sol” -, o povo de Tula representou a nova síntese pós-clássica, abrindo a “era dos guerreiros” -palavra que para eles tinha um duplo significado, espiritual e material. Mais que isto, muito do que criaram em arquitetura, calendário e mitologia, serviu não apenas como modelo para toda aquela região, como também dinamizaria os futuros cânones culturais, por vezes levando até a marca da profecia.
Já Don Miguel Ruiz é um nagual mexicano, que nasceu em uma família de toltecas, mas não quis seguir a tradição, e se tornou médico. Um dia o carro que ele estava dirigindo sofreu um acidente, e ele, desacordado, se sentiu fora do corpo, e foi assim que salvou a si mesmo e seus amigos, tirando o próprio corpo e os deles do meio das ferragens. Aí ele resolver assumir a sua vocação. Seus livros até agora sempre trazem o título geral de O Livro da Filosofia Tolteca, e, no Brasil, já foram editados: Os Quatro Compromissos - um guia prático para a liberdade pessoal, O Domínio do Amor - um guia prático para a felicidade no relacionamento, A Voz do Conhecimento - um guia prático para a paz interior (em parceria, este, com Janet Mills), e O Quinto Compromisso (com Janet Mills e seu filho, Don Jose Ruiz.
Ele explica assim quem são os toltecas, no início de todos os seus livros (a tradução preservou a forma anglicizada de plural “naguals”, em espanhol fica “naguales”, em português melhor é falar “naguais”, ou, melhor ainda, “nanahualtin”, em nahuátl):
(Há) milhares de anos atrás, os toltecas eram conhecidos por todo o sul do México como “mulheres e homens sábios”. Antropólogos têm descrito os toltecas como membros de uma nação ou raça, mas, na verdade, eles eram cientistas e artistas que formaram uma sociedade dedicada a desenvolver e preservar o conhecimento es¬piritual e as práticas de seus ancestrais. Mestres (naguals) e discípulos reuniam-se em Teotihuacán, a antiga cidade das pirâmides próxima da Cidade do México, conhecida como o lugar onde “o homem se torna Deus”.
No decorrer dos milênios, os naguals foram obrigados a disfarçar sua antiga sabedoria, mantendo-a na obscuridade. A conquista européia e o mau uso que alguns aprendizes fizeram de seu poder pessoal colocaram o conhecimento fora do alcance daqueles que não estavam preparados para usá-lo com sabedoria, ou que poderiam, propositalmente, fazer uso dele em benefício próprio.
Felizmente, o conhecimento esotérico dos toltecas foi organizado e transmitido através das gerações por dife¬rentes linhagens de naguals. Embora permanecessem mantidas em segredo por centenas de anos, as antigas profecias previram o advento de uma era em que seria necessário devolver a sabedoria ao povo. Agora, Don Miguel Ruiz, um nagual da linhagem dos Cavaleiros da Águia, foi instruído a compartilhar conosco os poderosos ensinamentos dos toltecas. /.../
Seu aprendizado tem muito a ver com a espreita e a impecabilidade, tocando mais de leve em questões como o sonho. Ele redefine a expressão “mitote”. Em Castaneda, nos dois livros iniciais, mitote é uma reunião para a ingestão conjunta de peoiote, peyotl, o Mecalito, e para ter revelações, conjuntas ou solitárias, no meio do grupo. Sim, são cerimônias huicholes.
Essas reuniões duram a noite inteira, tradicionalmente só são frequentadas por homens, velhos, maduros e jovens, mestres e aprendizes. Os mais jovens às vezes apenas assistem e dão assistência aos mais velhos, que estão ingerindo os botões de peiote, por exemplo, fornecendo-lhes água periodicamente, água esta que eles não bebem, mas com a qual molham a boca. Se beberem em transe, vomitam; Carlos assim o fez, ele, que participou de alguns mitotes. No primeiro deles, viu Mescalito e brincou com um cachorro, como se fosse um cão também, ou o bichinho uma criança; se morderam, perseguiram, rolaram, urinaram um no outro. Don Juan considerou tudo isso um forte presságio (“omen”) de que Carlos deveria fazer o aprendizado, e que ele deveria lhe ensinar. Disse que não era um cão, para o homem que vê, aquele era Mescalito.
Para Don Miguel Ruiz, mitote é o nome de um barulho ensurdecedor que ouvimos o tempo todo na nossa cabeça, as vozes das pessoas da sociedade, com suas certezas e seus preconceitos, que aprisionam o indivíduo. A harmonia desses sons produz “a voz do conhecimento”, que é uma figura tirânica, que impõe sofrimento e ações tolas aos homens. Carlos fala em “parar o diálogo interno”, que leva a “parar o mundo”, isto é, mover o ponto de encaixe. Suas técnicas para produzir essas duas manobras estão estudadas em todo este meu livro aqui, e são o escopo e o estofo de todos os seus livros.
Don Miguel Ruiz propõe a obtenção da felicidade, pela liberdade em relação à voz do conhecimento, libertar-se do mitote. Para isso, suas técnicas se baseiam em quatro (cinco) compromissos: 1 - Ser impecável com sua palavra; 2 - não levar nada para o lado pessoal; 3 - não tirar conclusões; 4 - sempre dar o melhor de si; (e com seu filho, Don Jose Ruiz, acrescenta depois num novo livro o quinto compromisso:) 5 - ser cético, mas aprender a ouvir.
Estas atitudes produzem a impecabilidade do ser total. Ele conta sobre a descoberta de um aprendiz de xamã “que vivia perto de uma cidade cercada de montanhas”, e que teria ocorrido há “três mil anos atrás”. Note-se que utiliza os mesmos conceitos de Carlos, com o mesmo sentido: o tonal a energia clara, o nagual a energia escura, a vida se constituindo dos dois, o intento (que aqui é traduzido erroneamente como “intenção”, o que também ocorreu em várias obras de Carlos, no Brasil) como sendo o gerador da criação.
/.../ E ele soube tudo o que existe num ser vivo, como soube que a luz é a mensageira da vida, porque está viva e contém todas as informações.
Então compreendeu que, embora fosse feito de estrelas, ele não era essas estrelas. “Sou o que existe entre elas”, pen¬sou. Assim, chamou as estrelas de tonal e a luz entre elas de nagual, e percebeu que a harmonia e o espaço entre os dois eram criados pela Vida ou Intenção. Sem a Vida, o tonal e o nagual não poderiam existir. A Vida é a força do absolu¬to, do supremo, do Criador que tudo cria.
Essa foi a sua descoberta: tudo o que existe é uma mani¬festação do ser que denominamos Deus. Tudo é Deus. E logo ele chegou à conclusão de que a percepção humana é apenas a luz que percebe a luz. Viu também que a matéria é um espelho, - tudo é um espelho que reflete a luz e cria imagens a partir dessa luz - e o mundo da ilusão, o Sonho, é apenas fumaça que nos impede de enxergar quem real¬mente somos. “O verdadeiro nós é puro amor, pura luz”, disse ele. /.../
Don Miguel Ruiz nasceu em 1952, e seus livros começaram a ser publicados na década de 90. Ele e muitos outros caminham pela trilha aberta por Carlos Castaneda, o que é ótimo em vários sentidos: 1 - mostra que a toltequidade (nauallotl) tem continuidade; 2 - é realmente embasada na tradição, está documentada, seja nas pirâmides de Tula, seja no Tonalamatl, seja na tradição oral; 3 - torna-se um instrumento de autoconhecimento e valorização do homem Indígena, Mexicano, Mesoamericano, Latinoamericano, Americano e Mundial.
Antes de prosseguir, uma nota sobre o aparecimento dos nomes Teotihuacan e Tenochtitlán, que se referem a dois centros gigantes da cultura ānahuacah, muito próximos um do outro, os dois grandiosos. Tenochtitlán foi a capital do Império Asteca, fica sobre o lago Texcoco, onde hoje é a Cidade do México.
E quanto a Teotihuacan, foi um centro multicultural, a 40 quilômetros de distância de Tenochtitlán, provavelmente fundado pelos Totonacas, e que serviu de capital para os homens de conhecimento Toltecas , local lendário para os Astecas, onde eles diziam que tinha se criado o Quinto Sol, ou Quinto Mundo, ou época atual.
Os Astecas pensavam que Teotihuacan era a cópia do céu.
Quando chegaram ao Vale do México, Teotihuacan já estava há muito tempo abandonada. Eles tentaram construir uma nova Teotihuacan, e ergueram, com tal intento, Tenochtitlán. Foi preciso muito esforço e várias soluções técnicas novas, para que eles conseguissem construir a sua cidade sobre as terras pantanosas do lago.
Os primeiros astecas chamaram a si mesmos de mexicas, de onde vem o nome atual do país.
Então, há como um rio ou oceano subterrâneo, que nunca perdeu sua força e sempre gerou seus frutos, mas que a grande maioria não podia ver.
Esse mar desconhecido é a toltequidade, o nagualismo, o toltecáyotl, o nauallotl, a força dos toltecas, expressa no seu conhecimento e nas suas práticas (lembremos que, em seu site, Domingo Delgado Solorzáno nos dá ainda outros dois sinônimos deste conhecimento, o qual ele divide em: “a toltecachtl ou filosofia primigênia e a energia vibratória para transcender os portais atencionais e a nahuatlaca, ciência auxiliar da percéptica que estuda os nahuais de três e quatro pontas e o nahual de cinco pontas, primário independente, secundário adicional e o ponto de encaixe artificial” ).
Outra palavra, relacionada:
Cremos e praticamos o antigo conceito tolteca de aprendizagem chamado nimomashtic, que, literalmente, significa ensinar-se.
E o que falam os livros de Carlos Castaneda?
Essa percepção é muito importante, e vale a pena ressaltar: a obra de Castaneda não é antropologia ou literatura, mas sim um grande Tratado de Toltequidade.
Ela também vai ter efeitos antropológicos e literários, mas isso são efeitos, é algo secundário, o foco primordial, e o seu grande feito, é trazer de uma forma clara, ampla, concisa e estruturada o conhecimento sobre a Toltecáyotl, o Nagualismo.
A palavra já aparece no primeiro dicionário da língua náhuatl, o Vocabulario Nahuatl-Castellano, feito em 1571, pelo Padre Molina; que define toltecáyotl como “a arte de viver”.
O Dicionario Manual e Ilustrado de La Lengua Española, da Real Academia Espanhola, em sua segunda edição, de 1950, registra os termos nagual e náhuatl, para o qual apresenta a grafia “naguatle”, e ainda nos informa sobre o termo “naguatlato”, que signfica o falante do náhuatl:
NAGUAL. m. Méj. Brujo, hechicero. || Hond. El animal que uma persona tiene de compañero inseparable.
/.../
NAGUATLATO, TA. adj. Dicese del índio mejicano que sabia la lengua naguatle.
NAGUATLE. ajd. Nahuatle.
NAHUATLE. adj. Aplicase a la lengua principalmente hablada por los índios mejicanos.
Bem, voltando ao Tratado de Toltecáyotl: aquilo que chamamos de mundo ou universo é um infinito ser consciente, constituído de infinitas emanações, ou átomos (ou supercordas) de consciência. A matéria prima de tudo que existe é a consciência, tudo é feito de consciência, tudo é consciência.
A esse ser infinito no seio do qual estamos, Don Juan chama a Águia.
Em outras obras, Carlos se referirá ao “mar escuro da consciência”. Don Juan havia lhe dito que ele também é um nagual, e os nanahualtin (plural de nagual, naguais) têm autoridade para criar novas palavras ou expressões, que representem melhor o modo de entender de cada povo de cada época, isto é, de cada tonal do tempo.
O mundo é feito de duas energias, uma clara, tonal, e uma escura, nagual. Há mais nagual que tonal, o tonal tem um princípio masculino (Carlos fala que o masculino é raro no universo), luminoso e formatador; o nagual é o princípio feminino, obscuro e plural, irradiador, semeador (o universo é predominantemente feminino). Um depende do outro, são duas faces da moeda.
Essa relação lembra o yin e yang, do taoísmo chinês, e, no entanto, Don Juan afirma que tudo que podemos nomear ainda é o tonal.
Como é difícil o homem da nossa tradução (e tradição) cultural ver com bons olhos a força feminina! Brilhante Jung, o “filho de Freud” que foi além de seu mestre, ao perceber o caráter maravilhoso do inconsciente, mesmo assim nos mostra esse déficit, não tanto seu, quanto da visão europeia que lhe serve de solo e húmus para as investigações e os aprofundamentos:
Não se escandalize o leitor se a minha digressão soa como um mito gnóstico. Movemo-nos aqui no terreno psicológico em que está enraizada a gnose. A mensagem do símbolo cristão é gnose, e a compensação do inconsciente o é ainda mais. O mitologema é a linguagem verdadeiramente originária de tais processos psíquicos e nenhuma formulação intelectual pode alcançar nem mesmo aproximadamente a plenitude e a força de expressão da imagem mítica. Trata-se de imagens originárias cuja melhor expressão é a imagística.
O processo aqui descrito apresenta todos os traços característicos de uma compensação psicológica. Sabe-se que a máscara do inconsciente não é rígida, mas reflete o rosto que voltamos para ele. A hostilidade confere-lhe um aspecto ameaçador, a benevolência suaviza seus traços. Não se trata aqui de um mero reflexo ótico, mas de uma resposta autônoma que revela a natureza independente daquele que responde. Assim pois o “filius philosophorum” não é a mera imagem refletida do filho de Deus numa matéria imprópria; esse filho de Tiamat apresenta os traços da imagem materna originária. Embora seja nitidamente hermafrodita, seu nome é masculino, revelando a tendência ao compromisso do submundo ctônico, refeitado pelo espírito e identificado com o mal: ele é indiscutivelmente uma concessão ao espiritual e ao masculino, embora carregue o peso da terra e o caráter fabuloso de sua animalidade originária.
E, também, há muita fantasia sobre o que é masculino e feminino (autocrítica da minha explicação).
Muito interessante esta reflexão de Starhawk:
Por que existem dois sexos? Pela mesma razão que cortamos as cartas de um baralho antes de as embaralharmos. A reprodução sexual é um método elegante de garantir máxima diversidade biológica. No entanto, não descreveria a qualidade essencial do fluxo de energia erótica que sustenta o universo como sendo uma polaridade feminino/masculino. Fazê-lo significa determinar os relacionamentos humanos heterossexuais como o padrão básico de todos os seres, relegando outros tipos de atração e desejo à condição de desviantes. Esta descrição não somente torna invisíveis as realidades homossexuais e bissexuais; ela também isola todos nós, independetemente de nossas preferências sexuais, da intrincada dança de energia e atração que podemos sentir em relação às árvores, flores, pedras, o mar, um bom livro ou uma pintura, um soneto ou uma sonata, um amigo íntimo ou uma estrela distante. Pois a energia erótica inerentemente gera e celebra a diversidade. E a religião da Deusa, em seu âmago, é precisamente a dança erótica da vida atuando através da natureza e da cultura.
Mas, veja bem, esse respeito por outras tradições e aprendizados, e esse diálogo que proponho, não significam que seja tudo a mesma coisa, ou que sejam redutíveis um ao outro.
Devido às várias invasões do vale do México por tribos belicosas, e depois a chegada dos europeus, os toltecas se esconderam e continuaram seu trabalho, em incontáveis grupos muito restritos, cada um com uma linhagem, com sua visão e suas descobertas próprias; mesmo cada nagual e cada guerreiro têm as suas predileções. Esses grupos são isolados e pouco se comunicam entre si.
Com a chegada de Carlos e seu trabalho de disseminação, tudo se complicou, mas as linhas, que agora se multiplicaram, continuam tendo cada uma a sua especificidade. Carlos não veio acabar com as linhas, veio potencializá-las.
Don Juan falou várias vezes nos livros, e as feiticeiras do seu grupo em Sonhos Lúcidos : não faziam paganismo, danças, rituais, etc, isso seria um beco sem saída para eles; todo aquele “papo de índio” de Don Juan no início foi uma forma de fisgar Carlos, pois todo nagual tem que enganar seu aprendiz, nenhum homem ou mulher que valha a pena se dedicariam voluntariamente ao aprendizado (é o que Don Juan lhe fala). Na verdade, o início da obra, os dois primeiros livros, além de serem uma mostra da espreita, e de como é aprendizado para o lado direito, são também material antropológico valioso, não sobre uma tribo ou etnia, mas sobre aquele grupo em especial, e ao mesmo tempo sobre esse saber e fazer espraiado pelo México e pela América, o nagualismo.
O jovem Don Juan fugiu da casa de seu benfeitor, o nagual Julián, tentando romper com o grupo do nagual e o aprendizado, para morrer e ressuscitar, e aí entender que não havia caminho melhor para ele.
Carlos também “abandona” o aprendizado (do lado direito, aquele realizado em consciência intensificado continuou, no interregno), em 1965, voltando em 1968, para mostrar o livro A Erva do Diabo recém-publicado a Don Juan, e imediatamente a relação se recompôs, como sempre fora.
Margaret Castaneda conta que Carlos continuava indo frequentemente ao México e se encontrando com índios, durante esse período, no qual ele alega que supostamente teria se afastado de seu benfeitor .
Houve três estratagemas na espreita do nagual Don Juan para trazer Carlos para seu grupo e o aprendizado: 1) a fascinação “folclórica” pela visão panteísta dos indígenas, que ele cultivou com muitos relatos e comportamentos rituais falsificados (de nada vale estudar o que ele faz nos primeiros livros, para conhecer e praticar a feitiçaria yaqui ou qualquer outra, ou para conseguir os mesmos resultados; ele está encenando ali o “bom selvagem”, para o deleite de Carlos e o seu); 2) o uso de plantas de poder e outros meios para soltar o ponto de encaixe de Carlos, firmemente cimentado no bom senso e no senso comum (incluam-se aí caminhadas pelo deserto, escaladas de colinas, dias sem comer, romper as rotinas etc); 3) um adversário de valor, que é um uso requintado e sofisticado da espreita.
A espreita vem de fora e vem de dentro. Entender quem nos aborrece ou oprime como pequenos tiranos que ajudam no nosso desenvolvimento dos princípios da espreita é um ato de poder do guerreiro. Defrontar-se com um adversário de valor é um ato de poder que vem do mestre, seja ele um homem, um inorgânico ou a própria Águia.
No caso de Carlos, seu adversário de valor foi La Catalina , uma mulher incrivelmente poderosa, uma bruxa do ciclo de Don Juan, aprendiz junto com ele do Nagual Julian.
Mas Carlos não sabia disso: só que ela era assustadora, perigosíssima (poderia tê-lo matado, e quase o fez, mais de uma vez) e que ele sentia uma grande atração sexual por ela, mesmo com todo o medo que lhe tinha.
Na espreita de Don Juan, ele pretendeu que La Catalina era sua inimiga, e ameaçava sua vida, e que Carlos era o único trunfo que ele tinha contra ela. Na verdade, ela era aliada de Don Juan, e ela é que era seu trunfo, para evolucionar Carlos, fazê-lo aprender a ferro e fogo, ser uma das suas provas de fogo, para se tornar um homem de conhecimento.
Estou repetindo muito a palavra “mestre”, mas Don Juan recusava terminantemente esse apodo.
Eu lhe disse que recebera cartas de várias pessoas, dizendo-me que era errado escrever sobre minha aprendizagem. Citavam, como argumento, que os mestres das doutrinas esotéricas orientais exigiam segredo absoluto acerca de seus ensinamentos.
- Talvez tais mestres estejam apenas se divertindo com seu mestrado - disse Dom Juan, sem olhar para mim. - Não sou mestre, apenas um guerreiro. Assim, não sei, realmente, como um mestre se sente.
- Mas talvez eu esteja revelando coisas que não deva, Dom Juan.
- Não importa o que se revela e o que se guarda para si. Tudo o que fazemos, tudo o que somos, reside em nosso poder pessoal. Se temos o suficiente, uma palavra que nos for pronunciada pode ser suficiente para mudar o rumo de nossas vidas. Mas, se não tivermos suficiente poder pessoal, o fato de sabedoria mais magnífico nos poderá ser revelado sem que tal revelação faça a menor diferença. - Ele aí abaixou a voz, como se estivesse me contando algo confidencial. - Vou pronunciar o que é talvez o maior fato de sabedoria que qualquer pessoa possa exprimir. Vejamos o que você pode fazer com isso: sabe que neste momento você está cercado pela eternidade? E sabe que pode usar essa eternidade, se o desejar?
Domingo Delgado Solórzano, em O Nagual de Cinco Pontas, considera que há várias Águias habitando um local, local este que seu benfeitor Don Chema chama de Cero, Zero. A nossa é a Águia Aura Negra. Os Nanahualtin de cinco pontas são parte do sistema de reprodução das Águias, e estão engajados na criação da Águia Aura Âmbar. (É uma descrição muito complexa, o texto de Domingo é todo para a consciência alterada, mas, neste estágio, penso que ele nos conta que naguais de três e quatro pontas se aliam e juntam na Hexápoda, gerando o nagual de cinco pontas, o qual, ao entrar para a quarta atenção, se torna um ponto de encaixe gigante da águia, podendo, ao entrar em quinta atenção, se tornar o ovo de uma nova águia, assim fazendo a reprodução cósmica.)
Essa nova contribuição é altamente problemática, por uma dissenção ou bifurcação filosófica possível, sendo que, paradoxalmente, os dois caminhos têm validade.
Em Castaneda, a águia é o todo da energia, que inclui todos os universos paralelos, se os houver. Lembremos que Juan lhe diz: não tente transformar isto que estou lhe falando no que você já sabe ou pensa que sabe (referia-se à ideia de universo, planetas etc). Então, não faz sentido falar no lugar das águias, a águia é o todo da energia, o criador máximo, o controlador de tudo. Se bem que o problema do lugar é um paradoxo milenar, a chora de Platão, o todo da energia está em algum lugar, mesmo que não haja lugar, o ser já funda um lugar!
Por outro lado, a ideia de infinito é rica e se desdobra, o universo é infinito e, no entanto, há infinitos universos paralelos, para a física “dura”, a física “científica”, com suas equações e funções. Assim, a águia também se torna fractal, e parece fazer todo o sentido que haja infinitesimais águias, e sempre mais, como num caos-criador, um caosmos (Joyce, Deleuze e Guattari), como na proposta da física quântica de que, ante qualquer alternativa, as duas possibilidades se realizam concomitantemente, fundando mais e mais universos paralelos.
Os toltecas da época de Don Juan se chamavam de novos videntes, ou guerreiros da liberdade total. Porque os toltecas anteriores ou antigos videntes estavam muito entusiasmados com o controle da segunda atenção e com o poder daí resultante, o que implicava inclusive em se tornarem seres inorgânicos e viverem por bilhões de anos, nessa forma.
Mas há também outra teoria. Talvez os toltecas sejam sempre os novos videntes, e os antigos videntes tenham sido os olmecas. Os eventos que levaram ao fim dos antigos videntes, e ao seu escondimento, e à formulação das técnicas de espreita e o estabelecimento da meta como liberdade total (terceira atenção) podem marcar o fim dos tempos pré-clássicos e início do clássico. O sumiço em massa dos toltecas no século IX pode significar não uma repressão, mas sim que “populações de cidades inteiras entraram juntas na terceira atenção”, como disse Don Juan para Carlos Castaneda.
Sobre os olmecas há também muitos mistérios .
Enormes esculturas de cabeças olmecas representam clara e indubitavelmente traços negroides. Há quem especule que eles eram africanos.
Seu centro cerimonial, obra magnífica, foi obliterado para escavações, por uma refinaria de petróleo!
La Venta foi habitada pelo povo da Cultura Olmeca de 1200 a. C. até 400 d. C., depois do que o local parece ter sido abandonado. Era um importante centro cívico e cerimonial.
Hoje, toda a terminação sul do sítio foi coberta por uma refinaria de petróleo, e foi largamente demolida, tornando as escavações difíceis, ou impossíveis.
Os guerreiros da liberdade total consideram a possibilidade de se mudar para a segunda atenção, mas, mesmo se a assumirem, ela fica sendo só um ponto de manobra, um lugar de repouso, para continuar intentando a terceira atenção (1ª = mundo orgânico, 2ª = mundo inorgânico, 3ª = ambiente da águia).
Carlos fala que existe um lugar gigantesco na segunda atenção, construído pelo intento de homens de conhecimento que lá chegaram, e que é chamado de “cemitério de naguais” ou “cúpula dos naguais”; é maior do que qualquer estrutura natural do nosso planeta Terra. Ali eles podem continuar tentando o grande salto.
A segunda atenção é uma irmã gêmea da primeira atenção, que chamamos vulgarmente de real. As duas são reais, aliás, todas as atenções. O homem comum (“the average man”) considera as outras atenções como loucura ou sobrenatural, simplesmente.
Para Carlos não há loucura, há impecabilidade (saúde) ou falta de impecabilidade (que produz a loucura ou a doença). A impecabilidade sabe fixar o ponto, e movê-lo sob controle. A loucura é o descontrole, o movimento errático do ponto de aglutinação (o que é admitido como “normal”, parcialmente, no sonho comum; no ensonho se controla o delocamento, do mesmo modo). Para ele não há sobrenatural, mas sim outras dimensões da realidade.
A segunda atenção nos é muito próxima, vamos a ela quando sonhamos ou nos perturbamos por intoxicação, fome, cansaço, paixão etc. Chamo-a de gêmea da primeira atenção não por serem iguais, não são, mas por agirem como duplas, estarem profundamente ligadas e mutuamente relacionadas. A terceira atenção já é mais diferente, implica numa mudança muito grande de nível.
A liberdade total é entrar em terceira atenção e se tornar o mito vivo Quezalcoatl, a serpente de plumas. O ponto de encaixe se move numa velocidade maior que a da luz por todas as emanações do casulo luminoso, e o guerreiro vira uma explosão de luz, passando a um outro nível de consciência, uma nova dimensão.
(Solórzano diz que a terceira atenção também pode ser usada como um ponto de partida para a quarta e a quinta atenções.)
Bom, os livros de Carlos tratam de muito mais coisa, ao lado de narrativas (contos de poder) tremendamente líricas e impactantes. Este livro todo é um pequeno referencial da minha recepção do que ele faz, então o resumo não está todo aqui neste trecho, ele é este meu livro todo.
O sucesso da obra de Carlos Castaneda em todo o mundo contribuiu para que se começasse a pensar nos índios americanos como algo mais que selvagens . Muitos intelectuais e antropólogos mexicanos e de outros países da América Latina iniciaram uma busca pela complexidade da realidade anterior à conquista, como forma de encontrar a sua identidade cultural e também reivindicar grande parte da herança que é nossa, e que havia sido obliterada pelas falsificações e mascaramentos das culturas das milhares (isso mesmo, milhares) de civilizações indígenas que havia neste continente quando os europeus aqui chegaram.
No livro A Erva do diabo (Os Ensinamentos de Don Juan), temos a emocionante descrição dos quatro inimigos do homem de conhecimento: medo, clareza, poder e velhice. O um todos enfrentam, o quarto quase todos. O dois e o três, só os guerreiros impecáveis que caçam o poder.
É preciso entender que o estado de medo é a condição natural do homem comum, de todos nós, e é o patamar de poder, ou pouco dele, no qual todos estão e do qual os aprendizes partem, o ponto de partida.
As notas de campo que chegaram até nós são as que reproduzo traduzidas por mim no Anexo A, as anotações originais que contêm a conversa em que Don Juan instrui Carlos sobre os quatro inimigos do homem de conhecimento. As anotações são dos dias 8 de abril de 1962, sábado, e 15 de abril de 1962, domingo, e correspondem às que estão relatadas nestas datas, em A Erva do Diabo , mas a redação está muito diferente, bem como o modo de Don Juan falar, o texto parece claramente ter sido editado e “organizado”, para que o assunto ficasse coerente e não houvesse variação de tema durante a conversa. A personalidade de Don Juan das notas é um pouco mais dura e crua, mais genuína, e a conversa é ainda mais rica e plural do que a do livro!
Quando Don Carlos Castaneda pergunta a Don Juan sobre seu benfeitor e o lugar onde moravam, ele responde:
Isso não te posso dizer. Assim como você tem a mim, o meu tempo, e não poderá dizer onde me conheceu, onde me viu, onde me encontrou, nem como eu me chamo. Essa é a regra com respeito aos bruxos. Essa é a regra quando se quer saber, quando se tem boa vontade.
Igualmente para Carlos, tudo que ele declarou sobre Don Juan e sobre si mesmo não pode ser factual, ele está além da antropologia e da própria noção ocidental de cientificidade, está trabalhando com o poder, a consciência pura, o intento, e seus desígnios.
Don Juan não lhe permiiu igualmente que gravasse sua voz ou fotografasse sua imagem. Dizem que os índios rejeitam a fotografia porque ela “rouba a alma” do indivíduo. No caso de Don Juan, há vários traços da estratégia a considerar: preservar sua “alma”, na verdade, sua fluidez; não sujeitar o guerreiro às instituições ocidentais (“Vários homens de conhecimento já deixaram seus ossos nas salas de comprovação”); preservar o anonimato do nagual e de seu grupo, etc.
Mesmo assim, Margaret nos conta que:
Os anos de Carlos no (trabalho de) campo geraram várias centenas de páginas de notas, algumas fotografias, um breve filme de 16 mm e algumas entrevistas gravadas, a maioria dos quais, mais tarde, ele negou ter. Carlos reformulou o tempo todo as suas notas de campo, tentando colocá-los em uma forma mais legível.
(Sem que eu tivesse pensado sobre isso, toda a informação deste livro aparece dobrada, replicada, em dobro: a marca do ser duplicado, 4 p.)
Carlos Castaneda e a Fresta Entre os Mundos - Vislumbres da Filosofia Ānahuacah no Século XXI foi (estudado, experimentado, desenvolvido, pesquisado e recolhido desde 1989, e) escrito no Ano da Graça de 2011 e publicado em 2012 (ano que marca o início do 6° Sol).
Nunca antes, na história da literatura universal, uma obra teve tanta informação compactada por centímetro quadrado, cúbico, penta, hepta ou eneadimensinal!
Minhas hipóteses, com as quais trabalho, e que desenvolvo nesta obra, são:
1 - O nagualismo é uma prática real, efetiva e original, criada por colaboração de várias culturas americanas; visa à qualidade de vida, à criação de uma vida superior, à libertação de elementos baixos do ethos humano, e à evolução do indivíduo e da espécie (o que Nietzsche chamava de super-homem).
2 - O nagualismo é um dos primeiros e mais fortes fenômenos panamericanos, era praticado ao longo de todo o continente que um dia viria a se chamar América, desde o Alasca até a Terra do Fogo, sob diversos nomes, em diferentes línguas, e com muitas técnicas específicas acopladas, mas era uma descoberta continental, que os povos mongólicos fizeram aqui ao longo dos milênios de adaptação. Está nas feiticeiras canadenses, nas inúmeras nações pele-vermelhas que viveram no que hoje são os Estados Unidos e México, nos maias, nos incas, e entre os milhares de povos da América do Sul .
3 - Carlos Castaneda fez um achado antropológico de uma importância gigantesca; encontrou a ponta de um iceberg. Ele mesmo deu várias indicações comprovadoras, e, ao lado dele, depois dele, independemente dele, como vamos demonstrar, essa pesquisa de resgate e reatualização continua, numa potencialização cada vez maior, rumo a uma evolução específica, o que era justamente a proposta e a profecia desses povos pré-colombianos: em 2012 entraremos no 6° sol, e a redescoberta do nagualismo tem papel fundamental nessa transformação.
4 - Hoje sabemos, inclusive por comprovação genética, que povos do oriente vieram viver na América, através de vários caminhos, Estreito de Behring, ilhas Aleutas e até embarcações. Trouxeram o embrião do que seria o nagualismo, numa visão xamãnica original, diferente da euroafricana, e que na Ásia se desenvolveu em várias tradições fortes e milenares, como o hinduísmo, o taoísmo e o zen. Esse gérmen aqui deu em muitos frutos de conhecimento, mas a maioria deles está ligada pela perspectiva nagualista (mesmo com outro nome, dependendo da língua e da cultura do povo).
5 - O nagualismo não é religião, nunca foi, e perde sua força e suas características quando é assim tratado. Por outro lado, ele é uma herança viva e ativa dos povos americanos, um dos mais lindos presentes que damos ao mundo humano, e podemos, todos e cada um de nós, nos beneficiarmos dele, de uma forma tão efetiva e afetiva quanto o faziam os povos que aqui viviam, há centenas e milhares de anos atrás.
Consequentemente, o meu objetivo neste livro é:
1 - Dar a minha interpretação do nagualismo.
2 - Demonstrar que ele tem bases na América pré-colombiana, em uma intercomunicação continental que já dura milênios, o que pode servir de apoio para uma nova integração dos nossos povos americanos.
3 - Mostrar que o nagualismo tem desenvolvimentos atuais e futuros.
4 - Fazer relações da toltequidade com outras tradições.
5 - Convidar o leitor ao aprendizado.
Ver-se-á que os Vislumbres são todos feitos de duplicações, e ainda, ao lado dos cinco objetivos, seguem os nove caminhos propostos por Taisha Abelar (ver capítulo 3).
Mas é um livro fractal, com certeza, dentro da minha proposta literária e filosófica, espelhando e emitindo para todos os textos que já escrevi, dos mais singelos aos mais sofisticados, da carta infantil ao tratado da multiconsciência afro-brasileira; e esse aspecto da geometria dos fractais que lhe cabe faz com que as duas visões, os cinco objetivos e os nove caminhos estejam presentes em todas as páginas; mesmo quando estamos numa seção do livro que traz nominalmente um dos títulos citados.


























2 - As Huehuetlahtolli - as Palavras Antigas
Juntos, estamos atravessando a fresta entre o mundo natural da vida cotidiana e o mundo não visto, o qual dom Juan chamou de “a segunda atenção”, um termo que ele preferia a “sobrenatural”.
Carlos Castaneda

Don Juan dizia que o crepúsculo é a fresta entre os mundos , é uma fresta real, pois marca a diferença entre o dia e a noite, o claro e o escuro, o conhecido e o desconhecido, o tonal e o nagual, o sonho e a vigília.
Mas a fresta ou fenda (crack) está o tempo todo à nossa frente, esperando o nosso comando, como um olho gigante (Helena La Gorda falou para Carlos que, depois que perdeu a forma humana, via o tempo todo um olho gigante na frente do rosto, e entrava por ele para passar à segunda atenção), ou uma porta perto de nós e sempre prestes a se oferecer.
Carlos nos conta que existe o molde do homem, o conjunto de fibras luminosas que são selecionados para formar o casulo humano, e a forma do homem; Carlos viu o molde do homem, e, em outro momento, perdeu a forma humana (são experiências virtuais); Don Miguel Ruiz e Don Jose Ruiz assim explicam tal forma:
Essa estrutura é o que os toltecas chamam de forma humana. A forma humana não é o formato do corpo físico; é a forma que nossa mente assume. É a estrutura de nossas crenças sobre nós mesmos e sobre tudo o que ajuda a dar sentido ao nosso sonho. A forma humana dá a nossa identidade, mas não é igual à moldura do sonho. /.../
Carlos Castaneda nos conta que havia escrito um livro sobre Don Juan antes de The Teachings, mas que perdeu o manuscrito num cinema. O título dessa obra era The Crack Between Worlds, A Fresta entre os Mundos .
O conhecimento silencioso leva ao aprendizado.
Os elementos que, segundo Carlos, em El Silencio Interno, nos possibilitam chegar a ele são: 1 - passes mágicos; 2 - o centro de decisões; 3 - a recapitulação; 4 - o ensonho; 5 - o silêncio interno.
Vamos falar detalhadamente de cada um deles; só o centro de decisões que explico agora, é a cavidade em forma de V na base do pescoço, que deve ser trabalhada na tensegridade para que o homem possa retomar seu poder de tomar decisões, que foi obliterado pela socialização (não decidir nada por si, seguir o rebanho), a partir daí podendo se tornar um guerreiro e um homem de conhecimento. O centro de decisões é muito importante e poderoso, deve-se até evitar tocar, indiscriminadamente, nele.
Carlos afirma em O poder do Silêncio que o ponto de encaixe da humanidade esteve (nos tempos do toltecáyotl) no lugar do conhecimento silencioso, que é produzido pela posição da não-piedade, não sentir pena de si mesmo (e dos outros, que é sempre mascaramento do apiedar-se de si mesmo). O homem atual estaria no lugar da razão, o que não é fato, está próximo, mas nem isso ele consegue. Chegar ao lugar da razão é uma boa alternativa, também, pois de uma posição se vê a outra, antípoda. Quer dizer, os homens de conhecimento são superracionais.
Taisha Abelar, na conferência “Os nove caminhos”, proferida na noite de sábado, 26 de maio de 1995, no Instituto Omega (transcrita por Rich Jennings), dá esta versão dos passos do poder, e propõe as nove técnicas para mover o ponto de encaixe, ou ponto de alinhamento, ou ponto de aglutinação, ou, produzir o ponto de mutação:
/.../ Através da disciplina e do treinamento, os bruxos podem fazer com que o seu corpo energético apareça como o corpo físico e vice-versa. Taisha viu pela primeira vez o corpo energético depois de desenvolver bastante sobriedade mediante o silêncio interior, e desta forma permitiu à luminosidade do seu ovo luminoso crescer outra vez acima do nível de seus calcanhares. Então Emilito lhe mostrou seu corpo energético, encenando algo assim como “o passe da sacudidela” [“el pase del sacudón”] (uma vibração que permite aos bruxos agitar o corpo físico). Tal como Emilito o fez, seu corpo energético apareceu como uma nuvem de energia que o envolvia.
Isto é algo que não se pode ver com os olhos, e sim com todo o corpo energético.

OS NOVE CAMINHOS

Estes são os nove caminhos nos quais os discípulos de don Juan foram treinados.
Todos resultam harmoniosos e não são nocivos, se se procede lenta e atentamente.
Os nove caminhos podem ser usados em separado ou em combinação com os outros:
1. Tensegridade
2. Recapitulação
3. Não-fazeres
4. Pequenos tiranos
5. Técnicas de observação (Gazing)
6. Silêncio total (ou interno)
7. Disciplina e ações impecáveis
8. Ensonho
9. Espreita (Acecho)
(Nota: Os nove caminhos estão listados basicamente em ordem crescente em relação à consciência necessária para os praticar adequadamente. Os últimos, ensonhar e espreitar, sendo os mais complicados, requerem haver aumentado nosso nível de consciência, luminosidade, no mínimo acima dos tornozelos). /.../
Nesta obra pretendo dar a minha interpretação e vivência, através das leituras e práticas pessoais, daquela de Carlos, que marcou profundamente a minha vida, como penso que ainda virá a marcar toda a humanidade, a partir deste século.
Leiamos uma postagem do fórum Juan Yoliliztli, na qual ele própria fala sobre a sua leitura dos nove caminhos:
Nove formas de mover o ponto de encaixe?
Na verdade há milhares de formas de movê-lo, os antigos eram especialistas nisso, porém Don Juan recomendava o intento puro e simples, quando usamos métodos para conseguir o movimento se corre o risco de acabar adorando o método.
Porém, em resposta a cada uma das técnicas citadas, eu comento que a tensegridade, como qualquer outra série de exercícios, pode mover o ponto de encaixe, seja pela concentração requerida para a repetição de movimentos complexos (e o consequente silêncio) ou pelo esgotamento físico, que também é uma porta para o dito movimento. A recapitulação consegue o movimento do ponto de encaixe por meio da manipulação da memória, o que leva a reviver os acontecimentos a tal ponto que estes deixam de ser um lastre em nossas vidas, gerando, assim, mais consciência e liberdade.
Os não-fazeres, sem dúvida, ajudam a mover o ponto de encaixe, desde que, ao fixar a nossa atenção em tópicos aos quais não estamos acostumados, saímos do parâmetro do comum, e isso é o suficiente para afetar a percepção cotidiana. Os Pequenos tiranos nos obrigam a ir além de nossos limites, e isso, se move o ponto de encaixe, o importante aqui é exercitar o controle.
As técnicas de observação são efetivas, sempre e quando se estendam por um longo tempo, até que algo se rompa dentro de nós e o ponto se move. O silêncio é, sem dúvida, o melhor meio para alcançar o movimento do ponto de encaixe, e para isto, só se necessita do intento, como já comentei.
A disciplina e as ações impecáveis são obviamente uma forma de se referir a tudo o que foi citado anteriormente, não são técnicas em si, mas são aplicáveis a outras técnicas, e, como comentário adicional, elas se deveriam aplicar a tudo o que fazemos na vida.
O ensonho é obviamente um resultado do movimento do ponto de encaixe, e não uma técnica em si, enquanto que a espreita é uma técnica, que permite não só o movimento como também proporciona os meios para manter o ponto fixo, uma vez que se consegue o movimento.
Saudações, Juan Y.
Juan Yoliliztli, o autor desta resposta do fórum, que ele reporta no seu livro Diálogo de Guerreros (todo o livro é o material das discussões do seu grupo da internet, copiado) faz um trabalho muito importante de continuidade das investigações, com seus livros, sites, e com a edição de Los Testigos del Nagual, entrevista de várias pessoas que conheceram Carlos (e alguns até Don Juan) e dos Encuentos con el Nagual, de Armando Torres.
Mas nem com tudo concordamos, é claro, claríssimo. Coloquei a citação dele aqui porque gosto de polêmica, e ele discorda de Taisha, o que é ótimo. Agora, por exemplo, é óbvio que o ensonho é uma técnica sim (com seu conjunto de procedimentos progressivos, os seis [ou mais, na verdade, sempre há mais] portões do sonhar), a mais claramente técnica que ele recusou, todas são, e todas são movimentos do ponto de encaixe também, justamente por serem técnicas que o propiciam; vou explicar cada uma melhor, em cada capítulo.
Víctor Sánchez, em Os Ensinamentos de Don Carlos, também propõe a sua lista de técnicas, claro, pertinentes e utilíssimas: 1 - Inventário do uso de energia. 2 - Técnica para saber a qualidade energética dos atos. 3 - Referências para saber com quanta energia nascemos. 4 - Técnica para suspender emoções ou pensamentos desgastantes. 5 - Técnica de economia de energia e bem-estar (“Pratique rigorosamente e por período de três ou mais dias uma regra de ouro: NÃO CRITIQUE, NÃO CONDENE, NÃO SE QUEIXE”. ) 6 - Técnica do silêncio. 7 - Economia da eneriga sexual. 8 - Técnica para captar energia do sol . (Na verdade, ele apresenta 77 técnicas ao longo do livro, e a lista de todas elas está nas pp. 265-268.)
O nagual transcende o humano, o próprio frei franciscano Sahagún o percebeu, ele, que foi tão fundamental para preservar a língua e os elementos dessa civilização, do lado dos colonizadores, que, em sua maioria, não sabiam nem queriam saber do que se tratava.
Frei Sahagún estudou para dominar; hoje, tantos estudantes do toltecáyotl utilizam suas obras para se informar sobre as antigas tradições.
Um nagual está tão distante do ser humano comum e corrente, como este último está da ameba. Como diz o Códice Matritense, NAWALLI ATLAKATL, “o nagual não é humano”.
Uma das formas de procurar entender o Nagualismo (Nauallotl) ou Toltequidade (Toltecáyotl) é nos determos um pouco sobre as características da razão clássica ocidental, e procurar ver em que medida a feitiçaria as ratifica ou retifica (enquanto uma certa ciência do senso comum as reifica). Mesmo o homem comum e o seu uso do bom senso e do senso comum, em nosso mundo, vêm marcados pelos princípios da razão clássica, e, seja ele um cientista ou um homem da rua, considera loucura o que dela fuja:
1) Princípio da identidade. Uma coisa tem uma “essência” ou identidade única, como quando se define uma figura geométrica, um triângulo é uma figura de três lados, e uma figura de três lados é um triângulo, sempre. Uma coisa é uma coisa e nunca deixa de ser o que é, sempre retém a sua identidade. Jorge é sempre Jorge, ele nunca “vira” uma outra pessoa ou coisa. Esse princípio se desdobra nos dois próximos.
2) Pricípio da contradição. Uma coisa não pode contradizer sua própria “essência”, sua identidade. O triângulo não pode ser uma figura de quatro lados. Jorge não pode deixar de ser Jorge.
3) Princípio do terceiro excluído. Sempre que surgem duas alternativas, uma delas é a verdadeira, e, ipso facto, a outra é falsa, não havendo uma terceira possibilidade. Isso é um triângulo ou não? Ou sim, primeira possibilidade, ou não, segunda. Não há uma terceira. Claro que ele pode ser um círculo, um quadrado etc. Mas aí se fundam novas alternativas, que sempre excluem a terceira possibilidade. Vejo alguém de longe; pode ser o Jorge. Ou é o Jorge ou não é o Jorge. Não há uma terceira cláusula.
4) Princípio da causalidade. Tudo tem suas causas, nada vem do nada. Esse triângulo foi desenhado por alguém, essa cadeira foi fabricada, Jorge teve pais. Se eu desconhecer a causa de algo é apenas uma limitação do conhecimento, mas, esse algo tem que ter uma causa.
Já comentamos que, em O Poder do Silêncio, Don Juan afirma que há duas posições antípodas do ponto de encaixe que a humanidade conhece: a posição da razão (que leva à submissão aos princípios racionais) e a posição do conhecimento silencioso (que leva à não piedade). Vamos ver agora como a Toltecáyotl se diferencia dos princípios da razão:
1) Princípio da identidade. Cada ser é constituído de um aglomerado de emanações da Águia, quer dizer, de fibras do todo energético, e todas elas são conscientes. Logo não podemos nos entender como uma unidade só, mas sim como um mosaico, uma polifonia de visões e sensações, que se harmonizam num ser (a natureza esquizo do ser, em O Anti-Édipo, de Deleuze e Guattari ). Em I was Carlos Castaneda, o famoso antropólogo fala ao escritor Martin Goodman que o homem tem três cérebros que não independentes e funcionam independentemente, sendo que, de acordo com a situação ou a pessoa, um deles pode predominar totalmente sobre os outros: o paleocortex, o mesocortex e o neocortex. O primeiro é o cérebro R, dos répteis, que só se preocupa com território, alimentação e sexo. O segundo é o cérebro dos mamíferos, que se centra nas questões afetivas. O terceiro é o cérebro humano, que inventa, fantasia, raciocina etc. Mesmo numa descrição fisiológica, não somos um só. Jorge Mautner gosta de falar que temos quatro cérebros que fingem que são um só, porque aí ele está tendo em conta os hemisférios direito e esquerdo.
2) Princípio da contradição. Tudo que o tolteca afirma ele cumpre, ele é muito rigoroso com suas palavras, porque considera que elas intentam, e não podem ser mudadas. Neste sentido, ele não se contradiz. Mas, logicamente falando, quando Don Juan, por exemplo, vira um corvo, ele está “contradizendo” sua essência humana, e é nesse sentido que a feitiçaria sai dos limites do princípio da contradição. A espreita, quando induz comportamentos inusuais e inesperados, mesmo pelo próprio espreitador, também.
3) Princípio do terceiro excluído. Então, Jorge é um índio do terceiro mundo, que viveu numa reserva, e atualmente caça no deserto. Então ele é isso, e, tudo bem, podemos nos regozijar em vê-lo reproduzindo seu comportamento esperado, padrão. Mas quando ele discute os princípios do Cosmos, pro qual, aliás, ele apresenta toda uma nova terminologia e visão, ou quando ele veste um terno e investe na Bolsa de Valores, então ele é o Jorge índio e é uma outra coisa, ao mesmo tempo. Os exemplos dados na verdade se referem a Don Juan.
4) Princípio da causalidade. Os estóicos falam em quase-causas, pois não acreditam que os corpos afetem os corpos, e o que acontece, os efeitos, são os incorporais, os acontecimentos (“Ninguém faz nada a ninguém, especialmente a um guerreiro”, diz Don Juan). Essa expressão ou conceito, quase-causa, que já era, na Grécia antiga, uma forma de ultrapassar a razão clássica, poderia ser usada para o mundo dos toltecas também. Num universo predatório, cheio de camadas como uma cebola, em que o próprio ser humano é ele também uma pequena cebola, e recebe influxos visíveis e invisíveis o tempo todo, é preciso uma razão estóica e foucaultiana para sair da alienação da suposição de uma causa única, precisa e circunscrita para cada coisa.
Michel Tournier, em Sexta Feira ou os Limbos do Pacífico , mostra o encontro entre Robson Crusoé e Sexta-Feira como a eclosão desta nova lógica para aquele, que é descostruído tijolo por tijolo pelo “selvagem”, o qual, na verdade, em sua super-racionalidade não aristotélica, é muito mais sofistica(do), e, mais importante, mais feliz, que o europeu.
O romance de Michel Tournier se baseia em A Vida e as Estranhas Aventuras de Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, publicado em 1719 (o título original em inglês é The Life and Strange Surprising Adventures of Robinson Crusoe of York, Mariner: Who lived Eight and Twenty Years, all alone in an un-inhabited Island on the coast of America, near the Mouth of the Great River of Oroonoque; Having been cast on Shore by Shipwreck, where-in all the Men perished but himself. With An Account how he was at last as strangely deliver’d by Pyrates. Written by Himself), que conta a história real do marinheiro escocês Alexander Selkirk, abandonado a seu próprio pedido numa ilha do arquipélago Juan Fernández (que fica a mais de 600 quilômetros da costa chilena), onde viveu de 1704 a 1709.
A mesma visão sofisticada do não-ocidental, chamado erradamente de índio, selvagem, primitivo, neolítico, etc, pelo europeu, podemos ver no sensacional e tão simples livro O Papalagui, que traz os “comentários de Tuiávii, chefe da tribo Tiavéa, nos mares do sul”, isto é, na ilha de Upolu, que faz parte do arquipélago de Samoa; os pensamentos e ditos de Tuiávii foram recolhidos em livro por Erich Scheurmann .
Bem, é claro que a autenticidade foi contestada, e muitos veem o livro, hoje em dia, como sendo ficcional, a exemplo de Gunter Senft’s, em seu Weird Papalagi and a Fake Samoan Chief - A Footnote to the Noble Savage Myth (“O Estranho Papalagi e um Chefe Samoano Falso - Uma Nota de Rodapé ao Mito do Bom Selvagem [ou, Nobre Selvagem]).
A civilização pré-colombiana é chamada por seus habitantes de Cem Ānáhuac, forma que em língua náhuatl significa “totalmente” (cem) “circundado” ou “rodeado” (nahuac) por água (atl), expressão geral que os antigos habitantes do vale do México utilizavam para toda a sua terra, e, ao distinguir diferentes nações dentro dela, faziam as especificações: “ānahuacah maya”, “ānahuacah zapotecah”, “ānahuacahh mexicah”, e assim sucessivamente.
A Cuenca do México, Vale do México, na verdade, se refere à reunião de quatro vales, na parte central do território mexicano.
Também existe a grafia alternativa e a tradução de Cem-Ānáhuac como “O Mundo Único”.
A parte mais habitada de todo O Mundo Único é aquele grande côncavo ou depressão no platô, que os senhores chamam atualmente de Vale do México. Ali surgiram os lagos que tornaram aquela área tão atraente para a moradia humana. Na verdade, há apenas um lago formidável, comprimido em dois lugares por terras altas e invasoras, de modo que há três grandes espelhos de água ligados por passagens ligeiramente estreitadas. O menor e mais ao sul desses lagos é de água doce, alimentado por correntes limpas resultantes da fusão das neves das montanhas. O lago mais ao norte, onde passei meus primeiros anos, era de água avermelhada e salgada, por estar cercado de terras minerais que despejavam seus sais na água. O lago central, Texcóco, maior que os dois outros juntos e composto de suas águas salgadas e doces misturadas, era portanto salobro.
Guillermo Marín, que é um estudioso mexicano, preocupado em resgatar todos os aspectos políticos e gnoseológicos desta tradição, escreveu vários livros e artigos sobre o assunto, e diz:
No período de esplendor do Ānáhuac (200 a.C.- 850 d.C.), as transformações espirituais e materiais das diferentes culturas que, indiscutivelmente, foram sustentadas por uma linha de pensamento filosófico, ou uma “percepção” do mundo e de vida de tal magnitude, profundidade e extensão, que possibilitaram, não somente chegar a ser a civilização com origem autônoma que conseguiu o mais alto grau de desenvolvimento humano na história da humanidade, como também a que deixou a maior quantidade de pirâmides e vestígios arqueológicos do planeta, apesar de sua sistemática destruição.
Este conjunto de conhecimentos, sentimentos e valores se conhecem como Toltecáyotl, e são o legado mais valioso dos agora chamados mexicanos, e representa, indiscutivelmente, um valioso patrimônio cultural da humanidade. Como naqueles tempos, a Toltecáyotl foi transmitida a um seleto número de pessoas que alcançam a mestria e por isso o grau de “tolteca”. O povo ou os chamados masehuales viviam com as leis, normas, tradições, usos e costumes emanados da Toltecáyotl, o que lhes permitia viver em harmonia com os individuos, as famílias, os povos e a natureza.
No entanto, esta sabedoria sofreu um colapso, do qual desconhecemos as causas, até os dias de hoje. O certo é que por volta do ano 850 d. C., os habitantes do que agora se chama “zonas arqueológicas” do período Clássico destruíram pedra sobre pedra, cobriram esses lugares e literalmente desapareceram da face da terra, degrandando-se pouco a pouco os seus ensinamentos entre os masehuales através do tempo.
Este acontecimento se menciona no mito da partida de Quetzalcóatl, e seu profetizado regresso ao Anáhuac. Todavia, o conhecimento se manteve vivo num seleto grupo, porém de modo muito restrito, no período posterior, conhecido como Pós-Clássico (850 a 1521 d. C.), e se supõe que no início da invasão europeia, o calmécac de Cholula era dirigido por mestres toltecas, os quais “desapareceram” antes que Cortés chegasse a Tenochtitlán.
Com a conquista e a posterior colonização, os toltecas se refugiaram no “mundo do nahual”, invisível e impapável, não só para os europeus, mas em geral, para os ānahuacahs colonizados.
Segundo a tradição tolteca, se mantiveram grupos de toltecas na clandestinidade, formando diversas “linhagens” através de diferentes formas de manter o conhecimento. Uns usaram a medicina tradicional, outros a dança, outros ainda a música, e a maioria se manteve no hermetismo total, inacessível para o mundo colonial.
Guillermo Marín disponibiliza seus textos em site na internet, mostrando e argumentando que a civilização do Cem Ānáhuac era a mais desenvolvida do mundo, quando da chegada dos Europeus à América, e assim já o era, milênios antes, na época dos olmecas (Pré-Clássica, de 8000 até 200 antes de Cristo, mas, os olmecas apareceram ao redor de 3000 a.C), na época dos toltecas (Período Clássico, 200 a.C. até aproximadamente 850 d.C.) e na época dos astecas ou mexicas (Pós-Clássico, de 850 a cerca de 1521 d.C.).
Austin e Luján dividem espacialmente o México antigo em três superáreas culturais: Aridamérica, Oasisamérica e Mesoamérica. Eles também organizam assim o entendimento dos períodos mesoamericanos: pré-clássico (que inclui os olmecas), clássico (que inclui a predominância teotihuacana), o epiclássico e o pós-clássico (com a continuidade dos toltecas, os chichimecas e os mexicas) .
Foram duas guerras contra o nagualismo, dois opressores: talvez os invasores astecas tenham marcado o início do período dos novos videntes, preocupados com a espreita e a liberdade total (terceira atenção); e os espanhóis, que fizeram a invasão e chamaram de “conquista”, e que, com a opressão da igreja, dos nobres e dos comerciantes, ajudaram sem querer a intensificar os postulados da espreita e da liberdade.
Os novíssimos videntes surgem agora, no século XXI, com a quebra da linha da sucessão e a revelação que Carlos Castaneda fez em sua obra, espalhando e multiplicando (como esporos) as linhas.
Até mesmo um irlandês lutou contra a opressão no Cem Ānáhuac, e foi um grande revolucionário, que, cem anos antes da Revolução Francesa, da Revolução Mineira (absurdamente referida nos manuais de História como “inconfidência”) e da Independência Americana, tentou fazer a liberdade do México e a abolição da escravidão e da opressão dos índios.
Chamava-se William Lamport, nasceu em 1615, em Wexford, sudeste da Irlanda; tendo sido executado no México, em 1659. Seu nome ele espanholizou para Guillén Lombardo, e, segundo alguns, ele é o verdadeiro Zorro dos mitos, livros e filmes.
Outra coisa curiosa é a existência de uma tribo de índios, na Amazônia peruana e brasileira, chamados amahuaca, nome que lembra ānahuacah.
Quando os espanhóis chegaram à América, a cidade de Teotihuacán (atual cidade do México), no estado do México, era uma das cinco maiores do mundo, com educação pública, saneamento, ruas e estradas pavimentadas, enormes construções, pirâmides, astronomia e outras ciências muito desenvolvidas, inclusive a “engenharia genética” que produziu o milho (modificando a planta teozintle) e tornando comestível o nopal silvestre.
Como vimos, Cem Ānáhuac significa “terra entre águas”, “terra totalmente cercada de águas”, em náhuatl.
Teotihuacán ficava no meio do Lago de Texcoco, entre águas também, e alguns acharam que Cem Ānáhuac talvez se referisse à cidade.
Mas farta documentação mostra que o nome designa a todo o território em que se falava Náhuatl, desde o norte dos atuais EUA até a Nicarágua.
Vejam-se a esse respeito as “Crónicas de Índias”, feitas pelos espanhóis, sobre o México, como no caso de Bernardino de Sahagún, franciscano que escrevia em Náhuatl, em sua Historia General de las Cosas de Nueva España.
Ou a história contada pelos próprios mexicas, como a Crónica Mexicana de Fernando Alvarado Tezozomoc (1525-1610), indígena mexicano, neto de Moctezuma II, que foi intérprete da Real Audiência do Vice-Reinado de Nova Espanha, e que narra desde a fundação de Tenochtitlan até a chegada dos espanhóis.
E, sempre paralelos estes impérios do norte e do sul, o caso de Inca Garcilaso de la Vega, cujo nome real era Gómez Suárez de Figueroa, autor de Comentarios Reales de los Incas, que nasceu em Cuzco, no ano de 1539, e era filho do capitão Sebastián Garcilaso de la Vega Vargas e da princesa incaica Isabel Chimpu Ocllo (não confundir com o poeta espanhol Garcilaso de la Vega, que nasceu em Toledo, circa 1503, falecendo em Nice, 1536; por isso, pra evitar a confusão, nosso herói recebe o prenome Inca).
A esse respeito também, pode-se acessar gratuitamente na internet a íntegra da copiosa enciclopédia México Através de los Siglos (“História geral e completa do desenvolvimento social, político, religioso, militar, artístico, científico e literário do México desde a Antiguidade mais remota até a época atual”, domínio público), que foi publicada em 1880, projeto editorial ordenado pelo General Porfirio Díaz e dirigido pelo historiador Vicente Riva Palacio, e que se divide em 5 tomos:
Tomo I: História Antigua y de la Conquista (desde a antiguidade até 1521), por Alfredo Chavero.
Tomo II: Historia del Virreinato (1521 - 1807), por Vicente Riva Palacio.
Tomo III: La Guerra de Independencia (1808 - 1821), por Julio Zárate.
Tomo IV: México Independente (1821 - 1855), por Juan de Dios Arias (que morreu enquanto a escrevia) e que foi continuada por Enrique de Olavarría e Ferrari.
Tomo V: La Reforma (1855 - 1867), por José Maria Vigil.
A Atlântida foi chamada de “ilha” por Platão, no Timeu , porque ficava cercada de águas. Eu tenho a teoria de que a Atlântida não afundou no sentido literal, pois, se encaixarmos o mapa da América na Europa e na África, vemos que o encaixe se dá com perfeição, não parece haver um lapso no meio. Sabemos que as placas tectônicas sobre as quais repousam os continentes deslizaram sobre o magma terrestre através dos milênios, e que partes de terras se afastaram.
A América inteira se ajusta perfeitamente na Europa e na África, logo, não houve uma grande extensão de terra que afundou, entre estas. E foi o deslocamento da grande faixa de terra da Pangéa que se tornou a América que gerou o oceano Atlântico, que então surge entre América de um lado e Europa e África do outro. Logo, a América gerou o Atlântico; é mais que lógico pensar também que a América é ela mesma a verdadeira Atlântida.
(E ainda há a questão de uma outra civilização que teria habitado uma ilha no Atlântico, e que seria tão evoluída quanto a Atlântida, chegando ao ponto de desprezar a Europa, considerada por seu povo como sendo muito subdesenvolvida. Essa ilha existiu, há registros de mergulhadores, e seu nome é Hy Brasil.)
Outra coisa interessante é que, se observarmos o mapa, vemos que o que pensamos abstratamente como três continentes separados, Europa, África e Ásia, estão totalmente unidos, é um continente, Eurasiáfrica, questão bastante retomada por Guillermo Marín.
Assim também, a América é uma só, mas os europeus fizeram questão de separá-la em supostas três, e até cortaram o canal do Panamá, para aumentar a distância entre América do Norte e Sul, que na verdade são uma. Marín ainda fala que o conceito de Mesoamérica é colonizador e opressivo. Somos uma Panamérica, a América, e os povos que aqui viviam, antes da chegada dos europeus, bem o sabiam.
Como o próprio Platão admite que a cultura mais profunda do Egito e da Grécia tinha vindo da Atlântida, talvez a cultura desses povos tenha vinda da América; pois há fortes indícios de que a América toda ou em parte é a famosa Atlântida.
Há um documento muito interessante a respeito, o texto “La Atlantida en el Anáhuac”, de Alfredo Chavero, que integra a obra a que nos referimos agora, México a través de lo siglos, Tomo I,: História Antigua y de La Conquista (desde la antigüedad hasta 1521). Parte do texto está no site Toltecáyotl, de Guillermo Marín, vou citar aqui só um excerto. Atenção: Chavero chama a língua e o povo náhuatl de nahoa; quando se refere a vascongados, está falando dos Bascos, e a questão do 4 e 20 é que nesta língua (basca), em irlandês e em francês, 80 se diz 4 (vezes) 20, como em náhuatl:
/.../ Agora, a questão se reduz a indagar se os nahoas se relacionam de alguma maneira com a Atlântida. Segundo o relato de Platão, a cidade principal daquele continente submergido estava construída sobre um lago; era paludeana, e é notável que os nahoas buscavam de preferência os lagos para se estabelecerem: conhecemos pelo menos as seguintes cidades lacustres: Aztlán, Mexcalla, Pátzcuaro, Texcoco, Chalco, Tzompanco, Chapultepec, Atzcapotzalco e México, grandes centros ou estâncias importantes da civilização nahoa. O idioma pouco nos pode dizer a este respeito, e, no entanto, chama a atenção a última Thule do trágico latino, e parece que a Islândia foi outra Tula, e que não faltam nomes de cidades com a mesma raiz como Toulón e Toulouse, na França, e Tolosa e Toledo na Espanha. O mesmo Platão conserva para nós o nome de uma cidade da Atlântida, e uma só voz do idioma atlante, que tem grande relação com a palavra chalchihuitl, que em nahoa quer dizer pedra preciosa, e que pode por acaso ser uma chave preciosa da questão.
Temos nas tradições teogônicas da África, que Hermes, o deus do comércio, é filho de Atlas e de Maya: Atlas, montanha que está na África, é representante dessa região, e Maya é a raça de Yucatán, a raça americana.
O vasconço não tem nenhuma relação com as línguas europeis, mas tem sim muitas com as americanas, e especialmente com o nahoa; e é de se notar que os vascongados sustêm que são o povo mais antigo da Ibéria. Na aritmética a combinação nahoa do 4 e do 20 se encontra nos vascos, e cmo recordação na idade de 4 vintes dos irlandeses e o 80 dos franceses, que, sem dúvida, o receberam dos Celtas, e estes, de povos mais antigos.
As relações entre os vascos e os nahoas são prováveis; parece que são os atlantes que se estenderam ao ocidente no que hoje é o Novo Mundo, e ocupram o oriente da Atlântida com o nome de iberos. Chegaram ali sem dúvida até o que hoje é a Rússia, pois nela se encontra uma Tula, e forma detidos pelos etruscos, que é o feito recordado por Platão: são os hiperbóreos de Theopompo, a população que, segundo as tradições célticas, foi obrigada a abandonar as suas longíquas ilhas pelo mar e se estabelecer no que depois foi a Gália. No nosso continente, avançaram até encontrar as grandes planícies do Pacífico entre os graus 35 e 45. Estenderam-se ainda ao norte, empurrando a raça monossilábica; mas a época glacial os obrigou a buscar o rumo do sul, e é provável que, seguindo sempre a costa do Pacífico, tenham chegado até o Peru, em cuja raça inca encontramos parentesco com os nahoas.
Não obstante, essas migrações devem ter sido muito primitivas, pois a raça nahoa aparece nos tempos primeiros cortada no norte de nosso território, e estendendo-se somente desde Sonora e Sinaloa até Chihuahua e Zacatecas, quer dizer, entre os graus 22 e 32 de latitude norte. A raça otomi ocupava o centro, e da linha de Chiapas a Yucatán até o sul se estendia por toda a América Central, penetrando na meridional a raça maya-quiché, que ocupava também as ilhas do Golfo (do México). Tal é a primeira situação geográfica das três raças, de que podemos nos dar conta depois da separação dos continentes. /.../
Talvez essa civilização tão avançada de Cem Ānáhuac, tenha sido ela que influenciou a egípcia, a mesopotâmica e a européia (no mesmo estilo arquitetônico, na América havia as pirâmides e os zigurates, mas, é claro, as influências são múltiplas). E talvez, ainda, tal fato tenha sido em parte censurado pelas “novas” civilizações, e, em parte, realmente, esquecido; uma mistura de inveja com ignorância (europeia).
Nanahualtin é o plural de nagual (pronuncia-se naual, e, às vezes, se grafa “nahual”, “naual” ou “nawal”) ou nawalli, ou naualli, todas estas formas são usadas, e a pronúncia mais próxima do vocábulo original é “nawalli”: mestre do conhecimento místico, na língua náhuatl.
(Esforcei-me por traduzir tudo o que aparece em outros idiomas no corpo principal [e nas notas] do nosso texto. O leitor perceberá que este livro traz misturadas as seguintes línguas: português, espanhol, inglês e náhuatl. É claro, é claro...)
Durante os encontros de Los Ângeles, Carlos sempre separava o grupo de pessoas que falavam espanhol e nos dava pelo menos uma palestra em particular: “as classes latinas”. Dizia que não é o mesmo comunicar o conhecimento dos bruxos em inglês que em espanhol, porque foi nesta última língua que ele o aprendeu, e foi no México onde se elaboraram os conceitos fundamentais.
Já nauallotl é o nagualismo, sinônimo de a feitiçaria, a toltequidade, em náhuatl, toltecáyotl.
Ambas informações recolhi no livro: Un Estúdio sobre el Folklore y Historia Nativa de América, de Daniel O. Brinton , que denuncia o culto do nagualismo na América do Norte, e tenta compreendê-lo, mas de forma totalmente distorcida, associando o conhecimento que ali havia à preconcepção europeia de artes diabólicas.
Nota-se, ao compulsar este trabalho, eivado de preconceito persecutório contra o conhecimento autóctone da América, que, mais de um século antes da publicação da obra de Castaneda, os meios acadêmicos já tinham conhecimento sobre o nagualismo.
Vejamos alguns trechos redigidos pelo professor Daniel Brinton, logo no início do texto:
As palavras “nagual”, “nagualismo” e “nagualista” têm sido correntes na prosa inglesa por mais de setenta anos; podem-se encontrá-las em toda uma variedade de livros publicados na Inglaterra e nos Estados Unidos , não obstante, ainda as não as encontrarão em nenhum dicionário da língua inglesa, nem tampouco tem lugar o “Nagualismo” em nenhuma das numerosas enciclopeias ou léxicos, seja em inglês, francés, alemão ou español.
Isto não se deve a sua falta de importância, posto que nos últimos duzentos anos, como demonstrarei, tem sido reconhecido como um culto tão poderoso quanto misterioso, que uniu muitas e diversas tribos do México e da América Central, em uma oposição organizada contra o governo e a religião que fora introduzida pela Europa, culto cujos membros haviam adquirido e utilizavam estranhas faculdades e um conhecimento ocultista que os emparelhava com os mais afamados taumaturgos e teodidatas do Velho Mundo, e se preservou até os nossos dias o pensamento e a forma de um ritual largamente suprimido.
Em varias publicações previas me referi brevemente a esta secreta fraternidade , e a seus objetivos; e agora creio que vale a pena ordenar as minhas notas e apresentar o que encontrei de valor acerca da Origem, dos Objetivos e do Significado deste Mistério Elêusico da América. Traçarei sua extensão geográfica, e procurarei descobrir qual foi, e é, a sua secreta influência
/…/ A mais antiga descrição que encontrei sobre seus ritos particulares é a do historiador Herrera, que os encontrou em 1530 na provincia de Cerquin, na parte montanhosa de Honduras, e é a que se segue:
“O Diabo costumava enganar estes nativos aparecendo-lhes em forma de leão, tigre, coiote, lagarticha, serpente, pássaro ou qualquer outro animal. A estas aparições eles lhe dão o nome de Naguales, que é algo assim como dizer guardiões ou companheiros; e quando esse animal more, também morre o Índio a que estaba destinado. A maneira em que se formava esta aliança era assim:
O índio se dirigía a um lugar muito retirado, e ali apela aos arroios, às montanhas e às árvores a seu redor, e chorando implorava para si mesmo os favores conferidos aos seus ancestrais. Logo sacrificava um cachorro ou um galo, e com o sangue molhava a sua língua, as orelhas e outras partes do corpo, e se deitava para dormir. Estando dormido ou semi-dormido, podía ser a um destes animais mencionados, que lhe dizia: “Tal dia vá caçar, e o primeiro animal ou ave que verás será a mina forma, e permancerá contigo como teu companheiro e Nagual, para sempre”. Assim a sua amizade ficava selada com tanta força que um morria, também o outro; e sem um Nagual, os nativos pensavam que ninguém poderia se tornar rico ou poderoso”.
Duas coisas muito importantes podemos perceber agora, no trabalho de Brinton, Um Estudo sobre o Folclore e a História Nativa da América, que foi lido diante da Sociedade Filosófica Americana, no dia 5 de Janeiro de 1894, e impresso no dia 23 de Fevereiro de 1894, percebam bem a data.
Uma: ele reporta relatos que cita de padres jesuítas, os quais estiveram na América, do século XVI em diante, e lutaram ferozmente contra o fenômeno do nagualismo. Ali já se veem as práticas do sonhar, da recapitulação, da espreita (sugerida por certos “dribles” que os índios tentam dar nos padres) e a transformação dos feiticeiros em animais. É um documento valioso, que comprova que a expressão “nagual”, para designar o feiticeiro mestre, já era usada desde a descoberta, e as práticas eram as mesmas que os praticantes da neotoltequidade abraçam. (Com exceção da tensegridade, mas Carlos aponta que algumas estátuas do Museu Nacional de Antropologia do México estariam praticando os passes mágicos).
Duas: os padres citados por Brinton não duvidam nem por um momento sequer que todas as coisas que os xamãs fazem eles façam, apenas abominam as práticas de encantamentos, metamorfoses e feitiçarias, pois pensam que são inspiradas pelo demônio.
O próprio Brinton, apesar de ser um antropólogo, se coloca contra o conhecimento nativo, e abraça os preconceitos religosos europeus. Veja que coisa: a questão hoje não é quase religiosa, não se tenta erradicar livros como os de Castaneda por serem diabólicos. Mas se coloca a questão da verdade, de uma perspectiva positivista: isso não pode ter se dado, ponto final. Logo, o autor está reportando as crenças infantis dos selvagens? Tudo bem. Ou ele está usando tudo como meras fantasias da mente, que nos ensinam coisas? Tudo bem. Ou são reles metáforas, histórias alegóricas? Tudo bem. A condenação atual às práticas não é, pelo menos oficialmente, por serem heterodoxas, religiosamente falando; mas sim por não se submeterem a um preconceito positivista (e, mais que tudo, do senso comum) que essas próprias práticas estão superando.
Outro documento importante é a Tonalpohualli, texto de figuras tradicional dos toltecas, editado em 2005 no México, com comentários, por Miguel Tapia Díaz, sob o título Tonalpohualli: Mathesis tolteca.
A tonalpohualli integra o Tonalamatl.
A princípio, o que se sabe sobre o Tonalamatl é que seria um almanaque divinatório, com características de calendário também. Miguel Tapia Díaz mostra em seu livro que o Tonalamatl era uma verdadeira mátesis, quer dizer, uma ciência, com implicações astronômicas, sociais, éticas, matemáticas, geométricas, mágicas etc. Já na introdução, cita em náhuatl uma frase profética sobre o destino deste estanho livro:
Tel cecni omamayoti omicuillo ompa mocaquiz…
Se oirá relatar lo que se puso en papel y se pintó…
(Se ouvirá contar o que se pôs em papel e se pintou...)
Anales de Cuauhtitlán
Os toltecas, e os povos a eles relacionados, transmitiam seu conhecimento em imagens, que não são apenas “traduzidas” em palavras. As imagens de pirâmides, construções, esculturas, relevos, pinturas e manuscritos moviam o ponto de aglutinação e produziam novas percepções e estados de consciência.
Domingo Delgado Solorzáno conta em seu livro que o conhecimento que ele adquiriu veio de imagens gravadas em grutas e também registrado em cristais, que eram usados pelos toltecas para guardar memórias vivas, “acessadores” de emanações (inventei a palavra), instrumentos para induzir de forma direcionada e como ensinamento o ponto de encaixe.
Logo depois, comenta que o frei franciscano Sahagún se negou a considerar a Tonalpohualli como um calendário, e tinha dúvidas a respeito da sua fidedignidade, e vê com suspeita a própria atividade dos tonalpouhque; explica ainda que são os toltecas que sabem utilizar a máquina do Tonalpohualli:
Estes adivinhos [os tonalpouhque] não se regiam pelos signos nem pelos planetas do céu, mas sim por uma instrução que, segundo eles dizem, lhes deixou Quetzalcóatl, a qual contém vinte caracteres multiplicados treze vezes /.../ Esta forma de adivinhação de nenhuma maneira pode ser lícita, porque não se funda na influência das estrelas, nem em nenhuma coisa natural, nem seu círculo é conforme o círculo do ano, porque não contém mais de duzentos e sessenta dias, os quais quando acabam tornam ao princípio. Este artifício de contar, ou é arte de necromancia, ou pacto e fábrica do demônio, o qual se deve com toda a diligência desenraizar.
O livro de Tapia Díaz aborda a tonalpohualli como parte do tonalamatl, álgebra e cronometría, e explica o cempohualli, o sistema vigesimal, a cronologia, a leitura profética do Tonalamatl, e o procedimento de leitura oracular.
Escolhi alguns trechos para citar aqui, um pouco para dar notícia do que seja esta complexa e pluridimensional máquina, que o próprio Quetzalcóatl nos legou; também para despertar a curiosidade do leitor, que pode encontrar o livro de Tapia Díaz na internet:
/.../ Os filósofos e sacerdotes nahuas chamam Tonalamatl ao livro ou amoxtli em que se desenvolve a representação gráfica da conta dos destinos. A História General de las Cosas de España, no seu livro IV, obra escrita por Frei Bernardino de Sahagún (1499-1590), mostra exemplarmente o que se deveria entender, segundo a versão clássica castelhana, em relação ao amoxtli e a seu conteúdo.
/.../ O Tonalamatl é uma obra muito complexa; trata-se ao mesmo tempo de uma composição pictórica e literária; contém mensagens com valores concomitantemente lógicos e analógicos; dificilmente se pode estabelecer para ele uma classificação entre os gêneros da literatura conhecidos pelos europeus. Já se falou que o Tonalamatl é um livro de sortilégios, o que é só uma parte da verdade. Certamente tem sido um livro utilizado até os dias de hoje, por algumas pessoas, para realizar adivinhações; mas o contato direto com o amoxtli também revela outras vertentes de leitura.
/.../ A tonalpohualli é um sistema simbólico constituído por 260 termos, cada um dos quais recebe o nome genérico de tonali. O termo tonalli se utiliza tanto como substantivo abstrato como substantivo concreto. No sentido abstrato, significa “sorte”, “destino”, “caráter” etc; como substantivo concreto, expressa os significados de “dia” e “unidade de medida” e é utilizado como nome para o gráfico que representa o tonalli. O tonalli é um signo composto por dois elementos: um numeral e um logograma. Os tonaltin (plural de tonalli) podem se agrupar em 52 conjuntos de 5 (como nas primeira 8 lâminas dos códices Cospi y Borgia) ou em 20 conjuntos de 13; esta última forma de agrupamento permite que a cada trezena ou reunião de 13 tonaltin a encabece um tonalli de numeral 1. Cada trezena recebe o nome do tonalli que a inicia. A cada tonalli corresponde um número inteiro, de tal modo que ao primeiro tonalli corresponde o 1, como ao último corresponde o 260.
/.../ A leitura oracular se desenvolve como um ritual mágico mediante o qual os indivíduos alcançam clara compreensão de sua “sorte” ou “destino”, ao se lhes fazer evidente a sua relação com a totalidade do criado. O tonalpouhque se auxilia, ao fazer seus prognósticos, mais que da tonalpohualli como sistema abstrato, do Tonalámatl, pois neste amoxtli se registram, além dos tonaltin, as características astrais e simbólicas de cada cifra. Nem a tonalpohualli nem o Tonalámatl são compreensíveis como ferramentas oraculares, sem apelar para seu sentido astronômico. Fazendo abstração do astronômico, a tonalpohualli é uma álgebra e o Tonalámatl uma obra sapiencial que explica, mediante gráficos, os valores analógicos de cada tonalli.
/.../ Cada Sol ou Idade recebe o nome do tonalli em que finaliza. A cada grupo de 13 anos ou tlalpilli se lhe assigna 1 de 4 nomes de tonalli: 1 - Junco, 1 - Pederneira, 1 - Casa ou 1 - Coelho. Ao ano se lhe assinala 1 de 52 nomes. Dada uma data e localizando o dia em uma vintena se sabe também a que trezena pertence. O tonalpouhque ou intérprete do destino pode proceder sistematicamente para realizar a sua tarefa, primeiro observando as características do nome do Sol, depois as do tlalpilli, depois as do nome do ano, logo depois as do nome de uma trezena, e, finalemnte, as do nome do dia.
/.../ Os sacerdotes e pedagogos toltecas encontram algo mais que um simples jogo oracular no Tonalámatl; os frades católicos estavam conscientes de que não se encontravam frente a um recurso de entretenimento, e conheceram alguns aspectos da leitura do Tonalámatl, com a finalidade de acabar de um modo estratégico com o domínio que o demônio, diziam, exercia sobre os índios.
Incomoda-me que haja tanto movimento antropológico e linguístico no México e fora dele para recuperar esse tesouro insuspeitado que é a civilização Ānahuacah (e este livro aqui é um bom exemplo, pois sou brasileiro), e coisa parecida esteja, graças a Deus, acontecendo em relação à civilização dos Aymará e dos Incas; isso não me incomoda, isso eu festejo feliz; o que me incomoda é que nós, brasileiros, ainda não tenhamos tomado consciência de três fatos que clamam por nós: 1 - a grandeza das “n” civilizações de Pindorama, e suas línguas, que precisamos resgatar, reviver e potencializar, 2 - o paralelo da nossa milionária herança africana, da qual pouco nos apercebemos, graças a alguns mahātmas como Jorge Amado, Carybé e Roger Bastide (mas que precisamos aumentar muito mais) e 3 - a realidade panamericana, somos o mesmo povo americano, vivemos na mesma terra, de norte a sul, a América.
Este estudo que aqui eu desenvolvo, ele se faz na verdade como parte de um grande projeto de estudos culturais, desdobrado nos livros: O Olho do Ciclope, sobre a antropofagia das populações ameríndias brasileiras e a obra literária e filosófica de Oswald de Andrade; O Estudante do Coração, sobre os primórdios da nossa música popular brasileira, com Noel Rosa, e do nosso cinema, com Mário Peixoto, e alguns estudos mais; Proteu ou: A Arte das Transmutações, sobre a filosofia contracultura da literatura e da música de Jorge Mautner; Crisólogo - O Estudante de Poesia Caetano Veloso, sobre os desdobramentos da antropofagia dos povos ameríndios e da literatura de Oswald no tropicalismo; O Sol Nasceu pra Todos (A História Secreta do Samba), sobre o desenvolvimento da MPB e sua relação com a visão excêntrica do povo brasileiro mestiço.
A língua náhuatl (palavra que significa sabedoria ou conhecimento) foi o idioma dos povos habitantes do México e da América Central (Huaxtecas, Chichimecas, Aztecas, Totonacas, Mixtecas, Zapotecas etc, mesmo nos Estados Unidos os índios Uto-Aztecan da Califórnia e do Oeste falam línguas náhuatl) antes e durante a hegemonia asteca.
Podemos encontrar no site do professor venezuelano PhD David Tuggy, as suas Lecciones para un Curso del Náhuatl Moderno, Lições para um Curso do Náhuatl Moderno. Tuggy, sendo da Venezuela, e manifestando o interesse do estudo pela língua dos toltecas, ainda viva nos dias de hoje, é mais um exemplo dessa grande manifestação panamericana que percorre todo nosso continente.
O náhuatl é conhecido em todo o mundo como o idioma falado pelos astecas na época da conquista do México. É o membro mais sulista da família uto-asteca ou yuto-nahua, que também inclui o shoshoni, yuto, comanche, luiseño, hopi, pápago e outros idiomas do oeste dos Estados Unidos da América do Norte, e no México o yaqui, o tepehuán, o guarojío, o tarahumara e o huichole, entre outros. A evidência indica que esta grande família teve o seu princípio no sul da Califórnia, e que desde então vem se estendendo ao norte e ao sul. Os parentes mais próximos do náhuatl parecem ser o cora e o huichole.
Fala-se do náhuatl como se fosse um idioma só, porém, na realidade, ele constitui uma família de idiomas, dos quais o náhuatl clássico é o mais conhecido. A língua clássica já não se fala, mas há variantes modernas que são suas descendentes. Já na época clássica existiam variantes, e até hoje elas têm permanecido e seguem se diferenciando entre si. /.../
Eis um quadro com a fonologia náhuatl. Acrescento este quadro para orientar o iniciado ou aspirante a linguista na leitura das muitas citações e nomes realizados aqui em náhuatl. Nesta nota 132, trago algumas informações sobre a escrita náhuatl, números, logogramas, escrita rebus e glifos fonéticos:
Na bibliografia, nosso querido leitor encontrará material sobre a gramática do idioma, bem como de outros, relacionados. Aqui temos notícia dos fonemas que existem em náhuatl, as catorze consoantes e as oito vogais, inclusive a consoante glotal, que é como um k (uma oclusiva) produzida na glote, isto é, na garganta.

As consoantes do Náhuatl clássico
Labial
Alveolar
Pós-
alveolar
Palatal
Velar
Labio-
velar
Glotal

Plosiva p t k kʷ ʔ (h)*
Africada t͡ɬ / t͡s t͡ʃ
Fricativa s ʃ
Nasal
m n
Aproximante l j w


As vogais do Náhuatl clássico
Anterior Central
Posterior
longa curta longa curta longa curta
Fechada i: i o: o
Média e: e
Aberta a: a
* O fonema glotal (chamado “saltillo“) ocorre somente após vogais. Em muitos dialetos modernos realiza-se como [h], mas no Náhuatl clássico e em outros dialetos modernos é uma oclusiva glotal [ʔ].
O Náhuatl tem geralmente o acento tônico na penúltima sílaba de uma palavra, mas algumas variedades mudaram isto. /…/
Eis a lista Swadesh da família de línguas uto-astecas, entre as quais se inclui o náhuatl, conforme pesquisado no wikitionary :
• Nahuatl (Ramo Astecan; México Central e Sul)
• Yaqui (Ramo Taracahitic; Sonora, Norte do México)
• Hopi (Ramo Hopi; Nordeste do Arizona, Estados Unidos) - Dialeto da Third Mesa
• Shoshone (Ramo Numic; Idaho e Nevada, Estados Unidos) - principalmente o dialeto de Fort Hall dialect (Shoshone Ocidental usado ocasionalmente)
• O’odham, Tohono (Ramo Tepiman; Sul do Arizona, Estados Unidos) - Ortografia Saxton usada
• Cahuilla (Ramo Takic, Sub-ramo Cupan; Sul da Califórnia) – Variante Morongo
• Tongva (Gabrielino, Fernandeño) (Ramo Takic, Sub-ramo Seran; Sul da Califórnia)

O náhuatl foi a língua de Cem Ānáhuac, e foi também falado pelos Toltecas, entendidos estes como homens de conhecimento, os seguidores do toltecáyotl, o nagualismo, em qualquer uma das muitas civilizações pré-hispânicas.
Duas guerreiras do grupo de Carlos escreveram livros sobre o mesmo aprendizado, sob o ponto de vista feminino: Florinda Donner Grau (Sonhos Lúcidos; uma iniciação ao mundo dos feiticeiros - Being-in-dreaming e A Bruxa e a Arte do Sonhar - The Witche’s Dream; ela ainda fez Shabono, que alude a Don Juan, mas se passa numa tribo de índios da Amazônia venezuelana) e Taisha Abelar (A Travessia das Feiticeiras - The Sorcerers’ Crossing).
Há duas outras feiticeiras, que se tornaram clássicos da literatura sobre xamanismo.
Uma dela é Lynn V. Andrews, autora de Medicine Woman, Spirit Woman, Jaguar Woman, Star Woman, Crystal Woman, Windhorse Woman, The Woman of Wyrrd, Shakkai, Woman at the Edge of Two Worlds, Dark Sister, Love and Power, Tree of Dreams e Writing Spirit. Quatro de seus livros foram publicados no Brasil.
Outra é Kay Cordell Whitaker, autora de The Reluctant Shaman (A Iniciação de uma Xamã, no Brasil ), 1991, Sacred Link Joining Fortunes with the Unknown, de 2005, e Love Ka Ta See Style, 2010; também fez vários CDs com cantos xamânicos, como Amazon Drumming to Journey by e Power Animal Journey.
Nos quatro casos, temos mais do que uma confirmação, próxima ou relacionada, da revelação de Carlos.
Nelas encontramos a visão feminina, a feitiçaria como é ensinada e praticada pelas mulheres, tão diferente da dos homens.
Em Lynn Andrews e Kay Cordell Whitaker ainda temos outra questão: Lynn aprende com Agnes Alce-que-Assovia e Ruby Muitos-Chefes, xamãs canadenses; Kay com Domano e Chea Hetaka, um casal peruano, como tantos alegam que Carlos era, peruano, e sabemos que o Peru foi o centro da outra grande civilização da América, ao lado de Cem Ānáhuac (que hoje corresponde aos EUA, México e América Central), há muito mistério sobre até que ponto adentraram na toltequidade os Aymarás e os Incas dos Andes .
Um exemplo é o xamã peruano Eduardo Calderón, de quem se aproximou o acadêmico Douglas Shanon, que “estudou” Eduardo e mostrou que há similaridade, em muitas minudências, de seu método com o de Don Juan, de Carlos Castaneda.
O professor de Arqueologia da UCLA Christopher Donnan foi um dos que percebeu esse parentesco, e convidou os dois (Shanon e Carlos) a falarem em sua classe.
Sobre isto, Carlos comentou:
“Nós dois estávamos fazendo o xamanismo, por isso Donnan pensou que seria uma boa idéia. Não é nenhuma surpresa, porque o xamanismo onde quer que você o encontre tem componentes estruturais que são muito semelhantes. A superfície pode variar de acordo com as culturas, assim como as línguas variam, mas quando você desce até o núcleo psicológico, há uma enorme similaridade. Não é por acaso que havia toda esta similaridade entre o que ele estava fazendo e que eu estava fazendo. /.../”
São versões do xamanismo muito próximas do nagualismo, encontradas em outras tradições, todas americanas, do norte e do sul. Lembremos ainda que os Maias eram da América Central, e também partilhavam dessa exploração da consciência.
Há muitos outros autores e obras, que vão surgindo com o tempo, inspirados ou tentando dar uma continuidade mais ou menos comprometida com a realidade antropológica dos povos mexicanos e com seu saber autóctone.
Há fortes indícios (que serão apresentados ao longo de todo este livro), de um fundo comum cultural panamericano pré-colombiano; como declara seu pensamento Guillermo Marín, em Conocimiento y Revaloración de la Filosofia del Anáhuac, título que inspirou o nosso subtítulo, bem como La Filosofía Náhuatl: Estudiada en sus Fuentes, de Miguel León-Portilla (quando ele se refere a Tiwantisuyu, está falando dos incas e aymarás):
Para o caso das civilizações do Ānáhuac e do Tiwantisuyu, que o Ocidente divide em duas, diferentes, porém, que seguramente formam uma só, desde o Alasca até a Terra do Fogo, todos os povos originários compartilham a mesma matriz filosófica e cultural.
Domingo Delgado Solorzáno, nas palavras de seu mestre Don Chema, vai muito mais além, apresentando um panorama incrível do que seria a evolução da humanidade a partir de outras dimensões, e o quanto esse saber se imiscuiu nas cilivizações do mundo antigo. Quando fala da linha mágica egípcia, que ramificou como judaísmo e cristianismo, distingue duas visões místicas, como o leitor sabe: o esotérico é o oculto, que não é revelado, e o exotérico é aquilo que é revelado para fora, para as massas (massificação, a palavra de ordem postmodern).
/.../ Bom, mas voltando a tua pergunta, te direi que os primeiros orgânicos de nossa configuração tinham formas estranhas, toscas e rudimentares. Em nada se pareciam contigo ou comigo. Foram evoluindo energeticamente até os grandes sáurios de seicentos milhões de anos atrás, e, junto com eles, os antropomórficos animais e vegetais, até chegar a ser como somos hoje. As consciências ovoides buscaram formas mais produtivas. Lembre-se de que nossa única possibilidade real aqui é servir de alimento. Isto, com a respectiva exceção à regra, que é outra regra, que tu já conheces. O mais recente nesse negócio do conhecimento são as três grandes correntes: uma que tem seus antepassados no Egito de onde partiu para a Grécia e que se tornou no atual cristianismo, tirado do hebraísmo ao judaísmo atual. Outra, se originou no Tibé e a podemos rastreá-la até o budismo. A outra cresceu em Teotihuacan, com os perceptores do construtivismo ou toltecas, cujas vertentes alcançaram os maias, os incas e os sioux canadenses. Com a chegada dos espanhois, já quase havia desaparecido esta corrente. Ela se converteu em linhagens: grupos de orgânicos secretos e ocultos. A corrente egícia utilizou o conhecimento de forma exotérica, para vertê-lo para as massas, desfigurado e dogmático, com o objetivo de concentrar energia-poder e usá-la para fins meramente humanos. Esta característica é também própria da sua descendência: o judaísmo e o cristianismo. O verdadeiro conhecimento o organizaram esotericamente e só aqueles com figuras energéticas muito precisas tiveram acesso a ele. O que também na atualidade se faz: ocultar o verdadeiro, fazendo mofa e escárnio disto, e aparentar o falso, aceitando-o como verdadeiro, por meio de estruturas de controle. No budismo se passou o contrário. Eles entregara a verdade às massas: todos podemos alcançar a segunda atenção. Ainda assim, ocultaram a terceira atenção e a possibilidade de perpetuar a consciência individual. Teceram um xale de transmigrassões telúricas com cuja evolução-reencarnação se acede à visão perene da contemplação eterna do paraíso e assim da eterna felicidade. Soa mais como converter nossos casulos orgânicos em um desfigurado corpo inorgânico. /.../
Há uma grande guerreira mulher mexicana, que muitos, como o frei dominicano Maurice Cocagnac, em seu livro Encuentros con Carlos Castaneda y Pachita, relacionam com o nosso autor.
Pachita se chamava Bárbara Guerrero, e foi uma curandeira mexicana. Raúl Tortolero, no artigo “Las enseñanzas de Pachita, esa gran chamana mexicana” (2006), atribui a ela a história sem nome contada por Carlos em O Poder do Silêncio, sobre ele ter visto uma operação numa sessão de cura com uma xamã. Don Juan lhe explica que a curandeira moveu o ponto de aglutinção do paciente e de todos ao redor, com isso conseguindo seus milagres.
E há também María Sabina (1894, 23 de novembro de 1985), curandeira mazateca que viveu modestamente na Sierra Mazateca, no sul do México, e que utilizava em suas feitiçarias o cogumelo psilocybe mexicana.
Muito polêmica é Merilyn Tunneshende, que interrompeu um seminário de tensegridade, com a presença de Carlos, bradando e dizendo-se aprendiz de Don Juan (“um Yuma, ou Kw’tsan, era como ele gostava de ser chamado”), Don Genero (que para ela se apresentou com o nome de Chon Yakil) e de Dona Celestina de la Soledad. Carlos desmentiu tudo, sobre ela e vários outros que se disseram aprendizes de Don Juan também, como Ken Eagle Feather.
O aprendizado de Merilyn Tunneshende está ligado com a energia sexual e a cura. Ela deu seminários terapêuticos que foram freqüentados, e muito bem aproveitados por quem deles participou.
Além de ser mais uma voz de mulher no aprendizado, temos uma fértil correspondência, que ela faz de várias tradições:
Todo este conhecimento, combinado com o que tenho aprendido com Don Juan e seu verdadeiro e autêntico fogo interior energético através de práticas até o momento da morte, compreende novos aspectos descobertos no antigo nagualismo xamânico e contém peças valiosas no quebra-cabeças espiritual e metafísico. Eu tenho encontrado, em adição ao tolteca, nahua e maia, algumas culturas indígenas que têm o nagual, o Shapershifter Sun ou Fire Being (Uay Kin na linguagem maia) e tenho começado a ter conhecimento do fogo interior. Os Q’erro, descendentes dos Incas são um exemplo. Os Yaqui, Yuma e Dineh, ancestrais culturais do Mississipi são outros. Nagualismo tem sido encontrado suas raízes em alguns conhecimentos pré tibetanos e siberianos e começou muito antes destes, durante a travessia transcontinental dos xamãs talvez 40.000 anos atrás.
O conhecimento da Serpente de fogo do Arco Íris é encontrado em trechos dentro da tradição Kundalini Yoga, no desenvolvimento tibetano do corpo do arco íris, dentro do Taoísmo e o corpo imortal e entre os Sioux e outros povos nativos americanos. Os aborígines australianos se referem abertamente à serpente do arco íris como energia vital primordial e há muitos desenhos antigos rupestres representando esta energia. Neste livro eu compartilho o que testemunhei e experimentei neste antigo caminho, as lições aprendidas e como trouxe beneficio as pessoas com curas dramáticas energia e expansão, e iluminação de consciência. Alguns dos ensinamentos são novamente revelados e apareceram no momento oportuno. Agora o sentimento presente na espécie humana, na Terra e em todas as criaturas atualmente aberto e iminente é a mudança evolutiva e a oportunidade de realinhamento com nosso melhor intento possível. Muito do que sinto falta neste mundo atual é encontrar sabedoria interior ancestral e tradicional. Simplesmente, mudanças nos paradigmas de percepção e energia compartilhados. Tenho a capacidade de curar e ter ferramentas práticas que uso para sobreviver, envolver e aspirar iluminação /.../
Voltando a Guillermo Marín, vamos ler outra parte da “Propuesta de trabajo” de sua obra Seleção de Textos e Reflexões do Livro Viagem a Ixtlan, e que explica melhor no que se constitui o escopo do trabalho de Carlos Castaneda. Notemos que ele considera, não levianamente, que o conhecimento tolteca atravessa toda a América, desde o Alasca (extremo norte) até a Terra do Fogo (extremo sul, perto da Antártida), tese que também abraçamos, e que considero a base mais sólida e salubre para a consolidação futura/presente da PanAmérica:
/…/ O transcente dos “ensinamentos de don Juan” e da obra de Castaneda é que nos apresentam uma metodología para enfrentar o mundo e a vida de maneira diferente, e ao mesmo tempo, igual a todas as antigas sabedorias ancestrais. A diferença é que esta é a “nossa própria”. Compartilhada em essência, por todos os povos originários do continente, desde o Alasca até a Terra do Fogo.
O significado da vida e o valor do mundo, assim como as possíveis “realidades” que nele convivem, se apresentam como um desafio incomensurável para uma mente colonizada pelo Ocidente, um corpo adormecido e um espírito minimizado pela modernidade e pela visão materialista da vida.
O caminho do guerreiro é não apenas uma façanha quase impossível de praticar, mas uma das poucas possibilidades que temos como seres humanos, para enfrentar o desafio de viver agora e aqui, neste mundo que nos despedaça e nos aniquila como seres humanos. Aplicar as dezessete técnicas de forma sistemática e impecável na vida cotidiana é o maior desafio que os “leitores de Castaneda” podemos fazer. O autor levou dez anos como aprendiz para chegar a ter consciência disto e, o mais difícil, para aplicá-las e seguir os ensinamentos da Toltecáyotl no mundo do nahual, através do seu benfeitor, o oaxaca don Genaro.
Com efeito, a cultura dominante desde 1521 classificou as culturas indígenas como selvagens e primitvas, e seus povos como ignorantes, carentes de inteligência. Desde o início da conquista e ao longo destes cinco séculos de colonização tratou-se sistemática e realmente de exterminar os povos e as culturas originárias. Algo devem ter esses povos e culturas, pois, apesar da determinação da suposta superioridade da cultura dominante, esta não conseguiu acabar e exterminar estes povos e culturas. Do nosso ponto de vista, isso se deve a que os povos originários são praticantes não racionais da Toltecáyotl. Quer dizer, eles a assumiram como uma descrição do mundo e da vida, de modo que a vivem a atuam, não a pensam e reflexionam. /…/
Juan Yoliliztli tem um trabalho editorial importante no desenvolvimento da toltequidade (Nauallotl) em nosso século: incentivou e publicou Encuentros con el Nagual, de Armando Torres, manteve um fórum de discussões sobre o tema na internet, o qual depois publicou pela Editorial Alba do México, em 2005, sob a forma de livro, com o título Diálogos de Guerreros; Foro Juan Yoliliztli - considerasiones sobre las enseñanzas de Carlos Castaneda, e organizou Los Testigos del Nagual; entrevistas a los discípulos de Carlos Castaneda, no qual há a sua nota, o prólogo de Armando Torres, a Introdução, por Carlos Ortiz de la Huerta, e os importantes depoimentos e entrevistas de nove guerreiros e guerreiras.
Entre estes, conta-se “Sólo cuando uno encara la muerte total, alcanza la libertad total”, entrevista com Carlos Hidalgo de Bacatetes, que, a certo momento, declara:
Nisto estou de acordo com Carlos Ortiz, que tanto os escritos como a linguagem de Carlos pertencem ao gênero mitológico. O Nagual nos dizia: “os bruxos somos protagonistas de um mito vivente”. Suas vidas são “histórias de poder”, e em suas metáforas ou símbolos descobrimos ensinamentos profundos. Com respeito às narrativas de seus livros, don Juan dizia: “Não são histórias que se possam ler como se fossem contos; tens que repassá-las, logo pensá-las e volver a pensar”. As mitologias são revelações provenientes de um nível superior de consciência.
Assim é que, de saída, não há que tomá-las literalmente, nem analisá-las com uma lógica racional.
Em seu livro “O Conhecimento Silencioso”, Carlos declara que estas histórias são “manifestações do Espírito”, e que as escreveu como “um trabalho de bruxaria”. O único modo como podemos decifrar o seu sentido é através do “conhecimento silencioso”. Em uma de suas palestras na Casa Amatlán, nos disse:
- Don Juan queria que eu escrevesse esses livros, porém, não como um ato de escritor, e sim comoum “ato de bruxaria”, através do ensoño. Me ordenou: “essa é a sua tarefa”. Então, eu escrevo; ensonho o texto e devo fazer uma réplica exata do que ensonhei. Não posso corrigir nem fazer-lhe uma revisão. Meu processo é aquele de um feiticeiro, não uma ação contidiana. Eu não sou escritor, não sou ninguém! -
As histórias de seus livros, assim como suas conversas públicas e privadas, têm uma dupla leitura. Inclusive para mestres tão brilhantes como Jacobo Grinberg ou Carlos de León, era-lhes difícil compreender como funciona algo tão estranho como é a mitologia vivente que os bruxos personificam. Tanto Grinberg como de León caíram na armadilha de dizer que “o nagual era um mentiroso!”
Quando eu contei isso ao Nagual, ele replicou:
- Então, diga a Jacobo que demonstre quais são minha mentiras -
Mas ele não se atreveu a fazê-lo; na verdade, acabou reconhecendo que havia um modo superior de interpretar o nagualismo.
Em outra ocasião, Carlos me assegurou:
- Eu não tenho a capacidade nem o tempo para inventar o que acontece. Minha autoridade real é a Águia, e meu destino, ser testemunha impecável dos desígnios da Águia.
Afirmou que os guerreiros não mentem, porque perdem sua energia se o fazem. As coisas que um guerreiro testemunha em suas viagens pelo infinito não são falsidades nem alucinações. São indescritíveis, isso sim, coisas que não têm precedentes no mundo cotidiano. A pessoa tem que ser humilde e aprender a controlar as suas reações da mente para continuar testemunhando.
O problema é que essas histórias não são nem verdade nem mentira, no sentido habitual da linguagem. Como todas as mitologias, nos confrontam com o mais difícil para a razão dualista: o paradoxo. Em certo sentido, descrevem feitos reais, porém, também fictícios. São símbolos, e, como tais, têm vários significados de uma vez. O importante para um estudante é o conteúdo profundo, ater-se ao espírito, e não à letra.
Precisamente, para que não nos apeguemos à letra, ou seja, aos conceitos, Carlos os mudava continuamente, impedindo que estabelecêssemos classificações. Isto nós podíamos apreciar em cada livro novo que saiu depois de “Relatos de Poder” (Porta para o Infinito). Para mim, o melhor exemplo eram as diversas palavras que ele utilizava para se referir ao transcendente: “o poder que rege os destinos humanos”, “o nagual dos tempos”, “o espírito”, “o abstrato”, “o intento”, “o infinito”, “o escuro mar da consciência”, etc. É a experiência e o conhecimento silencioso o que nos revela o verdadeiro significado “daquilo” (“aquello”, “it” em inglês, como também o denominava).
O que um homem de conhecimento busca é viver impecavelmente (não diluir sua energia com questões sociais e pessoais, se libertar da importância pessoal, da história pessoal e da autoimagem) e conquistar o silêncio interno (que é parar o mundo, pois todas as estruturas aprendidas ao longo do desenvolvimento da pessoa se desfazem, e ele vê tudo como um fluxo de energia). O silêncio interno nos permite “ver” a energia de todas as coisas, que não são coisas; nos permite ver o mundo todo formado por emanações, consciências, e sua verdade ontológica, o que realmente existe ali, em termos de energia.
- Um homem de conhecimento é aquele que seguiu fielmente as provações do aprendizado - disse ele. - Um homem que, sem se precipitar nem se deter, foi tão longe quanto possível para decifrar os segredos do poder pessoal.
O silêncio interno é causa e efeito do movimento do ponto de encaixe.
O homem é um casulo que encapsula zilhões de consciências, mas o homem só vê as emanações que aprendeu a ver, e que para ele são o “real”. O real é uma descrição (ou descrição) que aprendemos a força, com coação. Há uma parte de nosso ser que foca as emanações que estamos percebendo. É o ponto de encaixe, um ponto do tamanho de uma bola de tênis, que está atrás da omoplata esquerda (vamos ver que Domingo fala que está atrás da omoplata direito, e se lerá então o que penso sobre isso), dentro do casulo luminoso (as fibras fazem um casulo em volta do homem, como se fosse a aura).
O silêncio interno é provocado e provoca o movimento do ponto de encaixe, que é a parte mais importante do trabalho dos guerreiros, pois é assim que eles se livram das limitações sociais e podem explorar novas realidades.
Os nove caminhos são uma boa condensação das técnicas que podemos usar para promover o movimento do ponto de aglutinação, ou melhor, ponto de encaixe.
Já escrevi isto numa nota aqui antes, mas, temendo que as pessoas não leiam as notas (que são sempre muito importantes, e, aqui, mais ainda), reproduzo ipsi litteris, verbatim, o que falei antes:
Em inglês “assemblage point”, em espanhol “punto de encaje”, nos próprios textos de Castaneda. No Brasil, desde o início, traduziu-se erradamente como “ponto de aglutinação”. Ora, encaixe é uma coisa, aglutinação outra. No caso, trata-se do ponto de encaixe.
Domingo Delgado Solórzano apresenta um outro termo para o mesmo, em espanhol “punto de alineamiento”, ponto de alinhamento (dois parágrafos depois utiliza “punto de encaje”):
As consciências luminosas são carbônicas e se dão em número de oito: turba, lignito, hulha, antracita, carboxilo, carbonilo, magnetita e actinotita. Têm uma configuração energética ovóide, dividida longitudinalmente, fazendo-as parecer vagens. No compartimento direito têm uma concavidade do tamanho de um punho, de cor glauca. É o ponto de alinhamento. As consciências o alinham e o encaixam nas emanações de Aura Negra, para que, ao perceber, lhes permita a concretização da realidade cotidiana onde escolheram fixar a sua atenção.
Domingo Delgado fala que o ponto de alinhamento fica no lado direito do casulo, mas joga com as palavras quando diz (no segundo parágrafo depois desse) que o nagual de três pontas tem dois pontos de encaixe, o de quatro pontas tem três, e o de cinco, cinco.
O ponto de alinhamento fica no lado direito, e há outro ponto de encaixe no lado esquerdo do casulo mais simples: o homem comum tem dois pontos de encaixe. Logicamente, mas de uma forma velada (porque só um dos pontos é revelado): o nagual de três pontas tem três pontos de encaixe, o nagual de quatro pontas tem quatro pontos de aglutinação, e o nagual de cinco pontas tem cinco pontos de aglutinação ou encaixe.
Então, todos são naguais, para si mesmos: todos têm no mínimo dois pontos de encaixe, um para o lado direito (alinhamento) e outro para o lado esquerdo (aglutinação). O nagual de duas pontas só pode guiar a si mesmo, mas pode fazê-lo, para a segunda e a terceira atenções. O nagual de três pontas só pode guiar a si mesmo também, mas ele é o mega benfeitor, aquele que mostra o mundo do nagual para comunidades inteiras, multiplicando as linhas e as oportunidades.
O nagual de quatro pontas é aquele que pode guiar um grupo pessoal para a segunda e a terceira atenções. Na terceira atenção eles se tornarão um ponto de encaixe da águia, podendo alinhar qualquer uma das suas emanações, a seu benefício (do ponto e do casulo gigante).
O conhecido é a primeira atenção, o desconhecido são a segunda e terceira atenções, pois não conhecemos, mas podemos conhecer. A quinta e a quarta são o incognoscível. A segunda é meio conhecida, pois a visitamos todo dia (pelo menos, nos sonhos).
O incognoscível foge de qualquer possibilidade humana (mas pode ser acessado pelos naguais que vão além do humano): segundo Domingo e sua tradição, chama-se Aztlania, e é a origem de Cero (este é o artigo Um da sua complexa e pluridimensinal regra do nagual de cinco pontas). Leiamos o artigo Dezoito (em parte já o conhecemos, pela regra do nagual de quarto pontas, revelada por Carlos em O Presente da Águia):
A águia Aura Negra se compõe de quarenta e oito grandes bandas de emanações. Uma grande banda emana consicências orgânicas. Sete grandes bandas emanam consciências inorgânicas. Quarenta grandes bandas emanam estruturas ou formas, veículos funcionais das consciências. A primeira atenção é a grande banda que emana consciências orgânicas, e é a primeira porque a águia Aura Negra fixa nela sua atenção. A segunda atenção está formada pelas sete grandes bandas que emanam consciências inorgânicas. A águia Aura Negra fixa com menos firmeza a sua atenção nelas. A terceira atenção são as quarenta grandes bandas de emanações estruturais. A águia Aura Negra praticamente não fixa a sua atenção nelas, já que não abrigam consciências que a alimentem. Os percpetores descobriram que passando a existir na terceira atenção podiam perpetuar suas consciências individuais eternamente, ou enquanto a águia existir, já que não seriam desintegradas pela serpente. Ali elas ensonham, criando microuniversos onde existem, e perpetuam a consciência do grande ser.
O nagual de cinco pontas é aquele que pode guiar seu grupo pessoal (metade carbônico, metade silícico, pois as contrapartes dos seus guerreiros são os emissários dos sonhos) para a quarta e quinta atenções.
Ele também pode ser tornar o gameta que fará a reprodução da águia.
Domingo é ainda autor de La Productica en la Modernización Educativa en México, onde desenvolve a “productica”, que, junto com a “percéptica” formam a “energética”, a “ciência” das três “naualogias” (dos naguais de três, quatro e cinco pontas).
Como estamos vendo, e vamos ver mais, há toda uma grande quantidade de desdobramentos da obra de Carlos Castaneda, na medida em que ele abriu a porta para o genuíno e profundo conhecimento pan-americanismo antes da chegada dos europeus, e instaurou um verdadeiro terremoto em toda a cultura ocidental. De um lado, o maior perigo, virar uma religião a mais, e se fundir de mil formas variadas com as que já existem, e isso está acontecendo, é claro. De outro lado, a parte do fogo, a parte do leão, a alegria da vida, a retomada de algo que sempre foi nosso, mais do que herança americana (igualmente, das três, que são uma), nosso legado humano, enquanto seres luminosos conscientes.
Assim, se fala em neotoltequidade:
A filosofia neotolteca é uma corrente de pensamento desenvolvida especialmente a partir da segunda metade do Século XX, e que se baseia na reinterpretação da mitologia mesoamericana, especialmente aquela relacionada com a cultura tolteca arqueológica. Para isto, os seguidores destas crenças, também chamadas de neochamanismo, se baseiam em certas fontes, cuja interpretação particular aponta para a ideia de que os mesoamericanos eram todos portadores de uma só cultura e de crenças que se chamaram Toltecáyotl. Também se apoiam nos escritos de Carlos Castaneda, um controvertido antropólogo peruano ou brasileiro (sua nacionalidade é incerta).
/…/ Na atualidade, o termo “tolteca” é empregado por diversos grupos da Nova Era, que se dizem praticantes do neonagualismo, ou “grupos de resgate daz raizes da identidade nacional” e chamam tolteca a toda pessoa que segue os principios de vida “toltecas”, que não se podem comprovar com base em fontes confiáveis. O problema, a partir de uma perspectiva crítica, é que não se sabe com certeza quais eram esses pricípios, e não se pode definir claramente o que seja um “grupo de resgate de raízes da identidade nacional”, e há alguns que chegam a afirmar que o Popol Vuh é tolteca, mesmo que ele tenha sido escrito pelos quichés da Guatemala.
A Toltecáyotl se diz herdeira dos toltecas históricos. Os seus seguidores e teóricos, baseados em fontes primárias e não chanceladas por Universidades, declaram que a toltequidade se pode traduzir como o modo de vida de todos os mesoamericanos, ainda que não tenham evidências para o demonstrar, a não ser livros Nova Era.
“Toltecatl, oficial de arte mecánica” “Toltecauia, o mestre fazer algo”. “Toltecáyotl, arte de viver”.Padre Molina, Vocabulario Nahuatl-Castellano, 1571. /…/
Ainda uma observação. Há duas vezes duas propostas, que podem ser trilhadas a partir de Castaneda.
Podemos considerar que é o marco de uma autovalorização do homem latino americano, e especialmente do mexicano. Que seus livros são a retomada de uma tradição de cultura, saber e poder, que realmente acontece, com feiticeiros, escritores, cientistas etc, geralmente mexicanos, valorizando o nagualismo e encontrando nele uma nova forma de viver e atuar. É a posição de Guillermo Marín.
Ou, como Merilyn Tunneshende, podemos pensar que o que Castaneda nos relata se integra em uma herança mágica de toda a humanidade, é um tijolinho na reconstrução do saber mágico, que se dá em toda parte do mundo. Assim, há correspondências transculturais: o casulo é a aura, os centros são os chakras, os dois centros dos quais não se fala são os dois chakras secretos , ensonhar é fazer viagem astral, recapitular é meditar, os seres inorgânicos são elementais, etc., numa espécie de teosofia da magia.
A outra proposta de leitura dupla é, ou acreditar em tudo que ele conta ao pé da letra, ou entender que é tudo criação textual. Mesmo neste sentido, no entanto, com grande valor, pois serve de aprendizado evolutivo, e ainda tem características éticas e terapêuticas (muitos psicoterapeutas utilizam técnicas que leram nos seus livros).
Veja bem, eu entendo que a obra de Castaneda é tudo isso, no “caminho do meio”. Ele não se compromete com uma visão “ideológica”, uma “verdade” sobre o mundo.
Mas nos oferece todas estas possibilidades, dentro da grandeza do presente que ele nos dá: a fresta entre os mundos.
Um diablero é um diablero, e um guerreiro é um guerreiro. Ou, então, o homem pode ser ambos. Há muita gente que é ambos. Mas o homem que apenas atravessa os caminhos da vida é tudo. Hoje não sou nem guerreiro nem diablero. Para mim só existe percorrer os caminhos que têm coração, em qualquer caminho que possa ter coração. Ali eu viajo e para mim o único desafio que vale a pena é percorrer toda a sua extensão. E ali viajo... olhan¬do, olhando, arquejante.
/.../ A coisa especial a se aprender é como chegar à fresta en¬tre os mundos e como entrar no outro mundo. Existe uma fresta entre os dois mundos, o mundo dos diableros e o mundo dos ho¬mens vivos. Existe um lugar onde os dois mundos se sobrepõem. A fresta está ali. Abre e fecha como uma porta ao vento. Para chegar lá, o homem tem de exercer sua vontade. Posso dizer que ele deve ter um desejo invencível de fazer isso, uma dedicação total. Mas ele tem de fazê-lo sem o auxílio de qualquer poder, ou de qualquer homem. O indivíduo sozinho deve ponderar e dese¬jar, até o momento em que seu corpo esteja pronto para em¬preender a jornada.
Em Os Ensinamentos de Don Juan, este lhe fala que todos os caminhos são iguais, não levam a parte alguma.
Mas que alguns caminhos têm coração.
O caminho que tem coração, para você, é aquele que o faz forte e alegre, que não exige esforço pra percorrer.
O caminho sem coração é o contrário, e pode até matar.
O começo de toda caminhada, a síntese da impecabilidade, a alquimia da saúde e da transmutação, acontece a cada dia de nossa vida, quando escolhemos, com coragem e liberdade, o nosso caminho com coração.










3 - Os Nove Caminhos
Embora sentisse que estava inexplicavelmente ligado àquela antiga tradição, ele se considerava um dos videntes de um novo ciclo. Quando lhe perguntei certa vez qual era o caráter essencial dos videntes do novo ciclo, respondeu que são os guerreiros da liberdade total, mestres da consciência, espreita e intenção, a tal ponto que não são colhidos pela morte como o resto dos homens mortais, mas escolhem o momento e o modo de sua partida deste mundo. É então que os consome um fogo interior e desaparecem da face da terra, livres, como se nunca tivessem existido.
Carlos Castaneda

Agora, vamos conversar um pouco sobre as nove maneiras de mover o ponto de encaixe, segundo Taisha Abelar.
Haveria várias formas de apresentar estas técnicas, e o próprio Carlos faz os seus recortes, a que já aludimos antes, como em O Silencio Interno (El Silencio Interno): 1 - passes mágicos; 2 - o centro de decisões; 3 - a recapitulação; 4 - o ensonho; 5 - o silêncio interno.
Há sobreposição de todas as técnicas, menos do centro de decisões (o ponto V), sobre o qual já falamos.
Vários motivos me fazem escolher a abordagem de Taisha. Minha leitura é totalmente formada pela releitura reiterada através dos tempos da obra de Carlos, de novo e de novo, como tantos estudiosos fazem.
E a visão dele é a masculina, é o aprendizado do ponto de vista do homem.
Taisha, sendo mulher, assim como Florinda, em seus livros, nos trazem a visão feminina.
Além disso, Taisha é uma soberba espreitadora, e seu domínio pode nos servir de guia numa obra como esta, um documentário e, ao mesmo tempo, um estudo no estilo acadêmico, algo feito para alcance social, para ser falado, para fora, para o lado direito.
E ainda, Taisha nos trouxe a abordagem inicial dos exercícios físicos e respiratórios, e seu livro é uma ótima abertura para os passes do poder.
O fundamento da atividade e do aprendizado dos homens de conhecimento toltecas é o intento (que foi traduzido indiscriminada e erradamente por intenção e consciência, nas edições brasileiras).
Todo esforço para mover o ponto de encaixe visa a intentar, isto é, conseguir manipular o intento.
Como disse certa vez nosso amigo Luiz Carlos Maciel (ele fez vários comentários esparsos aqui e ali, como os prefácios do livro de Ana Catan e de Carmina Fort):
Em 1960, o estudante de antropologia Carlos Castaneda foi pegar um ônibus, numa cidadezinha mexicana, na fronteira com os Estados Unidos, e encontrou um índio velho que se apresentou com o nome de Juan Matus. Castaneda fazia pesquisa de campo para seu mestrado na Universidade de Los Angeles e queria que o índio lhe desse informação sobre plantas medicinais. Esse encontro ganhou um aura mítica nas últimas décadas. Pois dele surgiu, para todos, aquela que é provavelmente a doutrina esotérica mais densa e convincente do século XX. Dom Juan não ensinou a Castaneda sobre plantas medicinais. Ensinou-lhe simplesmente que o mundo que vemos só é do jeito que o percebemos porque pensamos que ele é assim; que se pararmos de pensar que o mundo é assim, ele deixará de ser assim; e que, portanto, o mundo que acreditamos ver é apenas uma descrição do mundo, apenas uma entre um número infinito de outras igualmente passíveis e reais. Para anular no discípulo a visão habitual de que o mundo é só isso que pensamos que seja, o mestre usa uma variedde de meios, alguns até assustadores, como as experiências provocadas por certas plantas aluncinógenas. Mas tais recursos didáticos eram provisórios e seriam superados por técnicas mais sutis, descritas em livros posteriores de Castaneda. A erva do diabo, o primeiro desses livros - e um dos maiores best selles, entre todos eles -, narra o início do longo aprendizado do antropólogo para se tornar feiticeiro. E já revela o mapa inteiro da misteriosa viagem que nos inicia no universo mágico de dom Juan.
Na verdade, Carlos nunca fez o mestrado, tendo pulado direto para o doutorado; A Erva do Diabo foi sua monografia de bacharelado, Viagem a Ixtlan sua tese de doutorado. Isso nos conta Margaret, sobre o “Grande Medo” (The Great Fear), que assaltou os acadêmicos da University of California, desde o início, desde antes da publicação dos Teachings of Don Juan, e que, enquanto escrevia Viagem a Ixtlan, Carlos deu dois cursos (um de ante-gradução, “undergraduate”, outro de gradução) livres na UCLA, nos quais usou o material deste novo livro, o terceiro, que, enquanto “dissertation” (tese de doutorado) ganhou o título de Sorcery: A Description of the World (Feitiçaria: Uma Descrição do Mundo) .
Depois de escrever o capítulo 1, eu li o livro de Margaret Runyan Castaneda, que bagunçou mais ainda o coreto, ou melhor, que complexifica ainda mais a questão, fazendo de Carlos (que foi seu amigo, namorado e marido, e que ela conheceu em 1955) um peruano genial e mágico deste o início
Um moderno curandero peruano é Eduardo Calderón Palomino, cujo retrato está sobre a mesa do escritório de Douglas Sharon na UCLA. Palomino foi mestre de Sharon durante seus anos de trabalho de campo. Sharon, que passou por seu aprendizado muito antes de conhecer conhecer Carlos na UCLA, percebeu um grande número de similaridades entre os ensinamentos de Eduardo e Don Juan. O que é interessante, porque isso ou significa que Don Juan é parte de uma vasta tradição continental (oceanic tradition), ou que ele é um personagem criado menos baseado nos Yaquis (os quais não usam alucinógenos) do que nos antigos caras que Carlos costumava ver na praça de Cajamarca. Uma coisa é certa - Eduardo é um feiticeiro real e vivo da costa do Peru, que sabe muito bem o que é uma noite com a Mãe Cactus. Como se constata, é notável a similaridade com aquilo que Carlos contou .
“Mother Cactus”, “Madre Cactus”, é a Tocha Peruana, também chamado em espanhol “antorcha peruana” ou “Huachuma”, usado em cerimônias religiosas, e que contém muita mescalina, sendo comparado ao Peyotl (Mescalito), o qual, no entanto, é muito mais potente. Margaret reporta que São Pedro tem 1,2 gramas de mescalina por quilo, enquanto que o seu primo da América Central o do Norte o Peyotl possui 38 alcaloides.
Ela trata São Pedro como sendo a mesma Mãe Cactus. Encontrei duas espécies aparentadas, a Planta de São Pedro (Trichocereus pachanoi) e a Mãe Cactus (Trichocereus peruvianus ou Echinopsis peruviana), a qual apresenta a seguinte classificação científica: Reino: Plantae; Divisão: Magnoliophyta; Classe: Magnoliosida; Ordem: Caryophyllales; Família: Cactaceae; Gênero: Echinopsis; Espécie: Echinopsis peruviana; Sinônimo: Trichocereus peruvianus. Com ela se faz a bebida cerimonial “cimora”, no qual é mesclado a outras plantas enteógenas. Encontra-se a 3.000 metros de altitude .
Don Juan usou três plantas com Carlos, os quais ele chamava com nomes próprios de sua tradição, que correspondem à ordem dos nomes científicos conforme citados por Castaneda: Mescalito, Erva do Diabo e Fuminho:
Dom Juan utilizava, separadamente e em ocasiões diferentes, três plantas alucinógenas: o peiote (Lophophora williamsii)a datura (Datura inoxia syn. D. meteloides) e um cogumelo (possivelmente Psilocybe mexicana).
A classificação do Peyotl é assim: Reino: Plantae; Divisão: Magnoliophyta; Classe: Magnoliosida; Ordem: Caryophyllales; Família: Cactaceae; Subfamília: Cactoideae; Tribu: Cacteae; Gênero: Lophophora; Espécie: L. williamsii; Nome binominal: Lophophora williamsii (Lem. Ex Salm-Dyck) J. M. Coult. 1894. Sinônimos: Echinocactus lewinii, Lophophora williamsii var. lútea, Echinocactus williamsii >Lem. ex Salm-Dyck, Echinocactus williamsii var. luteus. Mammillaria lewinii, Lophophora williamsii var. lewinii, Lophophora lewinii, Anhalonium lewinii, Lophophora jourdaniana, Lophophora diffusa ssp. Fricii, Peyotl zacatensis var. fricii, Lophophora fricii, Lophophora williamsii var. echinata, Lophophora echinata, Lophophora lútea, Mammillaria williamsii, Anhalonium williamsii, Lophophora williamsii var. fricii.
Eis a classificação da Erva do Diabo: Reino: Plantae; Divisão: Magnoliophyta; Classe: Magnoliospsida; Subclasse: Asteridae; Ordem: Salanales; Família: Solanaceae; Gênero: Datura; Espécie: D. stramonium; Nome binominal: Datura stramonium. Sinonímia: Stramonium tatula (L.) Moench 1794, Datura tatula L.
No mesmo site, aprendemos alguns de seus nomes populares em espanhol (a planta era pouco conhecida no Brasil, antes da obra de Carlos, cujo primeiro volume The Teachings of Don Juan, Os Ensinamentos de Don Juan, aqui, ganhou justamente o título que é o nome mais comumente atribuído a esse vegetal, A Erva do Diabo):
Datura stramonium é uma espécie de planta tóxica da familia das solanáceas. Popularmente se conhece como “burladora, chamico, estramonio, revientavacas, hierba del diablo, hierba hedionda, higuera del infierno”.
Costuma-se confundir com “el toloatzin o toloache mexicano” (Datura innoxia) e com “el floripondio o floripón” (Brugmansia arbórea).
Carlos foi muito questionado sobre o uso dessas plantas por parte de Don Juan, sobre onde as encontrou e sobre o nome científico que lhes atribuiu, como no caso da Datura stramonium, que ele diz ser Datura innoxia; ver sobre isso o que o próprio Castaneda fala na carta resposta que escreveu para Robert Gordon Wasson, em 06/09/1968, no Anexo C.
Segundo Margaret Runyan Castaneda, Carlos era já inciado em xamanismo com feiticeiros latino-americanos, descendentes de mestres anteriores aos incas, desde quando chegou aos EUA. Na verdade, tudo sobre que ela fala, ela especula, a partir do que leu na sua obra, das frases crípticas e elípticas que ele lhe dizia, e do que comentou com outros amigos.
Ele lhe foi assim apresentado por sua amiga:
“Eu lhe aviso, cuidado com ele, ele tem poder...”
“Esse homenzinho pequeno? Lydette, ele bate no meu ombro”.
“Não poder físico”, ela sussurrou. “Ele pode encantar a sua alma, ele é um curandero.”
“Um o quê?”
“Um shaman, um mágico”.
Ela o desprezou à primeira vista por ser baixo, pois, segunda ela, ele tinha 5 pés e 5 polegadas de altura, quer dizer, 1,65 m; depois ela se encantou, o achava atraente, mas dizia que ele tinha complexo de altura .
Ela também relata a suposta relação de parentesco com Oswaldo Aranha, e, ao mesmo que tempo insinua que isso seria mistificação, induz o leitor a acreditar no fato, bem como sobre a herança que Carlos disse ter recebido de um tio, uma casa de 52 cômodos, no Brasil.
Outra coisa interessante que ele lhe contou é que a primeira palavra que ele pronunciou foi chamar uma tia de “Diablo”, “diabo”, quando tinha oito meses de idade .
Na verdade, depois de ler o importantíssimo livro de Margaret, muita coisa ficou bem mais clara para mim. Não é menos importante perceber o quanto o preconceito étnico, com a origem brasileira (ou peruana etc.) de Carlos, influenciou na recepção desconfiada e agressiva de sua obra. Isso, claro, junto ao fato de que Don Juan era um índio yaqui e yuma, nascido no México, e tinha tanto a nos ensinar.
Eu afirmo, don Juan existiu, e se chamava Juan. O retrato que dele faz Carlos não é totalmente fiel, porque nenhum retrato o é, e Margaret nos mostra muita coisa: que Carlos já era especial desde quando ela o conheceu, dez anos antes de ele conhecer Don Juan. Que ele já praticava feitiçaria, pesquisava as plantas psicotrópicas, se interessava por filosofia, lia demais, estudava escultura e esculpia e pintava (no livro de Margaret, vemos um busto do pai de Carlos, César Aranha Castaneda, que ele fez em terracota, e uma foto “de campo”, feita por ele também ), fez um curso de escrita criativa quando eles namoravam, e escreveu uma enorme quantidade de poemas e contos (que não chegaram até nós).
Que ela e ele se interessavam por misticismo e todo tipo de investigação da consciência, e que, num curso de pré-graduação, em 1960, Carlos escreveu e submeteu um artigo sobre a erva do diabo com todas as informções que colocou depois em seu livro de estreia. Que ele já tinha um ou mais informantes índios, mexicanos, nessa época. Que ele se casou intempectivamente com ela, para logo depois se ausentar por longos períodos de casa, com muita frequência, dizendo-lhe que “encontrara um homem”, o informante, o índio, o feiticeiro, Don Juan.
Margaret é testumunha disso tudo.
Que interessante, que Carlos tenha falado assim para ela, e que Don Juan tenha lhe dito, mais ou menos na mesma época!
/.../ Mescalito me mostrou você e, fazendo isso, me disse que você era o escolhido.
- Quer dizer que eu fui escolhido entre outros para alguma tarefa, coisa assim?
- Não. O que quero dizer é que Mescalito me disse que você podia ser o homem que estou procurando.
- Quando foi que ele lhe disse isso, dom Juan?
- Brincando com você, ele me disse isso. Isso faz de você o homem escolhido para mim.
- O que significa ser o homem escolhido?
- Há alguns segredos que conheço [Tengo secretos]. Tenho segredos que não poderei revelar a ninguém, a não ser que encontre o meu homem escolhido. Na outra noite, quando eu o vi brincando com Mescalito, ficou claro para mim que você era esse homem. Mas você não é índio. Que estranho!
A pintura que ele faz de seu mestre é a mais fiel possível. A que faz de si mesmo, não; nada, nem um pouco. Carlos se usou como um personagem, para mostrar para o ocidente e para o mundo o legado evolutivo da linha de Don Juan. Ele se retrata fraco, feio, nada atraente, tolo, preguiçoso, covarde, quase infantil, se assustando com os revelações de Don Juan. Que lhe dizia que um nagual é um sedutor, o tempo todo.
E era justamente o que Carlos sempre foi: um sedutor, um paquerador, um namorador, um irrequieto, um insubmisso, que exerceu um sem número de profissões e atividades.
Até filosofia ele estudou, inclusive a fenomenologia de Husserl, e fez a mescla desse saber com as falas de Don Juan, pois, lembremos, um nagual tem autoridade.
Margaret nos conta que ele lhe falou:
“Eu comecei a entender feitiçaria nos termos da idéia de Talcott Parsons de glosses”, diz Carlos. “Um gloss é um sistema total de percepção e linguagem Para Instante, esta sala é um gloss Temos agrupados sereis uma das percepções isoladas - piso, teto, janelas, luzes, tapetes, etc - para fazer uma única totalidade. Mas nós tivemos que ser ensinados a colocar o mundo em conjunto dessa maneira. o mundo é um acordo. /.../”
Esses “glosses” de que Talcott Parsons fala é traduzido às vezes por vestígios, glosses seriam vestígios que os homens utilizam para totalizar significados. A palavra tem vários sentidos literais, como, por exemplo: polimento, aparência exterior enganosa, falso brilho, entre outras.
Carlos leu um trecho de Wittgenstein para Don Juan, que riu e comentou:
“Seu amigo Wittgenstein amarrou muito apertado o nó ao redor do pescoço, e assim ele não pode ir a lugar nenhum”.
Podemos ler a licença de casamento de Carlos com Margaret:
Oficina del Registro Civil de Tiaquiltenango. Em el Libro num 5/960 a fojas Catorce, bajo la Partida num. 14 de esta Oficina, se encuentra asentada el acta de Matrimonio de. Carlos Aranha Castaneda com Margaret Evelyn Runyan. Cuyo contrato se celebro ante mi con los requisitos de Ley. Tiaquiltenango Morelos 27 de Enero de 1960”.
Ela ainda nos conta que Carlos fingiu um divórcio para que ela se acalmasse em relação a suas idas ao México, e ela se casou de novo, e teve um filho. Carlos voltou, revelou que o divórcio era falso, retomou-a para si, e se declarou pai espiritual da criança, Carlton Jeremy Castaneda, que Carlos chamava de “chocho” (significados em espanhol: I. adjetivo 1. familiar - caduco(a), gagá; 2. figurado - bobo(a), II. substantivo masculino vulgar - xota, xoxota, barata ), e que ele registrou como sendo seu filho (C. J. chamava Carlos de Kiki ). Para depois se afastar dele, seguindo os ditames de Don Juan, de que um guerreiro deveria cortar todos os laços e apagar a sua história pessoal. Carlton trocou de nome, provavelmente por isso, e, quando adulto, passou a se chamar Adrian.
Na polissemia do apelido carinhoso que deu a seu filho adotivo, Carlos talvez manifestasse o seu pensamento de que Carlton era a expressão da energia mágica de Margaret, a realização plena de sua forma, como ele declarou para ela, numa visão do masculino e feminino conjugados (o homem tem uma mulher dentro de si, a mulher tem um homem dentro de si, ou melhor, o homem é um homem e uma mulher em si, a mulher é uma mulher e um homem, em si), como na visão de anima e animus de Carl Gustav Jung .























4 - Os Passos de Poder (os Passes Mágicos, a Tensegridade)
O truque de colocar os três cérebros em harmonia é se abrir para o infinito. Convidar uma força que você vê agindo de acordo com seus desígnios. É o equivalente de abertura para o nosso potencial nesta terra. É para isso que se eleva a nossa vontade livre: abrir-nos totalmente para o plano que está preparado para nós. /.../
Carlos Castaneda segundo Martin Goodman

O livro de Goodman é muito, muito bom, e traz novas revelações, vale a pena ser lido, e, dentro da lógica do mundo da feitiçaria, funciona, sem que possamos nos restringir à sua pretensa factualidade - a questão pra nós é a factualidade intensa.
Don Juan foi mudando sua forma de falar, ao longo dos livros de Carlos, e isso faz sentido, pois eram novos ângulos, e, principalmente, a partir de O Presente da Águia, Carlos escrevia o que estava conseguindo lembrar das instruções que recebeu quando estava no lado esquerdo, em consciência intensificada. Os “ensinamentos de Don Juan” dos livros anteriores foram o que ele deu para o lado direito, quando Carlos estava em consciência “comum”. As duas instruções são necessárias, e sempre acontecem, com todos. É o que o Nagual Lujan Matus chama de percepções paralelas. (Não confundir com os seres paralelos, pessoas ligadas pelas emanações de seu casulo, e que não se conhecem, geralmente).
Assim também, o Carlos do livro de Martin fala diferente do Carlos que escreveu seus livros, e das entrevistas, que é mais à vontade, e polvilha o tempo todo suas falas com expressões em espanhol, inclusive palavras chulas, e ditos muito humorísticos, tudo no estilo de Don Juan, sem ser exatamente como Don Juan (Carlos e Don Juan têm o tempo todo cada um o seu estilo, inconfundível). O Carlos de Martin Goodman não fala expressões em castelhano, nem palavrões, nem xistes, e é muito mais “literário”, usa um vocabulário mais precioso do que o Carlos a que estamos acostumados.
Antes de tudo, vamos colocar aqui o panorama de sua obra, como é apresentada em um plano, segundo a Wikipedia, the free encyclopedia, online, em inglês (traduzo, dou os nomes dos livros em português, e coloco os títulos originais e as datas de publicação nos EUA entre parêntesis; no Brasil as obras de Carlos Castaneda foram publicados pela Editora Record, e depois reeditados pela mesma casa, no selo Nova Era):
- A Mestria da Consciência:
A Erva do Diabo; os ensinamentos de Don Juan - (The Teachings of Don Juan: A Yaqui Way of Knowledge, 1968), tese de graduação
Uma Estranha Realidade (A Separate Reality: Further Conversations with Don Juan, 1971)
Viagem a Ixtlan - (Journey to Ixtlan: The Lessons of Don Juan, 1972), tese de doutorado
Aos três primeiros livros corresponderia o compêndio: Passes Mágicos: a sabedoria prática dos xamãs do Antigo México - PM (Magical Passes: The Practical Wisdom of the Shamans of Ancient Mexico, 1998)
- A Mestria da Transformação:
Porta para o Infinito - (Tales of Power, 1975)
O Segundo Círculo do Poder - (The Second Ring of Power, 1977)
O Presente da Águia - (The Eagle’s Gift, 1981)
Compêndio: O Lado Ativo do Infinito - (The Active Side of Infinity, 1999)
- A Mestria do Intento:
O Fogo Interior - (The Fire from Within, 1984)
O Poder do Silêncio - (The Power of Silence: Further Lessons of Don Juan, 1987)
A Arte do Sonhar - (The Art of Dreaming, 1993)
Compêndio: A Roda do Tempo - (The Wheel Of Time: The Shamans Of Mexico, 2000)
A wikipedia em português não traz essas informações - em compensação afirma que Carlos era sobrinho de Oswaldo Aranha, dado, é claro, sem confirmação (alguém falou, alguém ouviu etc).
Eis a explicação que o site anglófono traz das três mestrias:
Mestria da Consciência - a Mestria da Consciência supõe a reenfatização da consciência do mundo do tonal (objetos do dia-a-dia) para o mundo do nagual (espírito). Durante este estágio de desenvolvimento o guerreiro-viajante se esforça para diminuir a importância pessoal e aumentar sua energia. Mas, antes de tudo e mais importante, o estudante é encorajado a agir e a assumir a responsabilidade pela sua vida.
Mestria da Transformação - durante a Mestria da Transformação o guerreiro-viajante se esforça para limpar e retomar energia para afiar a sua única ligação com o espírito, o intento. O guerreiro-viajante se torna impecável por testar empiricamente a sua conexão e eventualmente banir todas as dúvidas, aceitando o seu destino, e se comprometendo a seguir o caminho com coração.
Mestria do Intento - uma vez que o guerreiro-viajante já acumulou suficiente energia extra, e poder pessoal suficiente, a segunda atenção adormecida é ativada. Ensonhar se torna possível. O guerreiro-viajante mantém impecabilidade, percorre o caminho com coração, e espera uma abertura para a liberdade.
Essa forma de ver se acopla com aquela que podemos depreender de algumas leituras do próprio Carlos, que divide as mestrias em: consciência (que inclui o ensonhar), espreita e intento; vemos que a espreita aqui ficaria ligada à arte da transformação.
Estes são os títulos em espanhol; sabemos que Carlos valorizava muito o ensinamento transmitido na língua neolatina, na qual aprendeu com seu benfeitor, e que ele mesmo revisou as traduções castelhanas de suas obras (e algumas ele mesmo traduziu): Las Enseñanzas de Don Juan, Una Realidad Aparte, Viaje a Ixtlan, Relatos de Poder, El Segundo Anillo de Poder, El Don del Águila, El Fuego Interno, El Conocimiento Silencioso, El Arte de Ensoñar, El Silencio Interno (Silent Knowlegde, 1996, também conhecido como “El Libro Púrpura”, “ O Livro Púrpura”, e que só foi vendido nos workshops de Tensegridade), El Lado Activo del Infinito, Pases Mágicos e La Rueda del Tiempo.
Os leitores de Carlos, quando surgiram The Teachings of Don Juan, ficaram encantados com todo o clima contracultura do livro, e a força, beleza e genialidade daquele índio, e o seu uso super-racional das “plantas de poder”.
Tal pesquisa, de certa forma, foi o escopo original do paper ou artigo ou tese que Carlos Castaneda queria fazer quando viajou pelo sudoeste dos EUA, procurando um “informante”, que viria a ser Don Juan, que ele conheceu como que por acaso, quando já tinha quase que desistido de encontrar um, na estação rodoviária de Greyhound, em Nogales, Arizona. Carlos queria fazer um trabalho sobre o uso ritual e terapêutico das plantas alucinógenas entre os índios, e seus dois primeiros livros tratam da forma como ele vivenciou estas experiências.
Nesta parte de sua obra, Carlos deu uma contribuição notável para a enteobotânica, que estuda os enteógenos, plantas que trazem transe místico (“en” = dentro, “theos” = deus), ciência cuja criação foi muito influenciada pelo pioneiro milionário Robert Gordon Wasson (22/09/1898 - 23/12/1986), o qual, junto com sua esposa, a russa Valentina Wasson, pesquisaram por muitos anos as plantas de poder, participaram em rituais no México e foram capa da revista Life, em 1957.
Não podemos deixar de citar também o livro The Doors of Perception, 1954, de Aldous Huxley, título inspirado nos versos de William Blake, de 1793:
If the doors of perception were cleansed every thing would appear to man as it is, infinite.
Se as portas da percepção estivessem limpas tudo apareceria para o homem tal como é, infinito.
E que vai inspirar o nome do grupo The Doors, cujo líder Jim Morrison também tomou peyote, e via sempre o espírito de um índio que o guiava.
Segundo a opinião da esposa de Carlos nos anos 60, e namorada nos 50, Margaret Runyan Castaneda, a obra de Huxley também teria influenciado nosso autor:
A coisa que mais contribuiu para o seu interesse pelo ocultismo respeitável foi o livro, The Doors of Perception (As Portas da Percepção) - polêmico experimento de Aldous Huxley com a mescalina que se tornou um clássico, logo após o seu aparecimento, em 1954. Até ler Huxley, Carlos sentia que havia algo vagamente vulgar no misticismo e nos estados alterados de consciência. /.../
Foi em 1956 que Carlos leu The Doors of Perception. O livro é uma mistura eclética de academicismo e respeito pelo mysterium tremendum, e na primeira leitura Carlos foi fisgado. /.../
A revista do jornal O Globo, de 11 de junho de 2010, traz a reportagem “Programa de índio; rituais xamânicos ganham força, atraem mais adeptos e se renovam, misturando filosofias orientais e até psicanálise”, sobre a eclosão do fenômeno do neoxamanismo no Rio de Janeiro, e cita a fala do pajé Fabiano Txanabanê, que conduz rituais urbanos, como oficinas de autocura e descoberta:
As pessoas da cidade têm dificuldade com as plantas. A medicina é uma ferramenta de alinhamento do espírito e do corpo. Quando você está alinhado, olha para dentro e descobre a própria cura. /.../
Por outro lado, tal vertente também foi trabalhada por outros pesquisadores sérios, como podemos ver na tão iluminada obra do norte-americano Tercence McKenna (Alucinações Reais e O Alimento dos Deuses ), e dos brasileiros, Sangirardi Jr. (O Índio e as Plantas Alucinógenas ) que estuda o fenômeno entre os índios das “três Américas” (que são uma), e Alex Polari de Alverga (O Livro das Mirações e O Guia da Floresta ), o qual participa e faz o honesto e apaixonado relato do culto do Santo Daime. Ainda se anuncia o lançamento do livro de Philippe Bandeira de Melo, A Nova Aurora de uma Antiga Manhã, sobre o tema.
Carlos foi quase que imediatamente contestado por especialistas, pois suas descrições das plantas são vagas e “ecumênicas”, ele não parece definir bem que plantas usou, ou de que região, ou ligadas a que cultura específica.
O próprio etnobotânico Robert Gordon Wasson, lhe fez numa missiva a série de perguntas, que Carlos respondeu prontamente, na carta datada de 6 de setembro de 1968.
Coloquei no Anexo C a carta quase inteira (só omiti saudações etc.) porque é um documento precioso, que sintetiza muitas das desconfianças dos professores e intelectuais em relação a Carlos e sua obra, o que ficou mais claro com o tempo. Wasson cobra de Castaneda comprovações e uma análise rigorosa, passando pelo crivo das identificações e documentações.
Carlos, já no início, não quer nem promete fazer nada disso, seu objetivo é outro, muito outro, é irradiar a fecundação de duas visões de mundo diferentes, dois mundos diferentes, com essa comunicação copiosa, é ser a real “fresta entre os mundos”.
O aprendizado que Carlos propõe, porém, vai muito além, e abandona a necessidade do uso das plantas, para mover o ponto de encaixe. Na sua classe para graduandos, na UCLA, em 1972, ele já dizia (e parece se referir aos passes mágicos):
It is better to practice the Yaqui exercises than to use the psychotropics.
É melhor praticar os exercícios dos yaqui do que usar psicotrópicos.
Na última aula desse curso, deu uma demonstração de um desses “exercícios yaqui”:
A aula final foi dada nas colinas ao norte de Los Angeles, um local que Carlos chamava de um lugar de poder, aonde certa vez feiticeiros yaqui tinham vindo para praticar meditação e outros rituais xamânicos. Ele disse que era um local que Don Juan tinha visto em um de seus sonhos, um enorme anel de pedras dispostas em círculo em torno de uma densa floresta de chaparral, bem acima Malibu Canyon. /.../
/.../ Quando eles chegaram lá, Carlos pulou na frente de todos e começou a demonstrar alguns exercícios, algumas das técnicas yaqui de feitiçaria, como entrar em contato com as linhas do mundo. Todos se reuniram em torno dele. Carlos ficou com os pés em um ângulo direito, o braço esquerdo estendido e o seu braço direito paralelo ao solo e dobrado para dentro em direção ao peito. Ele virou a palma da mão esquerda para trás e sua mão direita em direção à frente. Então, os dedos em cada mão começaram a se mover freneticamente, como se estivessem tocando um banjo gigante. Carlos fechou os punhos e virou-se em torno graciosamente até ficar na posição de um lutador.
Ele ficou lá tenso e fechado, os braços e as pernas dobradas na sua posição agachada, com olhos de pedra. E, de repente, lá estavam elas ... as linhas do mundo! A rede, a teia, o fluxo cósmico intersticial!
Vários fãs enlouquecidos viram nos dois livros iniciais de Carlos Castaneda um aval para o uso de drogas, bem mais “prosaicas”, que eles compravam na esquina, ou no supermercado. Outros, mais loucos ainda, foram internados ou tiveram overdose, assim como alguns desvairados se jogaram de abismos depois, e a culpa lhe foi atribuída, por familiares, pelo público e pela mídia.
Ora, pessoas ensandecidas que usam livros (ou filmes ou músicas) como desculpa para seus atos tresloucados sempre houve, e elas usam qualquer coisa, e, se não houvesse obras de arte para culpar, elas arranjariam outro “bode espiatório” para seu descontrole.
Já Carlos prega o tempo todo o controle, a impecabilidade, “temperar o tonal com o nagual e o nagual com o tonal”.
Logo ele começa, desde o segundo livro, Uma Estranha Realidade, a esclarecer que sua questão é a percepção de outras “camadas” do universo, pelo deslocamento do “ponto de aglutinação”, o ponto de encaixe.
O uso das “plantas de poder” não é o melhor, não é recomendável, não é o que se faz geralmente, foi um recurso excepcional utilizado especificamnte com ele, porque era um nagual muito rígido, muito encastaleado nas suas certezas, e seu ponto de encaixe (sua consciência) não queria ceder nem um centímetro.
Florinda disse que as drogas tornam muito difícil chegar à segunda atenção através do ensonho. Um ouvinte disse que don Juan havia recomendado a Carlos Castaneda que se encontrasse com Mescalito tantas vezes quantas fosse possível. Florinda disse que sim, mas para fazê-lo através do ensonho. /.../
Um ouvinte pergunta se necessitamos de plantas de poder. Carlos Castaneda responde NÃO, absolutamente não. Ele as tomou porque seu ponto de encaixe estava exessivamente rígido. /.../
Nada de drogas, nem marijuana, nem peyote, nem heroína.
Mas, desde o início, desde o primeiro livro, Don Juan lhe ensina outras técnicas, mais saudáveis e controláveis, de mover o ponto de encaixe. O modo de vida do guerreiro, a impecabilidade, a loucura controlada, caçar, espreitar, ensonhar, contemplar etc. E mesmo, movimentos da dança do guerreiro, que já são os passes mágicos.
Quando da edição no Brasil de A Arte do Sonhar, eu falei que o livro que eu procurava estava numa certa livraria do centro, que avistamos. Foi uma intuição repentina, eu nem sabia por que estava dizendo aquilo. Caminhamos até a loja, e, logo na entrada, havia uma pilha dos livros, traduzidos, recém-lançados no Brasil, e eu nem sabia que havia esse título.
Depois me perguntei se ainda haveria outras obras de Castaneda, e ele apareceu no meu sonho, fazendo certos movimentos enquanto dava uns passos para frente, e me falou que parte importante do aprendizado eram essas manobras corporais, que nos colocavam imeditamente em outro mundo, outra realidade. Eu tinha muita resistência a encarar a aprendizagem como algo físico, mesmo sabendo que, desde o início, Don Juan assim o dizia, e lhe ensinara o passo do poder e a dança do poder, já nos Ensinamentos.
Carlos no sonho me falou que o nome do novo livro seria Passos do Poder. Anos depois, o livro traduzido foi publicado no Brasil como Passes Mágicos, e a técnica havia sido rebatizada por ele como Tensegridade, em espanhol Tensegridad, em inglês Tensegrity.
Vemos no site Passes Mágicos de Carlos Castaneda apresentado por Cleargreen Incorporated (espelho em português de Carlos Castaneda’s Tensegrity):
É necessário praticar em um grupo para receber todos os benefícios dos passes mágicos?
Não, não é necessário. Como Carlos Castaneda escreve em Passes Mágicos:
“Praticar em grupos é benéfico em muitos aspectos e prejudicial em outros. É benéfico porque permite a criação de um consenso de movimentos e a oportunidade de aprender pelo exame e pela comparação. É prejudicial porque encoraja a dependência a outras pessoas e o aparecimento de comandos sintáticos e de solicitações que têm a ver com hierarquia.” (p. 36)
A ideia de comandos sintáticos é explicada em seguida na mesma página, juntamente com algumas das vantagens de se praticar em grupos maiores. A escolha do melhor modo de praticar é deixada ao indivíduo:
“A Tensegridade deve ser praticada da maneira mais fácil: ou em grupos ou sozinho ou ambos.” (p. 36)
Achamos que praticar sozinho nos permite executar os passes mágicos que parecem melhor nos corresponder individualmente em qualquer determinado momento, enquanto que trabalhar em conjunto nos ajuda a compensar nossa prática executando passes mágicos que não poderíamos de outra maneira praticarmos sozinhos, ou nos ajuda a ajustar nossa velocidade para combinar com o grupo.
Essas adaptações e ajustes podem trazer um movimento do ponto de aglutinação. Eles podem nos permitir a formar uma nova conexão com o intento: o intento de perceber e agir de uma nova maneira, com afeto e gratidão por nossos seres companheiros.
Entre janeiro e abril de 1996, Carlos publicou o jornal The Warriors’ Way/Readers of Infinity , concatenado com sua obra (quase) secreta (o Livro Púrpura, vendido apenas nos seminários de tensegridade, principalmente no México), do mesmo ano, e suas palestras e demonstrações de tensegridade.
Neste livro pouco divulgado, El Silencio Interno, ele explana seu conceito de “leitores do infinito”, que ficam observando a energia no horizonte (ou na parede, no limite da visão), no qual veem um ponto que chamam de “a mancha cor de granada”, isto é, vermelha (Granada contém magnésio e sua cor é um profundo vermelho-sangue ).
Em sua busca contínua para encontrar soluções e respostas para suas indagações, os xamãs do México antigo descobriram que, quando se alcança o silêncio interno, a consciência do homem pode dar facilmente um salto à percepção direta daa energia refletida em qualquer horizonte dado. Eles usavam o céu como horizonte, assim como as montanhas, ou, em um espaço mais reduzido, as paredes de suas casas. Eram capazes de ver energia refletida nesses horizontes como se estivessem vendo um filme. Descreveram concisamente este fenômeno, como a visualização da energia com aparência de um matiz - para ser precisos, um ponto avermelhado no horizonte, de cor vermelho granada. Chamaram-no a mancha cor de granada.
Fala das técnicas para atingir o silêncio interior. E ensina alguns passes mágicos, que depois aparecerão no livro a eles dedicado (há um outro livro que não foi escrito por Carlos, chamado Pases Sueltos, que foram realizados nos seminários, e recolhidos por participantes).
Domingo Delgado Solorzáno, em sua obra magnífica, nos fala em severos, rigorosos e complexos exercícios físicos fundamentais para mover o ponto de encaixe, e que a sua linhagem, na figura do Nagual Don Chema, chama de corpofilia .
Carlos nos conta, em muitos lugares, que há cerca de dez mil anos atrás havia os antigos videntes, que eram obececados pelo poder que o controle da consciência lhes proporcionava. Eles mesmerizavam ou guiavam (uma coisa ou outra, e as duas aconteceram) populações inteiras, em certas regiões, tornando-os seus seguidores ou seus servos. Eram especialmente afeiçoados a seus aliados, com os quais estabeleceram um contato de troca de energia, acreditando que tais relações lhes davam um poder especial.
Os aliados são criaturas inorgânicas, isto é, que não comem nem fazem outras coisas orgânicas, e que, segundo Domingo Delgado Solórzano, baseiam sua química na sílica e não no carbono. Podemos vê-los, e os vemos, segundo Carlos vemos tudo, mas desde crianças somos adestrados para nos convercermos a nós mesmos que não os vemos, e temos medo deles, e os consideramos contos infantis ou loucura, quando somos adultos.
Dom Juan dizia que o fato energético, que era o alicerce da cognição dos xamãs do México antigo, significava que cada nuance do cosmo é uma expressão de energia. A partir do seu platô de onde viam a energia diretamente, estes xamãs chegaram ao fato energético de que o cosmo inteiro é composto de forças gêmeas que são ao mesmo tempo opostas e complementares entre elas. Eles chamavam essas duas forças de energia animada e energia inanimada.
Eles viram que a energia inanimada não tem consciência. Consciência, para os xamãs, é uma condição vibratória da ener¬gia animada. Dom Juan dizia que os xamãs do México antigo foram os primeiros a ver que todos os organismos da Terra são possuidores de energia vibratória. Eles os chamavam de seres orgânicos, e viram que os próprios organismos determinam o grau de coesão e os limites dessa energia. Eles também viram que existem conglomerados de energia vibratória, energia animada, que têm uma coesão própria, livres das amarras de um organismo. Eles os chamavam de seres inorgânicos, e os descreviam como pedaços de energia coesiva que são invisíveis ao olho humano, energias cônscias de si mesmas e que possuem uma unidade determinada por uma força aglutinadora diferente da força aglutinadora de um organismo.
Os xamãs da linhagem de dom Juan viram que a condição essencial da energia animada, orgânica ou inorgânica, é transforrmar a energia no universo como um todo em dados sensoriais. No caso de seres orgânicos, estes dados sensoriais são então transformados em um sistema de interpretação no qual a energia como um todo é classificada, e há uma resposta designada para cada classificação, qualquer que ela possa ser. A assertiva dos fei¬ticeiros é de que no reino dos seres inorgânicos, os dados sensoriais a partir dos quais a energia como um todo é transformada pelos seres inorgânicos, devem ser, por definição, interpretados por eles mesmos em qualquer que seja a forma incompreensível na qual passam fazê-lo.
De acordo com a lógica dos xamãs, no caso de seres humanos, o sistema de interpretação de dados sensoriais é a cognição deles. Eles sustentam que a cognição humana pode ser tempora¬riamente interrompida, já que ela é apenas um sistema taxionômico no qual respostas têm sido classificadas junto com a interpretação de dados sensoriais. Quando essa interrupção ocorre, os feiticeiros afirmam que a energia pode ser percebida diretamente enquanto flui no universo. Os feiticeiros descrevem o ato de perceber a energia diretamente como um feito semelhante a ver com os olhos, embora estes estejam minimamente envolvi¬dos no processo.
Alguns seres inorgânicos (SI) são indiferentes para nós, alguns querem se relacionar com os humanos, alguns parasitam nossa energia. Em Sonhos Lúcidos, Delia conta a Florinda Donner-Grau que os yaquis falam sobre eles, e os chamam de surem:
É fato sabido que aquelas montanhas são habitadas por criaturas encantada: pássaros que falam, arbustos que cantam, pedras que dançam. Criaturas que podem assumir qualquer forma, à vontade.
Os antigos videntes foram atacados, antes da conquista espanhola, e quase dizimados. Sua autosuficiência e sua confiança nos aliados não lhes permitiram entender bem o perigo dos dominadores, e eles foram oficialmente obliterados.
Na clandestinidade, os videntes continuaram, mas aprenderam que manipular o ponto de encaixe e ver outras realidades e os aliados não era suficiente para desviar um ataque do seu semelhante. Então desenvolveram a arte da espreita.
Esse acontecimento se deu em toda a América, e os grupos que invadiram e dominaram os antigos videntes imitaram até certo ponto suas práticas, sem entendê-las de fato. O que os espanhóis encontraram, quando chegaram aqui, não foram as práticas genuínas dos videntes, mas a imitação que delas faziam outros índios, que, na verdade, pouco sabiam sobre as três mestrias: consciência, espreita e intento.
É o que aconteceu com os aymarás, que foram sujeitados pelos incas, e que eram os verdadeiros antigos videntes da América do Sul. No norte, os toltecas estão por trás da pretensa grandeza da civilização asteca. Há um contínuo do qual muito pouco sabemos, e que precisamos investigar, que liga os aymarás, os maias e os toltecas.
Os aymarás tinham uma civilização muito avançada, antes da chegada dos incas, e incluíam vários subgrupos, como os Qullas, Lupaqas, Caranqas, Lucanas, Chocorvos, Chichas etc, que se espalhavam por várias regiões, onde hoje são Lima, Ica, Huancavelica, Ayacucho, Arequipa, Apurimac, Cuzco, Puno, e partes de Cochabamba e Potosi.
Milhões de pessoas ainda hoje falam Aymará e Quéchua ou Quíchua (a língua dos Incas), no território que vai do sul da Colômbia, passa por Equador, Peru e Bolívia, metade norte do Chile e o noroeste da Argentina; os povos de todos esses países são verdadeiros herdeiros do Império Tiwanaku, nascido no platô do Lago Titicaca. Tiwanaku vem de Taypi Qala, que significa A Pedra do Centro. Já Cuzco quer dizer o Umbigo do Mundo.
O austríaco Arthur Posnansky (1873 - 1946) postulou a teoria de que os Tiwanaku são a origem de todas as culturas da América pré-colombiana. O próprio Deus Inti, o Sol, tem o seu nome em aymará.
A língua aymará não distingue os gêneros, todos os nomes são comuns a masculino e feminino; possui quatro pessoas do discurso, quatro pronomes pessoais no singular e no plural; e há um pronome que significa eu e tu ao mesmo tempo, fundidos num só. Os estudiosos dizem que é a língua mais perfeita, a língua natural mais regular, alguns pensam que é uma antiga língua artificial, que parece haver sido inventada de propósito.
Somos a América, herdeiros desse tesouro e desse mistério.
É como falam os aymarás, na sua palavra: Aruskipasipxañanakasakipunirakïspawa, que sozinha significa, “é meu conhecimento pessoal que é necessário para todos nós, inclusive você, fazer o esforço de nos comunicarmos”.
Os índios brasileiros Ashaninkas, que vivem no Acre, se dizem descendentes dos incas .
Mesmo o grupo tupi-guarani (o grande ramo linguístico que há no Brasil e inclui, entre outras línguas, o tupi clássico e o guarani moderno) é um povo que teve sua origem no altiplano da Bolívia, mas foi migrando para leste, buscando, segundo eles próprios, “a terra sem mal”, até chegarem à beira do Oceano Atlântico, e chamarem sua nova terra de Pindorama, a terra das Palmeiras.
Descobriu-se mesmo que os índios tupis tinham uma rota chamada Peabiru , que eles percorriam, e que ligava o litoral do Brasil aos altiplanos dos Andes, inclusive a cidade de Cuzco, a capital do Império Inca:
Os peabiru (na língua tupi, “pe” - caminho; “abiru” - gramado amassado) são antigos caminhos, utilizados pelos indígenas sul-americanos desde muito antes do descobrimento pelos europeus, ligando o litoral ao interior do continente. A designação Caminho do Peabiru foi empregada pela primeira vez pelo jesuita Pedro Lozano em sua obra “História da Conquista do Paraguai, Rio da Prata e Tucumán”, no início do século XVIII.
O principal destes caminhos, denominado como Caminho do Peabiru, constituía-se em uma via que ligava os Andes ao Oceano Atlântico, mais precisamente Cuzco, no Peru, ao litoral na altura da Capitania de São Vicente (atual estado de São Paulo), estendendo-se por cerca de três mil quilômetros, atravessando os territórios dos atuais Peru, Bolívia, Paraguai e Brasil.
Em território brasileiro, um de seus troços ou ramais era a chamada Trilha dos Tupiniquins, no litoral de São Vicente; outro partia de Cananeia; troços adicionais partiam do litoral dos atuais estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
Em um debate, em comemoração aos 500 anos de “descobrimento” do Brasil, o escritor e cantor Jorge Mautner afirma, sem, no entanto, citar suas fontes:
Descobriu-se que, no Amazonas, havia uma civilização tipo Inca. O império Inca nasceu aqui e foi para lá. Tudo é de uma riqueza incomensurável. É a nossa pré-história.
Bem, aí surgiram os novos videntes, que, com seu aprendizado obtido a duras penas, deslocaram os interesses. Agora não lhes bastava dominar os outros, queriam dominar a si mesmos. Não era suficiente poder entrar à vontade na segunda atenção, queriam também chegar à terceira atenção. Tornaram-se os “guerreiros da liberdade total”.
O grupo de Carlos, que veio por gerações até ele, tem muitas anomalias, como a relação com o inquilino (Desafiante da Morte), a presença no século XIX do mestre chinês de artes marciais Nagual Lujan, o fato de Don Juan ter sido treinado pelo seu benfeitor e o benfeitor de seu benfeitor ao mesmo tempo, a presença de membros de origem europeia, e o advento de Carlos, o nagual de três pontas, que divulgou o conhecimento. Don Juan sabia que tinha tido um treinamento especial, pois um dia seria chamado para explicar o nagualismo. E ele o fez, através de Carlos, a quem incumbiu de escrever seus livros (Carlos diz que a verdadeira história é outra: o legítimo autor dos seus livros todos foi Don Juan).
Don Genera costumava brincar que Carlos era um poeta. Margaret nos conta que Carlos fez um curso de escrita criativa, e escreveu muitos contos e poemas, antes de conhecer Don Juan; os quais jogou fora, depois.
Mas Carlos não se considerava escritor, falou que, por ordem de Don Juan, ensonhava os livros prontos, e tinha que deslocar seu ponto de encaixe para a mesma posição, para poder escrevê-los, quando acordado. Algo parecido acontece com Florinda e sua tese acadêmica em Sonhos Lúcidos , e com o nagual Elias, que trazia para o nosso mundo objetos da segunda atenção. Dizem que A Arte do Sonhar, de Carlos Castaneda, além de ter vindo da segunda atenção, foi de novo escondido lá por Carol, a mulher nagual, que um dia a trouxe de volta, para ser publicada.
Assim surgiram os novíssimos videntes, que são os atuais, portadores de todo este conhecimento, conectados globalmente, e ainda cientes da existência da quarta e da quinta atenções, devido, principalmente, à obra corajosa, desbravadora e injustiçada de Domingo Delgado Solórzano.
Agora, a tensegridade. Leiamos mais um pouco do que sobre ela fala o site oficial:
Tensegridade é o nome dado à versão moderna dos Passes Mágicos e à maneira fluida e energéticamente eficiente de ser - o caminho do coração - que Don Juan Matus ensinou a seus discípulos: Carlos Castaneda, Florinda Donner-Grau, Taisha Abelar e Carol Tiggs. /.../
Carlos Castaneda emprestou a palavra tensegridade do arquiteto, cientista, navegador, inovador e visionário R. Buckminster Fuller, cuja percepção da energia levou-o a observar um princípio de interconectividade fluida presente na natureza, que ele chamou de “tensegridade,” uma combinação de integridade tensional, que descreve as forças em ação dentro de uma estrutura que é formada por uma rede finita de compressão, ou elementos rígidos interconectados através da tensão, ou elementos elásticos que dão à estrutura sua integridade geral. Devido a essa propriedade de interconectividade, quando um dos elementos da estrutura da tensegridade muda de nível, todos os outros elementos mudam concomitantemente, ou se adaptam para uma nova configuração, cedendo sem se quebrar.
Fuller apontou para o suporte essencial da vida sobre a Terra, a árvore, como um maravilhoso exemplo de tensegridade na natureza. Nascendo de uma semente, água, ar e luz do sol, uma árvore cresce para formar uma eficiente estrutura de tensegridade com água e gases se movendo dentro dela permitindo-lhe ser flexível e incrivelmente resistente enquanto se verga e se adapta aos ventos e à terra, que se movem, além disso leva minerais - partículas das estrelas - e água da terra para o céu.
Carlos Castaneda considerou que esse processo, a tensegridade, era a descrição energética perfeita da prática moderna dos ensinamentos de Don Juan:
No caso dos passes mágicos, a Tensegridade se refere ao jogo entre a tensão e o relaxamento dos tendões e músculos e das suas contrapartes energéticas, de modo tal, que melhora a integridade geral do corpo como uma unidade física e energética, e, promove uma consciência de como todas as partes de nosso ser - tendões, músculos, ossos, sistema nervoso e órgãos, etc. trabalham em conjunto, integrados por um fluxo saudável de energia.
No caso da vida diária, disse Carlos Castaneda, a Tensegridade é uma arte: a arte de adaptar-se à vibração, disponibilidade e movimento de nossa própria energia, de modo a contribuir para com a comunidade da qual somos formados.
Há várias dezenas de grupos de passes que ajudam em outras práticas do homem que busca o conhecimento.
Carlos Castaneda estudou kung fu com Howard Lee (que dá seminários até hoje; há livros de 1974, por exemplo, O Signo do Dragão e Acorrentados, baseados na série de tv Kung Fu, criada por Bruce Lee e estrelada por David Carradine, escritos por um Howard Lee, será ele? Claro que não! Mas com esses homens, nunca se sabe...).
Em The Fire From Within, O Fogo Interior, publicado em 1984, Carlos coloca a seguinte dedicatória:
Desejo expressar minha admiração e gratidão a um mestre incomparável, H. Y. L. por ajudar-me a restaurar minha energia e ensinar-me um caminho alternativo à plenitude e ao bem-estar.
Esse H. Y. L. da dedicatória é Howard Lee, seu terapeuta e mestre de kung fu.
Muito se criticou a semelhança dos passes mágicos com posições de kung fu shao lin e tai chi chuan.
Há quem especule que o introdutor desses movimentos na linha do grupo de Carlos teria sido o nagual Lujan, que era chinês.
Outros falam na influência de Taisha e Florinda, que eram mestras de artes marciais orientais, e vemos no livro de Taisha que Clara Grau, sua mestra, lhe conta e mostra que também o é. Aliás, havia na casa das bruxas (onde o grupo de Don Juan morava) um ginásio para praticar kung fu. Clara também ensina muitas bruxarias feitas de gestos, posturas e respirações para Taisha, que são tensegridade, também.
Já na apresentação de A Travessia das Feiticeiras (edição original de 1992). Taisha escreve a respeito das “passagens da feitiçaria” (nova expressão devido a uma tradução diferente, Taisha em inglês escreveu “sorcery passes”, a tradução para o espanhol reza “pases brujos”), aludindo a seu treinamento como rastejadora ou rastreadora (espreitadora):
/.../ Para complementar a recapitulação, ensiram-me uma série de práticas, chamadas de “passagens da feitiçaria”, que inclui movimentos e respiração. /.../
A palavra em inglês para “espreitador” é “stalker” (“espreita” é “stalk”), e em espanhol é “acechador” (“espreita” é “acecho”), sempre, em Taisha e em Carlos, as variações aparecem nas traduções para o português. Ken Eagle Feather é quem vai introduzir “rastrear” no seu original, em inglês.
Quando, no capítulo um de seu livro, Taisha nos conta como conheceu Clara e do convite que esta lhe fez para ficar em sua casa, lemos em português:
- Bem, vamos lá - disse ela. - Eu vou na frente. Você dirige rápida ou lentamente, Taisha?
- Eu rastejo.
- Eu também. A temporada na China me curou da pressa.
Em inglês a resposta é “At a crowl”, que significa algo como “Eu rastejo”. Em espanhol, preferiu-se a expressão “Como una tortuga”, “Como uma tartaruga”.
Ken Eagle Feather, em O Caminho Tolteca , assume que mudou termos, e se sente autorizado para isso, pois se declara também um aprendiz de Don Juan: “bruxaria” por “caminho tolteca”, “guerreiro” por “soldado” ou “guarda” (“ranger”, “guarda-florestal”, “polícia”, “soldado especializado em ataques de surpresa”, “membro de um comando”) e “espreita” por “rastreio” (“tracking”). Sua explicação para esta alteração em especial, ao lado de ser inovadora, é muito elucidativa:
Outro termo que mudei é “espreitar” por “rastrear”. Neste caso também quis retirar as conotações negativas associadas com o temo “espreitar”. Ademais, ainda que o termo “rastrear” seja aplicado a rastrear um objetivo ou uma presa, também descreve um alinhamento de energias. O alinhamento preciso entre a própria pessoa e o que ela busca produz uma conscientização e assim se obtém o objetivo. Ajustar o “rastreio” (tracking) de um aparato de vídeo, é sintonizar os cabeçotes até alinhá-los com a cinta da fita cassete, e, assim, receber a melhor imagem e o melhor som. Da mesma maneira, os humanos temos a habilidade de nos alinharmos com, ou de rastrear, uma grande variedade de percepções. Por exemplo, pense como você se sente quando entra em contato com alguém que é importante para você. Nesses momentos você sabe que está conectado de alguma maneira; conseguiu um alinhamento com essa pessoa. A qualidade do alinhamento determina a qualidade do que percebemos.
Há quem pense que Carlos teria adaptado seus movimentos das aulas e terapias de Lee, mas na verdade, ele mesmo conta que esses passes são mágicos, vêm dos ensonhos, e abrem uma fresta no tonal para produzir transformações, manipulações do intento que forja todas as coisas.
Em 1998, Carlos publicou o livro Magical Passes, Passes Mágicos, que traz seis séries de vários movimentos de tensegridade: 1ª. A série para preparar a intento; 2ª A série para o útero; 3ª. A série das cinco preocupações: a série Westwood; 4ª A separação do corpo esquerdo e do corpo dirieto: a série do aquecimento; 5ª. A série da masculinidade; 6ª. Artefatos utilizados em conjunto com passes mágicos específicos.
Há também um novo livro com a reunião de passes e que não estão no livro oficial publicado: Pases Sueltos , Passes Soltos, editado em Barcelona, em 1999, com atribuição de autoria ao próprio Carlos Castaneda (são passos ensinados em seminários e palestras, que não estão no livro original, Passes Mágicos); e ainda, Notas Brujas , Notas Bruxas, também de Carlos, com o subtítulo: Recopilación de notas sobre el material de Don Juan Matus, o qual reúne palestras dele e das bruxas. Existe também uma primeira versão, disponível na net, de Passes Mágicos.
O segundo livro de Carlos sobre Don Juan, Uma Estranha Realidade, publicado em 1971, já traz um passe mágico, descrito em detalhes, realizado pelo velho nagual:
Dom Juan fez um gesto estranho. Abriu as mãos como dois leques, levantou-as ao nível dos seus cotovelos,virou-as até os dedos tocarem seus lados e depois juntou-as de novo devagar no centro do seu corpo, sobre o umbigo. Conservou-as ali um momento. Seus braços tremiam com o esforço. Depois, levantou-as até as pontas dos seus dedos médios tocarem sua testa e, em seguida, puxou-as para baixo na mesma posição n meio do corpo. Era um gesto formidável. Dom Juan o executara com tanta força e beleza que fiquei assombrado.
Don Juan está mostrando como o feiticeiro usa a sua vontade: poderiam dizer que é uma ilustração gráfica, o que não seria errado; mas o melhor e mais potente é entender que vemos o que ele faz: realmente expande a sua vontade, e depois contrai de novo suas emanações, num exercício de controle tolteca.












5 - A Recapitulação
La recapitulación te conecta con la conciencia cósmica.
Tereza de Mariví

Joaquim de Sousa Andrade, Sousândrade, começou a editar seu Guesa em 1871; Pablo Neruda deu à luz o Canto General em 1950; José Agrippino de Paula publicou Panamérica em 1967; Milton Nascimento e Chico Buarque gravaram em 1979 “Canción por la unidad Latinoamericana”, de Chico e Pablo Milanês, na qual os autores realizam a sua linda e lírica versão do “portunhol”, misturando versos nos dois idiomas, espanhol e português, e augurando uma integração maior por vir dos nossos povos (Chico brinca de novo com a relação entre os dois idiomas em “Tanto amar”, que lembra seu outro título “Tanto mar”, e que trata palavras em português como se estivessem em espanhol, “chico”, “esquisito”):
El nacimiento de un mundo
Se aplazó por un momento
Fue un breve lapso del tiempo
Del universo un segundo /…/

Realizaran la labor
De desunir nossas mãos
E fazer com que os irmãos
Se mirassem com temor /…/
No caso de Sousândrade, entre tantas e tantas coisas geniais, escreveu seu “Macunaíma” avant la lettre, O Guesa, no qual denuncia o neocolonialismo ianque, usa processos modernistas e concretistas antes de todos, valoriza o índio e integra índios e povos latino americanos como um todo. Ele também criou a bandeira do Maranhão com as três cores vermelho, negro e branco, representando as três etnias. Tentou, mesmo, fazer a Universidade Atlântica em seu amado rincão. Sobre Sousândradre, esse fato, afirma o site Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante:
Seu (de Sousândrade) último grande projeto consistiu na tentativa de estabelecer a Universidade Atlântida, em cujo benefício, inclusive, viajou ao Rio de Janeiro, na esperança de obter apoio e para cuja sede estava disposto a doar sua Quinta Vitória. Mas tão grande sonho não alcançou realizá-lo. A primeira universidade do Brasil somente viria na década 30 e, quanto à sua, o Maranhão precisaria esperar mais trinta anos.

Já em Canto General (Canto Geral) Pablo Neruda que faz um imenso panorama sobre a Pan América:
Tudo era voo em nossa terra.
Como gotas de sangue e plumas
os cardeais mergulhavam em sangue
o amanhecer de Anáhuac. /.../
Ouviste, ouviste, acaso,
no Ānáhuac longínquo,
um rumo de água, um vento
de primavera destroçada?
Em todos esses casos, e se poderiam citar muitos, muitos outros mais (como “Soy loco por ti América”, que também mistura espanhol e português, de Gilberto Gil e Capinam, de 1967, e que Caetano gravou em seu LP de 1968), os autores estão pensando a América como um todo integrado, o desejo da Pan América, todos os países irmanados, como talvez já tenha acontecido aqui, antes da conquista europeia.
O panamericanismo é a política de amizade e solidariedade entre todos os países continentais e que, lenta mas firmemente, vai se tornando uma realidade.
Origens. - Começou como um sonho, um anelo nada mais, ainda na era colonial. O erudito professor Basílio de Magalhães, em memorável discurso pronunciado no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a 20 de abril de 1937e publicado em seus “Estudos de História do Brasil”, defende para a glória de Alexandre de Gusmão, o arquiteto do tratado de Madri (1750), o primeiro passo concreto no sentido do panamericanismo. /.../
Pouco mais tarde, o patriota chileno Juan Martínez de Rozas, na “Declaração dos Direitos do Povo Chileno”, reafirmou os princípios de liberdade e equidade para todas as nações do continente.
Continuou o sonho com Bolívar, o Libertador e “pai” da Gran-Colômbia. Seu desejo era fazê-la ainda maior, uma Confederação de todas as nações hispano-americanas, e para realizá-lo, como vimos, promoveu o fracassado Congresso do Panamá (1826).
A recapitulação é individual e também coletiva.
Ao conhecer Delia, provavelmente em 69 ou 70, Florinda fica muito chocada com tudo que ela lhe fala, na primeira conversa que têm, sobre a escravização da mulher pelo ato sexual em si, energeticamente falando, e sobre a possibilidade de uma forma de vida livre, e as relações que faz dessa libertação com a guerra e os líderes guerreiros, especialmente os yaquis, aos quias Delia diz que está muito ligada, pois vive “à volta deles, como você sabe”.
E mais, Delia atribui o espírito guerreiro desses líderes yaquis à sua conexão com a magia da natureza:
/.../- Que povos guerreiros são esses? - perguntei, procurando não parececer condescendente.
- O povo yaqui de Sonora – respondeu ela e calou-se, talvez para avaliar a minha reação. - Admiro os yaquis porque têm vivdo em uma guerra constante. - continuou. Primeiro os espanhóis e depois os mexicanos... ainda em 1934... sentiram a selvageria, a astúcia e a inclemência dos guerreiros yaqui.
/.../ Calixto Muni fora um índio que, durante anos, navegara sob uma bandeira de piratas no mar do Caribe. Ao voltar para Sonora, sua terra natal, comandou um levante militar contra os espanhóis em 1730. Foi traído, capturado e executado pelos espanhóis.
Depois Deliz me deu longa e sofisticada explicação sobre fatos que aconteceram por volta de 1820, após a independência mexicana, quando o governo tentou dividir as terras dos yaquis, e um movimento de resistência se transformou num grande levante. Foi Juan Bandera, disse ela, guiado pelo próprio espírito, que organizou unidades militares entre os yaquis. Os guerreiros de Bandera, muitas vezes armados só com arcos e flechas, lutaram contra as tropas mexicanas durante quase dez anos. Em 1832, Juan Bandera foi derrotado e executado.
Delia disse que o líder de renome que o sucedeu foi José Maria Leyva, mais conhecido como Cajeme - aquele que não bebe. Era um yaqui de Hermosillo. Era instruído e adquirira conhecimentos militares lutando no exército mexicano. Graças a esses conhecimentos, unificou todas as cidades yaquis. Desde a primeira revolução, na década de 1970, Cajeme manteve seu exército num estado ativo de revolta. Foi derrotado pelo exército mexicano cem 1887 em Buatachive, fortaleza nas montanhas. Embora Cajeme conseguisse fugir e se esconder em Guaymas, acabou sendo traído e executado.
O último dos grandes heróis dos yaquis foi Juan Maldonado, também conhecido como Tetabiate - pedra roladora. Ele reorganizou o que sobrou das forças yaquis nos montes Bacatete, de onde conduziu uma guerrilha feroz e desesperada contra as tropas mexicanas durante mais de dez anos.
- Na virada do século - disse Delia, concluindo suas histórias - o ditador Porfirio Diaz havia inaugurado uma campanha de extermínio dos yaquis. Os índios eram mortos a tiros quando estavam trabalhando nas lavouras. Milhares foram arrrebanhados e enviados para Yucatan, para trabalhar nas fazendas de sisal e para Caxaca para trabalhar nos canaviais. /.../
- Até agora, só o que lhe dei foram informações sobre fatos - esclareceu ela. - O que não mencionei foi o mundo de magia no qual operavam esses líderes yaquis. Para eles, as ações dos ventos e das sombras, dos animais e das plantas eram tão importantes quanto os atos dos homens. É essa a parte que mais me interessa.
Carlos fala em O Poder do Silêncio na cambalhota do pensamento, e exemplifica com um “relato das datas memoráveis” feito por um “feiticeiro contador de histórias” contando os eventos sobre Calixto Muni o rebelde, que, ao invés de ser morto pelos espanhóis, venceu e conseguiu libertar seu povo.
Quando Don Juan lhe narra isso, Carlos pensa que é uma forma de aliviar o stress dos yaquis, anunciando um pensamento desejoso, através da narrativa, e assim aliviar a frustração. Don Juan ri até ficar engasgado com a interpretação de Carlos, e conta que todos os feiticeiros contadores de história fazem isso, e explica que o feiticeiro muda o final sob os auspícios do espírito; ele tira seu chapéu, o coloca no chão, e o gira 360°, no sentido antihorário, intentando a mudança factual do passado, “sob os auspícios do espírito”. Essa é a cambalhota do pensamento.
Don Juan levantou o braço acima da cabeça e apontou por um instante para o céu acima do horizonte.
- Por ser o seu entendimento puro um batedor avançado testando a imensidão lá fora - continuou Don Juan -, o feiticeiro contador de histórias sabe, sem somba de dúvida, que em algum lugar, de algum modo, naquele infinito, neste exato momento o espírito desceu. Calixto Muni está vitorioso. Ele libertou seu povo. Seu objetivo transcendeu sua pessoa.
Segundo Fray Alonso de Molina, padre católico do século XVI, no Vocabulário en lengua castellana y mexicana, edición facsimilar, Madrid, 1944, o vocábulo “tlacentlalia” significa em náhuatl “la acción de recoger o ayuntar los pecados trayéndolos a la memoria” (a ação de retomar e juntar os pecados, trazendo-os à memória) .
Na verdade, o reverendo estava entrando em contato com a prática da recapitulação, à qual deu uma interpretação cristã, não logrando compreender ao que ela realmente visava e o que produzia nos seus praticantes.
Inspirado na obra de Carlos Castaneda, Jorge Mautner fez “Herói das Estrelas”, Raul Seixas e Paulo Coelho “Meu amigo Pedro”, Caetano Veloso “Um índio”, Patinhas e Gereba “Dom Tapanatara”, Arnô Rodrigues “Índio do Paraguai”, e o Pink Floyd “Learning to fly”.
Mautner é o mais inventivo, e recria, colocando de maneira original, o conceito de “caminho com coração”:
Meu caminho eu sei, não sei qual é o seu
No universo tudo voa, tudo parece balão
É que pra mim, Anjo Astronauta
Só interessam os caminhos que levam ao coração
Em 2004, foi feito o documentário Carlos Castaneda Enigma of a Sorcerer, direção de Ralph Torjan.
Bem, estou recapitulando alguns que falaram sobre o aprendizado segundo ele. Na bibliografia deste tenso volume temos muito mais.
- O ápice da arte especial que quero ensinar-lhe - começou ela - é chamado de voo abstrato, e o meio para atingi-lo é chamado por nós de recapitulação. - Ela estendeu a mão para o interior da caverna e tocou o lado esquerdo e direito de minha testa. - A consciência deve mudar daqui para cá - disse. - Quando crianças, podemos fazer isto facilmente, mas uma vez rompido o selo do corpo, devido aos excessos devastadores, somente uma manipulação especial da consciência, a vida correta e o celibato podem restaurar a energia perdida, energia necessária para que seja efetuada a mudança.
Em uma conversa com Tereza de Mariví, Carlos Castaneda nos explica:
Não, recapitular não é deleitar-se na recordação do que aconteceu com você, e sim tratar de decifrá-lo, encontrar as chaves para que você possa aplicar a sua atenção aos pontos onde se forjaram os seus hábitos e rotinas. O intento inicial deste exercício é recolher o que lhe corresponde, e entregar o que não é seu, ver o que você fez com o seu capital energético.
A palavra Capitular significa ceder uma praça, perder um espaço na guerra. Assim, recapitular é saber quantas vezes o seu ser real cedeu o domínio à sua domesticidade, quantas vezes ele capitulou, quantas vezes você se autoderrotou, onde deixou sua energia, em que eventos, em que intercâmbios, em que emocionalidades, em que compromissos, saber em que você se enrola, como você cede o seu potencial à modalidade da sua época.
Taisha numa palestra dá estes conselhos telegráficos (foi a forma como o participante anotou) sobre aquilo que o livro Notas Brujas chama de REC (recapitulação):
Intenta-o. Seja íntegro. Não compitas. Seja harmonioso em tua disciplina. Não faças nada por acaso, a não ser que que assim o intentes. A direção da respiração não é importante; o essencial é usar a respiração para desprender-te da energia. A REC ocupa toda vida.
Don Juan explica que somos “casulos luminosos”, algo fechado, um apanhado de consciências, emanações, que foram encapsuladas como um casulo. Ora, todo casulo é justamente, como um ovo, uma gestação de algo mais.
Carlos para Armando falou que fomos um entre milhões de espermatozóides lutando para chegar ao óvulo e poder continuar, mesmo que não o soubéssemos. Lutamos bravamente, e agora estamos aqui. A essência da vida é evoluir, muito mais do que no darwinismo, não é só se adaptar ao ambiente, é evoluir para continuar.
O casulo luminoso, a fase do ser enquanto humano, tem a herança biológica de querer evoluir.
Uma das mais fortes armas para nossa manutenção e evolução é a socialização. Os homens são seres sociais.
Mas as relações sociais não são meramente constituídas de enunciados, por trás de cada ato e cada fala há a energia do outro chegando até você, e a sua indo para ele.
A coisa é muito simples: na interação social (ou afetiva, ou sexual) ocorrem investimentos da energia de um no outro, não importa a qualidade, nem a intensidade, nem a quantidade dessas interações. Parte da nossa energia fica presa no outro, parte da dele em nós, o que ocasiona enfraquecimento e confusão.
O aprendiz faz duas listas: uma de todas as pessoas com quem já interagiu, outra, de todos os acontecimentos de que consegue se lembrar. Começa pelos mais recentes, e retrocede até o útero.
Uma das primeiras providências que o aprendiz deve fazer é retomar de volta sua energia, e se livrar da forânea, através da recapitulação do máximo de eventos que puder, teoricamente todos; enquanto respira de um ombro para o outro, fazendo uma curva com a cabeça, inspira tomando sua energia de volta, expira expulsando a que não é sua (não importa o sentido, se da direita prà esquerda ou vice-versa).
/.../ Pacientemente, explicou que a recapitulação é o ato de trazer de volta a energia que já despendemos em ações passadas. A recapitulação inclui recordar todas as pessoas que conheceimos, todos os lugares que vimos e todos os sentimentos que tivemos em toda nossa vida - começando pelo presente e voltando às lembranças mais antigas - para então purificá-los com a vassoura da respiração. /.../ Antes que eu pudesse fazer qualquer comentário, ela tomou firmemente meu queixo entre suas mãos e instruiu-me para inspirar pelo nariz quando ela virasse minha cabeça para a esquerda e inspirasse quando ela a virasse para a direita. Em seguida, eu devia virar a cabeça para esquerda e a direita em um único movimento, sem respirar. Explicou ser esta uma misteriosa maneira de respirar e a chave para a recapitulação, pois a inspiração nos permite puxar a energia perdida de volta, e a expiração nos permite expelir a energia estranha e indesejável, acumlada em nós através da interação com nossos semelhantes. /.../
- Quando fizer a recapitulação, tente sentir alguns filamentos longos distendendo-se, e que partem da parte média de seu corpo. /.../ Alinhe então o movimento de giro de sua cabeça com o movimento desses filmanetos impalpáveis. Eles são os condutores que trarão de volta a energia que você deixou para trás. /.../
/.../ A lista é uma matriz à qual a sua mente pode fixar-se.
Explicou então que o estágio inicial da recapitulação compõe-se de duas coisas. A primeira é a lista, a segunda é criar a cena. Criar a cena consiste em visualizar todos os detalhes relativos aos acontecimentos que vão ser lembrados.
- Quando você tiver todos os elementos no lugar, use a vassoura da respiração; o movimento de sua cabeça é como um leque que agita tudo nessa cena. /.../ Se você lembrar de um quarto, por exemplo, respira nas paredes, no teto, na mobília, nas pessoas que visualizar. E não pare até ter absorvido a última porção de energia que você deixou para trás.
Víctor Sánchez, que já havia feito Os Ensinamentos de Don Carlos , escreveu um livro todo explorando a fundo a técnica, El Camino Tolteca de Recapitulación , no qual desenvolve muito cada detalhe, enriquecendo a prática e oferendo um bom manual para quem quiser orientações para recapitular.
No capítulo 12 deste livro, “Desenhe o seu próprio programa de recapitulação”, ele resume assim os Elementos da Recapitulação para os dois lados, que incorporam a sua “técnica dos dez passos” (eu escolhi apresentar os dois lados em colunas paralelas, Víctor os mostra em sequência):
Lado esquerdo-Nagual-Corpo Energético Lado direito-Tonal-Consciência normal
A caixa de recapitulação Lista de eventos
Memórias corporais Recordações ordinárias
Técnicas respiratórias Seleção de atos com propósito
Comando energético Tomada de decisões
Rituais Falar sobre o processo (retroalimentação)
Restauração do corpo energético Realizar atos com propósito
Agir com propósito (“actos a propósito”) é outra inovação da terminologia de Sánchez, e dá conta da impecabilidade, performar ações cheias de poder, impecáveis, portanto saudáveis, e que seguem linhas de força do mundo, sintonizam ou alinham com os seus objetivos (como fala Ken Eagle sobre o rastreio).
A essência da técnica já está nos livros de Carlos: a lista de todas as pessoas com quem você já se relacionou, a lista dos acontecimentos de sua vida, a respiração (que “varre” o acontecimento e puxa de volta as linhas do casulo que ficaram presas ali, e expulsa as dos outros que ficaram emaranhadas no da pessoa) e o engradado.
Este é uma caixa de madeira, onde cabe a pessoa sentada, que ela própria deve construir, e depois quebrar, quando tiver terminado a sua recapitulação, o que é um gesto simbólico, que significa a quebra do antigo eu.
No mundo dos feiticeiros não existem símbolos nem metáforas; tudo é o que é. Logo, o gesto simbólico é um ato factual.
O engradado não é fundamental, Taisha fez sua recapitulação dentro de uma caverna e depois pendurada numa árvore, e a pessoa pode fazê-lo em qualquer lugar, onde consiga ficar em silêncio e concentrada, e fazer a respiração, que, essa sim, é essencial para a recapitulação.
























6 - Os Não-fazeres
A vida da árvore, a vida da pedra, da serra, é seu naual.
Faz magia com seu escudo, sua lança, e suas flechas.
Eu pratico magia.
Cakchiqueles e Quichés

Nesta citação que faço, da obra de Brinton, ele se refere às tribos Cakchiqueles e Quichés, que falam a língua cakchiquel, são de origem Maia, e vivem na Guatemala, e que também praticam o nagualismo. Em seu livro ele fala de vários povos da América do Norte que o fazem.
Vamos recapitular: se um ser humano começa a aplicar os princípios da espreita, ele ou ela se torna uma caçadora ou um caçador, pois faz o rastreamento daquilo que caça. Nesse sentido, tudo é caça, e tudo pode ser espreitado. Mas aí ainda se aplicam os princípios a seres, por exemplo, um animal, uma pessoa que se quer cooptar, um ganho etc.
Quando o ser humano aplica os princípios da espreita a si mesmo, e começa a se rastrear, as suas fraquezas, os seus hábitos, etc, ele não tem mais um objetivo concreto, então ele está pronto para caçar o poder. O homem e a mulher que caçam o poder são um guerreiro e uma guerreira.
Uma forma exuberante e supereficaz de espreitar o próprio ego (que é a mais difícil e importante das tarefas de rastreio) está na figura do Heyokah, como é chamado nas tribos das planícies americanas, e que os Hopis e Pueblos chamam de Koshari (o texto que cito, de Jamie Sams, fala em “trickster”, que quer dizer trapaceiro):
O Heyokah é um palhaço que, diferentemente dos outros, pos¬sui grande sabedoria e leva seus ensinamentos ao Povo através do riso e dos contrários. Este Trickster Sagrado faz com que você pense por você mesmo e chegue às suas próprias conclu¬sões, levando-o a questionar se aquilo que os outros dizem ou fazem é verdadeiramente correto. No momento em que as pes¬soas são levadas a pensar por conta própria, começam a colo¬car à prova as suas próprias crenças; aquelas crenças vacilan¬tes, que pertencem ao passado e se apoiam em muletas, pas¬sam a ser testadas. Se as muletas não derem o apoio necessá¬rio e as pessoas caírem, terão aprendido mais uma lição de vi¬da. Porém, se elas pararem para pensar, testarem algum ensi¬namento através da própria experiência e sentirem que este en¬sinamento é verdadeiro, a crença vacilante transforma-se num Sistema de Conhecimento que poderá acompanhá-las pelo resto da vida. /.../ Diver¬sas tribos utilizam estes professores brincalhões que costumam usar fantasias nos dias das Cerimônias especiais, mas vestem roupas comuns na vida do dia-a-dia. No entanto, eles não in¬terrompem as suas brincadeiras só porque não é um dia de festa. Os Heyokahs operam através dos opostos. Quando um Heyo¬kah partilha sua sabedoria com um buscador, muitas vezes sua resposta é o oposto daquela que a pessoa teria se dado por conta própria. O riso resultante destas respostas costuma ser¬vir de lição a toda a comunidade.
A fama do Heyokah consiste justamente em transmitir suas lições fazendo com que os outros não se levem assim tão a sé¬rio. O riso passa a constituir a lição definitiva, pois consegue romper os bloqueios que estão minando o equilíbrio das pes¬soas. O Heyokah consegue ser bem-sucedido quando tudo é encarado com humor, e os laços com os velhos hábitos, que já não servem mais para nada, são rompidos. O Guia de Cura que acompanha o Heyokah é o Coiote. O Heyokah é um grande conhecedor da Magia do Coiote, e sabe utilizar o lado brinca-lhão da natureza deste animal para conduzir os outros a um estado mais iluminado de consciência. Ocasionalmente, o fei¬tiço pode virar-se contra o feiticeiro, e a Energia do Coiote pode vir a atingir o Heyokah em algum ponto fraco. Quando isto acontece, um verdadeiro Heyokah aceita o revés com humor, e acha a maior graça na virada da situação, terminando por aprender a sua própria lição, juntamente com a lição que foi dada aos outros.
O Povo Nativo reconhecia a importância de saber levar a vida de modo um pouco menos sério. Em outros tempos não se considerava que o fato de ser alvo das brincadeiras do He¬yokah deixava a pessoa “de cara no chão”. Na verdade, era até considerado uma honra ser escolhido como alvo de uma brincadeira que transmitisse uma valiosa lição espiritual. Ca¬da membro da Tribo era parte essencial do Todo; por isto muitas vezes a brincadeira passava ensinamentos para outros indiví¬duos daquele mesmo grupo. Todos aqueles que haviam parti¬cipado da brincadeira, ou que falavam dela, poderiam, mais tarde, relacionar aquela lição às suas próprias situações pes¬soais e crescer através deste processo. /.../
O heyokah zomba, debocha, ilude, faz tudo ao contrário, se comporta como um louco ou um supremo debochado, desmanchando todas as ilusões de certeza do dia-a-dia e dos costumes. É mestre em fazer o ponto de aglutinação se deslocar de uma maneira quase imperceptível, mas profunda, e modificar o sentido de todas as situações, com seu humor. É mestre em mostrar que todas as certezas não passam de ilusão, e que o inesperado é o próprio recheio do bombom de todos os instantes.
Há duas faces para a eficácia da tática heyoka, e do humor em geral, principalmente no campo da sociedade pós-contemporânea, que barateia o humor e infantiliza as pessoas. O comportamento inusual e humorístico move sim suavemente o ponto de aglutinação, mas, por outro lado, a pessoa pensa que aquilo é só bobagem, e tributa o movimento a um certo desconforto com essa tolice. E estamos na época da vigência da tolice e da besteira, que caem como uma gota no oceano da mídia e dos comportamentos grosseiros usuais.
Caçar o poder, espreitar as relações de força e de poder, lutar para ver a energia, são o campo de caça do guerreiro, que o faz em qualquer situação contingente, em qualquer época, lugar, estado etc. Aí ele está aplicando os princípios da espreita e da loucura controlada, pois não se identifica mais consigo mesmo (seu ego, alheio a sua força) ou com objetivos mundanos (determinados arbitrariamente pela socialização, numa época, o tonal dos tempos).
A consequência aí é que o homem e a mulher podem começar a intuir a realidade de uma forma direta, e “ver”, quer dizer, perceber, a força por trás de tudo, a energia que emana de todas as coisas e que as liga numa rede cósmica.
Esse é o vidente.
Se o vidente utiliza sua capacidade de caçador, de guerreiro, de espreitador e de vidente para a busca do outro lado da moeda do ser, o desconhecido, o “espiritual”, o espírito, o nagual, o intento, então ele e ela estão lutando para ser um homem e uma mulher de conhecimento.
Ao começar a manejar o intento, ao aprender a se ligar na rede que vê e se faz uma com ele e com ela, ele e ela então se tornam homem e mulher de conhecimento, que sabem usar o intento.
O primeiro passo de todas as técnicas é adotar a morte como conselheira. Tal feito é o não-fazer do homem social que nós somos, que pensa que está externamente nos seus dilemas menores, quando, na verdade, assiste e participa de um momento único de força e beleza do mundo.
- É burrice sua escarnecer dos mistérios do mundo, simplesmente porque conhece fazer o escárnio - disse ele, com uma cara séria.
Falei que não estava escarnecendo de nada ou ninguém, mas que era mais nervoso e incompetente do que ele pensava.
- Sempre fui assim - disse eu. - E, no entanto, quero modificar-me e não sei como. Sou muito inadequado.
- Já sei que você acha que não presta - disse ele. - Isso é seu fazer. Agora, para afetar esse fazer vou recomendar que você aprenda outro fazer. De hoje em diante, e por um período de oito dias, quero que você minta para si mesmo. Em vez de se dizer a verdade, que você é podre, feio e inadequado, você se dirá que é o oposto, sabendo que está mentindo e que é completamente sem esperança.
- Mas qual a finalidade de mentir assim, Dom Juan?
- Pode prendê-lo a outro fazer e então você pode compreender que ambos os fazeres são mentiras, irreais, e que prender-se a qualquer deles é uma perda de tempo, pois a única coisa que é real é o ser em você, que vai morrer. Chegar a esse ser é o não fazer do eu.
Eu desenvolvi na minha experiência a teoria de que existem três tipo de pessoas, quanto ao desejo:
1 - Aqueles que querem menos - são os medrosos.
2 - Aqueles que querem igual - são os medíocres.
3 - Aqueles que querem mais - são os fominhas.
Estas formas são inerentes ao homem comum, são sociopsicológicas, não são “natas” e podem ser ultrapassadas pelo aprendizado.
Todas têm suas ciladas: os medrosos se limitam e não fazem o que podem e querem, os medianos se engolfam no tédio que são para si mesmos, os fominhas correm o perigo de se tornarem viciados ou enlouquecerem.
É engraçado, como esta tipologia que fiz se parece (só que sob outro ponto de vista) com os três tipos de pessoas (também é algo que se aprende ao ser socializado, ninguém nasce sob um desses signos), segundo Don Juan e Carlos Castaneda:
1 - Os mijos - não possuem iniciativa, precisam de ordens, são os secretários perfeitos.
2 - Os vômitos - fingem possuir grandes recursos nunca revelados, não prestam nem pra mandar nem pra obedecer.
3 - Os peidos - fazem qualquer coisa pra mandar, são mandões e desagradáveis.
Repetindo: não é uma ordem biológica, é psicossocial, e pode ser ultrapassada, quando a pessoa se torna homem ou mulher de conhecimento.
Antes de falar sobre o não fazer, vamos comentar um pouco mais a respeito do ponto de encaixe.
O casulo luminoso tem emanações (fibras luminosas, consciências) eternas dentro de si.
O ser é feito de emanações eternas.
Que são da Águia, nós somos feitos com uma grande quantidade que é parte da gigantesca cópia de fibras da nossa Águia (pois sabemos agora que há várias, e é impossível dizer o número).
O conhecido são as emanações dentro do casulo que o ponto de encaixe está focando, que ilumina e ressalta, fazendo com que nossa autoconsciência se faça dessas fibras.
O desconhecido são as emanações da nossa águia que estão no nosso casulo, ou não, e que não focalizamos com nosso ponto de encaixe. A posição pré-estabelecida pela sociedade é chamada tonal dos tempos, todos são “normais”.
A posição do ponto de encaixe que nos foi ensinada e à qual estamos acostumados é o nosso tonal pessoal.
Todas as outras posições, dentro ou fora do nosso casulo, mas dentro do casulo da Águia, a que não estamos acostumados, são o nagual.
A segunda atenção é deslocar o ponto de encaixe para essas posições do desconhecido, por algum tempo. Fazemos isso toda noite, no sonho. Os homens de conhecimento desenvolvem a capacidade de provocar esses deslocamentos, aprender a utilizá-los, e saber voltar.
Deslocar o ponto além das emanações da Águia é o incognoscível.
A terceira atenção é o deslocamento para dentro da Águia.
Na quarta atenção temos acesso ao incognoscível, ao lugar onde estão as Águias.
Na quinta atenção o Homem de Conhecimento se torna ponto de encaixe da Águia, e é responsável pela reprodução das Águias.
Ser nagual é um dom de nascença, alguns nascem duplicados, como alguns têm facilidade para ensonhar ou espreitar, e as mulheres são bem mais dotadas para o conhecimento, por “natureza”. Mas em geral, espreita, sonho, e o próprio ser nagual são realizações. Todos podem se tornar um nagual, se fizerem por onde. E mais, podem dividir e redividir sua energia, e se tornar um nagual de quatro e depois de cinco pontos.
As atenções também não são algo dado, não são um lugar ou uns lugares.
As atenções são sintonizações do ser, no caso, o ser humano, qualquer ser humano, sabe que consegue sintonizar de duas formas, a normal e a alterada: duas atenções. A terceira, a quarta e a quinta atenções são também realizações sofisticadas do ser humano. Estas implicam na manutenção da consciência e sua expansão além dos limites espácio-temporais humanoides.
Numa comparação porca: é como um rádio que pega AM ou FM; mas um rádio que pudesse se reprogramar, se refabricar, para atingir outras faixas eletromagnéticas.
Inclusive, pode-se pensar numa sexta atenção, e ainda mais.
O mestre do não-fazer e da espreita, o palhaço, o temível e ao mesmo tempo histriônico Genaro, pode ter feito a maior revelação de todas (ou a segunda maior, depois daquela em que Don Juan diz a Carlos que ele está cercado pela eternidade, e pode usar essa eternidade, se quiser).
Foi quando Don Juan apresentou Carlos a Genaro (antes o tinha visto rapidamente na praça, mas não conversaram), na sua casa no México central. Genaro debocha de Carlos, de ele tomar notas, senta-se sobre a cabeça, infla as narinas, fazendo a caricatura de nosso herói. Depois ridiculariza Don Juan, imitando seus trejeitos de se alongar e estalar as costas (quando ele então estaria fazendo passes mágicos), e o nagual volta bem a tempo de ver sua paródia, e ri.
No outro dia, ele “ensina” a Carlos, explicação que será desmoralizada por Don Juan no momento seguinte, o qual dirá “Falar não é a predileção de Genaro”. Claro, tudo isso é espreita. Lembremos que o feiticeiro “lírico” em si é uma paródia, não sabe nem faz nada; lembremos que no futuro Carlos se transformará em sonho num tigre de dentes de sabre (animal pré-histórico do Brasil, na verdade, da América do Norte e Sul ); lembremos que Don Juan virava um corvo; lembremos que o nagual de cinco pontas pode se transformar numa nova águia:
Não me lembro o que foi que levou dom Genero a me contar a respeito da organização do “outro mundo”, como ele dizia. Falou que um mestre feiticeiro era uma águia, ou melhor, que podia transformar-se em águia. Por outro lado, um feiticeiro mau era um tecolote, uma coruja. Dom Genaro disse que um feiticiero mau era filho da noite e que, para um homem desses, os animais mais úteis eram a onça ou outros gatos selvagens, ou os pássaros noturnos, especialmente a coruja. Falou que os brujos líricos, feiticeiros líricos, ou seja, os feiticeiros diletantes, preferiam outros animais - um corvo, por exemplo. Dom Juan riu e continuou ouvindo calado. Dom Genaro virou-se para ele e disse:
- É verdade, você sabe disso, Juan.
Depois afirmou que um mestre feiticeiro podia levar seu discípulo com ele e chegar a atravessar as dez camadas do outro mundo. O mestre, desde que fosse uma águia, podia começar da camada mais inferior e depois passar por cada mundo sucessivo até chegar ao topo. /.../
O que Don Genera estava realmente revelando? Dez atenções, através das quais o mestre pode levar seu aprendiz!
O não fazer é a suave e imperceptível prática de realizar atos incomuns, agir conforme não se espera de si mesmo, se surpreender, cultivar e cativar outras formas de estar, posições e atitudes, como uma espreita de si mesmo.
A busca de recompensas é o que mais energia nos faz perder. Você só deve fazer aquilo que o intento indica. A importância pessoal é implacável, paciente e doce. Para encontrar a liberdade total, a pessoa deve renunciar inclusive ao desejo de ser livre, à escravidão de qualquer desejo. Não se trata de buscar a liberdade por medo de morrer. A importância pessoal adora as recompensas.
Não vás demasiado depressa. Há que aperfeiçoar o tonal, antes de se aventurar no nagual.
Essa prática produz um suave e duradouro movimento do ponto de aglutinação, e serve como forma de torná-lo mais “flexível”, mais “movível”.
Voltando a algo que falamos a muitas páginas e há muitos momentos atrás, o feiticeiro abandona por completo a posição de refém entre a cruz e a espada da mentira e da verdade. Isso é o não-fazer do ser e estar.
- Tudo isso é verdade, Dom Juan?
- Dizer que sim ou que não seria fazer. Mas como você está aprendendo a não fazer, devo dizer-lhe que realmente não tem importância se tudo isso é verdade ou não. É aqui que o guerreiro leva vantagem sobre o homem comum. O homem comum se importa em saber se as coisas são verdadeiras ou falsas, mas um guerreiro não. Um homem comum procede de maneira específica com as coisas que ele sabe serem verdade e de maneira diversa com o que sabe não ser verdade. Se se supõe que as coisas são verdadeiras, ele age e acredita no que faz. Mas, se as coisas são supostamente falsas, ele não quer agir, ou não crê no que faz. Um guerreiro, ao contrário, age em ambos os casos. Se se supõe que as coisas são verdadeiras, ele age a fim de estar fazendo. Se se supõe que as coisas são falsas, ele ainda assim age, a fim de não fazer. Entende o que digo?
- Não. Não estou entendendo nada - respondi.
Todas as técnicas estão relacionadas, como uma figura geométrica, todos os pontos de ligam de todas as formas, como num círculo ou esfera.
Combinando as técnicas sugeridas por Carlos e por Taisha para obter o silêncio interno e mover o ponto de aglutinação, temos:
1. Tensegridade
2. Recapitulação
3. Não-fazeres
4. Pequenos tiranos
5. Contemplação
6. Silêncio interior
7. Impecabilidade
8. Ensonho
9. Espreita
10. Centro de decisões
O centro de decisões pode ser o que exige mais energia no final das contas, pois signfica se livrar do ritmo da energia inorgânica e estabelecer a nossa própria vontade, vontade de potência, como diria Nietzsche, que é o portal de acesso ao intento.
Cada uma se liga com todas as outras, se potencializam, são um circuito que é percorrido o tempo todo, sem parar, de forma cada vez mais potente, no aprendizado. Tudo leva ao silêncio interior, que leva ao movimento do ponto de aglutinação.
“Tudo o que chega a nossos sentidos é um sinal. Só é necessário ter a velocidade para silenciar a mente e captar a mensagem. Por meio dessas indicações, o espírito fala conosco com uma voz muito clara”. /.../
“Os bruxos da velha guarda eram propensos ao misticismo; eles usavam a astrologia, oráculos e conjuros, varas mágicas, qualquer coisa que enganasse a vigilância da razão.
“Mas, para os novos videntes, esses recursos são um desperdício e ocultam um perigo: podem desviar a atenção da pessoa que, em vez de se focalizar em seu vínculo imediato com o espírito, termina por se acostumar ao símbolo. Os guerreiros atuais preferem métodos menos ostentosos. Don Juan recomendava diretamente o silêncio interior. /.../
“O silêncio é a passagem entre os mundos. Ao calar nossa mente, emergem aspectos incríveis de nosso ser. A partir desse momento, a pessoa se torna um veículo do intento e todos os seus atos começam a exsudar poder.
“Durante minha aprendizagem, meu benfeitor me mostrou prodígios inexplicáveis que me espantavam, mas, ao mesmo tempo, despertavam minha ambição. Eu também queria ser poderoso como ele! Frequentemente lhe perguntava como eu poderia aprender seus truques, mas ele colocava um dedo sobre seus lábios e ficava me vendo. Foi apenas muitos anos mais tarde que eu pude apreciar completamente a magnífica lição de sua resposta. A chave dos bruxos é o silêncio”.
Uma nota sobre a ontologia de Carlos, vinda do livro de Ana Catan:
- Todos os seres humanos vêm de uma quantidade de energia padrão chamada Mônada. O processo de criação é semelhante ao do óvulo fecundado. A Mônada divide-se duas vezes, uma por meiose, outra por mitose. A divisão por meiose separa a maior parte das energias femininas das masculinas. A divisão por mitose divide cda uma destas metades em duas partes iguais. As quatro partes resultantes se transformam em quatro pessoas: dois homens e duas mulheres.
“A necessidade que sentimos de encontrar parceiros é decorrente da procura dos nossos ‘irmãos’, aqueles que vieram da nossa mesma Mônada”.
“Algumas mônadas, porém, dividem-se somente uma vez, por meiose, gerando um único casal. Estes seres que possuem a energia equivalente à de duas pessoas são denominados naguais. Cada Mônada gera um homem nagual e uma mulher nagual. Carlos Castaneda é um homem nagual”.
“Se o Ser nagual tiver a sorte de encontrar um Mestre, aprenderá a utilizar esta quantidade extra de energia de várias formas. A mais impressionante delas, a meu ver, é o fenômeno da ubiqüidade”.
“O Mestre divide a energia do nagual em dois blocos. O nagual dividido é capaz de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Carlos Castaneda, por exemplo, poderia estar aqui comigo e, ao mesmo tempo, no México, trabalhando com seu grupo”.
Esta informação é exclusiva, só encontrei em Ana, e, sem dizer de onde ela lhe veio, ela que a explicou para Carlos, que se lhe apresentava como Cesar, e ele não a contestou.
Era Cesar Carlos? Não tirava fotos (o rolo com a foto que o fotógrafo tirou deles no restaurante, contra a vontade de Cesar, sumiu), não gostava de entrar na água, afirmou ter um avô índio, fez alusão a uma primeira esposa que parecia a mulher nagual, afirmava ser peruano, mas sabia mais coisas do México do que do Peru, falava sempre que estava ligado “àquela gente” e que lutava pela liberdade etc . Quando ela lhe exigiu em fúria seu nome completo e verdadeiro, ele lhe falou: Cesar Ricardo Pagliardi Reyes. Ela perguntou:
- Mas você usa outro nome, não usa?
- Uso.
- E qual é?
Ele pensou muito tempo, decidindo se deveria ou não me dizer a verdade e, por fim, meneou a cabeça:
- Você não está preparada, Ana... teria muito medo... e este medo seria perigoso para nós dois.
Num restaurante, Ana lhe fez uma declaração de amor num cartão, e pediu a Cesar que lhe fizesse uma também. Ele pensou muito, pareceu hesitar, e escreveu:”Espero que estes momentos sumen el no retorno de las nuestras vidas”.
Sua assinatura no cartão, ao invés de Cesar, foi Cast. Antes de exigir que Ana se comprometesse em concordar que a relação deles provocasse “uma ruptura tão forte na sua vida que você nunca mais será a mesma”, Cesar lhe explica:
/.../ Você sabe o que significa o Ponto do Não Retorno? /.../ É o momento da nossa vida onde tudo que conhecemos perde o significado. /.../ O ponto de onde não se pode retornar porque o passado deixa de existir. /.../ Deixa de existir, entende?
Os não fazeres têm como escopo principal o intento, assim como todas as técnicas. O objetivo se escalona em várias metas, na ordem: silêncio total, mover o ponto de encaixe, perder a forma humana, o intento.











7 - Os Pequenos Tiranos
- Até lá, você não quer me escrever uma carta?
- Não, Ana - soltou uma gargalhada gostosa. - Eu não gosto de escrever!
Novamente, a sua gargalhada me fez mal. Não era uma risada agressiva ou maliciosa, mas me deixou desatinada. Minha voz atravessou a parede de bruma que toldava meu raciocínio:
- Se você não vier ao Brasil... eu vou a Chihuahua.
- Pode vir, Ana... será bem-vinda.
Ana Catan

“Pinches tiranos” é o nome que lhes dá Don Juan, o significado em espanhol não é pequenos tiranos, mas sim tiraninhos de nada. E os que só podem enlouquecer de tanto aborrecer, logo são menos letais, ele chama de “repinches tiranitos tiquititos”, algo como “minúsculos tiraninhos de porcaria”.
O tirano absoluto é Águia, o todo da energia que de que nós somos uma parcela.
Os mais minúsculos e insignificantes tiranos são nossos semelhantes, seres humanos, diante dos quais é mais difícil se conter, controlar sua loucura.
Mas há também os seres inorgânicos, que buscam entrar em relação conosco, e podem assim se tornar mezzo-tiranos.
Segundo Carlos, o pior caso de mezzo-tiranos é uma certa espécie que parasita e provoca emoções fortes e tolice, e se alimenta disso. Ele os chama de voladores, flyers, voadores.
Amy vê com Carlos a cerimônia ritual dos “voladores”, índios que se prendem a tiras de couro e voam presos a um poste muito alto, prática famosa e considerada dentro das tradições mexicanas. Ela diz que esses não são representação daqueles, mas sim do destemido homem diante da incerteza do destino. Conta que Carlos lhe falou assim:
“Eles estão alcançando o infinito, Amy. Eles sabem que sua busca é inútil, mas eles sobem e sobem e nunca desistem. O alcance... isto é o homem quebrando suas correntes, lutando para encontrar o seu caminho para fora da prisão, quando ele sabe que sua luta é inútil, mas nada irá detê-lo. Ele está cheio de alegria, ele diz, ‘Foda-se! Foda-se o próprio Deus! Você está na jornada’. Então ele possui tudo. Quando o que você tem é mais que suficiente, meu amor, então, e somente então, você está à beira da impecabilidade. Algo vê, e esse algo ama a nossa luta”.
Marco Antonio Karam (Tony Lama) foi líder da Casa Tibet do México. Conheceu Carlos em 1994. Organizou um encontro budista no México, com o Dalai Lama, na pirâmide de Teotihuacan, tirou fotos da multidão do alto, e nas fotos aparecem os voadores de que Carlos fala. Ele considerou essas fotos como o presságio para que revelasse a existência do parasitismo dos voadores, e entendeu que Tony poderia ser um novo nagual, mesmo sabendo que não poderia criar um novo o grupo, nem reproduzir o anterior no seu, nem o replicaria num novo. Karam recusou, pois gostava muito de Carlos, mas não acreditava nas suas histórias.
Tereza de Mariví, numa entrevista que já citei lá atrás, conta que também foi fundada no México, em 1992, a Casa Amatlán, por ela,
junto com outros companheiros, que faziam parte do círculo de conhecidos, a fim de propiciar ao Nagual (Carlos Castaneda) um espaço, para que ele desse as suas conferências.
/.../ A princípio, nos dedicávamos a fazer exercícios, desenhados por Carlos, para romper a nossa importância pessoal.
A espreita é a única forma saudável de lidar com os mezzo-tiranos e os pequenos tiranos, e, principalmente com o ego, que é o tirando interior.
Antes de tudo, um guerreiro precisa espreitar o seu ego, as suas manias, as suas rotinas .
Aí é que entra a figura do pequeno tirano. Na vida, somos obrigados a lidar com as pessoas, e, como diz Don Juan, o ser humano tem arestas cortantes, que o guerreiro aprende a abrandar. A diferença é essa; na verdade, ou se é um guerreiro, ou um pequeno (minúsculo) tirano, exercitando o incômodo das nossas arestas.
O guerreiro não foge de se relacionar com os outros; também, não se desespera por se relacionar, aceita as coisas como vêm para ele, como desígnios do espírito.
Um homem de conhecimento não faz ponte para as pessoas, mas, as pessoas podem tentar fazer uma ponte para o homem de conhecimento. No fim, quem decide que relações podem ocorrer, é sempre o espírito, o intento, num mecanismo cósmico que se chama seletor, uma metafórica agulha do intento, que aponta para que lado os acontecimentos ocorrem.
A vitória e a derrota dependem do seletor. E o seletor depende do comando do espírito, o qual está afinado com o intento.
O homem de conhecimento é aquele que aprende a ser um com o intento.



























8 - As Técnicas de Observação
Nos ensinaram 41 séries inteiras de passes mágicos. Eu não tenho segredos, quero causar uma comoção cerebral para que se movam a uma revolução energética. Nada de velha ou nova era, religião nem nada disso… porém temos sim interesse em usar esses passes mágicos de millares de anos; não pode restar nada mais comigo. Organizamos os passes, temos 15 anos para ver se conseguimos produzir um aglomerado de campos energéticos em massa. Fechar a linhagem com uma grande explosão, que vocês me deixem tocá-los, revelar, transmitir os conhecimentos.
Carlos Castaneda

Praticadas desde o primeiro livro, induzidas por Don Juan a Carlos Castaneda, muito valorizadas, e chamadas de “contemplação” pela Gorda e as Irmãzinhas, no Segundo Círculo do Poder.
Júlio César Guerrero escreveu, e Fernando Augusto publicou no blog “Pistas do Caminho - textos de referênica e outras dicas para auto-realizadores” o incomum e excelente artigo, no qual consegue uma das mais brilhantes sínteses e compreensões das “enseñanzas de Don Carlos”: “Ponto de Aglutinação ou Ponto de Encaixe”.
Imagine que houvesse um povo que não tivesse contato com grandes extensões de água, e não soubesse nadar, nem soubesse nada sobre o fato de que o ser humano pode nadar. Um dia chega lá um homem que sabe, e ensina a todos.
Pois bem, os toltecas foram os homens que aprenderam que nós podemos nadar na percepção, quer dizer, podemos controlar a mudança de estado de consciência, tanto quando estamos dormindo quando acordados, e a essas práticas se chamam sonhar (no seu aspecto funcional, induzir a mudança) e espreitar (no seu aspecto formal, manter a mudança). É preciso manter um pouco ou muito cada nova fixação, senão os deslocamentos seriam visões caóticas e sem sentido (então cada movimento ensonhado deve ser concomitantemente espreitado pelo homem de conhecimento).
Carlos conta que existem oito centros no ser humano: razão e falar (cabeça), sonhar (do lado direito entre as costelas), sentir (ponta do esterno), ver (do lado esquerdo - às vezes é junto com o sonhar do lado direito), vontade (zona abaixo do umbigo) e outros dois pontos que Don Juan não revelou, e que Carlos insinua (por causa de uma brincadeira pesada de Don Juan) que ficam junto aos genitais e ao ânus.
Possíveis correspondências que tento fazer dos centros como vistos pelos toltecas com os chakras como os entendem os orientais: VER - flor de lótus - Sahasrara Chakra, RAZÃO - mente - Ajana Chakra, FALAR - boca - Visudha, SENTIR - sensibilidade - Anahata Chakra, VONTADE - princípio do fogo - Naanipura Chakra, SONHAR - princípio da água - Swadhishatan Chakra, CENTRO SECRETO - princípio da terra - kundalini – Bodadhara.
O aprendizado se dá com todos os centros, mas a consciência comum só lida certamente com razão e falar, e um pouco com sentir. Por isso são necessárias outras tecnologias, além da fala, para transmitir esse conhecimento e realizar o aprendizado.
Os toltecas faziam pirâmides (e outras construções), esculturas e contos para induzir o movimento do ponto de encaixe e ensinar o domínio das técnicas de ensonhar, espreitar e intentar.
Os astecas domiram a região e os povos de Cem Ānáhuac, e tentaram imitá-los no seu “saber”, mesmo não entendendo o que eram aquelas tecnologias, as pirâmides, as estátuas e as histórias. É como um índio encontrando uma tv e pensando que sabe o uso para o qual ela foi construída, quando a transforma em um objeto de adoração.
Essa chegada dos astecas representou o fim dos antigos videntes, que foram perseguidos e aniquilados, mas nem todos, que muitos sobreviveram em segredo, depurando suas táticas, desenvolvendo a espreita e suas técnicas correlatas: adotar a morte como conselheira, acabar com a importância pessoal, aprender a rir de si mesmo e loucura controlada.
Esse fato (da transição da era clássica prà pós-clássica) marca o surgimento dos novos videntes. O boom de informação dos anos 60-90 marca a chegada dos novíssimos videntes.
Nossa questão: há uma forma (Serpente) que é a mesma função (Águia). Mas a Águia é o aspecto aparentemente fixado (individualizado) do todo energético (Universo = Águia; mas há várias águias, que convivem no “espaço” ou “lugar” chamado Zero = Cero). Nessa física e ontologia, há múltiplos universos, muitas águias. A Serpente é o aspecto da mutação a cada momento, a vida e a morte se dando e entrelaçando o tempo todo, sem parar.
Ao poder invisível, intangível e incognoscível, origem de todos os poderes que regem o ignoto e o inteligível, se lhe conhece como Zero. Chama-se-lhe assim por suas qualidades de permutação e catálise imutáveis que o caracterizam. Zero ao se ensonhar, viu que era feito de formas e funções. Suas formas são estruturas perceptíveis que oscilam em um movimento perpétuo. Parecem o serpentear de uma serpente. Por isso, à permutação oscilatória imutável de Zero se chama a serpente. Suas funções são poderes ativadores e estão conscientes de ser. Percebem e ensonham. Chama-se-lhes a águia porque assemelham uma ave falconiforme com as suas asas extendidas, o bico aberto e as garras dobradas, que das alturas vê tudo com mirada penetrante.
A águia é o ativador da catálise imutável de Zero. Sua atividade gera invariantes potenciais e inversores diretamente proporcionais a si mesma, conhecidos como consciências.
À ativação da águia se chama vida ou ensonho. As consciências somos o ensonho da águia e as realidades cotidianas são o ensonho das consciências.
A serpente ao oscilar gera uma compressão-coesão da perceptibilidade de Zero e ao mesmo tempo uma dissolução-desintegração do perceptor perceptivo de Zero.
À permutação-oscilação da serpente se chama realimentação inercial ou morte. As consciências somos o alimento da serpente anabolicamente e da águia catabolicamente. /.../
Anabolismo é síntese de substâncias no organismo, criando-se moléculas mais complexas das mais simples, e catabolismo é a assimilação e processamento de substâncias adquiridas.
A primeira atenção é a nossa posição como parte desse jogo, é o sonho no qual fomos sonhados, a forma e a função já determinadas pela nossa criação.
A segunda atenção é a cara da coroa da mesma moeda em que está a primeira atenção, é a sombra da outra. Como acontece com a antimatéria, toda matéria ao ser gerada produz inevitavelmente a mesma quantida de antimatéria (cujas partículas têm as polaridades elétricas intertidas, “prótons” negativos e “elétrons” positivos).
Há especulações também sobre a energia escura que está espalhada por todo o espaço e é como uma acelarador da matéria, um impulsionador. A energia luminosa seria o tonal, a energia escura o nagual. Domingo explora de maneira riquíssima ligações inéditas e bizarras entre a ciência convencional e a feitiçaria nagual.
É preciso entender que o ser humano vive em várias trilhas, é um corpo lutando, vivendo, pulsando, e não se reduz a pensamento e sensações, ele é também outras formas de pensamento, não racional, como quando temos que agir rápido, numa luta pela vida.
Don Juan fala que os homens são vampirizados por um ser inorgânico que é chamado de Voadores, Voladores, Flyers. Eles comem um tipo de energia que envolve o casulo luminoso, o torna os seres humanos fracos, sem decisão e repetitivos. Quanto mais são assim, mais caem em sentimentos negativos, que são apreciados pelos voadores. Eles teriam instalado a sua forma de pensamento na nossa mente, e teriam nos dado uma razão cheia de obsessões.
A importância que Carlos tanto releva no ponto V (principalmente no livro secreto, O Silêncio Interno) é que é ali que podemos gerar decisões definitivas e impecáveis, que não passam pela mente (em simbiose retroativa) nem pela recognição ou por sentimentos negativos, como raiva e culpa.
A primeira atenção por ser criada gera automaticamente a segunda atenção que lhe corresponde, a sombra sob a mesa, que a mesa não pode deixar de produzir.
Mas a segunda atenção (que ocorre espontâneamente nos sonhos e nos estados alterados induzidos como embriaguês) é a nossa ponte ou porta para as outras atenções, é uma forma da consciência sair do seu padrão (primeira atenção, eu, mundo) e ver que pode ir e voltar, ao se bel prazer.
A questão então é manter a consciência, o outro lado do aprendizado de nadar “no mar escuro da consciência”. Podemos mantê-la no sonho, podemos alterá-la à nossa vontade, podemos mantê-la depois do corpo, forma e função que se modifica nos processos metabólicos de Cero. Estar nessa onda de movimento, ir além do anabolismo e do catabolismo, para se relacionar de um novo (e mais ativo) modo com a Águia e com a Serpente, é alcançar a terceira, a quarta e a quinta atenções. É a serpente emplumada, o homem que realiza em si a combinação dos dois aspectos do todo.
Don Juan declarou que sabia que um dia ele seria chamado a explicar o conhecimento tolteca. E ele o fez para Carlos, sem saber, no início, que este era um nagual de três pontas, que não iria continuar sua linha, mas espalhar o conhecimento.
Então houve o desígnio do espírito, e Don Juan deu a Carlos a tarefa de ensonhar e depois escrever seus livros e mover o ponto de aglutinação ou ponto de encaixe da Terra. Isto ele conta para Armando Torres, o qual no-lo reporta em Encontros com o Nagual.
Há outras confirmações, cruzando dados, desta e de outras revelações, como: a de que o grupo de Don Juan tinha ficado preso na segunda atenção, e os grupos de praticantes de tensegridade geravam uma energia que os podia libertar; que Carlos já entrara em terceira atenção parcialmente e voltara etc.; estas informações estão resumidas numa fala de Carlos a Edgar Delgado, que está em As Testemunhas do Nagual (Los Testigos del Nagual):
Os inorgânicos querem me levar, moveram uma só fibra energética, o açúcar (diabete). Necessito de uma razão para ficar aqui; já cumpri a minha tarefa; movi o ponto de encaixe da Terra, resgatei Don Juan que ficou preso com seu grupo na segunda atenção e entrei na terceira atenção com todo o corpo. Necessito de uma nova razão para ficar, oxalá essa razão sejam vocês com a Tensegridade.
A Terra é um ser vivo, tem tonal e nagual, e pontos de encaixe.
E a tarefa que Carlos iniciou é mover o ponto de encaixe da Terra, produzindo novas realidades e novas metas de liberdade. Ele mesmo conta a Armando que o seu trabalho foi dar o impulso inicial, como o ponto de encaixe do planeta é muito grande, ele vai precisar de muito tempo e energia para ser movido, e esse trabalho está aconcendo exatamente agora, com tantos desdobramentos dos livros de Carlos Cataneda.
Carlos está cumprindo a sua tarefa, da melhor forma possível.
Contemplar é o não-fazer de ser e estar no aqui-agora, é o mais acessível portal para o silêncio interior, o movimento do ponto de encaixe, a consciência intensificada e o poder pessoal. O silêncio é o portal do intento.
Há quem relacione o ensonhar com a meditação oriental, e isso tem fundamento, apesar de serem técnicas diferentes (outros já veem no ensonhar algo como uma versão americana da viagem astral).
A contemplação também parece um pouco com a meditação. Ela produz expansão da consciência, pois promove o deslocamento do ponto de encaixe de uma forma suave e contínua.
Domingo Delgado Solórzano trata da diferença (já apontada por Carlos) entre movimento e deslocamento do ponto de aglutinação ou encaixe. Também informa algo inédito, que os seres orgânicos vêm dos seres inorgânicos. E ainda, faz alusão a algo que explana melhor em outra parte do livro: a origem desse conhecimento Tolteca veio de Aztlan.
Os seres orgânicos foram inorgânicos antes de evoluir de formas cilíndricas para esféricas; de estática a dinâmica energética. Estes, para não ser desintegrados, retornarão a seu estado inorgânicos como antiformas.Antiinorgânicos que vão evoluir para antiorgânicos na terceira atenção. Os seres orgânicos são emanados em formas com funções, dada a sua mobilidade. A imobilidade dos seres inorgânicos os obriga a projetar-se em funções com formas. Ele projetam o ponto de encaixe linearmente em quadrado até fixá-lo em alguma das oito configurações da grande banda de emanações orgânicas. Esta projeção estão tão bem criada que esquece a sua origem, ainda que conservem a sua retração ensonhadora com a qual alimenta o seu projetor. A projeção do ponto de encaixe alinha acontecimentos por vir e acontecimentos já passados se é retroprojetado. Expande-se e se contrai com maior velocidade que a luz ao acelerar ou desacelerar o seu pulso gravitrônico. O ponto de encaixe é um projétil. Esta descoberta é o centro do conhecimento aztlaniano e tolteca posteriormente. Os perceptores primigênios viram os inorgânicos projetarem os seus pontos de encaixe e fizeram o mesmo. O ensonho finalmente é a projeção linear do ponto de encaixe para frente ou para trás. O movimento do ponto de encaixe se dá no para o interior do casulo, onde não existe nada. O deslocamento é um deslizamento do ponto de encaixe sobre a membrana que encapsula e forma o casulo. A resultante deste último é a transformação da forma do casulo em outras formas orgânicas, como animais, vegetais e outras de diversos faixas (rangos) vibratórias. Os perceptores nunca optaram por essas faixas estéreis. Não obstante, para os nahuais de três pontas são vitais, para cumprir as suas tarefas. /.../
Eis alguns sites que trazem informação suplementar relevante sobre os seres inorgânicos, numa abordagem tolteca: Tolteca Spirit, based on the four agreements http://www.toltecspirit.com/2007/01/inorgainc-beings/, Sustained Reaction http://sustainedreaction.yuku.com/topic/5488#.TpS7HHItvPg, Acausal Realms: http://acausalrealms.wordpress.com/2010/04/22/the-dark-world-of-the-predator-and-inorganic-beings/, The shrine of knowledge: http://www.realmagick.com/5851/astral-beings-and-wildlife/, In The Realm of Inorganic Beings: http://newtarot.com/consciousness/in-the-realm-of-inorganic-beings/, relação entre Matrix e Carlos Castaneda: http://www.consciencia.org/castaneda/castaneda-matrix.html, http://www.thejinn.net/jinn_candidates2.htm, e http://en.allexperts.com/q/New-Age-3270/Inorganic-Beings.htm.






9 - O Silêncio Total (o Silêncio Interior)
Em 1973, Don Juan se transformou em luz, a serpente emplumada. Ele e seus congêneres deram uma volta final. Chega um momento que a Terra te diz: estás livre… parte! Uma existência tão enorme está consciente de um micróbio como eu! (quase chorando) Me desmonta… como uma mãe amorosíssima.
Carlos Castaneda

Carlos Aranha publicou um livro chamado Silent Knowledge no original, mas na versão em espanhol, restrito a seu grupo de associados no México, o livro púrpura, que só foi vendido em seminários de tensegridade, traduzido por Tycho Thal e P. Pourcell, com o título El Silencio Interno, pela Cleargreen Incorporated, Los Angeles, CA. , em 1996.
Lembremos que em 1987, já publicara The Power of Silence: Further Lessons of Don Juan, título que foi dado pelo editor norte-americano, pois que ele mesmo queria chamar a obra de Conhecimento Silencioso. A tradução em espanhol ficou assim, por isso a nova obra se chamou O Silêncio Interno.
Nos dois casos, este dom é relacionado com o acesso ao intento. Em El Silencio Interno, Carlos faz a ligação entre os passes mágicos e o silêncio interno, o qual nos propicia o intento.
Mas desde o início Don Juan insiste com Carlos que é preciso parar o diálogo interno.
Don Miguel Ruiz chama esse mar das vozes em nossa mente de “mitote”, expressão que nos livros de Carlos Aranha, como já dissemos, aparece recobrindo um encontro de vários guerreiros e aprendizes para tomar juntos Mescalito (o peyote). No capítulo dois de seu livro, “La Retrospección del Ensueño”, Domingo Delgado Solorzáno usa o termo no mesmo sentido de Carlos: “Esa noche don Chema me llevó a un mitote” . Na mesma passagem, refere-se ainda à prática de colocar folhas e outras substâncias vegetais na região do umbigo, para aquecer e dar uma sensação de bem estar ao aprendiz, coisa que Don Juan também fazia com Carlos Castaneda, e que Domingo não levava muito a sério:
/.../ Ele também me recomendou emplastros no estômago ou no umbigo, de folhas de chuchu, suco de limão, incenso e sementes de cirián. Mas, verdade seja dita, nunca fiz caso e considerei tudo aquilo como uma bobagem de don Chema.
Eu quase chamei este livro aqui de Mar das Vozes (bem, na verdade, pensei em vários títulos, inclusive Nanahualtin, Nauallotl, que, como se sabe, quer dizer: naguais, nagualismo). Porque uma das minhas primeiras experiências quando comecei a ler Carlos Aranha foi de me sentir doente, sem conseguir levantar, ouvindo acordado ou dormindo um número muito grande de vozes que falavam todas ao mesmo tempo, em vários tons e diapasões, na minha mente, acordado ou dormindo.
Por outro lado, e no aprendizado, tudo tem dois lados, tudo tem mais de dois lados, o mar das vozes remete à polifonia das emanções da Águia, que têm todas consciência, e que nos constituem como seres plurais.
Em 1974, o jornalista brasileiro Ibral Vitti escreveu o “Ensaio sobre Carlos Castaneda” , com muito boa vontade, e várias intuições importantes, como por exemplo, considerar cada capítulo de Viagem a Ixtlan como uma martelada, o que nos faz lembrar de Nietzsche e sua filosofia a marteladas, e, é claro, por mais doido e incompreensível que isso seja, Carlos Castaneda tem tudo a ver com Nietzsche; o genial Ibral Vitti também registra essa ligação com o filósofo de Assim Falou Zaratustra.
Fiz várias pesquisas para encontrar algo sobre ele ou a referência primária de seu artigo, que está transcrito no importante site Carlos Castaneda, de Miguel Duclós, e daí foi copiado em “n” sites e livros. Ibral Vitti se tornou um mistério, como se fosse ele mesmo um guerreiro, será se o é?
Nietzsche dizia que “tudo aquilo que não me mata me faz mais forte”. Assim pensam os bruxos. Porém, cuidado como os filósofos... porque são grandes auto-complacentes.
Gilles Deleuze e Félix Guattari pensam que a filsofia de Carlos Castaneda é a retomada da imanência e da expressão da Ética, de Baruch Espinosa.
Neste texto não vou explorar muito esta relação, concordo 100 % com Vitti, Guattari e Deleuze; na verdade, penso que a interseção de Carlos Castaneda na nossa cultura é o retorno do “pensamento selvagem” (expressão de Claude-Levi Strauss, usada aqui de uma forma diferente da dele) dos índios da América, na sua vertente até hoje revelada a mais forte. A obra de Castaneda é nômade, é o pensamento da imanência e da expressão nômade, e eu acrescentaria dois companheiros a Carlos, perfazendo assim a galeria: Heráclito de Éfeso, Baruch Espinosa, Friedrich Nietzsche, Michel Foucault, Gilles Deleuze e Félix Guattari.
O espinosismo de Carlos Castaneda está na sua visão do todo energético, que ele chama de Águia (e também de Mar Escuro da Consciência), e o filósofo ibero-nederlandês de “Deus sive natura”, em latim, Deus ou a natureza. Esse “todo” que é Deus e natureza e muito mais, mas que o homem consegue entender alternadamente assim, engloba todas as infinitas consciências, em infinitos atributos e modos. Cada ser é um grau da potência de Deus, em Espinosa, assim como cada ser consciente é constituído de fibras da águia, de uma porção do todo energético sensciente.
Não concordo com a visão mais simplista de Luiz Carlos Maciel, que, em seus cursos, palestras e aulas sobre Castaneda (que ele dava principalmente na década de 90) propunha a estreita relação deste com a fenomenologia de Edmund Husserl. Há vários motivos óbvios: Castaneda faz uma “análise estrutural” no final do seu primeiro livro, The Teachings, para ele ser melhor aceito como monografia de gradução. Nesta parte da obra, tenta mostrar quais os elementos compõem a estrutura de um “homem de conhecimento”, mas se limita muito ao pouco que sabia, na época (a instrução não era ainda clara, para ele, mesmo a do lado direito, e ele não lembrava das vivências com o grupo, do lado esquerdo). Ele mesmo declara várias vezes que adotou o método “fenomenológico”, deixando a tradição de don Juan falar por si mesma, procurando não interferir nem interpretar. Isso é diferente da filosofia fenomenológica de Husserl, é quase um pressuposto de trabalho de campo antropológico, apenas, e que, na verdade, é muito comum (se os antropólogos saírem julgando, não vão ser admitidos, nem ver, nem entender nada).
Em seu jornal, escrito por ele mesmo, e do qual foram publicados quatro números, The Warriors’ Way/Readers of Infinity, de janeiro a abril de 1996, Carlos coloca logo no início do primeiro fascículo um texto explicando “O que é Hermenêutica”.
Bem, talvez ele mesmo tivesse algum interesse em relacionar o pensamento tolteca com a filosofia da consciência ocidental, mas isso seria quase que um disfarce, uma espécie de “dourar a pílula”, pois o que os toltecas pensam e fazem vai muito além, e ele mesmo e suas guerreiras consideram os filósofos convencionais uns autocomplacentes.
Poder-se-ia pensar que a relação está na ideia de consciência, para Carlos o mundo e nós somos feitos de emanações luminescentes, que ele às vezes chama de consciências, e para Husserl tudo é a consciência, e o sentido que o ser humano lhe dá.
Mas não é o mesmo sentido da palavra consciência nos dois casos, não há nada mais afastado do que o pensamento imanentista e expressivo de Carlos e a filosofia da representação, seja ela de Descartes, Husserl ou Heiddeger.
Em Carlos tudo é o que é, tudo é real, em seu vigor, e o homem é um recorte dos tempos de um casulo que tem a força das vibrações cósmicas que ali nele estão, e que lhe faculta o direito real de com realidade acessar outras vivências e outras faixas de realidade, e outros “sulcos da roda do tempo”.
Em O Presente da Águia, momentos antes do grupo de Don Juan realizar o fogo interior e entrar na terceira atenção, cada guerreiro lhe dá um dom de poder, na forma de uma revelação; don Juan lhe dá a sua tarefa ( que ficamos sabendo depois que é mover o ponto de aglutinação da terra, é a disseminação da toltequidade) e Silvio Manuel lhe dá “uma fórmula, uma mágica para quando a minha tarefa fosse maior que minha força”:














10 - A Impecabilidade
Já me dei ao poder que rege meu destino.
E não me prendo a nada, para não ter nada a defender.
Não tenho pensamentos, por isso verei.
Não receio a nada, por isso me lembrarei de mim mesmo.
Desprendido e à vontade,
Passarei como um jato pela Águia para me tornar livre.

Ya me di al poder que a mi destino rige.
No me agarro ya de nada, para así no tener nada que defender.
No tengo pensamientos, para así poder ver.
No temo ya a nada, para así poder acordarme de mi.
Sereno y desprendido,
me dejará el águila pasar a la libertad.

Tudo flui.
Seja fluido.
Seja fluente.
Não incorpore regras rígidas ou obsessões.
Rompa com as rotinas.
Assuma a responsabilidade.
Adote a morte como conselheira.
Não-faça.
Aprenda a rir de si mesmo.
Não fume nem se intoxique.
Não beba álcool ou soda.
Regule sal e gordura.
Seja frugal.
Beba bastante água.
Coma vegetais, frutas, legumes, etc.
Não esquente com as coisas.
Não tire conclusões.
Não se guie pelas opiniões das pessoas.
Não desperdice sua energia.
Leia sempre.
Escreva sempre que puder.
Recapitule.
Ensonhe.
Crie.
Seja sério com a sua palavra.
Aja sem esperar recompensa.
Combata a importância pessoal.
Apague a história pessoal.
Não leve nada para o lado pessoal.
Pratique os exercícios e as técnicas.
Caminhe muitos quilômetros por dia.
Siga o seu caminho com coração.
Nietzsche entendeu:
Quero dizer a minha palavra aos desprezadores do corpo. Não devem, a meu ver, mudar o que aprenderam ou ensinaram, mas, apenas, dizer adeus ao seu corpo - e, destarte, emudecer.
“Eu sou corpo e alma” - assim fala a criança. E por que não se deveria falar como as crianças?
Mas o homem já desperto, o sabedor, diz: “Eu sou todo corpo e nada além disso; e alma é somente uma palavra para alguma coisa no corpo”.
O corpo é uma grande razão, uma multiplicidade com um único sentido, uma guerra e uma paz, um rebanho e um pastor.
Instrumento de teu corpo é, também, a tua pequena razão, meu irmão, à qual chamas “espírito”, pequeno instrumento e brinquedo da tua grande razão.
“Eu” - dizes; e ufanas-te desta palavra. Mas ainda maior - no que não queres acreditar - é o teu corpo e a sua grande razão: esta não diz eu, mas faz o eu.
Aquilo que os sentidos experimentam, aquilo que o espí¬rito conhece, nunca tem seu fim em si mesmo. Mas sentidos e espírito desejariam persuadir-te de que são eles o fim de todas as coisas: tamanha é sua vaidade.
Instrumentos e brinquedos, são os sentidos e o espírito; atrás deles acha-se, ainda, o ser próprio. O ser próprio procura também com os olhos dos sentidos, escuta também com os ouvidos do espírito.
E sempre o ser próprio escuta e procura: compara, subjuga, conquista, destroi. Domina e é, também, o dominador do eu.
Atrás de teus pensamentos e sentimentos, meu irmão, acha-se um soberano poderoso, um sábio desconhecido - e chama-se o ser próprio. Mora no teu corpo, é o teu corpo.
Há mais razão no teu corpo do que na tua melhor sabe¬doria. E por que o teu corpo, então, precisaria logo da tua melhor sabedoria?
O teu ser próprio ri-se do teu eu e de seus altivos pulos. “Que são, para mim, esses pulos e voos do pensamento?”, diz de si para si. “Um simples rodeio para chegar aos meus fins. Eu sou as andadeiras do eu e o insuflador dos seus conceitos”. /.../
As técnicas percorrem o continente, sempre diferentes.
O Império Inca e Aymará se chama em quéchua Tawantin Suyu, e em aymará Pusin Suyu (e têm a mesma bandeira, os aymará e os inca, multicolorida, linda, porque é o mesmo império):
O Império Incaico foi um estado da América do Sul, gobernado pelosw incas (imperadores), que se estendeu pela zona occidental (andina) do subcontinente, entre os séculos XV e XVI. Foi a etapa em que a civilização inca atingiu o seu nível máximo de organização e o seu território, conhecido como Tahuantinsuyo (quéchua: Tawantin Suyu, aymará: Pusin Suyu, “as quatro divisões”), abarcou cerca de 2 milhões de km² entre o océano Pacífico e a selva amazónica, indo desde as proximidades de San Juan de Pasto ao norte até o rio Maule ao sul. O Tahuantinsuyo foi o dominio mais extenso que teve qualquer estado da América pré-Colombiana.
O imperio começou a se formar a partir da vitória dos cuzquenhos, liderados por Pachacútec, contra a confederação de estados chancas, no ano de 1438. Logo depois da vitória, o curacazgo incaico foi reorganizado por Pachacútec. O Império Inca iniciaría com ele uma etapa de contínua expansão, que continuou com seu irmão Cápac Yupanqui, depois pelo décimo inca Túpac Yupanqui, e, finalmente, pelo undécimo inca Huayna Cápac, que consolidou os territórios. Nesta esta a civilização incaica conseguiu o desenvolvimento máximo de sua cultura, tecnologia e ciência, incrementando conhecimentos próprios e da região andina, bem como asimilando os de outros estados conquistados. /…/
O Tahuantinsuyo corresponde atualmente aos territórios relativos ao sul da Colômbia, passando por Equador, principalmente por Peru e Bolívia, da metade norte do Chile e o noroeste da Argentina. O imperio esteve subdividió em quatro suyos : o Chinchaysuyo (Chinchay Suyu) ao norte, o Collasuyo (Qulla Suyu) ao sul, o Antisuyo (Anti Suyu) ao leste e o Contisuyo (Kunti Suyu) ao oeste. A capital do Império foi a cidade de Cuzco, no Peru.
Do Peru, descendente dos Incas, veio o sábio Chamalu, cujo nome de batismo é Luis Ernesto Espinoza. É ele quem nos revela o Apu Inti, o oráculo Solar (Inti é o deus sol), que é utilizado para aprendizado, meditação, artes divinatórias, terapia e trabalhos de grupo (seminários de cura e autodesenvolvimento). Conta-nos que:
/.../APU INTI, literalmente Essência Solar, é a voz dos Amautas, o ensinamento que, saindo da profundeza de um segredo milenar, começa a germinar em todos os corações disponíveis.
Segundo a tradição profética andina, vivemos tempos especiais, tempos últimos, e simultaneamente uma época preciosa de transição, um momento em que a escuridão se apresenta mais escura, como convidando-nos a trocarmos o vestuário, a vestirmo-nos de luz, a nos tornarmos pirilampos enfeitando a noite. /.../
Luis Ernesto Espinoza (Chamalu) tem seu site, cds e livros, além dos cursos e oficinas que dá; outro livro seu se chama Juegate la Vida, Joga a Vida, o que lembra uma fala de Don Juan reportada por Carlos Castaneda, e que está nos Encontros com o Nagual, “se vamos jogar, joquemos a vida”, quer dizer, joguemos à vera. E isso é ser impecável.
A vida é uma viagem mágica
de retorno às estrelas.
Estás orientado
no supremo itinerário?
Estás ventindo-te de luz gradualmente,
vivendo cada instante conscientemente?
Ser impecável é não pecar contra si próprio, o que significa simplesmente agir pelo seu ser, pela sua continuidade.
O que também se pode expressar como economizar energia e, consequentemente, todo o resto.
A impecabilidade é salutar, econômica e ecológica.
O grande mestre de filosofia brasileiro Cláudio Ulpiano costumava dizer que (a filosofia nômade) é um beijo de vampiro.
Mas na verdade, tudo é.
Carlos conta que Don Juan lhe dizia que os da magia negra são seus semelhantes, os homens comuns, que o convenceram de uma realidade que não pode ser contestada ou ultrapassada.
Cada um desses tenta fazer com que os outros tenham suas mesmas fraquezas, medos e impossibilidades. Don Juan dizia que todos temos a ilusão de que sangramos juntos, mas que, na verdade, estamos todos sós na nossa loucura.
A porta que sai da loucura é a impecabilidade.
E a verdeira companhia é aquela de guerreiros impecáveis, que vivem livres de ilusões e apegos.
O primeiro passo para ser impecável é perder a tão agigantada “importância pessoal”, que a nossa socialização constroi sem parar, desde quando a criança nasce, e, até antes.
Disciplina e ações impecáveis constituem o caminho do guerreiro, Yaoyotl, em nahuátl, como falam os tolteca, como nos conta Frank Díaz em El Evangelio de la Serpiente Emplumada:
No antigo México, em quase total isolamento do resto do mundo, se desenvolver há milênios uma extraordinária civilização. Ao conjunto de conquistas materiais e espirituais que alcançaram, os seus criadores chamaram Toltekayotl, toltequidade.
Geralmente, se dá o nome de “toltecas” aos moradores de Tula, uma cidade que floresceu no atual estado de Hidalgo, México, entre os séculos VIII e XII da era cristã. Todavia, os documentos que se conservam revelam que os mesoamericanos entendiam a Toltequidade, não como um título de pertencimento étnico, mas como uma forma de vida.
/.../ Os maias e outros povos se qualificaram a si mesmos de toltecas e aplicaram esse título ao Ser Supremo. Vejamos como exemplo o seguinte verso do seu livro sagrado, o Popol Vuh:
Dá a conhecer a natureza, tu, duas vezes mãe, duas vezes mãe, Mestre Tolteca, que assim serás chamado pela tuas criaturas! (Popol Vuh, I, 2)
Outro texto maia assegura que Tula não é uma localidade física, e sim um conceito que abarca a totalidade da ordem cósmica:
Nos quatro rumos está Tula. Há uma Tula no oriente, e outra no Inframundo. Há uma onde o Sol se põe, e outra no tronno de Deus. (Anales de los Cacchiqueles, 4)
Os princípios da Toltequidade foram esboçados na época dos olmecas - um enigmático povo que apareceu como se saído “do nada” no terceiro milênio antes de Cristo - e alcançaram a sua cristalização no glorioso reinado de Teotihuacan (séculos I a VII d. C).
Los principios de la Toltequidad fueron esbozados en la época de los olmecas - um enigmático pueblo que apareció como salido “de la nada” en el tercer milenio antes de Cristo - y alcanzaron su cristalización durante el glorioso reinado de Teotihuacan (siglos I al VII d. C.).
Estes princípios eram:
• Um ideal messiânico chamado em nawatl Ketsalkoatl, serpente emplumada.
• Uma regra social e religiosa contida no Teomoshtli, livro sagrado.
• Um título de pertencimento espiritual: Masewalli, merecido pelo sacrifício.
• Uma forma de vida definida como Yaoyotl, caminho do guerreiro.
• Um objetivo supremo: Shoshopantli, libertade total.
Um livro maia descreve assim aos primeiros toltecas:
Só ao deus verdadeiro adoravam na línguja da sabedoria. Reformadores da Escritura se chamaram. Não eram deuses, eram gigantes. (Chilam Balam, Livro das Linhagens)
A tradição atribuía a criação da cultura a Ketsalkoatk.
Na verdade, com ele se iniciou; na verdade, dele provem a Toltequidade, a saber: da Serpente Emplumada.
(En verdad, con él se inició; en verdad, de él proviene la Toltequidad, el saber: de la
Serpiente Emplumada.) (Códice Matritense ,144 r)
Ketsalkoatl foi uma entidade cósmica reverenciada em toda a América indígena. Era representado como uma serpente com plumas, já que o réptil simbolizava o corpo físico com seus apegos e paixões, enquanto as plumas eram um símbolo da iluminação interior. Portanto, o seu nome continha um ensinamento, uma proposta de integração de nossa dualidade essencial.
Os líderes toltecas eram chamados de Quetzalcóatl . O mais famoso deles, aquele do qual chegaram mais informações até nós, foi Ce Acatl, que mereceu o livro de Frank Díaz El Evangelio de la Serpiente Emplumada; La vida y enseñanzas del gran maestro tolteca.
Ele cita o Popol Vuh, que é o livro sagrado dos Quichés: “A palavra Quiché (ou Queché, ou Quechelah), nos idiomas da Guatemala, significa “bosque”. É uma palavra composta de qui, quy (muitas) e che (árvore). Significa, portanto, “terra de muitas árvores”. Quanto à palavra ‘guatemala’, origina-se do temo Quauhtlemallan do idioma nahuatl e designava o território ao sul da Península de Iucatán”.
A versão da Cátedra de 1980, traduzida por Raul Xavier, tem esta nota de autor desconhecido:
POPOL VUH, o livro ds origens do povo Quiché da Guatemala, ou o livro sagrado e os mitos da antiguidade americana, como o intitulou Brasseur de Bourboug, foi escrito por autor ou autores desconhecidos, pouco depois da conquista espanhola, quando Tenochlitlán, a gloriosa e opulenta cidade do México foi arradas pelos conquistadores, e Ut atlán ou Gumarcaah, a capital dos Quichés da Guatemala, foi destruída pelas chamas e, com ela, seus reis, e o povo reduzido à escravidão.
E os manuscritos, que registram a cultura dos índios, foram igualmente destruídos pelos missionários, a fim de que o povo esquecesse as suas crenças, embora mais tarde procurassem reparar o erro, esforçando-se por restaurar suas artes e seus costumes.
Vou repetir uma citação já feita aqui, anteriormente, porque é fundamental:
Quando o que você tem é mais que suficiente, meu amor, então, e somente então, você está à beira da impecabilidade.
No seu excelente Dicionário das Mitologias Americanas, Hernâni Donato nos explica que:
QUETZALCOATL - “Serpente-quetzal” ou “serpente de plumas” ou ainda “gêmeo precioso” sendo que esta interpretação é válida apenas quando relacina o deus asteca a Vênus, estrêla da manhã que, nascendo ao leste, desaparece a meio do céu e reaparece, já no fim do dia, como a estrêla da tarde. Tendo atravessado o universo visível e compreensível do homem, rutilando pela manhã e à noitinha, era o símbolo da morte e da ressurreição, a prova de que os deuses existiam. Nessas aparições propõe a idéia das estrêlas gêmeas favorecendo os homens, cada uma em seu tempo e lugar. Quetzalcoatl difere do comum dos trágicos deuses astecas. Filho de Mixcoatl e de Chimamatl, vivia em um misterioso país do Oriente, emigrando por razões não bem conhecidas, para as regiões do Ocaso. Aportando a Tula, fundou ali um reino de justiça, amor e prosperidade, ensinando aos bárbaros da região as artes, ciências, e leis dos deuses. Proibiu os sacrifícios humanos, no que foi único entre os deuses, terminando, com tantas boas obras, por irritar os gênios maléficos os quais enviaram pra combatê-lo um dos mais poderosos e virulentos dos deuses: Tezcatlipoca. Descendo dos arcanos do firmamento pelo fio de uma aranha, baixou sôbre Tula sendo recebido com honras e sincero contentamento por Quetzalcoatl. O recém-chegado ofereceu ao herói civilizador beberagem contendo um filtro bem estranho: despertouem Quetzalcoatl o insopitável desejo de abandonar Tula e regressar ao país de origem. Foi o que fêz, destruindo os palácios que havia erguido, arrancando as árvores que havia mandado plantar, espantando os pássaros que havia domesticado. Dominando a terra assim arrasada, Tezcatlipoca fêz soar um tambor mágico, cujo ritmo induziu os habitantes a uma dança sem término, cada vez mais frenética. Dançando, terminaram por tombar em um abismo, mergulhando nas profundezas da terra. Quetzalcoalt, entre outros prodígios realizados, (alguns deles sob o nome de Xolotl), por amor aos homens deitou-se sôbre uma fogueira, fazendo surgir das chamas a estrêla rutilante que brilha pela manhãe ao anoitecer.
Quando Don Juan e seu grupo entram juntos em terceira atenção, e se veem os guerreiros enfileirados, transformados em luz, voando, Carlos fala que esse é o Quetzalcóatl, a Serpente de Plumas, é esse o significado que os Toltecas possuem.
/.../ Um guerreiro, por outro lado, é guiado por seu propósito inflexível e pode livrar-se de qualquer coisa. /.../ Procurar a perfeição do espírito do guerreiro é o único empreendimento digno de nossa virilidade. /.../ A coisa mais difícil deste mundo é adquirir a disposição de um guerreiro - disse ele. - Não adianta ficar triste, queixar-se e achar justificativa para isso, acreditando que alguém está sempre nos fazendo alguma coisa. Ninguém faz nada a ninguém, muito menos a um guerreiro.
“Você está aqui, comigo, porque quer estar aqui. A essa altura, já devia ter assumido plena responsabilidade, de modo que a ideia de estar à mercê do vento fosse inadmissível”.
/.../ - A autocomiseração não condiz com o poder - disse ele. - A disposição de um guerreiro exige controle sobre si, e, ao mesmo tempo, exige que ele se entregue.
- Como pode ser? – perguntei. – Como pode ele controlar-se e entregar-se ao mesmo tempo?
- É uma técnica difícil - falou.
A impecabilidade é a assunção da natureza solar do ser que produz a sua própria luz, gera o seu próprio amor, e não depende de nada nem de ninguém, justamente porque tudo está totalmente relacionado no mesmo mar de energia cósmica.


















11 - O Ensonho
5. Falou-lhes o deus e assim lhes disse: - Ah, mexicanos: será aqui, sim! O México é aqui! E ainda que não vissem quem lhes falava, se puseram a chorar e disseram: - Felizes somos nós, ditosos enfim! Já vimos onde será nossa cidade! Vamos e venhamos a repousar aqui!
A fundação de México Tenochtitlan

Em Jesus Cristo Nunca Existiu, La Sagesse enumera vários deuses solares que teriam inspirado a criação do cristianismo, como Mitra:
Prosper Alfaric, em L’Ecole de la Raison, assinala as invencíveis dificuldades do cristianismo em conciliar a fé com a razão. Por isso, a nova crença teve de apoderar-se das lendas e crenças dos deuses solares, tais como Osíris, Mitra, Ísis, Átis e Hórus, quando da elaboração de sua doutrina. Expôs, igualmente, que os documentos descobertos em Coumrã, em 1947, eram o elo que faltava para patentear que Cristo é o Crestus dos essênios, uma outra seita judia.
É sabido que os Incas (e, antes deles, os Aymará) adoravam Inti, o deus sol.
E é só em O Segundo Círculo do Poder, quinto livro da série, já no meio dos anos setenta na cronologia do que acontece no aprendizado de Carlos, que ele vai ficar sabendo, no confronto com La Gorda e as Irmãzinhas, que eles são toltecas, seguidores da toltequidade.
Da mesma forma, é só aí que lhe é revelado que o nagual pode ser o sol, mas as guerreiras não aceitam falar muito sobre isso.
Essa ideia aproxima mais ainda o nagualismo da sabedoria Inca, e de outros povos da antiguidade, de todo o mundo, oriente e ocidente.
Os astecas
/.../ acreditavam que os deuses Céu e Terra geraram os deuses Lua e Estrelas. Mas um dia Tonantzin, a deusa Terra, enquanto caminhava pelo deus monte Tepeyac, ficou grávida, concebendo o deus Sol. É por isso que o Sol nasce na Terra e não no Céu, como a Lua e as Estrelas. As deusas Estrelas não gostam do deus Sol, por ser filho adulterino de Tonantzin e Tepeyac. E a cada dia o deus Sol sob o ataque das deusas Lua e Estrelas, vai apagando-se pouco a pouco até cair totalmente vencido no final do dia, deixando o horizonte manchado do vermelho de seu sangue.
O corpo humano é feito de energia, é uma cápsula ou casulo de energia, do mesmo tipo de que é constituído o universo. A consciência humana se forma com a concentração de um ponto desse casulo em alguns filamentos da energia do universo, que ficam “iluminadas” pela percepção, e que são “traduzidas” como coisas, que nos cercam, e constituem o nosso mundo.
O que percebemos é energia pura, segunda Carlos Castaneda, filamentos de consciência; assim como o é o percebedor, o casulo, mas ele tem uma espécie de nó, que é o ponto de encaixe, erradamente traduzido no Brasil como ponto de aglutinação.
Esse não é o ponto onde a consciência seria aglutinada, ela não é aglutinada.
Esse é o ponto onde a consciência é encaixada, para perceber e interpretar certas emanações ou fragmentos da energia.
Mover o ponto de encaixe a sua vontade é a própria prática da feitiçaria.
Quando dormimos e sonhamos o ponto se move, erraticamente, então, sem controle, vemos uma dança maluca de objetos e acontecimentos, que perdem o sentido.
- As mulheres são sonhadoras insuperáveis - garantiu Esperanza. - As mulheres são extremamente práticas. A fim de manter um sonho, é preciso ser prático, porque o sonho deve pertencer a aspectos práticos da pessoa. /.../
Sobre o ensonhar como outra face da moeda do recapitular, Domingo Delgado nos reporta o que lhe ensinou seu mestre Don Chema:
- É preciso conversar com o espírito como se tu conversasses com um bom amigo, de um para o outro, com infinita confiança; faz isso todas as noites antes de domir, e, quando menos tu esperares, ele te responderá, nos teus sonhos. Assim, tu recapitularás cada dia de tua vida, na primeira e na segunda atenção, simultameamente. Conta todos os teus problemas passados, e também os do dia, e, quando menos esperares, aceitarão as tuas besteiras em troca de tua vida, e te deixará passar livremente para a terceira atenção - me disse, em uma ocasião, don Chema.
Aprender a controlar o movimento do ponto de encaixe no sonho pode ser o primeiro passo da feitiçaria. É o primeiro passo de ensonhar, que é usar essa característica orgânica do sonho para controlar o movimento do ponto de encaixe.
Mesmo Freud, em “Sonhos e ocultismo” , uma das “Novas conferências introdutórias à psicanálise”, de 1933 (o ano em que nasceram meu pai Luiz Carlos e minha mãe Percília, em que Noel Rosa gravou “Não tem tradução”, dois anos antes de Carlos nascer, vamos falar sério, quem acredita na Time?, eu acredito no tempo), até mesmo Freud reconhece o poder transmutatório do sonho, não só simbólico, nesta intrigante palestra, onde diz coisas como, por exemplo:
/.../ E imaginem se pudéssemos nos apoderar do equivalente físico do ato psíquico! Parece-me que, com a inserção do inconsciente entre o físico e o até então denominado “psíquico”, a psicanálise nos preparou para a hipótese de eventos como a telepatia. Se nos habituarmos à ideia da telepatia, podemos fazer muita coisa com ela - claro que só na imaginação, por enquanto. Como é notório, não sabemos como surge a vontade geral nas grandes sociedades de insetos. Possivelmente isso ocorre pela via de uma transferência psíquica direta desse tipo. Somos levados à conjectura de que esta seria a via de entendimento original, arcaica, entre os seres individuais, que no curso da evolução filogenética é sobrepujada pelo método superior da comunicação com ajuda de sinais captados pelos órgãos dos sentidos. Mas o método mais antigo poderia permanecer no fundo e ainda prevalecer em determinadas condições, por exemplo, em multidões apaixonadamente agitadas. Tudo isso é ainda incerto e pleno de enigmas não resolvidos, mas não é motivo para nos assustarmos. /.../
Não devemos esquecer, Lacan falou, Freud disse, Jung era seu filho.
A psicanálise, nas várias vertentes oriundas de Freud, de uma maneira manifesta, interpreta os sonhos como a emergência de desejos recalcados ou de traumas, que, nas horas de consciência desperta, são censurados pelo superego, mas que estão lá, no inconsciente. Ao dormirmos, o superego relaxa, e os desejos escabrosos ou os sofrimentos traumáticos podem vir à tona, com menos preocupação. Como o superego só relaxa, mas não larga de mão, mesmo nos sonhos os desejos reprimidos e os traumas aparecem disfarçados, fantasiados em imagens, que seguem o modelo de camuflagem, fazendo deslocamento (metáfora, uma coisa no lugar da outra) e condensação (metonímia, uma parte da coisa no lugar da coisa).
Para don Juan os sonhos “comuns” são deslocamentos mínimos, erráticos, por uma pequena região em volta da posição desperta, quando está rijo e fixo. Essa área em volta está preenchida do “lixo humano”, dos fantasmas das preocupações e desejos humanos (e Freud também já pensara nisso, e escrevera: o inconsciente não é lixo!).
Não é para “analisar” o id e o ego, o inconsciente e o eu consciente, que os nagualistas praticam o ensonho: o que eles querem é conduzir com potência o ponto de encaixe para além da área do “lixo humano”, aquela que Freud e seus amigos conhecem bem, dos recalques e dores egóicas.
Para além dessa faixa é o mundo do nagual, onde não há significado possível. Por isso o inconsciente real é pura potência (como na esquizoanálise de Gilles Deleuze e Félix Guattari ), e não língua, signo, letra, significante e significado (Lacan), nem arquétipos que seriam modelos gerais de estados de ser (Jung).
É sintomático que a área do lixo humano seja predominantemente de cunho sexual (para a psicanálise ortodoxa), enquanto que para os ensonhadores naguais a energia do sonho e do ensonho seja de origem sexual, como veremos no próximo capítulo, 12 - A Espreita.
A mesmas observações nos ajudam a entender melhor que a recapitulação não é uma meditação nem uma autoanálise ou qualquer tipo de “psico-análise”.
O que se objetiva na recapitulação, insisto, é mover o ponto de aglutinação para além da sua área costumeira e também áreas vizinhas, conquistando outras experiências que já são nossas, estão na nossa memória corporal, mas estão no inconsciente.
É o conceito de inconsciente que muda para os toltecas: ele é a vastidão do nosso ser, e a nossa capacidade de criar um percurso por este mundo luminoso, já que está além das experiências aprendidas socialmente e repetidas ad nauseam.
No Brasil, o excelente livro de Florinda Donner-Grau, que faz par com A Arte do Sonhar de Carlos, que é a visão masculina da aprendizagem e do sonhar, claro que da forma dele, é Sonhos Lúcidos, que mostra o lado feminino da técnica; esse foi o nome pelo qual o livro, que se chama na verdade Being-in-Dreaming (1991), foi publicado no Brasil. Colocar o esse título na tradução brasileira foi mais uma impropriedade.
Lucid Dreaming foi publicado originalmente em 1985, por Stephen LaBerge, nos EUA, que, aliás, faz tolas críticas ao sonhar que aparece nos livros de Carlos Castaneda. Por outro lado, seu livro é muito bom.
Veio depois de muitos livros de Carlos que tratam do sonhar (em Viagem a Ixtlan, de 1972, Don Juan explica em síntese quase todos os passos do treinamento que aparecerá mais desenvolvido em A Arte do Sonhar), e antes do livro de Florinda. Carlos e Florinda não utilizam a expressão “sonhos lúcidos”, mas sim “sonhar”, grifado em itálico, e “ensoñar”, nas traduções hispânicas. Carlos frisa que não é a mesma coisa, não é mesma prática, não são as mesmas técnicas, nem os mesmos objetivos.
O de Stephen LaBerge é explorar a ocorrência fortuita da consciência de que estamos sonhando, e provocá-las, com finalidade terapêutica (auto-descoberta, resolução de problemas) e hedonista (produzir voluntariamente experiências de prazer no sonho) . Para Carlos isso é um beco sem saída.
Há vários investimentos no puro “sonho lúcido” como terapia e prazer, como, por exemplo, Sonhos Lúcidos em 30 Dias, de Pamela Weintraud e Keith Harary . Ele é presidente e diretor do Institute for Advanced Psychology de San Francisco, entre outros títulos, e ela é editora sênior da revista Omni, ao lado de muitas outras coisas. Pois bem, este investimento do sonho lúcido terapêutico é algo do ramo da psicologia aplicada, que, sabemos, haure coisas do misticismo e de outras técnicas evolucionárias, como o xamanismo e o nagualismo, mas, é claro, não é a mesma coisa.
Carlos não se cansa de criticar esse uso simples do sonho, seu sonhar vai muito além.
O sonhar dos toltecas é uma técnica que se encaixa com a espreita e o intento. Faz parte da exploração da consciência. Tem como objetivos: produzir saúde, pela impecabilidade, trazer a consciência de que a experiência do “real” é fruto da posição do ponto de aglutinação, isto é, da consciência do percebedor, e que ele pode alterar essa posição à sua vontade, desenvolver a capacidade de controlar o deslocamente do ponto de encaixe e propiciar o treinamento para a viagem definitiva, a liberdade total (terceira atenção).
O ensonhador movimenta e controla o movimento do seu ponto de encaixe tanto quando está acordado quanto quando está dormindo, nos dois casos, está ensonhando.
Ensonhar é uma viagem, pois toda viagem mexe com o ponto de encaixe.
Ensonhar é “viagem no mesmo lugar”, de que fala Niezstche, se o sonhador estiver no mesmo lugar.
Ele pode, com o desenvolvimento dos seus poderes de ensonho, até mesmo viajar fisicamente, e acordar em outro lugar, não importando quão distante.
Já espreitar é fixar o ponto de encaixe na nova posição. A espreita é a arte do caçador.
Mas é quase impossível falar sobre a espreita, pois esta é a metaprática da realidade.
Ensonhadores e espreitadores trabalhando em conjunto, como no caso dos grupos de guerreiros que seguem um nagual, podem produzir resultados maravilhosos com sua colabolaração, pois os ensonhadores levam o ponto de encaixe sempre mais além, e os espreitadores (rastreadores) garantem a trilha, a pavimentam, tornando esse novo movimento consistente, ganhando alguma permanência, o que equivale a dizer, criando realidade, pois a realidade é a crença e a permanência numa posição do ponto de encaixe. É assim que o ensonhar pode se tornar real, e o real, ensonhar.
Tantas tradições diferentes são todas úteis e se completam, não penso que uma tradição ou filosofia seja exclusiva, pois a realidade é tão multivariada, e cada pessoa tem um ângulo só seu, e, sendo assim, todo tipo de criatividade e releituras são possíveis, no campo do esotérico (que agora se aproxima um pouco mais do exotérico, mas sempre há os dois lados, tudo tem um lado esotério e um lado exotérico, um claro e escuro, o tonal e o nagual), da arte, da filosofia, da ciência etc - e sim, muitas outras coisas.
Alguns exemplos aleatórios, um livro tão simples como O Segredo, não despretencioso, mas de curto fôlego mesmo, na verdade é uma boa introdução à ideia de intento.
O Filho do Fogo; o descortinar da alta magia, romance declaradamente autobiográfico de Eduardo Daniel Mastral, colaboração com Isabela Matral, em dois volumes, faz uma interpretação cristã protestante do aprendizado, atribuindo tudo a demonismo, numa deformação que abarca várias tradições e religiões, claro, todas que não são cristãs (na verdade, evangélicas, mesmo no catolicismo os autores supõem influência demoníaca): orientais, africanas, afro-brasileiras, ameríndias, feitiçaria europeia etc. Todas as técnicas quase são arroladas como induzindo ao contato com os demônios: incensos (do hinduísmo), atabaques (das religiões afro-brasileiras), abertura de chacras (de várias religiões orientais) etc.
Os Mastral escrevem muito bem e são bastante corajosos, na sua luta por revelar o que Eduardo (os nomes são fictícios) conheceu no grupo satanista de que fez parte, e por afirmar a superioridade do cristianismo sobre essas visões.
Além dessa alentada obra, escreveram juntos muitos outros títulos, dentre os quais: Táticas de Guerra, Estudos Preliminares Sobre Satanismo, Rastros do Oculto; da História à Teologia, do Príncipe das Trevas aos Selados de Deus e Guerreiros da Luz, este em dois volumes.
Paulo Coelho também tem dois livros que trazem a expressão: O Manual do Guerreiro da Luz e Guerreiro da Luz, volume dois. Sobre Paulo e sua relação com nosso autor, falaremos mais adiante.
O demônio é forma mais primitiva e atrapalhada de entender os seres inorgânicos. Há várias referências a estes em todas as culturas, os homens sempre os veem, mas dão-lhes geralmente explicações míticas. Aquela que herdamos no cristianismo foi forjada na Europa, na Idade Média.
A consciência subliminar dos inorgânicos é uma das molas do gótico, do romance gótico e do fantástico.
“O Horla”, de Guy de Montpassant, é um conto de terror fantástico, escrito em 1887, que inspirou muita coisa na literatura e no cinema, e que fala explicitamente de um personagem, que enlouquece pela percepção da presença de um ser inorgânico.
Gilles Deleuze trabalha de uma forma sutil com o gótico, como quando declara, sobre o super-homem, que ele:
É o composto formal das forças no homem com essas novas forças. É a forma que decorre de uma nova relação de forças. O homem tende a liberar dentro de si a vida, o trabalho e a linguagem. O super-homem é, segundo a fórmula de Rimbaud, o homem carregado dos próprios animais (um código que pode capturar fragmentos de outros códigos, como nos novos esquemas de evolução lateral ou retrógrada). É o homem carregado das próprias rochas, ou do inorgânico (lá onde reina o silício). É o homem carregado do ser da linguagem (dessa “região informe, muda, não significante, onde a linguagem pode liberar-se”, até mesmo daquilo que ela tem a dizer). Como diria Foucault, o super-homem é muito menos que o desaparecimento dos homens existentes e muito mais que a mudança de um conceito: é o surgimento de uma nova forma, nem Deus, nem o homem, a qual, esperamos, não será pior que as duas precedentes.
Hoje há autores que falam em “reptilianos”, uma forma ainda meio mitológica de se referir aos inorgânicos e à sua influência sobre os humanos. Entre estes se destaca o britânico David Vaughan Icke (nascido a 29 de abril de 1952), autor de muitas obras sobre um autoritarismo orwelliano subreptício, inspirado pelos “reptilianos”; entre elas, The David Icke Guide to the Global Conspiracy (and how to end it). London: David Icke Books Ltd, 2007.
O passamento de Steven Paul Jobs (São Francisco, Califórnia, 24 de fevereiro de 1955 - Paulo Alto, Califórnia, 5 de outubro de 2011) gerou uma comoção desmedida, mesmo entre pessoas que pouco entendem de recursos de informática ou pouco utilizam seus produtos. Junto com Steve Wornizak e Mike Markkula, ele foi um dos criadores dos computadores pessoais, dos mouses e da McIntosh.
Suas palavras foram repetidas ad nauseam na mídia, principalmente seu discurso na Universidade de Standord, de 12 de junho de 2005 , onde declara coisas como o fato de ele ter estudado caligrafia e datilografia, quando não sabia o que queria fazer, foram determinante para a cara que a informática teria nos anos seguintes, com os pcs e seus teclados (datilografia) e as fontes do Word (caligrafia). O que é uma bobagem sem tamanho. Claro que ele foi um empresário muito importante e contribuiu para o desenvolviemento dessa tecnologia, mas me parece o caso de insuflar ou gaseificar um “gênio”, isto é, construir um, o que seria, segundo a mídia e os basbaques, “o maior” de um tempo que teve Einstein, Cesar Lattes, Hawkings, Foucault, Deleuze, Einsenstein, Debussy, Joyce etc. O século XX -> 21 tem gênios demais, citei a esmo, e bem mais revolucionários, do que um empresário que, junto com tantos outros, contribuiu para a inevitável informatização do nosso cotidiano. Ousaria pensar que tais manifestações estereotipadas se devem ao regozijo dos inorgânicos com um de seus arautos; fazendo totalmente minha, num sentido novo, a expressão de Deleuze, a inflação da importância desse empresário é mais uma das “vinganças do silício”.
Até mesmo na superação de Einstein e da velocidade da luz, vemos rasgos de uma evolução da consciência e da práxis humanas. E sobre isso não vemos a mídia se pronunciar, ou as pessoas se retorcerem todas; simplesmente ignoram a mais importante notícia da atualiade!
/.../ Cientistas do Centro Europeu de Investigação Nuclear (Cern, na sigla em francês), em Genebra, /.../ afirmaram ter descoberto partículas subatômicas capazes de viajar mais rápido do que a velocidade da luz. Neutrinos enviados por via subterrânea das instalações de Cern para o de Gran Sasso, a 732 km de distância, pareceram chegar ao seu destino frações de segundo mais cedo que a teoria de um século de física faria supor.
As conclusões do experimento, que serão disponibilizadas na internet, serão cuidadosamente analisadas por outros cientistas. Um dos pilares da física atual - tal e qual descrita por Albert Einstein em sua teoria da relatividade - é que a velocidade da luz é o limite a que um corpo pode viajar. Milhares de experimentos já foram realizados a fim de medi-la com mais e mais precisão. Até então nunca havia sido possível encontrar uma partícula capaz de exceder a velocidade da luz. “Tentamos encontrar todas as explicações possíveis para esse fenômeno. Queríamos encontrar erros - erros triviais, erros mais complicados, efeitos indesejados - e não encontramos”, disse à BBC um dos autores do estudo, Antonio Ereditato, ressaltando a cautela do grupo em relação às próprias conclusões. “Quando você não encontra nada”, conclui, “Bom, agora sou obrigado a disponibilizar e pedir à comunidade (científica internacional) que analise isto”. /.../ Já se sabe que os neutrinos viajam a velocidades próximas da da luz. Essas partículas existem em diversas variedades, e experimentos recentes observaram que são capazes de mudar de um tipo para outro. No projeto de Antonio Ereditato, Opera Collaboration, os cientistas preparam um único feixe de um tipo de neutrinos, de múon, e os envia do laboratório de Cern, em Genebra, na Suíça, para o de Gran Sasso, na Itália, para observar quantos se transformam em outro tipo de neutrino, de tau. Ao longo dos experimentos, a equipe percebeu que as partículas chegavam ao seu destino final alguns bilionésimos de segundo abaixo do tempo que a luz levaria para percorrer a mesma distância. A medição foi repetida 15 mil vezes, alcançando um nível de significância estatística que, nos círculos científicos, pode ser classificada como uma descoberta formal. /.../
Não vou penetrar por essa seara aqui (será outro livro), mas a própria religiosidade nacional, o desenvolvimento das religiões afrobrasileiras (que sincretizam e miscigenizam porções equivalentes de elementos étnicos de origem europeia, africana, ameríndia, oriental e brasiliana), ao lado de mostrar a nova convivência mundial possível, em termos micro e macro, no cultural e em todos os seus desdobramentos, mestiçagem étnica, biológica e semiológica, também estão produzindo seus desenvolvimentos práticos e teóricos de aprofundamento e conhecimento de novas áreas do ser, de novas instâncias místicas, que em muito se podem relacionar com a complexidade e a riqueza bilionária do nagualismo. Três autores fundamentais, em diferentes momentos, mostram esse maravilhoso desenvolvimento: Oliveira Magno (na década de 60), Yamunisiddha Arhapiagha (F. Rivas Neto, nos anos 80) e Rubens Saraceni (nos anos 2000).
Quanto à questão da adequação das várias visões míticas ou científicas (colocadas assim em pé de igualdade de valor, não de prática), os mestres hetakas de Kay Cordell Whitaker, Chea e Domano, falam coisas preciosas:
À medida que os padrões vibratórios tecem nosso mundo, variam em proporções e localização, alterando as qualidades do meio am¬biente, civilizações e estados de consciência. Estes foram personifi¬cados por cada cultura, freqüentemente, ao ponto de deificação. Construímos grandes complexos de pensamentos-formas a partir deles, esperando compreendê-los e obter sua ajuda. Estas estruturas poderosas são acessadas via símbolo e pensamento, liberando co¬nhecimentos e energia há muito armazenados e, conduzindo, ocasio¬nalmente, ao contato com o próprio ser. Cada uma destas formas de pensamento culturalizadas, ou mitos, propicia informações sobre a natureza destas entidades, nosso mundo e nossos potenciais próprios. Os detalhes superficiais mudam de um lugar para outro, não porque um mito seja mais verdadeiro que outro, mas porque as pessoas e os lugares são distintos, com histórias, influências e necessidades dife-rentes. Todos seus sistemas de referência, seus símbolos, são perfei¬tamente válidos em si, mas perdem suas congruências, sua similari¬dade, que os capacitam de atraírem e unirem magneticamente, quando vistos da perspectiva dos símbolos de outra pessoa.
Os hetakas disseram que as influências em nossas vidas são tão complexas, que é impossível traçá-las e identificar todas. Há vários universos diferentes, assim como infinitas variedades de forças e seres entre eles. Somos apenas um destes mundos. Do ponto de vista do nosso mundo, podemos perceber, de tempos em tempos, outros universos e forças passando perto e através de nós, trocando canções e pedaços de momentos.
Durante o verão, Domano só me contou histórias que descreviam a natureza de cada uma das cinco forças rítmicas básicas, relacionan¬do cada qual a uma direção: oeste, norte, leste, sul e acima. Adireção abaixo pertence à Mãe Terra, a qual é formada, como nós, das cinco canções primárias. Chea e Domano se recusavam a entrar em maio¬res discussões sobre as histórias ou qualquer outra coisa. Tentei, repetidas vezes, fazer com que respondessem minhas perguntas, mas adiavam e depois mudavam de assunto.
A grande pensadora mística Helena Petrovna Blavatsky, em sua A Doutrina Secreta - Síntese de Ciência, Filosofia e Religião, no Volume 1 Cosmogênese, nos dá uma leitura totalmente diferente, e muito mais fidedigna, e alquímica:
As expressões “Filhos do Fogo”, “Filhos da Névoa de Fogo” e outras análogas exigem um esclarecimento. Elas se relacionam com um grande mistério primitivo e universal, que não é fácil explicar. /.../
Os termos “fogo”, “chama”, “dia”, “lua crescente (quinzena iluminada ou feliz)”, etc.; e “fumo”, “noite” e outros, que conduzem tão somente à senda Lunar, são ininteligíveis sem o conhecimento do Esoterismo. /.../
Um evento miraculoso, aliás, dois, aconteceram nos dois polos civilizacionais da América pré-colombiana, depois da chegada dos europeus, são duas imagens da Virgem Maria que foram recebidas: uma, Nossa Senhora de Guadalupe, que apareceu no poncho de naguey de um nahua (no México) , e uma, Nossa Senhora de Copacabana, esculpida pelo inca Francisco Tito Yupanqui (no Peru) .
No caso de Nossa Senhora de Guadalupe, pela interpretação hieroglífica e logoglífica de todos os detalhes da aparição, as cores, os astros, os nomes, tudo, vemos que ela foi a grande responsável pela conversão dos renitentes astecas que restaram depois da conquista, há muitos milagres documentados associados a ela, a proposta da unidade Americana na imagem impressa no poncho, e uma referência especial e carinhosa ao Brasil.
Vários cientistas renomados estudaram a imagem nos dias de hoje, com os mais modernos recursos tecnológicos, comprovando que ela não tem corantes, apresenta temperatura e pulsação e, nos olhos da Virgem, vemos a cena do índio e do bispo etc, e, nos olhos dos participantes da cena dentro dos olhos da virgem, vemos a cena replicada do ponto de vista daquele personagem.
Foi o Dr. Lavoignet em julho de 1956, após oito meses consecutivos de trabalhos, quem descobriu na tilma, nos olhos da Virgem de Guadalupe, o fenômeno ótico da “tripla imagem de Purkinje-Samson”. A “tripla imagem de Purkinje-Samson” leva o nome de seus descobridores, o polonês Purkinje e o francês Samson que, separadamente, constataram que no olho humano formam-se três reflexos que estão vendo: um reflexo na superfície da córnea; outro, em um plano mais profundo, na superfície anterior do cristalino; e o terceiro que se apresenta invertido, na superfície posterior do cristalino. Com uma lupa, ele viu nos dois olhos da Imagem de Guadalupe a figura do “homem com a mão na barba”. E com oftalmoscópio, jogando luz sobre o olho direito, viu os três reflexos correspondentes à lei ótica da “tripla imagem”.
Numa tela plana e grosseira como a tilma, seria impossível produzir esses reflexos, garantiam os médicos e os pintores. E como é que um pintor do século XVI reproduziria a “tripla imagem”, descoberta apenas no final do século XIX?
Vários simpatizantes ou praticantes da neotoltequidade se aproximam da imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, pois o milagre que ela traz é parte do mistério americano.




























12 - A Espreita
A única liberdade que os guerreiros têm é a de se comportar impecavelmente. A impecabilidade não é apenas liberdade; é a única maneira de endireitar a forma humana.
Todo hábito precisa de todas as suas partes para funcionar. Se algumas partes faltam, o hábito é desmontado.
Carlos Castaneda

Em 1975, aconteceu o Primeiro Congresso Mundial de Bruxaria, em Bogotá, capital da Colômbia.
Para lá foram muitos bruxos, feiticeiros, astrólogos, cartomantes, terapeutas, visionários, paranormais, parapsicólogos e estudiosos importantes de várias nacionalidades.
A revista Planeta cobriu o evento, sob a liderança do grande escritor brasileiro Ignácio de Loyola (Brandão), que lá esteve com os jornalistas Luís Pellegrini e Maria Beatriz.
Ignácio de Loyola Brandão, que era também editor da revista, escreveu uma entusiasmada apresentação, com o título de “Primeiro Congresso de Bruxaria de Bogotá: O casamento da ciência moderna com a mística e a ciência antiga”.
Entre outros estudiosos de renome, falou Price-Williams, Doutor em Filosofia pela Universidade de Londres, membro da American Psycholigical Association; da British Psychological Society; da International Association of Cross-Cutural Psychologistis; da Sigma X; da American Anthropological Association; da Western Psychologiacl Association, e que lecionou em universidades inglesas, dinamarquesas, italianas e americanas, fixando-se, desde 1971, na Universidade da Califórnia em Los Angeles.
O nome de sua comunicação era “As mentes dos homens podem ser sintonizadas entre si: a ciência e o ‘bruxo’ Castaneda estão conseguindo”, e tratou de uma experiência realizada por ele com Carlos Castaneda, a pedido deste, naquele mesmo ano. No experimento, Carlos utilizou os aliados para criar uma comunicação das consciências de várias pessoas, na mesma noite, através de sonhos profundamente marcantes e relacionados. Houve três séries de sonhos; não sabemos como o experimento se desdobrou, depois desse evento (Revista Planeta. N° 37-A, Outubro de 1975, Especial “O Congresso de Bruxaria de Bogotá”. São Paulo: Editora Três, pp. 22-33: “As mentes dos homens podem ser sintonizadas entre si: a ciência e o ‘bruxo’ Castaneda estão conseguindo” ).
Esta experiência é fundamental, e, por mais que isso possa surpreender o leitor, eu penso que ela é, antes de tudo, um trabalho de espreita.
Já contei que há vários sites que investigam o legado de Carlos Casteaneda. Um dos muito interessantes é o sítio http://www.prismagems.com/castaneda/ que traz a “compilação” de dez livros, de Os Ensinamentos de Don Juan a O Lado Ativo do Infinito, na qual Rick Mace penera nas obras de Carlos o que se supõe que seja a pura fala de Don Juan, tendo assim produzido um “manual” tolteca, só com as instruções (Rick Mace também faz e mostra no seu site vasos, objetos de arte de porcelana e jóias).
Diz Mace:
/.../ Este livro é uma compilação da maior parte das ideias, procedimentos, métodos, sistemas, processos, conceitos, princípios e descobertas; dos ensinamentos de don Juan.
Eu mudei, se necessário, o texto original, para que o ensino fosse dirigido como se de don Juan a qualquer novo aluno. Dito isto, no entanto, há uma série de lugares onde o ensino é dirigido como se você tivese sido um participante com don Juan. /.../ Apresentá-lo dessa forma, pareceu-me a maneira mais fácil de deixar as partes do ensinamento intacto. E de apresentar tudo como se fosse de Don Juan: um número de lugares, talvez uns 10% do total, sejam na verdade idéias de Carlos Castaneda, esclarecimentos ou acréscimos ao ensino. E, em pelo menos dois lugares, o ensino realmente veio de outros associados da don Juan.
Eu compilei este livro seguindo a palavra Carlos Castaneda de que seus livros são um relato verdadeiro de ensino de don Juan.
Acredito que a insistência firme do Dr. Castaneda de que seus livros são um relato verdadeiro de ensino don Juan e sua objetividade aguda para o ensino - em conjunto com a lógica do ensino em si - nos fornece um ingrediente essencial para colocar este ensinamento em prática . Esse ingrediente é o centro psicológico de - esperando que o ensino seja possível; de “ter que acreditar”, se você quiser. Acredito que esse é o centro psicológico - esperar que seja possível -, o que dá uma vontade de colocar o ensino em prática. Obviamente, só assim pode se tornar real.
Portanto, esta compilação pode ser melhor considerado como uma ferramenta de estudo para livros Dr. Castaneda.
Talvez nada possa capturar tão bem a magia e o mistério que são os ensinamentos de don Juan, do que encontrá-los na obra original. Por outro lado, há uma “concentração” aqui, que, para mim, ajuda a focalizar os ensinamentos.
Cabe a cada um de nós para trazer este ensinamento para a vida. E, admitindo que o ensino é, realmente verdade, então estamos no início de uma nova era no desenvolvimento humano, a idade abriu para nós pelo trabalho do Dr. Carlos Castaneda. Minha única intenção é promover a assimilação desse o trabalho, apresentando-o nesta forma concentrada. /.../
Sobre a espreita nada se pode falar.
Sobre todos os aspectos do conhecimento é quase sempre impossível dizer algo, e, no caso da espreita, essa força de silêncio se faz mais total, ainda.
Penso que Carlos prometeu que iria falar sobre espreita (via Generos, no livro que se seguiria ao Segundo Círculo do Poder), mas não o fez, porque a espreita tem que ser mesmo tratada nas frestas, nas fendas entre os mundos, tem que ser insinuada, e aprendida no reflexo.
/…/ Castaneda define sua atitude quando diz: “Não quero a fama ou a riqueza, mas sim expressar, da maneira mais simples, o que Don Juan me ensinou”.
Fala-nos de seu livro mais recenté, o sétimo, que já circula nos Estados Unidos, com um título que se poderia traducir por O fogo interno. Seu autor conta que a editora amerciana não gostou do título original, com o qual, muito provavelmente, aparecerá em español: Os guerreiros da liberdade total. “O que quero fazer é apresentar um esboço, uma espécie de introdução às três mestrias que constituem o conhecimento ancestral do indígena mexicano: a mestria da percepção, a do intento e a do que chamam de espreita.”
“Esta última mestria é a arte de viver no mundo cotidiano da melhor maneira possível. A mestria do intento e´a arte de intentar relacionar-nos com a força que nos sustenta, porque há algo que nos sustenta, que nos dá energía, e, claro, a mestria da percepção é a arte da consciência”.
O segundo livro, sobre a espreita, ele o fez aqui e ali, nas oficinas de tensegridade, nas entrevistas e no jornal. Principalmente, penso que o grande tratado sobre espreita de Carlos Castaneda está nos Encontros com o Nagual, de Armando Torres, Los Testigos del Nagual, Conversando com Carlos Castaneda, de Carmina Fort, e, principalmente, e por mais estranho que pareça (pois nem se sabe, nem ela sabe se sabe, se o encontrou) em Pelo Caminho do Guerreiro, de Ana Catan.
Em entrevista, Carlos apresenta de forma ligeiramente modificada os cinco atributos do guerreiro, que vai depois colocar em O Poder do Silêncio (O conhecimento silencioso). No livro, os atributos são: controle, paciência, disciplina, oportunidade e vontade (que provavelmente é a tradução brasileira para intento).
Cinco estratégias ou atributos fundamentais do ser guerreiro para erradicar a importancia pessoal: controle e disciplina, impecabilidade, refreamento (contenção), a habilidade para escolher o momento oportuno e o intento. Estes cinco elementos pertencem ao mundo privado do guerreiro. Os primeiro quatro elementos pertencem ao mundo do conhecido. O quinto elemento, o intento, se reserva para a última confrontação, porque pentence ao mundo do desconhecido. O sexto elemento é o pequeno tirano, e pertence ao mundo exterior do guerreiro.
O controle e a disciplina se logra quando as pessoas comuns dão o passo para se converter em aprendizes, isto supõe uma mudança de ideia a respeito de si mesmos e do mundo, é então quando se convertem em guerreiros. Este processo lhes faz capazes de máxima disciplina e controle sobre si mesmos. Exercer o controle é afinar o espírito quando alguém nos pisoteia.
A impecabilidade é o uso adequado da energia. Os guerreiros fazem inventarios estratégicos para enfrentar os seus inimigos, e fazem listas de suas atividades e de seus intereses. Depois disto decidem quais podem ser mudados, considerando um mínimo de consumo de energía e um máximo de rendimento. O inventário estratégico só visa padres de comportamento que não são essenciais para a nossa sobrevivencia, e, por conseguinte, é preciso eliminar.
O refreamento e a habilidade para escolher o momento oportuno, é esperar com paciencia, sim pressa e sem angustia, o momento oportuno para “cravar a espada” no pequeno tirano. Graças a estes atributos, os guerreiros se convertem em homens de conhecimento, e aprendem a ver, tornando-se videntes.
Há um sexto elemento externo, que serve de prova de fogo e fundição de todo o trabalho do guerreiro para conquistar a impecabilidade, o pequeno tirano.
Todos os temas de Carlos Castaneda se fundem, na verdade são aspectos do mesmo aprendizado, o modo de ser de um guerreiro, que produz o homem de conhecimento.
/…/ “Don Juan me dizia: ‘O que buscas está em ti mesmo. Luta para que as tuas ações sejam finais, e o teu brilho próprio. Compromete-te internamente, antes que seja demasiado tarde!’ /…/ ‘Como não se desepera por se relacionar com ninguém, o guerreiro pode eleger os seus afetos com sobriedade e desprendimento, cuidando a todo momento que as pessoas com as quais aceita se relacionar sejam compatíveis com sua energía. O segredo para ter tal claridade de visão consiste em se identificar sem se identificar. O bruxo se identifica com o abstrato, não com o mundo. Isso lhe permite ser independente e se cuidar sozinho’/…/
Amy Wallace, filha do famoso escritor Irving Wallace, viveu vários anos muito próxima de Carlos e das “brujas”, as feiticeiras (especialmente Taisha, Florinda, Carol e a Batedora Azul). No seu livro nos conta que teve, desde os trinta e tantos anos de idade, um envolvimento afetivo e sexual com Carlos, e, ao mesmo tempo, era colocada mais ou menos próxima do círculo fechado de guerreiras em volta dele, como uma hierarquia de uma seita. Conhecia Carlos desde a infância, pois seu pai tinha sido grande amigo do nagual, sem, no entanto, dar importância aos aspectos mágicos de sua obra. A amizade do patriarca e de toda a família Wallace era com o homem Carlos, só Amy se embrenhou por questões mais íntimas e pela feitiçaria.
Amy Wallace nos conta que:
Talvez seu maior charme como escritor fosse fazer com que seus leitores sentissem que teriam sido melhores aprendizes de feiticeiro. William S. Burroughs, ícone Beat e autor do romance inovador Almoço Nu, comentou o jornalista Adam Block, “Por que don Juan não me escolheu, em vez de aquele idiota do Carlos?”
Outra lenda literária que estava lendo Castaneda era Hunter Thompson. Nas suas cartas reunidas, Fear and Loathin in America, ele escreveu a Oscar Acosta /.../: “...gastando a maior parte do dia na banheira, lendo aquele hediondo livro de don Juan - A Yaqui Way of Knowledge (A Erva do Diabo). Muito estranho; aquele velho realmente fodeu o garoto, né? Mas talvez ele tivesse alguma coisa a ver com os Quarto Inimigos. Você deveria pensar nisso... Quando tudo acabar, você vai estar sentado lá em jejum, esperando pelas câmeras de TV... um caminho yaqui de besteira”.
Pro melhor e pro pior, “don Juan” se tornou uma palavra familar para uma geração. Castaneda transformou um nome tornado famoso por Freud (por meio do obsecado sexualmente Lord Byron) para descrever o flerte patológico: agora ele significava a qualidade do guru, e não promiscuidade. Quando John Lennon disse de sua esposa, “Yoko é o meu don Juan”, não foi preciso explicar..
Seu livro é muito bem escrito, ela é inteligente e corajosa de se expor assim, e é claro que escreve bem. Documentou com fotos a verdade de seu envolvimento com Carlos e suas guerreiras, e dá valor para muito da obra e do ensinamento dele, considerando inclusive que seus quatro primeiros livros são realmente fundamentais e devem sempre servir de guia à nossa evolução, mas que os que vieram depois, assim como a Tensegridade e os grupos em volta dele, foram uma forma de ele “perder a mão”, cair na fascinação do poder, da egolatria e da mistificação.
Opinião parecida tem Paulo Coelho (que, infelizmente, chama nosso autor de Castañeda, com til, mostrando sua pouca familiaridade com o tema):
Eu havia me proposto a publicar aqui neste espaço, uma vez por ano, textos de Carlos Castañeda, um antropólogo que marcou minha geração através dos relatos de seus encontros com feiticeiros mexicanos. Por falta de espaço, não faço isso desde 2004. Hoje acordei pensando: Castañeda, apesar de todos os seus críticos e de todo o seu trabalho que mais tarde me pareceu muito desordenado, não deve ser esquecido. Portanto, aqui vão, editadas, algumas de suas reflexões.
Paulo Coelho tem algo de muito agradável, principalmente nas letras que fez para Raul Seixas, uma sensação de liberdade, de desobediência, de prazer em ser como se é. Desenvolve esse tom e esse estilo em seus livros, no que há de melhor neles.
Por outro lado, nele o escritor pós-moderno mostra com mais força aquilo que podem ser talvez os seus defeitos: o abuso do pastiche, a equalização indiscriminada de fontes e referências, a falta de padrões culturais diferenciados, a superficialidade da abordagem das problemáticas. Tudo se resolve, tudo se explica, tudo acontece como “num passe de mágica”. Nunca foi humilde, e tudo bem, mas era mais contido. No meio da história botou as manguinhas de fora, dizendo coisas do tipo “a literatura não se fará com Ulisses, de Joyce”. Far-se-á com o quê, com seus pastiches pós-modernos?
Por outro lado, o próprio trabalho literário de Paulo Coelho foi mudando ao longo do tempo, desde quando publicou O Diário de um Mago, em 1987, o que de certa forma o aproximava muito de Castaneda, um aprendiz e um mestre, andar e conversar sobre o aprendizado, experiências em segunda atenção (que ele não chama assim). Os mais recentes romances são mais “maduros”, e de certa forma sempre trazendo um aprendizado, mas muito mais mundanos, e bem menos “mágicos”; e um exemplo é o ótimo romance, publicado vinte e um anos depois, O Vencedor Está Só.
Talvez como ele mesmo esperasse de Carlos, talvez como o próprio Carlos esperasse de Carlos, mas Carlos nunca pôde fazer o que quis, ele sempre foi dominado pelo aprendizado, e pelo desígnio do espírito de que deveria cumprir de maneira sensacional o seu destino de nagual de três pontas, e “colocar a farofa no ventilador”, detonando o próprio grupo, e permitindo que um n° “n” de grupos se formassem ao sabor de suas revelações!
Amy Wallace conta que Carlos estava escrevendo, na verdade, ditando, um romance sobre a sua terrível experiência como agente da CIA na Espanha, segundo o que ele mesmo alegava. Mas, até hoje, estes originais não apareceram.
No romance de Paulo, algumas observações interessantes: ganhou fôlego de romance, depois de vários a que atribui esse gênero, sendo na verdade novelas. Mas, não se livrou do pastiche, além dos romances noir e filmes de ação, confessa que as informações sobre altas esferas do mundo da moda, da mídia e dos negócios lhe vieram de muitos informantes, dos quais nomeia alguns, outros não, a pedidos (p. 397).
Na contracapa, os fotógrafos sensacionalistas estão fazendo flashes do próprio autor, sorrindo, de braços abertos, o que é um lance de grande auto-humor e mostra a identidade pop de Paulo Coelho. A “Lista da normalidade” é outro achado bem humorado, e que dá a continuidade do autor e letrista questionador do sistema e do status quo (pp. 64, 65, 66 e 67, 46 itens). A ação se passa em 24 horas em Cannes, no Festival de Cinema, e sabemos desde o início quem é o criminoso, o anti-herói. A 9:11pm, o narrador atribui a ele a “loucura controlada”, sem, no entanto, relacionar o conceito, como sendo de Carlos Castaneda: “Sempre fez isso na vida; venceu porque exerceu sua loucura controlada no momento de tomar decisões. /.../” (p. 339). Na página seguinte, usa a expressão “agiu de maneira impecável”, de novo, sem atribuí-la a Carlos Castaneda, e sim a Igor, seu vilão! Nos dois casos, ele desvirtua a força dos conceitos; o que também pode ser um pastiche. Para ser justo, Paulo, nesta mesma obra, em outros momentos, ridiculariza vários slogans místicos, fazendo deles pastiches também, e até mesmo as ideias de seus livros prévios, aparecem citadas de forma tola e ridícula assim!
No campo do “esoterismo”, seus próprios fãs, de Paulo Coelho, o mercado vertiginoso e a tola mídia fazem-no supor ir muito além de Carlos, cuja obra traz uma complexidade com a qual a sua não se pode nem comparar. Com bonomia, aceita como importantes os quatro primeiros livros. Ignora, como tantos críticos, o quanto o desenvolvimento da obra de Castaneda aprofunda e as questões que no seu começo se iniciam.
Aquela sensação de estar no deserto com Don Juan, e passar por experiências transformadoras, e ver o mundo como nunca se viu antes, e sentir que tudo mudou, e que você se libertou um pouco do seu ego cretino; isso é um ganho maravilhoso de seu início, que se preserva, de certa forma, o tempo todo. Mas, depois, Carlos vai muito mais além!
Luiz Carlos Maciel também professa a mesma opinião (que ele expressa na entrevista que com ele realizei, e que está publicada em Tecnogaia 2, e que reproduzo aqui, no Anexo B), como muitos outros, que se irritam com o aprofundamento das revelações, enquanto tudo era muito agradável nos primeiros livros, que traziam mistérios e o charme da ética nagual, ainda não explicitando sua ontologia (e toda a sua mestria da consciência, que Solórzano chama de perceptica) e os desdobramentos da espreita, do intento e do ensonhar.
O livro de Amy pode ser lido de várias formas. Como um thrilling, como livro de fofoca, falsa como todas as fofocas, tola, superficial (como outros aspectos da autora, sua preocupação insistente com roupa, cabelo, jóias e comportamentos sociais, no meio da oportunidade que ela teve). Ainda pode ser lido como a leitura dela do aprendizado, o que ela conseguiu ver e relatar, e interessa por isso.
O aspecto mais interessante do seu livro, penso que ela mesma aponta, quando diz que qualquer estudo sério do pensamento de Carlos Castaneda não pode deixar de levar em conta a questão sexual, que, segundo ela, era tão importante para ele, a prática como parte do aprendizado, e sobre a qual ele mesmo não fala nos seus livros, ou só tangencia (em O Poder do Silêncio Don Juan conta de dois grandes feiticeiros fazendo amor no armário, quando são lançados pelo nagual na segunda atenção; em O Segundo Círculo do Poder, Carlos tem relações sexuais completas ou incompletas com Dona Soledad e Helena la Gorda, e talvez com Rosa e Lidia também, isso é insinuado; em A Arte do Sonhar, Carol a mulher nagual tem um orgasmo induzido por manipulação pelo Inquilino sob a forma de uma mulher, e ela mesma seduz Carlos e passam dez dias em um quarto de hotel, onde sexo implícito e viagem à segunda atenção se misturam).
Isso faz do livro de Amy mais um dos livros secretos da espreita, assim como o são o de Carmina Fort (Conversando com Carlos Castaneda, não fala de sexo, mas é sobre a espreita porque ela nada sabe, e conta como ela vê Carlos e Florinda, como os percebe “de fora”) e o de Ana Catan (Pelo Caminho do Guerreiro).
Ana fica o tempo todo na dúvida se Cesar, seu amante latino de comportamento estranho, é realmente Carlos Castaneda (que, no entanto, telefona para ela, no dia em que Cesar havia prometido que o faria - e, hoje sabemos, Carlos odiava telefones ). Maciel falou “duvi-de-o-dó” quando lhe perguntei em entrevista se Ana Catan tinha realmente conhecido Castaneda (ele conheceu Ana, cujo nome é outro, e fez o prefácio entusiasmado e pretensamente crédulo de seu livro).
Numa certa época eu consegui me comunicar com ela por e-mail, e lhe perguntei se Carlos havia realmente morrido, pois em seu livro, num momento anterior, ela escreve como se isso já tivesse acontecido. Ela me respondeu que Cesar (usou esse nome) estava num estágio para além da vida e morte, e que ele continuava seu trabalho, há muito tempo.
Lendo as descrições da forma pouco convencional de Carlos fazer a corte ou o amor, seu modo de falar, e as imbricações que fazia o tempo todo entre relação amorosa e aprendizado, em Amy Wallace, podemos reconhecer as mesmíssimas características no livro de Ana Catan (que foi publicado em 1993, 10 anos antes do de Amy). Veja bem: Amy não leu Ana, cujo livro não teve repercussão, está em português e só vendeu no Brasil, logo, não a imitou; Ana não leu Amy, porque publicou dez anos antes. E o personagem é absolutamente igual, nos dois casos. Essa seria uma prova pra Ana de que seu Cesar era realmente Carlos, o qual aliás, estava mesmo viajando por São Paulo, no Brasil, nas vezes em que Ana encontrou o amado que lhe disse que iria lhe ensinar “a ser impecável, meu amor”.
Outra semelhança inquietante, nos dois casos: tanto Carlos quanto Cesar confessam a suas parceiras que foram ou são assassinos profissionais, agentes da CIA, talvez. No caso de Carlos, ele declara que desempenhou essa atividade antes de estudar Antropologia, e que usava o garrote, na Espanha; um dia teria confessado tudo a Don Juan, explicando que era por isso que ele era tão “pesado”, que Don Juan tinha que mover mundos e fundos para fazê-lo se mexer só um pouquinho. Don Juan teria desfeito de suas angústias, dizendo que todos os homens são macacos, antes de serem guerreiros e homens de conhecimento. Como já mencionei, Amy ainda conta que, muito doente, Carlos ditou um livro sobre a experiência para uma aprendiz, e que Carol teria dito que “o livro seria destruído”, e, depois, “que era genial”. Mas o livro ainda não foi encontrado, juntamente com The Crack Between Worlds, A Fresta Entre os Mundos, duas obras de Carlos que permaneceram inéditas.
Ainda: Ana e Amy contrabalançam suas aflições com vários poemas, que elas colocam, de maneira parecida, no início dos capítulos.
O relato de Ana é intrigante desde o início, e, em muitas coisas, seu misterioso Cesar (de 1,70 e olhos azuis; enquanto o Carlos de Amy tem 1,57, em medidas inglesas, 5 feet and two inches, e olhos castanhos, já Margaret, que foi casada com ele, fala em 1,65; mas há um momento em que Cesar aparece 20 centímetros mais baixo para Ana, há maneiras de mudar sua estatura ou parecer fazê-lo, com roupa e sapatos adequados; e pros olhos azuis, bem, você sabe, existem lentes de contato coloridas; não descartemos a hipótese da mudança real de fenótipo pelo movimento do ponto de aglutinação, coisa em que o nagual Julian era useiro, segundo Don Juan e Don Carlos) apresenta características comportamentais de um guerreiro espreitador (e indícios do Carlos) o tempo todo (repare-se que ela se sente envolta numa “teia de aranha”, ele declara zombeteiramente que é do Peru, ou de qualquer lugar):
/.../ Tive a sensação de estar sendo embrulhada numa teia de aranha e o riso morreu antes de nascer. Foi ele que quebrou o silêncio:
- Você mora em São Paulo?
- Moro, e você?
- Eu sou peruano. /.../
- Não vi nenhum avião chegando do Peru agora.
- Eu estou vindo de La Paz... de Assunção.
- De La Paz ou de Assunção?
A minha pergunta deve tê-lo divertido muito, pois ele se sacudiu todo, de tanto rir, mas não se explicou. Tentei perguntar novamente. Imediatamente o riso se interrompeu. Os olhos se tornaram duros. E, sem dizer uma única palavra, o homem deixou claro que aquele era um assunto proibido. /.../
Amy revela que Carlos falava elogiosamente de Carol e de um livro que ela iria editar: Tales of Energy, mas Carol lhe teria dito que não havia livro algum (é daí que me inspirou o título da inconclusão).
Há a visão de que: tudo é real, ele nos traz o conhecimento tolteca que transmuta o modo de viver e amplifica as possibilidades e as alternativas humanas; ou, tudo é uma mistificação para se fazer como escritor e figura pública, com a cumplicidade de seus associados; ou: ele seria realmente um nagual, mas teria sido aliciado por seres inorgânicos, que domiram as mulheres de seu segundo grupo de poder (Florinda, Taisha e Carol) e o tornaram um de seus “relações públicas”. Há quem especule que as suas três associadas mais importantes teriam cometido suicídio depois da morte ou mudança de atenção dele; mas não há prova nenhuma de tal suposição. Na internet encontramos a informação sobre os ossos, identificados em 2006, por testes de DNA, como sendo de uma moça chamada Patricia Partin ou Nury Alexander (todos os guerreiros e guerreiras tinham vários nomes), que era a Batedora Azul, encontrados no Death Valey National Park, em 2003. Ela teria ido sozinha com seu carro, para morrer no deserto, logo depois da morte de seu pai adotivo, Carlos Castaneda, segundo a interpretação da polícia. De novo, as evidências não podem nos revelar tudo que realmente aconteceu, por que ela foi ali, o que se passou, e se ela conseguiu entrar em outra atenção, mesmo deixando restos.
No relato de Amy, eu vejo quatro possibilidades:
1 - Amy poderia ter mentido, ou fantasiado, ou exagerado? Isso seria uma forma de revanche, de sentimentos magoados. Pessoalmente, acho difícil que ela tenha inventado tudo, alguma coisa aconteceu, mas ela pode ter distorcido, mesmo sem querer.
2 - Tudo aconteceu, mas de maneira diferente, pois Amy não entendia o que eram ensinamentos e práticas de feitiçaria genuínas. Lembremos que em Sonhos Lúcidos as bruxas do grupo de Don Juan inventam um monte de obscenidades e descrições cruas e maldosas, apenas como metáforas para fazer o jovem Florinda entender o aprendizado e o quanto o seu ego a dominava. Algo parecido, mas em proporções muito maiores, pode ter acontecido a Amy.
3 - Carlos pode ter sido mesmo um Don Juan, no sentido de conquistador insaciável, que teria se aproveitado o tempo todo de seus dons para galantear as mulheres. Note-se que nisso ele não seria diferente de milhares ou milhões de outros escritores, políticos, músicos, artistas etc.
4 - Carlos pode ter meio que “enlouquecido” nos anos 90s, ou sido dominado por seres inorgânicos, ou cedido finalmente ao ego. Não há como saber. Mas, o importante é que, tenha ele sempre sido um conquistador, ou tenha se tornado assim no final, isso nada diz sobre a sua obra e sobre a excelência do aprendizado que ele propôs.
Um guerreiro se guia por ter que acreditar, e não acredito numa possibilidade tão estapafúrdia, diante da grandeza de tudo que ele fez.
O assunto está em se fazerem as perguntas apropriadas. Por que se conforma um grupo de guerreiros? Qual é a sua função e como se desenvolve? Por que don Juan a conformou tal como o fez, incorporando elementos não indígenas?
Que sentido tem a confirguração energética de Carlos? Por que, a cada grupo, e a cada entidade dentro do grupo, se dá um ensinamento particular, uma informção, uma tarefa? Aonde leva tudo isso?
Eu posso falar do meu espaço, posso contar sobre as peças do quebra-cabeças que me foram entregues. Custou-me dez anos de trabalho árduo para as indentificar e armar, porém só assim eu pude entender muitas coisas.
- É casual o fenômeno de Carlos Castaneda, ou foi um comando da energia?
Este é o tempo do ser humano, se acabaram os gurus, os guias. É o tempo da espécie despertar.
Um Nagual de Três Pontas é um ser cíclico, e aparece com uma corte de cíclicos. A energia o dispôs assim, é um comando.
O tempo todo Carlos declarou que não era um mestre, que não poderia ter discípulos, que ele não ia continuar a linha, que era um nagual de três pontas, cuja atribuição é comunizar o conhecimento, que não podia nem que quisesse agir como um nagual de quatro pontas, e guardar o segredo e criar um novo grupo de guerreiros. Os dois que ficaram no lixo da casa de Carlos e o filmaram, para provar que ele não praticava o que pregava, estavam agindo da forma mais tola, pois não importa em nada o que ele pratica.
Pela época dessa chamada, acabava de sair o seu novo livro, A Arte do Sonhar. A partir daí, tenho a sensação de que uma parte dele se foi; seu corpo ficou neste mundo, mas já não era o mesmo Nagual; estava ocupado, talvez, pelo Desafiante da Morte ou por alguma outra energia. Pose ser que alterara a sua configuração energética.
A nova etapa s econsolidou quando Castaneda começou a dar seminários de Tensegridade; muitos seminários em pouco tempo. Neles, se negava a falar do que havia escrito em seus livros, e afirmava:
- Aquilo é velho, aqui tenho o novo.
Não precisamos do apoio de saber que ele foi impecável ou fez o que nos ensinou.
Tudo que precisamos é conhecer a possibilidade, e agarrar por nós mesmos “o nosso centímetro cúbico de sorte”, como ele falou e escreveu - isso, todos a seu modo, e de forma diferente, cada um de nós.
“Levando em consideração que não há verdades nem mentiras no fluxo da energia, um guerreiro escolhe acreditar por predileção, pela emoção da aventura, e assim ele aprende a enfocar o mundo a partir de um outro ponto de vista - o enfoque do silêncio. É então quando o imenso tesouro do ensinamento se revela”.
A questão da sexualidade é bastante complicada, na obra de Carlos Castaneda.
Uma informação fundamental é que o ensonhar é feito com a mesma energia que se emprega no ato sexual. Então, a principio, fazer o aprendizado implica em economizar essa energia, pois o ensonho é praticamente a única porta segura aberta à segunda atenção.
Ele diz também, em A Arte de Sonhar, que a energia da feitiçaria vem toda do mundo dos seres inorgânicos. Ora, o que mais faz esse energia é o deslocamento do ponto de encaixe. E, ao ensonhar, as pessoas têm necessariamente que lidar com o mundo dos seres inorgânicos.
Então, há um estranho link aí entre a energia sexual, a energia do ensonho e a energia da feitiçaria (que vem do mundo inorgánico). Por um lado, sabemos que o sexo é uma invenção vegetal, o estame (órgão masculino, constituídos de antera, conectivo e filete) e o pistilo (ou gineceu, órgão feminino, constituídos de estigma, estilete e ovário) são os responsáveis pela reprodução das plantas angiospermas ou fanerógamas, isto é, que produzem flores.
Assim como o voo do ser vivo no seu corpo físico foi inventado pelos dinossauros (que intentaram um modo de voar, com asas, que as suas herdeiras biológicas as aves usam até hoje, e que, segundo Don Juan e Carlos, foi imitado pelo homem quando construiu suas máquinas de aviação), a reprodução pelo sexo genital foi intentada pelas plantas angiospermas, e imitadas pelos animais, inclusive o ser humano.
O sexo é algo orgânico, mas, por ser intentado, por ser mais um artifício da vida, ou pela estranha simbiose do inorgânico e do orgânico em nosso planeta, utiliza-se da energia inorgânica, a mesma que produz os sonhos comuns e os ensonhos dos sonhadores.
A senha ficou sendo economizar energia (impecabilidade) em todas as situações, e, também, é claro, economizar avaramente a energia sexual, pois ela é a passagem de ingresso no mundo do ensonho.
Além do fato da energia sexual ser a própria vida, e precisar ser regulada com impecabilidade, o uso do sexo tem uma outra consequência mágica no nagualismo. É na relação sexual que mais as fibras de consciência se entrelaçam, isso acontece em todas as interações, mas de uma maneira muito mais forte no sexo. A recapitulação tem o caráter também de expulsar as fibras de outrem (expiração) e puxar de volta as nossas fibras (inspiração). É um processo sanador, porque essa “confusão” de fibras, segundo Carlos, mais do que a inadequação do desenvolvimento psicossocial, é que leva a estados que podem ser chamados de neuróticos e paranóicos.
Segundo Florinda em Sonhos lúcidos, tal emaranhado de energia estranha é mais deletério na mulher, servindo como verdadeiros “vermes” de luz, sugadores de sua energia verdadeira, por uma conformação de a mulher ser biologicamente desenvolvida para ser a mãe e “prender” o marido. Segundo as mestras de Florinda, é com sua própria atenção que e ela o prende, mesmo quando não é seu marido, pagando com isso o preço de um verdadeiro “vampirismo energético” acontecendo por causa das fibras do masculino que guardou em si.
Veja bem, no campo mágico, há parasitismo inorgánico (dos voadores, que se alimentam de emoções negativas e/ou fortes e as induzem) e parasitismo orgánico, através dos filamentos de luz que o homem deixa na mulher durante o intercurso.
Conta que energia sexual é passada dos pais aos filhos, pela reprodução, e a maior parte das pessoas é fruto daquilo que chamam de cogida ou coja aburrida, em espanhol, isto é, o coito aborrecido. Então, há uma primeira divisão: os que são filhos de uma relação sexual chata e monótona (a grande maioria) têm pouca reserva de energia sexual, e devem a todo custo economizá-la, para poder intentar o aprendizado. E os que são filhos de uma relação entusiasmada e prazeirosa, que teriam, a princípio, energia sexual extra, para dissipar.
A esta dicotomia junta-se outra: sonhadores precisam economizar toda sua energia sexual, espreitadores, “o contrário disso”. O que significa? Que eles precisam usá-la assim prosaicamente? Ou que não têm restrições quanto a isso? Que qualquer forma, espreitadores seriam menos regulados.
Mas o homem de conhecimento mais genuíno é o impecável, totalmente, que, inclusive, não disperdiça a sua energia sexual - ou, se fizer sexo, o fará impecavelmente.
Um homem que publica e dá oficinas, no século XXI, e que provavelmente é americano, mas do qual não se veem fotos nem se sabe muita coisa (mas que tem até perfil no Facebook), Nagual Lujan Matus, publicou já três livros sobre o aprendizado: The Art of Stalking Parallel Perception; the Living Tapestry of Lujan Matus, Awakening the Third Eye; Discovering the True Essencial of Recapitulation e Unveiling the Bible: A Warrior’s Revelation. Os títulos se traduzem como: A Arte de Espreitar a Percepção Paralela; a Tapeçaria Viva de Lujan Matus, Despertando a Terceira Visão (ou terceiro olho); Descobrindo a Verdadeira Essência da Recapitulação e Desvendando a Bíblia: Uma Revelação de Guerreiro.
Lujan Matus funde de forma interessante a mestria da consciência (deslocar o ponto de encaixe e sintonizar novas faixas de percepção, que ele considera que captamos o tempo todo de forma subconsciente e chama de “percepções paralelas”), o intento, a recapitulação e a espreita - pois ele ensina a espreitar as posições paralelas, as percepções de outros mundos integrais, e a recapitular para “ver” (despertar a terceira visão).
Considera, e o declara no seu site, que Carlos Castaneda inventou sua obra como ficção, com valor esotérico; e que talvez só o livro inicial tenha sido realmente produzido em contato com um verdadeiro xamã.
Isso é muito engraçado, pois seu site, seus livros e seus “workshops” trabalham exatamente os mesmos conceitos dos livros de Carlos, trazendo uma nova luz, muito profícua.
Até mesmo os dois nanahualtin que ele declara que lhe ensinam, Don Juan Matus e o Nagual Lujan, da linha de Don Juan, do século XIX, estão na obra de Carlos, este, em O Poder do Silêncio!
Carlos escreveu, no Prefácio que fez ao livro de Taisha Abelar:
No mundo de Dom Juan, os feiticeiros, despendendo de seu temperamento básico, dividiam-se em duas facções complementares: sonhadores e rastejadores. Os sonhadores são os feiticeiros que possuem a capacidade inata de entrar em estados de consciência expandida controlando seus sonhos. Esta aptidão é transformada, com o treinamento, em uma arte: a arte do sonho. Os rastejadores, por outro lado, são os feiticeiros que possuem a capacidade inata de lidar com os fatos e adentrar em estados de consciência expandida manipulando e controlando seu próprio comportamento. Com o treinamento da feitiçaria, esta aptidão natural se transforma na arte de rastejar.
Embora todos no grupo de feiticeiros de Dom Juan possuíssem o conhecimento completo de ambas as artes, eles eram distribuídos em uma das facções. E Taisha Abelar foi colocada no grupo dos rastejadores e treinada por eles. Seu libro traz a marca de seu formidável treinamento como rastejadora.
Carlos é, como retratado nos livros de Florinda Donner, Taisha Abelar, Ana Catan, Amy Wallace, Carmina Fort, Armando Torres, e tantos outros, um grande espreitador; fascinante, um verdadeiro heroi, um mito vivo; como Don Juan dizia, os praticantes do nagualismo encarnam um mito vivo, principalmente os nanahualtin.
Voltando ao Cesar de Ana Catan, ele é muito consistente, por um lado, tudo que faz tem sentido, em várias leituras, e lembra coisas que já lemos sobre ele e Don Juan, por exemplo, ler os pensamentos de Ana, e respondê-los, sem que ela os fale, o tempo todo, dizer que tem medo de água e de tomar banho, entrar de um modo estranho no assento do carona do carro, como se o teto fosse muito baixo, e ele estivesse rastejando, embaralhar dados pessoais como lugar onde nasceu e onde mora, idade etc.
Uma explicação sobre essa maneira esquisita de entrar no veículo. Carlos não conta que ele próprio fazia assim, mas fala que era o hábito de Don Juan, quando andava no carro de Carlos. Isso se deve ao fato de que Don Juan considerava o carro uma caverna, mesmo que seja uma caverna artificial, feita pelo homem. E um guerreiro, segundo ele, tem que entrar numa caverna rastejando. Era isso que ele fazia, e Carlos também: eles rastejavam para o interior do automóvel.
Por outro lado, esse Cesar/Carlos do livro de Ana é sempre surpreendente e aterrador, traz consigo uma sensação de “tudo ou nada”, que é a própria porta para o aprendizado, o acesso à segunda atenção, a fresta entre os mundos: a impecabilidade, que, como sempre as palavras mudam nas suas falas (espreitar, rastrear, rastejar), torna-se implacabilidade, quando lhe diz:
/…/ - Ah! mi amor, que pecado… - passou a mão pelo meu rosto - …que difícil debe ser para ti - nos meus cabelos - …te voy a enseñar, querida… - beijou minha boca - …a ser implacable, mi amor – e tocou levemente meus seios.
Como um beijo de vampiro, nosso amigo tolteca/mexicano/peruano/brasileiro Cesar/Carlos/Joe Cortes/Isidoro Baltazar só podia dar o que ele tinha, transmitir o que trazia, fazer o que podia, comunicar o que sabia e colher o que plantou.














A Inconclusão ou: os Contos da Energia
O tolteca é sábio, é uma luz, uma tocha, uma grande tocha que não faz fumaça. Traz sabedoria ao rosto dos outros, lhes faz ter coração. Não passa por cima das coisas: se detém, reflexiona, observa... O tolteca é um espelho vazado por ambos os lados. É sua a tinta, são seus os códices; ele mesmo é escritura e sabedoria, caminho, guia verdadeiro para os outros; conduz as pessoas e as coisas, é uma autoridade nos assuntos humanos... O tolteca é cuidadoso; respeita a tradição, possui a transmissão do conhecimento e o ensina aos outros, segue a verdade. Nos faz tomar um rosto e desenvolvê-lo, abre nossos ouvidos, nos ilumina. É o mestre dos mestres...
Fray Bernardino de Sahagún, Códices matritenses de la Historia general de las cosas de la nueva España

Mas, ainda uma questão, das tantas que não serão fechadas, mas potencializadas neste livro.
Quem foi, realmente, Don Juan?
Muitos se espantaram, tantos se revoltaram, e alguns se aproveitam, se fortacelecem e instruem com esta nova figura literária, este novo Don Juan, o velho Nagual.
No início aparecia como um índio simples, que talvez nem soubesse escrever, que debochava de livros (“Você sabe para o que usamos o papel, aqui no México”), e que trazia uma profunda sabedoria de teor selvagem, toda haurida de feiticeiros indígenas, como ele também.
Depois começa a complicar, fala que há mais, muito mais, e vai mudando a direção do ensinamento, a cada novo livro, um novo Don Juan se nos apresenta.
De um sábio neolítico ele se torna um homem super sofisticado, que domina o espanhol, o inglês, o yaqui, o mazateca, o náhuatl e quantas línguas mais, nem se sabe.
Um leitor profundo, que percebe quando um poema traz o Stimmung, o impulso lírico, e quando o poeta “começa a enrolar”. Um leitor apaixonado, para quem Carlos e Carol, a mulher nagual, sempre liam poesias.
Um homem que fala com a propriedade e a complexidade de um filósofo acadêmico, e que instava seus aprendizes a estudarem e se engajaram em cursos universitarios.
Um homem poderoso, pelo quanto sabia e fazia de magia, pela atuação que desenvolvia no nagual, comunicando o incomunicável, e fazendo a “travessia das feiticeiras e dos feiticeiros” com seus associados.
Um homem poderoso no tonal, rico, um “investidor na bolsa de valores”, possuidor da “glória do mundo”, de que nos fala Hermes Trismegistos, não a fama infame, a vaidade vã, mas a glória real, que inscreve não o seu nome na história (esse nome que Carlos pegou de um herói burlesco e de um vinho), mas o seu ser no universo.
Agora fala em tonal e nagual, e apresenta duas visões que se entrelaçam como no caduceu, e dois treinamentos, uma hiper sofisticada mestria que ele exerceu com Carlos, sabendo que a este cabia o desígnio do espírito de revelar muito deste aprendizado para o mundo de sua época, e, assim, mudar o tonal dos tempos.
Isso foi muito criticado, dá a impressão de que essas pessoas querem criticar a própria realidade por ser assim, ou, nunca ouviram falar de uma moça que foi boia fria e se alfabetizou já adulta, e veio a se tornar presidente de um país de dimensões continentais?
As pessoas são ricas, todas, sem exceção.
E Don Juan nos mostrou a que alturas pode chegar essa riqueza, esse tesouro do coração, do homem de conhecimento, aquele que segue um caminho com coração.
Carlos partiu em 27 de abril de 1998. Nesse mesmo ano, é publicada nos EUA uma edição comemorativa de 30 anos de publicação de A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. E Carlos escreve um comentario para esta edição. Gostaria de citá-lo, mas ele não tem melhores partes, é todo mais que fundamental.
Carlos fechou o ciclo, e escreveu seu último texto no seu primeiro livro, trinta anos depois, colocando ali a chave para o entendimento maior de toda a sua obra, que termina onde começou .
Carlos pode ter escrito insuflado por Don Juan, e ter sonhado os textos, e ser um porta-voz do espírito; nada diminui o seu feito, que é colossal.
Carlos Castaneda é, de fato, e de direito, em seu próprio direito, do lado direito e do lado esquerdo, um dos mais importantes e encantadores escritores da humanidade, um dos pensadores mais inovadores e revolucionários, um tremendo terremoto ou furacão que está a mover o ponto de encaixe da humanidade, com todos os desdobramentos de sua obra prodigiosa.
Mas a roda tem muitos raios - e, justamente, o convite que nos faz Carlos, é que acessemos outros radiantes dessa roda, e vejamos outros tempos, o tempo que vai, o tempo que vem, e outras alternativas.
Então, ler Carlos Castaneda sempre é uma experiência transcendental - no lugar de “contos de poder”, o que seus livros trazem para nós são verdadeiros “contos de energía”, como se se dissesse, “contas” ou “gotas” de poder.
Não há o que aprender.
No entanto, há muito o que aprender.
Não precisamos de mestre.
Precisamos limpar nosso elo de conexão com o espírito.
A águia não pede que você a venere, apenas que você transborde de consciência. Cair de joelhos ante o desconhecido é totalmente inútil, mas fazê-lo ante outro ser humano é o cúmulo da idiotice.
Esse é o estranho mundo dos povos da América, Cem Ānáhuac, antes da chegada dos brancos.
Tentei mostrar que não se trata da ficção de um autor “nova era” chamado Carlos Castaneda.
Há muito mais a ser encontrado, antes dele, depois dele, paralelo a ele.
E é algo importante, porque: nos induz à evolução, traz uma nova relação com a sociedade e com o planeta, e apresenta uma herança de conhecimento e prática que é gigantesca e linda, e é nossa, americana, e talvez, ouso pensar, panamericana.
Tão antiga, ou mais, do que as outras civilizações que consideramos de maneira tradicional como sendo nossas matrizes culturais.
E, ao mesmo tempo, tão diferente, com tantas coisas que podemos usar para nos fortalecer, enquanto indivíduos e enquanto espécie.
Em Encontros com o Nagual, Carlos comenta com Armando Torres algo assim: imagine que uma pessoa ganha um mapa do tesouro, e fica durante longos anos estudando línguas e outras coisas com o intuito de decifrá-lo, e viaja o mundo todo, e vive muitas aventuras, para, depois de anos, encontrar uma arca que o contém, mas, quando abre o baú... descobre que o ele guarda apenas um espelho.
(Um reles artefato, como aqueles que os europeus davam aos índios em troca de suas terras e suas riquezas, e que os índios estão agora nos devolvendo.)
Então, essa pessoa que buscou, durante a vida toda, o seu tesouro - ela foi lograda?
Viveu um mito, cheia de entusiasmo pela vida, aprendou muitas coisas, se desenvolveu, ficou mais forte, viajou, adquiriu um sem número de habilidades. Havia ou não um tesouro ali?
De mais a mais, um espelho é realmente um tesouro.
























Anexo A
As Notas de campo de Carlos Castaneda, traduzidas por Luis Carlos de Morais Junior

Eu mesmo fiz esta versão, para o português brasileiro atualizado; pode não estar perfeita, mas foi um prazer me tornar eu também um tradutor de Carlos Castaneda.
A transcrição em espanhol que uso e que está colocada na íntegra na nota foi formatada por mim, mas todo o texto se preservou, como no original pesquisado.
As anotações constantes destas notas são referentes ao dias 8 de abril de 1962, sábado, e 15 de abril de 1962, domingo, e correspondem às que estão relatadas nestas datas, no capítulo 3 de A Erva do Diabo .

Notas de Campo do Antropólogo Carlos Castaneda, com informações inéditas.

Folha 1

Sábado, 8 de abril de 1962

Quando eu estava para ir embora para casa, Don Juan me perguntou:
“E quando você volta?”
“Em dois meses”, lhe respondi.
“Você nunca vai aprender; para aprender, é preciso fazer um esforço total, e você não tem vontade de fazer isso”.
“Vontade eu tenho, o que não tenho é tempo”.
“O meu benfeitor me levou para morar na sua casa quando eu era um menino, e eu nunca saí del lá, até que me fiz homem”.
Seu tom era um pouco depreciativo, e ele parecía estar chateado.
“Quanto tempo você esteve com o seu benfeitor?”, lhe perguntei.
“Anos”.
“Quantos anos?”
“Quem sabe”.
“E o que você fez quando se foi da casa do seu benfeitor?”
“Eu só saí dali quando ele morreu”.
“Você estava desde pequenininho com ele?”
“Sim, nesse tempo eu passava muita necessidade e ele me cuidou como se eu fosse o seu próprio filho”.
“Onde viveram?”
“Isso não te posso dizer. Assim como você tem a mim, o meu tempo, e não poderá dizer onde me conheceu, onde me viu, onde me encontrou, nem como eu me chamo. Essa é a regra com respeito aos bruxos. Essa é a regra quando se quer saber, quando se tem boa vontade”.
“Por que a regra é assim, Don Juan?”
“É o que os bruxos decidiram. Sobre um bruxo não se contam nem seus hábitos, nem sua morte, e assim ninguém poderá usar mal esses segredos. Eu lhe falo agora. Não digas nunca onde você me conheceu, e quando eu morrer, nunca verifiquem onde meu corpo foi sepultado”.
“Eu lhe falei que existem muitas pessoa que sabem onde nos

Folha 2

tínhamos conhecido”
“Ninguém sabe nada”, ele disse, muito convencido.
“E Fernando e don Nacho”, lhe perguntei.
“Esses são uns estúpidos, eles nem sequem sabem onde estão”.
“E sua nora, Don Juan?”
“Essa não conta para nada. Essa é outra velha estúpida. Porém, são outras pessoas, que contam”.
“Quem, por exemplo?”
“Você saberá quem são, quando lhe perguntem algum dia, quando lhe perguntarem onde está sepultado meu corpo”.
“Quem me perguntará?”
“Você verá, a vida do bruxo é muito estranha, e as coisas vêm de encontro à gente, sem que as busquemos ou sequer queiramos”.
Perguntei-lhe outra vez, porque haveria de guardar tal segredo.
Disse que “ao aprender mais eu me daría conta de que há coisas que não se podem dizer, e há coisas que só pertencem à pessoa”.
“Quando alguém se move no caminho do conhecimento”, disse, “não se deve dizer a ninguém o que se faz”.
“Não direi a ninguém. Prometo-lhe, Don Juan”.
“Sim,você dirá. Tem a boca muito grande”.
“E o que posso fazer para evitá-lo?”
“Nada”.
Quis assegurar a Don Juan que eu não tinha a mínima intenção de divulgar os seus segredos, e como era que eu os ia revelar?, se nem sequir tinha a oportunidade de fazê-lo.
“Você terá o os dirá”, falou, com uma sorriso afável.
“Dirá ainda que não queira. Mas não vale a pena falar ou conversar sobre isso”.
“Então é ruim mencionar esas coisas, Don Juan?”
“Claro que é, especialmente para você. Não faltará quem queira

Folha 3

roubar o poder de você. E o roubarão, porque falar espanta a força. Falar rouba o poder”.
“E se eu não quiser o poder?”
“Para que você aprende então se não quer o poder?”
“Só para saber”.
“Você não sabe o que diz, porém logo verá, e compreenderá, quando se der conta. Quando você souber mais, o poder o usará, de um modo ou de outro”.
Eu lhe falei que só quería saber, e que, na realidade, não tinha interesse em vive ruma vida de bruxo.
“O homem que sabe tem que empregar o seu poder”, falou. “Ou então para que quer saber? Ou como vai fazer, se as coisas correrem mal, e você tiver que usar o poder do bruxo?”
“Você não sabe como é essa ajuda. Uma vez que a começa a usar, não há maneira de pará-la”.
“Você diz que não se pode parar a vida de bruxo?”
“Pois não se pode. A menos que se chegue a aprender muito, e, para aprender muito, é preciso usar o poder do bruxo. Você não sabe o que diz”.
“Um homem de conhecimento tem que atuar cedo ou tarde, não se pode viver só pensando. O homem que sabe tem força para atuar e os conhecimentos para tudo o que queira fazer. Você verá que já não há maneira de parar, quando alguém começa no caminho do conhecimento. Eu lhe digo. Não se pode parar ou mudar”.
“Um homem que sabe chega a ser mais misterioso que a xingada “.
“Ninguém poderá lhe deter, se é que chega a ser um homem que sabe, um homem de conhecimento”.
“Quem é o homem de conhecimento? O bruxo é um homem que sabe?”, perguntei.
“Pode ser que seja, se é que seguiu com propriedade o caminho do conhecimento”.

Folha 4

“Mas, como se segue ese caminho?”
“A pessoa tem que aprender, de bem com o rigor de aprender; e sem muita pressa, porém sem faltar, a pessoa deve se meter até onde possa, para ir desenredando os segredos do poder e do conhecimento”.
“Pode qualquer um de nós ser um homem de conhecimento?”
“Não todos nós”.
“Então quem pode?”
“Aquele que desafia e vence aos quatro inimigos naturais. O homem de conhecimento deve enfrentar a seus quatro inimigos, depois deve lutar com eles, e logo deve vencê-los. Depois de os vencer, pode então se chamar homem de conhecimento”.
Perguntei se tudo que se precisava era vencer os quatro inimigos para ser um homem de conhecimento. Disse que sim, que podía se chamar homem de conhecimento.
“Se alguém é capaz de vencer aos quatro inimigos; e qualquer pessoa pode fazer isto”.
“Pode qualquer um de nós guerrear com os quatro inimigos, ou há requisitos especiais?”, lhe perguntei.
“Não há requisitos, qualquer um de nós pode tratar de chegar a ser um homem que sabe, porém muito poucas pessoas chegar a sê-lo, e isto é muito natural. Os inimigos são formidáveis. Na verdade os quatro inimigos são poderosos, e a maioria de nós nos perdemos”.
“Que tipo de inimigos são, Don Juan?”
“De que adianta falar? Com certeza você não vai entender. As coisas ficam muito feias, quando não se podem entender”.
“Mas eu preciso saber, Don Juan, ainda que não entenda”.
“Você saberá no seu debido tempo; isso se você não fugir por aí, de susto. Eu direi para você, não vale a pensa conversar sobre estas coisas. Para quê?”
“Você acha que eu serei homem de conhecimento algum dia?”

Folha 5

“E como posso saber isso? Ninguém pode saber o que acontecerá a alguém eu seu caminho”.
“Não há modo de saber?”
“Não há. Eu já lhe falei, tudo depende da batalha contra os quatro inimigos, se vocês os vence, ou se eles vencem você. Porém, assim, de repente, não se pode saber isso”.
“Você pode adivinar com os seus poderes?”
“Não, porque chegar a ser homem de conhecimento é algo que não dura muito. Eu diría que é algo demasiado rápido, este tanto”. Fez um gesto minúsculo com seus dedos.
“Mas, então, como se pode ser homem de conhecimento, se isso não dura nada?”
“Pois então, nunca se é homem de conhecimento, de todo. Chegar a sê-lo não dura nada. Não é permanente, alguém em realidade nunca é um homem que sabe. O que acontece é que se temu m instante de “luz”, de verdadeiro conhecimento, depois de vencer os quatro inimigos”.
“Diga-me, Don Juan, que tipos de inimigos são estes?”
“Não vale a pena falar, e não vamos falar. Você sempre quer conversar e conversar sobre tudo. Você não se cansa? Eu não tenho essa necessidade, não gosto de conversa”.
Eu continuei, discutindo, dizendo que, para o meu modo de pensar, o único modo de entender era através da conversa, porém, Don Juan ficou sério e deixou de falar. Não quis ir embora deixando-o chateado, assim fiquei todo o dia com ele.

14 horas

De tarde, nos pusemos a falar sobre os cristais mágicos dos bruxos, um assunto que não tínhamos acabado de explicar, da última vez em que o visitei.
“Há três modos de ver espíritos”, disse Don Juan. “Há três classes de espíritos. Os espíritos que não dão nada, porque não têm nada para dar, os espíritos que contam, porque esses sim- (aqui há uma interrupção do texto nas notas que consegui na internet)

Folha 6

Domingo, 15 de abril de 1962

Outra vez voltamos hoje a conversar sobre os inimigos dos homens de conhecimento, e, de novo, nossa conversação teve lugar na última hora, quando eu já ia para casa.
Perguntei-lhe de novo quem eram esses inimigos.
Eu esperaba que ele não me dissesse, no entanto, ele me explicou, detalhadamente.
“Quando uma pessoa começa a aprender”, disse, “nunca se sabe o que se vai encontrar. O caminho nunca está claro. O propósito está cheio de falhas; a intenção é vaga. A pessoa está sempre confundida, porque espera que aconteçam coisas que nunca se darão, porque não sabe o quanto é difícil o conhecimento; ela não sabe os trabalhos que custa aprender”.
“Porém, a pessoa aprende assim, aos pouquinhos no começo, e logo mais e mais, e os pensamentos se dão aos pedaços e se fundem em nada. O que aprende não é nunca o que teria querido, e asim se começa a ter medo. O conheciemento não é nunca o que se esperaba. Cada novo passo é um atoleiro, e assim, de repente, o medo lhe sobe ao pescoço e começa a apertá-lo sem misericordia, e não se pode fazer nada, porque o propósito é um campo de batalha. E é assim que se tropeça com o primeiro inimigo, o seu rival, o medo. Um inimigo terrível, traiçoeiro e emaranhado como as plantas espinosas, que se acha sempre espreitando por aí, escondido, sempre escondido, em cada fenda, o medo está sempre esperando”.
“E se alguém se enche de horror e foge, o primeiro inimigo acaba com seu propósito”.
“E o que acontece com alguém que corre assim?”
“Nada, somente nunca aprenderá, nunca chegará a ser um homem que sabe. Talvez se torne um saqueador, ou um cobarde qualquer, cheio de medo, um homem

Folha 7

vencido, um homem a quem o medo acabou com o seu desejo”.
“Pode-se fazer algo para vencer o medo?”
“Se pode, e é muito simples. Debe-se desafiar o medo, e, a pesar de seu medo, o homem deve seguir aprendendo, e debe dar outro passo, e outro, e outro. Deve-se ter medo, e ainda assim se deve seguir, e não parar, e muito menos correr. Essa é a regra! E chega um momento em que o primeiro inimigo se retrai e o homem começa a se sentir seguro e tranquilo. A intenção se faz ainda mais forte, o conhecimento já não é tão espantoso. Quando chega este momento, pode-se dizer ao homem que já está vencendo o medo e o medo se vai desvanecendo pouco a pouco, no começo, até que, de repente, o medo foge de sopetão”.
“E o homem não terá mais medo nunca mais?”, perguntei.
“Não. Uma vez que se venceu o medo, se está livre para o resto da vida, porque no lugar do medo se tem a clareza. A clareza é o que desvanece o medo. Então, o homem já sabe quais são os seus desejos, e como satisfacer os seus desejos. Já se podem antecipar os caminos, e uma clareza nítica rodeia tudo. O homem sente e sabe que nada mais pode estar oculto”.
“E assim, sem esperar, ele se encontra diante do seu segundo inimigo. A clareza. Essa mesma clareza que desvanceu o medo e que foi tão difícil de conseguir, também cega. A clareza o força a não duvidar e lhe dá segurança, a segurança de que pode fazer o que quiser, porque tudo o que ele vê, vê com clareza. E como é Valente porque vê claro, ele não se detén diante de nada, porque vê com clareza. Porém, isso de ver com clareza, é um erro, é como se visse claro, mas incompleto”.

Folha 8

“Se ele crê nessa ilusão de poder fazer o que lhe dê na veneta, ele se deixou vencer pelo segundo inimiog, ele se deixou cortar, e não pode aprender mais, porque o conhecimento foge por entre as suas mãos. E como se impacienta, quando deve ser generoso, e é generoso, quando deveria ser impaciente, o conhecimento lhe escorre por entre as mãos, e ele acaba por não aprender mais”.
“O que acontece se esse inimigo o vence? Morre?”
“Não, ele não more. Mas o segundo inimigo o tem nas mãos, e o parou. Já não poderá jamais chegar a ser um homem de conhecimento, poderá só chegar a ser um Valente cheio de força, ou um sujeito generoso, muito suave. Porém, ainda assim, a sua clareza, pela qual pagou tão caro, não o abandonará, e ele nunca mais temerá a obscuridade do medo. Ele verá claro pelo resto da sua vida, o único problema é que já não desejará aprender, nem desejará mais nada”.
“O que se deve fazer para vencer o segundo inimigo?”
“Deve-se proceder como com o medo, debe-se encarar a clareza e usá-la, apenas para ver claramente. Deve-se esperar pacientemente, e medir bem antes de tomar um novo caminho. O homem deve pensar, sobretudo, que a sua clareza é como um erro. E assim, chegará o momento, quando se entende que a clareza é só um pontinho diante dos olhos”.
“É assim que se vence o segundo inimigo, e se chega a uma posição onde já nada pode lhe incomodar, já nada pode lhe fazer daño, e isso não é ilusão, nem tampouco um ponto diante dos olhos. Isso é o poder. O novo rival. O homem sabe então que o poder que ele tinha estado perseguindo já é seu, finalmente. E agora sim, ele pode fazer o que lhe dê vontade, ele tem desde então

Folha 9

aliados e os comanda, o seu desejo é lei. O homem vê claro e constante tudo o que se lhe apresenta, tudo o que lhe rodeia. Porém, assim mesmo, o homem se encontra com o terceiro inimigo, o poder. Este é o mais forte de todos os inimigos. E, como é natural, é o mais fácil de se abandonar a ele. Depois de tudo, o homem é invencível, de verdade. Se encontra o poder. E assim, o homem começa a correr riscos, riscos muito bem calculados, a principio, e acaba fazendo leis, regras, porque é invencível, ele é o amo do poder, e nem sequer nota que o terceiro inimigo o está espreitando. De repente, e sem o sentir, ele se perde a si mesmo de vista, e o terceiro inimigo o vence e o torna caprichoso e mau”.
“Quando um homem é vencido assim, ele perde o seu poder?”
“Ele nunca perde o poder ou a clareza”.
“Mas então, qual é a diferença entre um vencido e um homem de conhecimento?”
“O homem vencido pelo terceiro inimigo nunca saberá como se deve manejar o poder, para ele o poder é como uma maldição”.
“Quando o terceiro inimigo vence um homem, este não tem mais controle sobre os seus desejos, torna-se um filho da mãe arrogante, e portanto não consegue discernir quando ou como usar o poder”.
Perguntei a Don Juan se a derrota é um ato final.
Ele não entendeu, e começamos a discutir, até que lhe expliquei que o que eu quería saber era se alguém poderia fugir e voltar à arena e seguir lutando depois de uma derrota.
“Quando um dos inimigos ganha já não há nada o que fazer, e o desejo de ser um homem que sabe, o leva a xingada (madre), e o sujeito tem que se resignar, porque não há nada que fazer”.

Folha 10

“É possível que as derrotas que o poder causa sejam apenas uma questão de tempo? E que alguém possa se recuperar e vencê-lo?”
“Se é uma questão de tempo, então o home não havia sido vencido. A batalha continua; ele continua lutando para chegar a ser um homem que sabe. Alguém só pode se considerar vencido quando já não se importa com mais nada, quando não tem mais vontade”.
“Alguém pode abandonar a luta por anos, por exemplo, abandonar a luta por medo, para, logo depois, voltar e vencer o medo?”
“Não! Isso não é possível. Não se pode sucumbir ao medo e logo depois vencê-lo. Quando se sucumbe, já não há mais nada que fazer. Não se pode aprender mais nada, porque o conhecimento dá medo, e o homem não faz mais nada para aprender. Mas, se ao invés disso, se ele trata de aprender por anos, apesar do medo, ele no final acabará com conquistá-lo, porque não se deixou estragar”.
“E como se vence o terceiro inimigo, Don Juan?”
“O homem tem que enfrentar o desafio, e esporeá-lo, e dar duro nele; ele tem que dar no poder com muita força. Ele tem que entender sobretudo que o poder que parece conquistado não é na realidade nunca seu. Sem entender isto, ele se perdería para sempre em suas próprias armadilhas. Mas se se usa o poder com medida, ele vai se dando conta de que só há uma maneira de proseguir. E que é seguir fiel e respeitosamente o que se aprendeu no caminho do conhecimento. Somente assim se pode ver que a claridade e o poder sem o controle sobre o que é o “si mesmo” são finalidades inválidas. Se ele se dá conta de que há maneiras de proseguir com paciência e medida, chega-se a um ponto onde tudo, absolutamente tudo, está sob controle. Aí então já se sabe como e quando usar o poder. Assim é como se vence o terceiro inimigo. Porém, nesse momento, já se está no final da travessia pelo caminho do conhecimento. E, quase sem lhe dar tempo, quase sem aviso, o homem se defronta de supetão com o último de seus inimigos:

Folha 11

a velhice, o mais cruel de todos, o inimigo que não se vencerá jamais. O inimigo ao qual pode-se apenas afugentar por uns momentinhos. Nesse momento, já não se sente o medo que obscurece tudo, ou a claridade que torna a pessoa impaciente. Então todos os poderes estão sob controle. Porém, no lugar disso, o homem tem um desejo invencível de descansar”.
“E se ele não dá combate ao seu adversario e o seu desejo de fugir, se ele se recolhe na velhice, perde a última batalha, e o quarto inimigo torna-o uma criatura inútil. O desejo de descançar e de esquecer dominam a claridade, o poder e o conhecimento”.
“Mas, se ele se desapega do cansaço, e vive como o seu destino manda, até o último esforço, então ele pode se chamar Homem de Conhecimento. Ainda que seja só por uns momentos, quando se consegue afungentar o último, o inimigo invencível - esses momentos de claridade, de poder e de conhecimento são suficientes”.
Don Juan se encontou na palha da ramada e mirou as Colinas Bacatete, à distancia.
Me invadiu uma estranha melancolía, e disse por dizer:
“Às vezes, não se pode evitá-la”.
“Não, você vê, a mim me atira no chão”, Don Juan falou, “já anda me puxando, e me afundando, muito seguidamente”.
Sua voz era séria e enfática, a sua maneira era simples e ao mesmo tempo histriónica, o drama estaba encerrado em seu tom sombrio. Um tom que fez pensar, nesse momento, que Don Juan parecía um persongem imortal, joven e eterno, que só estaba brincando de ser velho.
“O senhor é um verdaeiro homem de conhecimento, Don Juan”, lhe falei, com admiração sincera.

Folha 12

Me olhou com uma expressão meio séria e logo se riu:
“Não fale assim!”
Não parecia estar triste ou cansado, ou sentir-se de algum modo diferente do Don Juan que eu conheço. No entanto, havia algo eu seu ar, que me havia feito entender, pela primeira vez, a intensidade com que lutava contra seu último inimigo - seu inimigo invencível.



Anexo B
A Entrevista com Luiz Carlos Maciel, em 8 de julho de 2005

(Publicada originalmente in Tecnogaia; Revista Independente de Cultura, Pesquisa e Saber. N° 2. Rio de Janeiro: TecnoGaia Cultural/Círculo ETER, Junho de 2007,pp. 148-164. Esta revista foi produzida por Cid Prado Valle, Cláudio Carvalho e eu. A entrevista versa sobre vários assuntos; nossa amiga Dandara participou do encontro. Como Maciel tinha a fama de ser “conhecedor” de Carlos Castaneda, aproveitei a oportunidade para lhe fazer várias questões sobre o tema. Ele fora um dos poucos a recepcionar os quatro primeiros livros de Carlos no Brasil, no artigo “Don Juan”, do livro A morte organizada, de 1978, pela editora Global . Deu também vários cursos sobre Castaneda, e foi o tradutor, no Brasil, de A Roda do Tempo, em 2000, pelo selo Nova Era, da editora Record.)
8 de julho de 2005. Chegamos cedo, Cláudio Carvalho, Dandara e eu, à casa de Luiz Carlos Maciel, no Leblon, e a empregada nos abriu a porta. A sala cheia, repleta de fotos da família, e nelas se via a beleza de Maria Cláudia, a atriz, mulher do escritor. Maciel é muito simpático e boa praça, sentou-se conosco na sala, aberto a todas as perguntas. Quando ficamos satisfeitos com a entrevista, e ele ainda tinha que encontrar o correio aberto, desligamos o gravador, e começamos a falar sobre a transcrição. Ele me perguntou: “Você é quem faz as transcrições?”. Quando eu falei que sim, ele comentou que essa era a parte mais difícil. Lembrou dos tempos do Pasquim, quando era ele quem fazia a transcrição das entrevistas do famoso hebdomadário, e, em 1972, foram entrevistar o Tom Jobim num bar, e todo mundo bebia e conversava, toda hora chegava gente pra falar com eles. Então resolveram ir prà casa do maestro, pra poderem fazer a entrevista. Chegando lá Maciel ligou o gravador, mas todos falavam ao mesmo tempo, depois a fita era uma algaravia incompreensível, no meio da qual ele deve ter mais inventado que entendido as declarações. E comentou pra nós: “Bêbado não escuta”. Lembro sempre que Glauber Rocha apresentava nosso entrevistado como filósofo brasileiro. Luiz Carlos Maciel pensa, e pensa muito bem.
Dandara: Eu tenho grande curiosidade em saber por que esse termo contracultura, se na verdade todo tipo de expressão humana, do pensamento e do comportamento, tudo é cultura, não tem aquele cara que fez aquele negócio de alfabetização...
Luis Carlos de Morais Junior: Paulo Freire.
D: ...que diz que tijolo é cultura. E eu que sou uma estudiosa de culturas florestais, o cupim faz cultura, a formiga faz cultura. Por que contracultura, eu queria saber o porquê disto, e se você concorda que seja realmente contracultura?
Luiz Carlos Maciel: Como todo rótulo, contracultura é super questionável, é uma coisa assim que as pessoas aceitam pra ter um rótulo. Sabe aquele negócio do Sartre, no centenário do Sartre eu fiz um negócio em São Paulo que eu tive que ler umas coisas do Sartre e Simone. Aí o Sartre já velho, já cego, já nas últimas, e aí o cara perguntou pra ele sobre o existencialismo, e ele diz “O existencialismo é um rótulo idiota. Isso aí não foi nunca escolhido, me colaram esse rótulo, eu aceitei, deixei rolar. Mas não serve pra nada, serve só pra manuais de filosofias, nos quais não quer dizer absolutamente nada.” Aí o cara pergunta pra ele assim: “Mas se o senhor tivesse que escolher entre o rótulo de existencialista ou marxista, qual é que o senhor escolheria?” “Bom, rótulo por rótulo, se eu tiver que escolher um, ainda prefiro o de existencialista.” (Risos)
D: Então você prefere o rótulo de contracultura?
LCM: Uma coisa assim, nenhum rotulado aceita totalmente o rótulo. O termo contracultura foi inventado pela imprensa americana. Contracultura é um termo de mídia. A mídia propaga tudo, a mídia manda. O que sai na mídia é adotado. Hoje as coisas estão nessas condições. E então, então foi adotado pelos próprios representantes da contracultura. O que a mídia e os jornalistas têm a ver com isso? É que aquelas manifestações culturais, que estavam aparecendo, criadas pelos jovens americanos da época, elas confrontavam, negavam, não eram submissas aos padrões culturais vigentes. O principal inimigo era a universidade. Tudo o que a universidade ensinava de um jeito, então os jovens iam fazer de outro. Pirraça, coisa de garoto. Era tudo ao contrário. Então, a música era rock’n’roll. O rock’n’roll, pelos padrões estéticos da música ocidental, era a coisa mais vagabunda e rastaquera que se possa imaginar, uma música em cima de dois acordes, qualquer um toca. Eu estava assistindo o Jornal Hoje que revolveu agora nas férias terminar um bloco apresentando uma banda de garagem. Então é aquela coisa, realmente, de um primarismo completo, né? No entanto essa música primária foi o grande hino daquele movimento. E que inclusive se qualificou, por vários motivos, continuaram com poucos acordes, mas mexeram um pouco na harmonia, os Beatles, mexeram muito na sonoridade, inventaram sonoridades novas, o Jimi Hendrix... Quer dizer, tem toda uma margem para se defender esteticamente até o rock, dos anos 70. E o resto mais ou menos se guia por aí, as outras manifestações artísticas, o teatro de Michael MacLuhan, por exemplo, a Barca, que é uma peça que fica repetindo todas as coisas o tempo todo. Então era uma coisa assim que tinha um desafio, uma implicância com os valores vigentes. Seria difícil que aquelas coisas fossem aceitas a nível acadêmico. Outra coisa, por exemplo; pensamento, filosofia. A contracultura valorizou em face da rica tradição filosófica do ocidente, valorizou o quê? Primeiro, uma tradição que é a tradição do pensamento mágico, esotérico. Pura superstição. No entanto, essa pura superstição passou a ser verdade na contracultura. Ou então o pensamento oriental, que sempre foi desprezado pela academia ocidental como um pensamento com rótulo inferior, uma coisa inferior. Uma vez, eu fui participar aí de um negócio que inventaram, de fazer um confronto filosófico entre Oriente e ocidente. Então foi um monte de pessoas falar sobre o Oriente, mas sobre o pensamento ocidental, porque aquilo era considera um evento de segunda categoria, não tinha a dignidade pra que um professor da universidade possa chegar lá e falar. Foi um só, o meu amigo Carlos Henrique Escobar, que é maluco, que aceitou ir lá falar pra defender a filosofia.
LCMJ: Que não tem medo de queimar o filme, porque já tá com o filme queimado.
LCM: Tem fama de maluco mesmo.
Cláudio Carvalho: Eu me lembro que na época lá nos EUA conseguiram promover um debate do Krishnamurti com físicos.
LCM: Pro físico é mais fácil que pro filósofo, porque o físico com esse negócio dos quanta, eles fundiram a cabeça, e aceitam melhor. Mas o filósofo assim, o filósofo de universidade, não admite. O próprio Carlos Henrique Escobar foi lá pra participar do evento, mas a sua primeira declaração foi a seguinte: não há nada pensando no Oriente, que não tenha sido pensado, antes e melhor, na filosofia ocidental. Quer dizer então que todo o pensamento oriental é desnecessário.
CC: Mas a própria origem do discurso filosófico, aquela coisa do milagre grego, a filosofia seria uma coisa que nasceu na Grécia, isso já é uma espécie de etnocentrismo.
LCM: Isso, academicamente, pra você ser rigoroso, você não pode chamar o pensamento oriental de filosofia. Eu falei pensamento oriental, não falei filosofia oriental, porque a filosofia é ocidental.
LCMJ: Porque a filosofia é uma produção totalmente racional, e o oriental trabalha com imagem.
D: Que é uma patente, é grego, ninguém mais pensa, só ele pensa.
LCM: A filosofia é uma coisa inventada pelos gregos.
LCMJ: Você olha os Vedas, olha os textos da China, não tem conceitos ali. Você tem insights sobre o mundo, figuras, imagens sobre o mundo, que é pensamento sobre o mundo.
LCM: Mas não é nada filosófico, é totalmente poético. Mas os Upanishads são especulativos, há um pensamento especulativo no Oriente, não como o da filosofia, mas há um pensamento especulativo também, principalmente na Índia.
CC: Antes de falar de religião, como a gente começou falando de contracultura, eu queria levantar aquele tema, como você falou sobre nos marxistas, que na época a contracultura foi muito criticada pela esquerda tradicional, a contracultura não teria lugar no Brasil. Seria uma importação alienígena, por exemplo, ela nasce nas universidades norte-americanas, de uma rebeldia contra o saber institucional acadêmico.
LCM: Ela é feita pelos estudantes.
CC: Naquele momento no Brasil nem um por cento da população era universitária, hoje são cerca de dez por cento. Eu queria saber a sua posição, o que você acha. Houve contracultura no Brasil? Foi um mero produto alienígena? Foi mais uma “ideia fora do lugar”? Ou você acha que ela encontrou lugar?
LCM: A contracultura é um produto alienígena importado pelo Brasil como quase toda a cultura. Toda a cultura brasileira foi um produto alienígena importado pelo Brasil. A cultura brasileira feita aqui é a cultura indígena, o resto veio da Europa.
CC: Inclusive nós estamos fazendo essa entrevista em português.
LCM: A cultura branca veio da Europa, a cultura negra veio da África. E o indígena que é daqui, o resto tudo veio. A contracultura na verdade foi um negócio que nos EUA teve mais poder, mas foi uma coisa que tava no ar assim em todo o Ocidente. Na Europa também, na Inglaterra, na França.
D: Mas você considera que no Brasil ela tem o mesmo perfil? Quer dizer, ela se inscreve inicialmente como uma tentativa de oposição a um padrão, ou sob esse rótulo, várias outras coisas, características, típicas do Brasil começam a...
LCM: Olha, força da contracultura nos EUA se deve ao protesto contra a guerra do Vietnã. Foi o que deu essa força. Antes havia uma rebelião lá que vinha dos beatniks, da beat generation, mas até a beat generation era uma coisa de escritores, poetas...
CC: Não era um movimento social, ficou restrito a uma intelectualidade. E no Brasil, ela teve esse perfil?
LCM: Não entrava nisso, só nos EUA. Os bem comportados entraram quando veio o movimento hippie, por causa do Vietnã, que não queriam ir prà guerra, começaram a rasgar os certificados militares, e portanto se tornar marginais.
LCMJ: A impressão que me dá é que a partir desse problema, dessa situação, surge uma proposta de uma nova forma de relação social e de uma nova consciência.
LCM: No Brasil aconteceu a mesma coisa, só que não foi o Vietnã, foi a ditadura militar. O único lugar onde houve um protesto mais sofisticado sem uma motivação tão violenta quanto o Vietnã ou a ditadura militar foi na Europa, na França por exemplo.
LCMJ: Foi um tremendo movimento, os estudantes tomaram o poder.
LCM: Foi dos estudantes contra a universidade, contra o autoritarismo.
CC: Você tá falando de maio de 68.
LCM: É.
LCMJ: Mas eles tomam o poder na França, por um momento.
LCM: É, por algumas horas.
LCMJ: Mas é incrível isso, é interessante.
LCM: É uma coisa muito marcante, porque depois todo ambiente cultural francês depois de maio de 68 foi marcado por 68.
LCMJ: Os pensadores da filosofia e da sociedade, são marcados contra ou a favor, mas eles não são inócuos a isso. Agora, a questão da expansão da consciência, porque a coisa começa de certa forma simples, o beatnik era a rejeição do stablishment e a aproximação com o negro e com a droga e tal, mas foi rápido pro budismo e depois pro nagualismo, pra coisa do índio, e veio Castaneda. E essa questão, porque você é talvez o maior especialista no Brasil em Castaneda.
LCM: Meio-especialista.
LCMJ: Você deu cursos sobre Castaneda.
LCM: Eu dou qualquer curso, basta que as pessoas me paguem. Basta ter grana nisso, eu dou o curso.
LCMJ: Mas, de qualquer forma, no Brasil, você foi um dos poucos, que teve uma recepção quase que imediata, e positiva, em relação ao Castaneda, o que é difícil os intelectuais terem. Há muito preconceito. Como é que você vê isso, essa questão da expansão da consciência como uma proposta real instrumentalizada pela obra do Castaneda?
LCM: Os intelectuais num primeiro momento eles receberam melhor o Castaneda, até o quarto livro. E quando ficou num nível assim, parecendo...
LCMJ: Parecendo um documento de antropologia.
LCM: Não, parecendo a relação do Don Juan com o discípulo, meio psicanalista e psicanalizado, só os dois ali.
D: Hm... (Risos)
LCM: Aí então, isso aí foi aceito. Quando surgiu aquela complicação de uma tradição esotérica mágica, aí começou a complicar tudo. Aí então eles falaram isso é invenção.
LCMJ: Mas era algum tipo de experimentação. Não era um discurso parecido com nada. Parece um pouco com filosofia, mas não era filosofia.
LCM: Não, não era nada que pudesse colocar nos compartimentos acadêmicos.
LCMJ: A Carmina Fort, por exemplo, que fez uma entrevista com Castaneda, diz que na China as pessoas arriscavam a vida pra fazer contrabando do livro. Muitas pessoas seguem até hoje, e tem agora uma espécie de um tai chi, que é a tensegridade. Como é que você vê essa obra do Castaneda, você que traduziu o livro dele A Roda do Tempo?
LCM: É. Eu traduzi A Roda do Tempo, que já é um livro da última fase do Castaneda, da tensegridade, que cá entre nós, eu não simpatizo muito com esse negócio de tensegridade. Eu inclusive coloquei muito em questão isso, e o pessoal da tensegridade ficou chateado comigo. Porque é uma reviravolta muito grande no que eu estava acostumado a conhecer do pensamento do Castaneda. Quando eu soube que começou aquela papagaiada de fazer seminário em Los Angeles cobrando quatro mil dólares por pessoa.
LCMJ: E às vezes com a presença dele.
LCM: E ele só aparecia. Ele não fazia nada, só aparecia. As bruxas tomaram conta dele, tomaram conta de tudo. Principalmente a chefa, que é a misteriosa Carol Tiggs.
LCMJ: Você conheceu o Castaneda ou alguma das guerreiras pessoalmente?
D: Cara, que loucura isso!
LCM: O Castaneda, só na segunda atenção. (Risos)
LCMJ: Mas então você vê uma importância maior na obra inicial, na primeira metade da obra.
LCM: Sim, sem dúvida nenhuma. Os últimos livros eu acho que além de tudo não são tão bem escritos quantos os primeiros livros de Castaneda.
LCMJ: O estilo mudou muito, né? Aqueles seriam relatos do que ele lembrou na segunda atenção.
LCM: Mas isso a partir de O Presente da Águia, que volta o Don Juan, volta tudo. Mas a influência das feiticeiras é só nos finais, eu acho que A Arte do Sonhar em diante, O Lado Ativo do Infinito, aqueles fatos, eu acho aquilo uma verdadeira, como diria a minha amiga Maria Carmen Barbosa, cenoura na canja, eu acho que aquilo não tem nada a ver...
LCMJ: Você sabe que o Castaneda se torna mestre de kung fu, ele teve um baque de energia no meio do caminho, e ele oferece O Fogo Interior ao mestre Lee, que teria sido um mestre de kung fu. Você até especula isso numa introdução.
LCM: É, eu conheci o mestre Lee.
LCMJ: Você conheceu o mestre Lee? Não seria uma tentativa de fazer uma espécie de tai chi?
LCM: Não. Eu conheci o Lee. A Nina Kirchman em São Paulo organizou a vinda do Lee, ele andou viajando, foi à Argentina e esteve aqui. Ele deu uma palestra em São Paulo e depois ele fez aqui no Rio também. E o pessoal da tensegridade ficou com o pé atrás. Porque ele é crítico da tensegridade, embora... eu tive papos com ele, nas três vezes que ele esteve aqui eu saí com ele.
LCMJ: Ele é chinês?
LCM: Ele é chinês.
LCMJ: E ele foi mestre de kung fu do Castaneda?
LCM: É, ele foi terapeuta e ensinou o kung fu. O negócio dele é ervas, dieta, massagens e exercícios. E ele fez um método pessoal dele lá.
LCMJ: Agora, e se realmente o Don Juan ensinou os movimentos pro Castaneda? Ele estaria resgatando algo da cultura autóctone americana.
LCM: É, ele ensinou pro Castaneda, mas não na quantidade que há agora. Aliás, é assumido que eles aumentaram.
LCMJ: Tem uma das guerreiras que é um ser inorgânico que veio ao mundo pela energia do Castaneda, a Blue Scout, o Batedor Azul.
D: Caraca!
LCMJ: Ela é uma das mulheres que dava o curso, que falava, tem uma série dela...
LCM: A Carol Tiggs!
LCMJ: A Carol foi e voltou. E a Blue Scout é um ser inorgânico. Porque segundo ele existem seres inorgânicos.
D: Jesus, Maria, José!
LCM: Segundo o Lee, a Carol é um ser inorgânico.
LCMJ: Então ela não é a primeira Carol, aquela mocinha, porque ela teria que ter ido com o grupo de Don Juan. Isso tá n’ A Arte do Sonhar, que ele foi com ela e depois ele voltou sozinho do outro mundo. Depois ela ia reaparecer.
LCM: É outra Carol Tiggs, não é a Carol Tiggs original, que, segundo Lee, é um ser inorgânico. O Lee disse que conheceu Castaneda porque ele tinha um lugar onde ele fazia terapia e ensinava kung fu em Los Angeles. E o Castaneda apareceu lá muito mal, com um nível de energia baixíssimo. Ele tava caindo pelas tabelas. Isso aconteceu depois do fracasso do Castaneda em comandar o grupo de guerreiros que continuasse a tradição de Don Juan. Ele foi abandonado por todos, isso tá no Presente da Águia. Todo mundo achou que ele era incompetente, que ele era um nagual de merda, e abandonaram ele.
LCMJ: Eu cheguei a pensar que esse grupo continuou com ele escondido.
LCM: Nada! Romperam!
D: E aí, o que aconteceu, eu estou interessada!
LCM: Você conhece a obra do Castaneda?
D: Não, eu li alguma coisa.
LCM: Vai ler, é uma grande novela. Então o Castaneda entrou nessas condições, e ele tratou do Castaneda sem saber que era Castaneda. Ele nem sabia quem era Castaneda, ele não tinha lido nada do Carlos Castaneda. Aí o Castaneda ficou bom. E escreveu O Fogo Interior, e dedicou pra ele. Levou o livro de presente com a dedicatória, e aí então soube que aquele era o Carlos Castaneda, por causa daquela dedicatória. Aí o Lee passou a ler os outros livros. E estabeleceu uma relação de amizade com o Carlos Castaneda.
LCMJ: Mas o Castaneda usava outros nomes como espreita.
LCM: Quando ele apareceu lá pelas tabelas, ele não apareceu com o nome de Castaneda. Carlos Spider. Ele diz que é Carlos Araña Castaneda.
LCMJ: Ele diz que é brasileiro, né?
LCM: Essas histórias dele.
LCMJ: Você acha que não verdade?
LCM: Dizem que ele é peruano.
D: É bem possível ele ser brasileiro, o brasileiro...
LCM: Ele diz que nasceu em Juqueri, mas Juqueri não é uma cidade, é um hospício. (Risos)
LCMJ: Mas na época que ele nasceu a cidade se chamava Juqueri, depois ganhou o nome de Franco da Rocha.
LCM: Ele falou que nasceu em Juqueri, mas nasceu num hospício. Tem uma reportagem da época da revista Veja, um rapaz que estava perto conheceu o Castaneda. O Castaneda disse que era brasileiro e ele começou a falar em português e o Castaneda respondeu com perfeito sotaque lusitano. Será se ele era um peruano que aprendeu a falar português?
LCMJ: Ou ele estava fazendo espreita? Tem mil historinhas assim, porque a ordem de fazer espreita é sempre de ludibriar, nunca ter uma identidade.
D: O que é uma típica malícia congo.
LCMJ: E o negócio da Carol Tiggs?
LCM: Aí a Carol Tiggs, quando ela dominou o Castaneda, com a ajuda das outras duas bruxinhas, a Taisha e a Florinda, aí então ela proibiu o Castaneda de continuar sua amizade com o Lee. Você veja que, depois da morte do Castaneda...
LCMJ: O Castaneda morreu? Ou entrou em terceira atenção?
LCM: Morreu ou está na segunda atenção com seres inorgânicos.
LCMJ: Na terceira atenção você acha que ele não entrou?
LCM: Não, absolutamente.
LCMJ: Que ele fracassou?
LCM: Ele fracassou. Segundo Lee ele está preso na segunda atenção como escravo dos seres inorgânicos.
LCMJ: Desde o início Don Juan acusa ele de ter uma relação mais parecida com a dos antigos videntes com os seres inorgânicos, algo mais perverso, mais pervertido, que não permitiria a libertação.
LCM: Eu não sei se foi isso. A própria tensegridade diz que se você não pode entrar na terceira atenção, você pode ir pra segunda atenção ficar com nossos amigos seres inorgânicos.
LCMJ: Isso tá no livro da tensegridade. Os Passes Mágicos. Mudou totalmente. Isso pro Don Juan, nos livros iniciais, era a pior coisa, que ele criticava, aqueles videntes antigos, que viraram como árvores, e ficaram milhares de anos.
LCM: Isso que segundo o Lee teria acontecido com o Castaneda. O Lee me disse assim: “Se as bruxas tivessem deixado ele me encontrar ele não teria morrido, tava vivo até hoje. Porque eu cuidava dele e botava ele bom. Mas elas não deixaram porque queriam que ele fosse pra apanhar a consciência dele na segunda atenção.”
LCMJ: No livro da Florinda ela se coloca como mocinha aprendiz de Don Juan, ela teria conhecido Don Juan em 68 mais ou menos.
LCM: Não, mas ela não é desse grupo. A Carol Tiggs é que é um ser inorgânico, e conseguiu... A Taisha também não é...
D: Lá essas coisas.
LCMJ: A Travessia das Feiticeiras conta o aprendizado da Taisha.
LCM: Foram as duas que escreveram livros.
LCMJ: Você conheceu a Ana Catan?
LCM: Conheci.
LCMJ: Ela foi realmente discípula do Castaneda?
LCM: Duvide-o-dó!
LCMJ: Mas no seu prefácio você admite como muito possível isso.
LCM: Sim. Eu fui amigo dela, ela me pediu o prefácio. Sei lá, pode ter sido tudo uma coisa de segunda atenção.
D: Você acha que no momento, não havendo mais guerra do Vietnã nem ditadura, o que era a contracultura vai por aí, investigar os limites da realidade e da expansão pessoal ou simplesmente deixou de existir?
LCM: Aquela forma de contracultura, aquilo foi um produto histórico determinado. O que era o objetivo? A liberdade. O objetivo é o reino da liberdade. Esse que é o grande objetivo que as mentes mais luminosas do século XX vislumbraram claramente. A essência do ser humano é a liberdade. Isso vai permanecer pra sempre. Isso aí não tem recuo de alienação, de estupidez que possa impedir essa coisa florescer.
D: De certa forma aquele impulso ele leva a um tipo de investigação metafísica e existencial permanente.
LCM: Sim, há essa busca, ele está indagando o seu lugar no mistério do ser. A gente busca lançar luz sobre isso com a conquista de uma liberdade cada vez maior.
CC: No caso do Castaneda e de certas experiências tinha uma ligação de expansão de consciência que não era só necessariamente tai chi ou posturas, tinha um aditivo da droga que você utilizava pra atingir essa consciência expandida. Aí a gente vê hoje a droga transformada num gigantesco business. A minha pergunta é: como é que você vê, qual o lugar da droga naquele momento e qual o lugar da droga hoje?
LCM: No Castaneda a droga nunca foi uma via de acesso a uma consciência expandida. Nunca foi. Isso é muito bem explicado e reiterado até. A droga era um meio de desmanchar a prisão da primeira atenção naquele cara em particular que era o Carlito. Então, o Don Juan conhecia aquelas plantas de poder, como ele chamava, e usava pra quebrar o condicionamento mental do Castaneda. A conquista da consciência, a expansão da consciência, no Don Juan e no Castaneda, não é um resultado da ingestão de drogas. Ao contrário do que acontece por exemplo na Igreja Nativista Americana, é, porque eles fazem o culto do peiote. O peiote é uma droga sagrada que possibilita...
D: Como o Santo Daime.
LCM: Como o Santo Daime, o Mundo Vegetal que usam o ayahuasca. Também o aiuasca é considerado uma droga sagrada. E o acesso às realidade mais profundas é através do aiuasca. No Castaneda não é assim. Então, quando ele cessa de falar de drogas, a certa altura, no segundo ou no terceiro livro, ele não fala mais de drogas. Isso só aparece no começo do aprendizado. Porque era uma maneira de quebrar a resistência. Isso é uma coisa positiva que certas drogas possuem, não são todas as drogas. São as chamadas drogas alucinógenas, ou como o psicólogo Thimoty Leary inventou o termo, psicodélicas, que são expansoras da psique, da consciência. Então não se pode dizer que cocaína, ou heroína, ou ekstasy ou crack sejam expansores de consciência.
LCMJ: Muito pelo contrário. E a maconha?
CC: Vai bem, obrigado.
LCM: A maconha é um refresco.
D: Depende do uso, é, quando você coloca a droga como um fim em si mesma...
LCM: É claro, qualquer coisa que você ache que é a solução da sua vida, pronto, você...
D: Pode ser o amor, pode ser o dinheiro.
LCM: Fica maconheiro, fica tomando aspirina, ou sonífero. Essa é uma questão que está muito presente. Se diz assim: olha só, a contracultura foi adotar as drogas, olha a merda que deu. A merda que deu não foi culpa da contracultura, foi culpa do sistema. A contracultura reivindicou a possibilidade, a liberdade do indivíduo poder usar essas drogas sem ser indiciado criminalmente, sem ser considerado um criminoso, só porque está tomando droga, o que é um absurdo, porque tomar droga não faz mal pra ninguém, a não ser pra você mesmo. Você não tá prejudicando ninguém, pó! Então isso já é uma besteira. Mas a contracultura mostrou qual era a maneira de tirar a droga do âmbito do crime, que é muito simples.
CC: É legalizar.
LCM: Como a sociedade não quis seguir o conselho sensato da contracultura, que era legalizar as drogas, ela criou o que nós estamos vendo. Naturalmente o crime organizado foi criado pelo aumento do mercado para as drogas. Aumentou muito o número de pessoas passou a consumir drogas então houve um volume muito maior de dinheiro. Agora, o grande obstáculo pra resolver isso é o fato de ser proibida. Como diz Thimoty Leary, as drogas são proibidas porque assim dão mais dinheiro a mais gente. Então, tem muita gente ganhando dinheiro com esse comércio, e quer que o comércio permaneça ilegal. O terrorismo etc. “Oh! que horror! Imagina, legalizar as drogas, aí toda a população vai se drogar, vai sair pelas ruas!”
LCMJ: Inclusive porque há drogas legalizadas, como o álcool...
LCM: Tem gente que cai de bêbado na rua, mas não é todo mundo. Um só que cai de bêbado. Agora, a experiência da Holanda, ninguém gosta de comentar. Não aconteceu nada. Tudo folclore. Não tem crime organizado na Holanda, porque não precisa ter tráfico ilegal de drogas. É controlado pelo estado, que vende a droga.
D: Tem os suicidas depressivos, mas isso tem em qualquer lugar.
LCM: Sim, por qualquer coisa.
D: Do jeito que está se falando, me parece que nesse momento em que surge o fenômeno da contracultura, é como se começasse um tipo de investigação filosófica ou de movimento filosófico da interdisciplinaridade ou da co-disciplinaridade, quer dizer, um tipo de pensamento que investiga diversos padrões e ideias de diversas culturas e não mais se deixa cercear nos limites técnicos ou geográficos ou de classe social. Me parece que essa semente vai além daquele produto histórico limitado e começa a formar uma série de pensadores que vão buscar pegando de diversas partes do mundo e de diversas disciplinas pra tentar entender e se posicionar. Será se isso faz sentido, uma tentativa de...
LCM: Sim, faz todo o sentido. Tanto é que historicamente, você sabe que contracultura veio primeiro. O florescimento de vários movimentos libertários que caracterizaram a segunda metade do século XX, como o movimento das mulheres, o movimento dos negros, o movimento dos homossexuais, ecologia... tudo isso veio a partir da contracultura. Então, foi um processo que teve, e esse processo continuou. Agora, existencialismo, é um produto histórico, lá dos anos 40, da Europa. Contracultura? Também é um produto, dos anos 60, 70, também é um produto histórico. Agora, claro que tudo delicado, tudo tem uma relação, faz parte de um processo.
D: O Mautner, quando tava me falando sobre o trabalho deles, me apresentando, tava dizendo que essa revista (Tecnogaia) era um esforço dessas pessoas que trabalham dentro da academia em trazer o mundo mais pra dentro da academia. E eu vejo em todos os lugares a necessidade urgente de beber de diversas fontes, de conseguir uma maneira de pensar que permita que várias formas de pensar convivam, dialoguem.
LCM: É. Em 72, na época da contracultura, teve umas experiências que foram feitas na Inglaterra, principalmente, nos EUA, nesses países assim, do que chamavam de anti-universidade, ou universidade livre.
CC: Aqui teve a Univerta.
LCM: A Multiversidade, também. Que é um negócio assim de uma anti-academia, quer dizer, tem cursos, tem palestras, grupos de trabalho, mas não tem nenhuma rigidez. É tudo experimental.
LCMJ: Aquela coisa burocrática, ter que dar um programa.
LCM: Você ser contratado.
D: Que é um certo extremo, também.
LCMJ: Não, não fica só nisso. Você tem 60 anos, ou você é analfabeto, e você quer ouvir uma palestra...
D: Eu compreendo, eu só quero dizer é que numa coisa totalmente livre, numa coisa mais ou menos, na academia normal, essa necessidade é premente o tempo inteiro, porque as coisas estão a cada diz nas ruas, porque o mundo é muito múltiplo, e você fica discutindo que o pensamento oriental não é filosofia, o pensamento africano menos ainda, índio quer apito, fica um anti-pensamento, quer dizer, a anti-universidade já é a universidade convencional.
CC: Eu quero pegar a questão do progresso e da crítica ao progresso. Tanto o capitalismo como as alternativas de socialismo real eram vistos lá no contexto da contracultura como visões industrialistas, que tinham um crença no progresso inexorável da humanidade e esse progresso seria desumano, horário burocrático, esse tipo de coisa. E isso aí tem a ver com a revolução industrial, com o momento em que o homem se vê diante dessa produção em massa pro mercado.
LCM: Isso aí na verdade tem a ver muito com a cultura ocidental desde as suas raízes, desde a descoberta da tekhné grega, num preceito científico deficiente da ciência ocidental, que ocasionaram o quê? O que o filósofo alemão Martin Heidegger chama de esquecimento do ser. Então, o ser foi esquecido, em função da ciência e da técnica. Eu não estou dizendo que ciência e técnica sejam necessariamente más. Mas o domínio da ciência e da técnica é mau, e a vítima é o ser humano. É uma alienação. É o que Heidegger chama de esquecimento do ser e linguagem, o hegeliano marxista vai chamar de alienação.
CC: Mas talvez aquilo que o Escobar estivesse querendo dizer naquele momento, que pareceu totalmente etnocêntrico, que os gregos pensaram mais e melhor etc, tirando esse negócio de mais e melhor, uma busca lá no Oriente, o próprio Fritjoff Capra vai buscar lá no taoísmo alternativas, mas o próprio Ocidente produziu antídotos pra isso, Heráclito, você falou em Heidegger, Nietzsche, a própria narrativa ficcional.
LCM: O pensamento oriental, a força do pensamento oriental, como repara Alan Watts, não é filosófica, não é pensamento especulativo. O pensamento oriental, o objetivo do pensamento oriental é o que em termos ocidentais se chamaria de psicoterapia. O objetivo é uma elevação do nível de consciência. Budismo, meditação, yoga, tudo isso é pra elevar a consciência do indivíduo. E nesse sentido ele é muito mais avançado do que qualquer coisa que tenha sido feita no Ocidente.
CC: Ele é uma busca de saúde.
LCM: É, de saúde. Porque no Ocidente isso ficou relegado à religião, a religião igualmente alienada. A religião dualista, a religião do outro mundo, a religião mitológica. E não ficou como uma coisa natural. Quando você diz que o Fritjoff Capra é taoísta, não há uma igreja taoísta. Há o Chuang Tze e o Lao Tze, há o pensamento taoísta. Então esse pensamento tem esse valor, de valorização do indivíduo, no caminho pra sua libertação. O Ocidente não chegou perto disso. O que foi que o Ocidente fabricou? Fabricou a psicanálise, Freud.
LCMJ: O que você está chamando de libertação? Por exemplo, na tradição do Ocidente existe a ideia da alma ir pro paraíso, se libertar, na psicanálise seria a cura, ou então o estado nirvânico... O que você está chamando de libertação?
LCM: Um estágio superior da consciência, a expansão da consciência.
LCMJ: Você acha que existem espalhadas pelo mundo técnicas...
LCM: Do mesmo jeito que no Castaneda tem a terceira atenção, no orientalismo tem nirvana, são terminologias diferentes, mas todos são estágios superiores da consciência. É a hipótese de um estado supremo da consciência.
LCMJ: Um brilho total, que está no Herman Hesse, no Sidarta.
CC: Vou ser um pouco provocativo neste momento, em relação a isso. Até que ponto isso não seria, brincando de ser freudiano, mas só brincando pra estabelecer um diálogo mesmo, até que ponto não existiria nisso um certo desejo regressivo? Até que ponto a angústia é algo inerente ao ser e até que ponto você buscar o nirvana não é uma tentativa de retorno ao cômodo útero? Até que ponto isso é um desejo de morte?
D: Até que ponto a angústia ocidental é essencial?
LCM: Isso depende de como você interpreta o nirvana. O nirvana é frequentemente interpretado, como nada se pode dizer do nirvana, então ele é um vazio, ou sunyata, nirvana vem do sunyata, plenamente, suny é um vazio, mas essa decisão budista desse significado é uma decisão em relação a uma impossibilidade conceitual, o sunyata é vazio porque não há conceitos que possam nomear.
LCMJ: Não é que ele realmente seja vazio, é vazio pra nossa mente atual, que não pode alcançar.
D: É vazio pro nosso cheio.
LCM: Então aí ele é equiparado com a morte, o aniquilamento, o nada, o desejo de chegar ao nada. Mas isso é uma interpretação freudiana do nirvana.
D: Eu diria assim criticando Freud, que não conseguiu enxergar a mulher como um outro ser mas como um não-homem, mesmo numa sociedade onde meia dúzia chegam ao nirvana você tem um monte de confusões ali que têm que ser resolvidas. O acesso de todos ao nirvana é uma questão muito séria, porque eu acho que nenhuma sociedade chegou perto de abrir realmente pra todas classes sociais, homens, mulheres, eu acho que esse caminho pro paraíso é cheio de conflitos e de brigas.
LCM: Agora você vê, mas esses caminhos, que são caminhos que são apontados para o indivíduo, segundo os caras que melhor conhecem isso, independem de obstáculos sociais ou mundanos, de uma certa maneira. Isso é uma coisa que é uma responsabilidade individual e que está ao acesso de qualquer indivíduo.
D: Embora o treinamento pràs mulheres não fosse uma coisa tão aberta.
LCM: Sim, quando se institucionaliza, quando se institucionaliza aí pronto, vêm logo os que são discriminados pela instituição, e as instituições religiosas tradicionalmente discriminaram a mulher. Eu estava me lembrando de uma passagem do Castaneda em que ele está com Don Juan num restaurante que tem mesinha na calçada, em México City, e eles estão observando um bando de meninos de rua que ficam paquerando, esperando que os fregueses se levantem das mesas, aí eles atacam as mesas, o que deixaram na mesa eles apanhavam. Apanhavam até o limão que tava dentro da xícara de chá, claro, o limão é vitamina C. Os garotos tão aproveitando tudo. Aí o Castaneda comenta isso, esses meninos coitados estão fudidos, estão perdidos. Aí o Don Juan diz pra ele: “Olha, qualquer um deles tem mais chance de se tornar um homem de conhecimento do que você”. (Risos) Não ia ser a condição de classe média, de um antropólogo que estava ali fazendo a sua tese de mestrado , depois a sua tese de doutorado...
D: Que vai fazer você passar no buraco da agulha.
LCM: É.
LCMJ: A gente tá botando isso como buraco da agulha e tal, mas o próprio Castaneda fala que assim como a tendência do ovo que foi galado é quebrar e nascer o pinto, nós somos um ovo luminoso cuja tendência natural é quebrar e nascer o pinto, que dizer, é expandir. Só que essa expansão não é feita até por um condicionamento social, o que a gente considera ou como as nossas lutas verdadeiras sociais e tal, seriam distrações pra essa evolução que seria natural. Natural é complicado de dizer, mas digamos, seria uma tendência energética. O que você pensa sobre a hipótese dos flyers, dos voadores? Porque segundo Castaneda o grande desafio da humanidade seria se livrar deles, porque eles se alimentam da nossa energia, vampirizam a nossa energia. Isso depende de ver.
LCM: São os aliados.
LCMJ: Mas são os aliados maus, que sugam a nossa energia.
D: Depende da relação sado-masoquista também.
LCMJ: Segundo ele, a humanidade tem uma mente instalada, que leva a humanidade a ser tão inteligente e tão estúpida ao mesmo tempo. Essa instalação forânea, alienígena que se alimenta da gente.
LCM: Sobre os seres inorgânicos, eu acredito que eles têm um modo de existência.
CC: Posso perguntar isso de outra forma? Você falou que você é do signo de peixes. Essa coisa de salvação, ou nirvana, é individual. Você acredita naquela coisa do Capra, da hipótese de Gaia que diz que a Terra é uma grande consciência, ou que pode vir a ser, e que essa coisa do Luís Carlos, da Dandara, do Cláudio, é muito mais esgarçada do que a solução individual?
LCM: Olha, todas as explicações sobre a realidade, seja do budismo, do taoísmo, do Capra, seja dos pensadores ocidentais bem como dos pensadores orientais, pra mim é tudo metáfora. É tudo maneiras de ver, e não existe, entre todas as diferentes maneiras de ver, nenhum núcleo central definido, que você possa dizer: “Eu cheguei no núcleo central”. Não é da natureza da realidade. A natureza da realidade é não ter núcleo central.
D: Essa inteligência é que eu considero uma das grandes coisas que o século XX trouxe. É você permitir as pessoas parar com essa loucura de achar que você tem a verdade e que todos os outros são idiotas.
LCMJ: Mas isso é uma aspiração.
LCM: E isso é uma percepção que depende de um certo nível de expansão da consciência. Da minha experiência toda com a contracultura, os ácidos que eu tomei, tudo o que eu vivi, pensei, passei, e tudo mais, o que eu trouxe de tudo isso é a minha visão, a minha consciência, disso, por exemplo. Que não adianta correr atrás desse núcleo objetal porque não há. E o processo é um processo livre, também. E se de repente a água não é mais H2O.
LCMJ: Ah, não é livre prà pessoa, é livre pra tudo!
LCM: Tudo! E se você resolve que pode voar. Sai voando.
CC: A ideia de um fluxo contínuo.
LCM: Não há nada que impeça que essas coisas possam acontecer, possam se dar. Depende da liberdade da consciência.
D: Eu acho que eu vou sair voando agora. (Risos)
LCMJ: Luiz Carlos, e a questão do aprendizado com os sonhos, não só no Castaneda, mas existem os cientistas, Stephen LeBerge que pesquisa sonhos lúcidos, sobre essa questão dos sonhos, usados não psicanalisticamente, mas atuar nos sonhos.
D: Eu tenho um amigo que falou pra eu fazer isso.
LCM: Eu acho que é uma outra maneira da consciência se alterar. Eu tive pelo menos um sonho que eu me lembro bem que foi um sonho lúcido. Eu sabia que tava sonhando. Eu fazia como o Castaneda, eu olhava as mãos.
LCMJ: Você fazia?
LCM: Eu cansei de fazer isso. Eu conheci até o Castaneda. Mas eu me lembro de uma das vezes, num sonho lúcido, em que eu conheci o Castaneda, que eu tive uma certeza absoluta que aquela realidade em que eu estava, que era a segunda atenção, era mais real do que quando eu estava acordado. Isso ficou claríssimo pra mim. (Um objeto cai e faz barulho.) Isso foi a primeira atenção chamando, ela se sentiu sacaneada. Estando aqui e agora, lembrando desse tempo, eu não acho que seja mais real lá ou mais real aqui.
LCMJ: Quando você tava lá era mais real. Quando você tava lá. Segundo o Castaneda a pessoa pode até morrer num lugar desses. Tudo pode acontecer.
CC: Tem o conto oriental que o sábio sonhou que era uma borboleta, e depois não sabia se era um homem que sonhou que era uma borboleta ou uma borboleta que sonhou que era um homem.
LCMJ: Luiz, quando o Castaneda morreu ou mudou de atenção você viu a foto que foi divulgada na imprensa do cara gorducho de óculos, que dizem que não é ele?
LCM: O Castaneda não era gorducho de óculos, ele era baixo, moreno, atarracado.
LCMJ: Você tem uma imagem dele?
LCM: Eu sonhei com ele.
LCMJ: Porque depois na internet eu vi dele, inclusive fotos dele velho.
LCM: Eu não acredito na internet. Na internet vale tudo, eu pego a fotografia do meu avô e falo que é Castaneda.
LCMJ: E Alquimia, você tem algum percurso de leitura?
LCM: Eu li alguma coisa, mas não.
LCMJ: E como é ser casado com uma atriz sex symbol da Globo? (Gargalhadas)
CC: Agora nós vamos cair na baixaria!
LCM: Revista Contigo!
LCMJ: É que eu quero perguntar um pouco sobre o percurso biográfico dele.
CC: Não, eu tô brincando, não tem censura nenhuma.
LCMJ: Como foi ser casado com uma atriz sex symbol da época?
LCM: Eu sempre gostei de mulher bonita, e essa aí, além de bonita, teve a sua magia o seu feitiço de me enredar com ela, e eu tô enredado até hoje.
D: Eu acho tão engraçado isso, os homens são sempre passivos nessa história. (Risos) “Ela me enredou”...
LCMJ: E a experiência de trabalhar num filme de Glauber, você conta no seu livro Geração em Transe...
LCM: Bernard Shaw dizia que homem não conquista mulher nenhuma, só as mulheres que conquistam os homens.
CC: Mas Dandara, isso não é verdade?
D: Eu não sei, eu não tenho muita...
LCM: O homem só pensa que conquista.
LCMJ: Tem vários gatos querendo uma gata e ela escolhe um.
D: Eu não tenho muito essa coisa na área da sedução, pra mim é mais uma coisa, uma experiência da minha expressão artística, eu espero, eu olho os que ficam a fim de mim, eu escolho.
LCMJ: Tá vendo, falou!
D: Mas dizer que eu enredo... (Risos) Eu escolho, mas eu não tenho esse exercício de querer enredar o homem.
LCMJ: Já tem toda a parafernália.
D: Eu acho que o cara tem que fazer o que ele quer também. Pra mim o afeto coletivo já é satisfatório.
LCMJ: Você é de Porto Alegre?
LCM: Sou.
LCMJ: Você primeiro foi pra Salvador, né? Como é que foi esse choque cultural?
LCM: Esse foi forte, depois quando eu vim pro Rio não.
LCMJ: Porque o gaúcho era muito formalista naquela época.
LCM: É. O meu choque cultural em Salvador foi materializado pelo Glauber Rocha. Eu fiquei completamente desbundado com o Glauber. Porque em Porto Alegre a gente tinha uma mentalidade muito colonizada, era muito aquela servidão à Europa, que a Europa era o berço da cultura e tudo mais. Eu me lembro dessa coisa de cinema, eu não conheci na minha geração ninguém que quisesse ser cineasta. Todos queriam ser críticos de cinema. (risos) Se conformavam com isso. Ser um criador de cinema era uma coisa inacessível. Quando eu cheguei na Bahia e o Glauber só queria ser o maior cineasta do mundo (risos), e fazia tudo pra isso, só trabalhava pra isso, eu fiquei espantado. Aí depois ele começou a me falar do que ia acontecer na Bahia, que a nossa geração na Bahia ia fazer o novo cinema brasileiro, o novo teatro, a nova música, a nova dança, ia sair tudo lá da Bahia. Completamente desvairado. Aí eu fiquei estatelado.
D: É você que faz aquela cena da escada?
LCM: Sou.
D: Aquilo é muito engraçado!
LCM: Eu pensei: esse cara é um louco ou um gênio!
D: As duas coisas, né?
LCM: É. (Risos) E ele me convenceu a ir pra Bahia. Eu fui pra Bahia pra ver qual era que esse cara tava falando, pra conferir.
LCMJ: Ele te conheceu no Rio Grande?
LCM: Não. Eu fui pra Bahia. Eu fui a um festival de teatro universitário que teve em Recife, e aí na volta eu parei na Bahia. E lá nesse festival de teatro eu conheci o Paulo Gil Soares, e o Paulo Gil então me deu o telefone do Glauber. E aí quando eu cheguei na Bahia eu liguei pro Glauber e fiquei conhecendo o Glauber.
LCMJ: E você ficou querendo ser cineasta também, né?
LCM: Eu fiquei querendo ser tudo. Eu sou quatro, peixes com ascendente em gêmeos, eu quero brincar na onze. Não consigo me fixar em nada.
D: Eu acho que você tem um perfil bem interessante.
LCM: Como o quê?
D: Investigação da liberdade.
LCM: Vieram me perguntar: ô Maciel, afinal de contas o que você é? Jornalista, filósofo, diretor de teatro, diretor de cinema...
D: Mas o pós-moderno é isso.
LCMJ: E o que você bota lá?
LCM: O que você é afinal de contas e eu não soube dizer pra ele.
LCMJ: Mas o que você escreve quando preenche a ficha? Escritor?
LCM: Escritor.
LCMJ: Você sente frustração de A Cruz na Praça não ter aparecido até hoje?
LCM: Ah, claro, eu ia fazer minha carreira como galã de cinema. (Risos)
LCMJ: Você teve medo na época assim, pra você, porque você é gaúcho, fazer um filme que discutia homossexualidade, com Glauber, com aquela linguagem arrojada, você sentiu algum...
LCM: Você sabe como foi a história daquela cena da escadaria?
D: Eu vi só o trecho que está no documentário.
LCM: Mas eu conto no documentário.
D: Que era pra não sei quem pegar no seu pau se ele quisesse ser um ator fodão. (Risos)
LCM: E o Glauber briga com ele porque ele não queria pegar. E o Glauber falava: “Como é que você quer ser ator?”
D: Mas foi muito rápido, depois de tanta preparação.
LCM: O Glauber filmou várias vezes...
CC: Corta! Não convenceu!
LCMJ: Mas isso te deu algum problema na época, ou foi tranquilo?
LCM: Problema nenhum.
LCMJ: Trabalhar com o Glauber.
LCM: Não, eu e o Glauber a gente se entendia muito bem, ele era de leão.
LCMJ: Você trabalhou no Pasquim desde o início, você é quase fundador do Pasquim.
LCM: Eu fui chamado por Tarso de Castro quando ele tava fazendo o jornal.
LCMJ: E qual era a sua relação com o pessoal do Pasquim? Porque eles eram um pouco mais ortodoxos, né?
LCM: Olha, a minha relação com o resto do pessoal do Pasquim foi meio esquisita no começo, porque eu não era tão famoso quanto eles, eu tava sendo mais ou menos impingido no esquema pelo Tarso. O começo não foi muito bom. Isso me lembra a piada do gaúcho que se casou e aí o estancieiro, o fazendeiro, depois de passar um tempo, perguntou: “Como é que é Pedro, como é que tá o casamento?”, e ele disse assim: “Olha, patrão, no começo não tava muito bom, mas depois foi piorando, piorando...” (Risos)
CC: Foi assim com o Pasquim?
LCM: No começo não era muito bom, mas depois foi piorando, piorando... Porque aí o Tarso inventou aquele negócio de eu fazer “Underground”, contracultura, e eles achavam tudo aquilo uma maluquice.
LCMJ: Pintou uma guerrinha dentro do Pasquim, né? Com a presença do Caetano, do Jorge Mautner, o Millôr muito brilhante.
LCM: Todos apoiaram o Millôr.
LCMJ: E aí teve uma hora que não deu mais.
LCM: Não, não...
LCMJ: E cana, prisão, teve também pra você?
LCM: Teve, fiquei dois meses lá vendo o sol nascer quadrado, na Vila Militar. Primeiro ficamos todos numa cela só, depois dividiram, eu fiquei mais tempo com o Fortuna e o Ziraldo... É um capítulo à parte.









Anexo C
A Carta de Carlos Castaneda ao etnobotânico Robert Gordon Wasson, datada de 6 de setembro de 1968 (excerto):

/.../ P: Estou certo em concluir da sua narrativa que você nunca colheu cogumelos e nem mesmo sequer via uma espécie inteiramente?
Eu mesmo os colhi. Tive talvez centenas de espécies nas minhas mãos.
Don Juan e eu fizemos viagens anuais para colhê-los nas montanhas do sudeste e nordeste do Valle Nacional no estado Oaxaca. Eu apaguei do meu livro todos os detalhes específicos sobre estas viagens e todos os detalhes específicos sobre o processo de colheita.
Don Juan mesmo colocou-se enfaticamente contra meu desejo de incluir estas descrições como parte do meu livro. Ele não se opôs aos detalhes específicos reveladores sobre a colheita do peiote ou da erva-do-diabo, já que acreditava que a divindade contida no peiote é um protetor, acessível portanto para todos os homens, e o poder da erva-do-diabo não era seu aliado (alidado). O poder dos cogumelos, em contrapartida, era seu aliado e como tal estava acima de tudo o mais. E isto implicava em segredo total acerca dos processos específicos.
P: Você percebeu por si que estava lidando com cogumelo mexicano?
Não. Minha identificação botânica foi uma tentativa, e portanto terrivelmente pouco elaborada. No meu livro aparece como se fossem Psilocybe mexicanos e temo que isto seja um erro de edição. Eu deveria ter trazido a afirmativa que eram sempre uma tentativa de classificação, uma vez que eu nunca estive completamente convicto de que fossem. As espécies em particular usadas por don Juan pareciam com os Psilocybe mexicano que eu tinha visto. Um membro do departamento de Farmacologia da UCLA também me mostrou algumas espécies que tinha, e, baseado nisso eu concluí que estava lidando com estas espécies. Entretanto, nunca se tornaram em pó sem serem manuseados. Don Juan os colhia sempre com a mão esquerda, transferia-o para a sua mão direita e então o punha numa cabaça pequena e apertada. O cogumelo desintegraria em partículas finas, mas não em pó, uma vez que era inserido delicadamente para dentro.
P: Você sabe como os cogumelos crescem?
Nós os encontramos crescendo em troncos mortos de árvores, mas mais freqüentemente em restos decompostos de arbustos mortos.
P: Qual é a origem cultural de don Juan?
Don Juan é, ao meu ver, um homem marginal que foi forjado por várias forças exteriores à cultura Yaqui genuína. Seu nome é realmente Juan. Eu tentei achar um outro nome para usar no meu livro, mas eu não conseguia imaginá-lo com outro nome que não fosse Don Juan.
Ele não é um yaqui puro, isto é, sua mãe era uma índia Yuma, e ele nasceu no Arizona. Sua origem miscigenada parece tê-lo tornado em um marginal desde o início.
Ele viveu no Arizona nos primeiros anos de sua vida e então mudou-se para Sonora quando tinha talvez seis ou sete anos de idade. Ele viveu ali por um tempo, não estou certo se com seus dois pais ou apenas com seu pai. Esta foi a época do grande levante Yaqui e Don Juan e sua família foram capturados pelas forças armadas mexicanas e deportados para o estado de Veracruz. Mais tarde Don Juan mudou-se para a área do “El Valle Nacional” onde viveu por cerca de trinta anos.
Eu acredito que ele mudou-se para lá com seu professor, que deve ter sido Mazateco. Até agora eu não fui capaz de determinar quem foi seu professor, nem como ele aprendeu a ser um brujo, ainda que o mero fato de eu ter que levá-lo todo ano para Oaxaca para coletar cogumelos seja um forte indício da localidade onde ele aprendeu, pelo menos acerca dos cogumelos.
Como você pode ver, me é impossível a esta altura determinar com certeza sua origem cultural, a não ser de uma maneira hipotética. Entretanto, o subtítulo do meu livro é “o caminho Yaqui do conhecimento”. Este é outro engano em que me envolvi pela falta de experiência em relação a publicações. O Comitê Editorial da Editora da Universidade da Califórnia sugeriu, após aceitar meu manuscrito para publicação, que a palavra Yaqui deveria ser incluída no título para situar o livro etnograficamente. Eles não leram o manuscrito, mas concluíram que o que eu disse é que Don Juan era um Yaqui, o que era verdade, mas eu nunca quis dizer que Don Juan era um produto da cultura Yaqui, como parece ser o caso quando você lê o título do livro. Don Juan considerava-se um Yaqui e parecia ter laços profundos com os Yaquis de Sonora. Entretanto, se tornou óbvio para mim agora que esses laços eram apenas uma ligação superficial.
Eu não estou bem certo se os cogumelos alucinógenos crescem ou não nas regiões áridas de Sonora e Chihuahua. Don Juan nunca procurou por eles lá, que eu saiba. Ainda que ele tenha afirmado repetidamente que uma vez que o homem aprende a comandar o poder dentro deles, os cogumelos podem crescer em quantos lugares ele queira, isto é, eles crescem por si mesmos sem sua intervenção direta.
A primeira vez na vida que eu vi os cogumelos foi em Durango. Eu pensei que nós estávamos indo olhar “honguitos”, mas nos concentramos colhendo peiote em Chihuahua. Naquele momento eu vi alguns, dez ou doze, talvez. Don Juan disse que eles eram apenas um sinal, e que não havia um número suficiente para fazer uso. Neste momento também me disse que nós tínhamos que fazer uma viagem para Oaxaca para achar o número certo de cogumelos.
Em 1964 eu mesmo achei uma espécie nas montanhas de Santa Mônica aqui em Los Angeles. Eu os levei para o laboratório da UCLA, mas por falta de cuidado eles os perderam antes de identificá-los. Era muito claro para mim que era um cogumelo da mesma espécie usada por Don Juan; naturalmente ele interpretou o evento de achá-lo um presságio de que eu estava no caminho certo da aprendizagem, mas minhas ações subseqüentes, como colhê-lo e deixá-lo com estranhos, lhe resseguraram novamente da minha extrema parvoíce.
P: Você trouxe de volta o pó, ou a mistura, do qual o pó de cogumelo era um ingrediente?
Não, entretanto tenho certeza que posso obter um pouquinho dela, talvez um punhado. Se isso for o bastante para você examiná-la no microscópio eu posso mandar-lhe no final deste ano.
P: Vai haver uma edição em Espanhol do livro?
Eu espero que a editora da Universidade da Califórnia considere esta possibilidade. Minhas anotações estão todas em espanhol. Na verdade o livro é quase uma versão em inglês do manuscrito em espanhol.
P: Don Juan dizia “un hombre de conocimiento” ou simplesmente “um hombre que sabe”?
Você me deu aqui uma informação preciosa. Para definir as condições de ser, ou o estágio de aprender a ser um “homem de conhecimento” don Juan usou os termos “hombre de conocimiento”, “hombre que sabe” e “uno que sabe”. Eu preferi o termo “homem de conhecimento” porque é mais concreto do que “aquele que sabe”.
Eu tomei parte das minhas notas em espanhol que mencionavam “o homem que sabe” e as incluí na carta. Espero que estejam legíveis. Estas folhas são uma transcrição direta de algumas notas ainda mais ilegíveis que eu tomei enquanto Don Juan falava para mim. Via de regra eu sempre reescrevo minhas notas imediatamente para não perder o frescor e o brilho das afirmações e pensamentos de Don Juan.
P: Don Juan era bilíngüe, ou era mais fluente em espanhol do que em yaqui?
Don Juan falava espanhol tão fluentemente que eu tendo a acreditar que seu domínio do espanhol é melhor do que qualquer outra linguagem que ele saiba. Mas ele também fala Yaqui, Yuma, e Mazatec. Acredito que ele também fale inglês, ou que ao menos possa entender perfeitamente, embora eu nunca o tenha visto falando.
P: Você tomou nas suas notas de campo os termos Yaqui equivalentes aos termos que ele usava?
Eu tenho alguns termos que não são espanhóis, mas são muito poucos para que seja feito um estudo sério. Nossas conversas eram realizadas apenas em espanhol e os poucos termos estrangeiros não eram todos palavras Yaqui.
P: Você disse aos seus leitores que ele pode ler e escrever em Espanhol?
Ele lê muito bem. Mas eu nunca o vi escrevendo. Por um longo período eu pensei que fosse analfabeto. Este equívoco de minha parte era resultado das nossas diferenças nas ênfases. Eu enfatizo áreas de comportamento que são completamente irrelevantes para ele, e vice-versa. Esta diferença cognitiva entre nós é o tema que estou tentando desenvolver na biografia de Don Juan que estou escrevendo agora.
Não há muito o que dizer sobre mim. Sou nativo de São Paulo, Brasil, mas fui para a escola em Buenos Aires, Argentina, antes de vir para este país. Meu nome completo é Carlos Aranha. Seguindo a tradição latina de adicionar o último nome da mãe ao seu nome, eu me tornei Carlos A. Castaneda quando vim para os Estados Unidos. Este sobrenome pertence ao meu avô que era da Sicília. Eu não sei como era originalmente, mas ele mesmo alterou-o para Castaneda para satisfazer seus caprichos. /.../
(Tradução de Miguel Duclós, in http://www.consciencia.org/castaneda/castaneda-carta-gordon-wasson.html)

A Bibliografia (e alguns sites, revistas e discos)

Carlos Castaneda e a Fresta Entre os Mundos - Vislumbres da Filosofia Ānahuacah no Século XXI é um trabalho inseminador, não exaustivo (nem exausto). E é ambicioso. Cada um dos temas aqui estudados: a América pré-Colombiana e seus povos autóctones, os povos mexicanos, maias, incas e brasileiros, suas feitiçarias, línguas e cosmologias, a Conquista, os toltecas, o nagualismo, as três nahualogias, a percéptica, Carlos Castaneda e a neotoltequidade; todos eles podem e precisam ser mais aprofundados e desenvolvidos. Estamos apenas tocando na flor do espelho d’água. Este rol de referências dá conta desta pluralidade, desta riqueza, e, ao mesmo tempo, deste à vontade de ser um passo inicial, uma retomada, que vale por um início, muitas obras, de tantos temas, e ainda há tanto a pesquisar, ou: vamos começar uma nova história, nova mente?
ABELAR, Taisha. A Travessia das Feiticeiras. 2 ed. Trad. Terezinha Batista dos Santos. Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1996. The Sorcerers’ Crossing. Abelar, Viking Penguin, 1992.
ACOSTA, José de. Historia natural y moral de las Indias, en que se trata las cosas notables del cielo, elementos, metales, plantas y animales dellas y los ritos y ceremonias, leyes, govierno y guerras de los indios.
ALVERGA, Alex Polari de. O Livro das Mirações; viagem ao Santo Daime. 2 ed. Rio de Janeiro: Record, 1995.
_______. O Guia da Floresta. 2 ed. Rio de Janeiro: Record. 1992.
ANCHIETA, José de. Arte da Gramática da Língua mais Usada na Costa do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1933.
ANCHORENA, José Dionisio. Gramática Quechua o del Idioma del Império de los Incas. Lima: Imprenta del Estado, 1874.
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Notas:

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A frase é do porteiro do estúdio Abbey Road, o irlandês Jerry Driscoll. O grupo de rock progressivo Pink Floyd fez várias entrevistas, e utilizou as falas originais no meio das músicas, ver in http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Dark_Side_of_the_Moon. WATERS, Roger. “Eclipse”, in PINK FLOYD. The Dark Side of the Moon. EMI/Harvest, 1974, 0640524900, Lado B, tradução minha.
“Aqui e agora”, in GIL, Gilberto. Refavela. Warner Music, 1977.
HERNÁNDEZ, Jose. El Gaucho Martin Fierro y La Vuelta de Martin Fierro; con un sumario biografico cronologico de Jose Roberto del Rio. Ilustraciones de Maria A. Ciordia. 3 ed. Buenos Aires: Ciordia & Rodriguez, 1948, p. 17, versão minha. Existe a tradução brasileira; que ocupou vinte anos de trabalho ao seu realizador, pela complexidade simples ou simplicidade complexa deste épico do homem dos pampas, o gaúcho: HERNÁNDEZ, Jose. Martin Fierro. Trad. João Otávio Nogueira Leiria. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1991. A excelente cantora e compositora argentina Juana Molina musicou trechos do poema.
O Mago, Somos todos um: http://www.stum.com.br/testes/tarot/resultado.asp?i=1
I. - CUICAPEUHCAYOTL. - (A Canção do começo), estâncias 4, 5 e 6. BRINTON, Daniel G. Ancient nahuatl poetry, containing the nahuatl text of XXVII ancient mexican poems. Brinton’s Library of Aboriginal American Literature, Number VII, with a translation, introduction, notes and vocabulary, 1890, pp. 25/26, in http://www.gutenberg.org/files/12219/12219-h/12219-h.htm. O título em português fica: Poesia náhuatl antiga, contendo o texto em náhuatl de 27 antigos poemas mexicanos. Fiz esta versão da tradução em inglês.
Fray Bernardino de Sahagún, autor do Codix Matritensis e do Codice Florentino, Historia general de las cosas de la Nueva Espana.
“Bernardino de Sahagún, de nascimento Bernardino de Rivera, Ribera ou Ribeira (Sahagún, Leão, Espanha, ca. 1499 - Cidade do México, 5 de fevereiro de 1590) foi um frade franciscano espanhol. Autor de várias obras bilíngues em náuatle e espanhol, consideradas hoje entre os documentos mais valiosos para a reconstrução da história do México antigo, antes da chegada dos conquistadores espanhóis”. /.../ http://pt.wikipedia.org/wiki/Bernardino_de_Sahag%C3%BAn
“Era uma vez...”, em náhuatl.
CASTANEDA, Carlos. CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. 35 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2011, pp. 123 e ss.
CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. 35 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2011, p. 162.
CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. 35 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2011, p 171.
CASTANEDA, Carlos. Viagem a Ixtlan. Trad. Luzia Machado da Costa. São Paulo: Círculo do Livro, /s.d./, pp. 172-173.
CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. 35 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2011, orelha.
Sobre estes conceitos, ver:
http://es.wikipedia.org/wiki/Emic_y_etic : “La distinción Emic/etic se usa en las ciencias sociales y las ciencias del comportamiento para referirse a dos tipos diferentes de descripción relacionadas con la conducta y la interpretación de los agentes involucrados. Una descripción emic, o émica, es una descripción en términos significativos (conscientes o inconscientes) para el agente que las realiza. Así por ejemplo una descripción emic de cierta costumbre de los habitantes de un lugar estaría basada en cómo explican los miembros de esa sociedad el significado y los motivos de esa costumbre. Una descripción etic (no traducir como ético), es una descripción de hechos observables por cualquier observador desprovisto de cualquier intento de descubrir el significado que los agentes involucrados le dan. La distinción emic / etic es similar a la existente entre nomotetico/ipsativo aunque ambas distinciones no coinciden exactamente.”
V tb Sexta-feira, 25 de Janeiro de 2008, in http://antropo-reflexoes.blogspot.com/2008/01/abordagem-emic-abordagem-etic-duas.html.
V. ainda “Emic and etic perspectives”, University of Wisconsin Eau Claire, in http://www.uwec.edu/minkushk/anth%20161emic.htm:
“Emic e Etic, termos sugeridos pelo linguista Kennet Pike em 1954, procuram estabelecer uma distinção entre as abordagens que a antropologia pode adoptar quando da análise de um mesmo objecto. Esta distinção poderá ser feita de acordo com a seguinte tabela sugerida por Carlos Reynoso em ‘Correntes em antropologia Contemporânea’.
ETIC EMIC
Comparativistas Particularistas
Ideal das ciencias naturais Ideal das humanidades
Busca da explicação Busca da compreensão
Sintese comparativa Análise do particular
Busca de leis gerais Registo de casos únicos
Tendencia para o materialismo Tendência para o idealismo
Abundante reflexão metodológica Atitude anti-teórica
Etnologia Etnografia
Procura traços comparáveis Procura a cultura em si mesma
Desenvolvimento quantitativo Exaltação do qualitativo
Enfase nas corelações impessoais Recuperação do individualismo metodológico
Formalismo Substantivismo
Relativamente às correntes e abordagens podemos facilmente acrescentar:
ETIC EMIC
Estruturalismo e funcionalismo Culturalismo
Tendência biologizante Tendência psicologizante
Da parte para o todo Do todo para a parte
Estas diferentes abordagens, perante os mesmos objetos de estudo, têm produzido correntes, conteúdos e resultados científicos distintos. Enquanto que uma abordagem ETIC está tendencialmente mais ligada à antropologia biológica, à mental binarista, bem como a toda aquela que pretende descobrir/formular os grandes postulados do comportamento humano, a abordagem EMIC procura encontrar a especificidade de cada aspecto do indivíduo e da sua cultura, constituindo em última instância muita da matéria prima utilizada pelos estudiosos que recorrem á abordagem ETIC. ‘PERSPECTIVA EMIC’ ‘Perspectiva de dentro’: O antropólogo tenta entender uma cultura da forma os seus membros a compreendem, para aprender os conceitos que eles usam e para tentar ver o mundo do jeito que eles fazem. O objetivo é penetrar o mais profundamente possível na cultura e ganhar o maior insight. Ao escrever sobre a cultura, o antropólogo permite aos leitores começar a apreciar como as pessoas de outra cultura viver suas vidas e dão sentido ao seu mundo. Observação participante é um método-chave.
‘PERSPECTIVA ETIC’ ‘Perspectiva de fora’: O objetivo da pesquisa é compreender a cultura em termos científicos, comparando a cultura a outras e procurando explicar as relações entre os elementos desta cultura. Os conceitos e teorias utilizadas derivam de um quadro comparativo que pode ser sem sentido para os membros da cultura.
A fim de aplicar conceitos comparativos de forma adequada, geralmente é necessário fazer uma primeira pesquisa de uma perspectiva êmica.
Emic e Etic são pontos finais de um continuum, ao invés de completamente opostos. Para ajudar a explicar os termos mais plenamente, aqui estão alguns exemplos:
Padrões de guerra em uma tribo em particular
Emic: membros cultura falam sobre a história do seu conflito com determinados grupos vizinhos e da traição de certos grupos.
Etic: o antropólogo pode ver a guerra frequente como conseqüência da superpopulação e da deficiência de proteína que age de guerra para remediar redistribuindo a população.
As mulheres que entram em transe
Emic: membros daquela cultura dizem que uma mulher cujos ancestrais foram sacerdotes ou sacerdotisas é provável que seja chamada como um meio por um espírito que a possui e a faz agir como louca, até que ela vai para o treinamento e se torna uma sacerdotisa, uma medium.
Etic: o antropólogo pode explicar que algumas mulheres entram em transe, observando a posição subordinada das donas de casa e a posição social bastante elevada das mulheres que se tornam líderes religiosos”, tradução minha.
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. 141, tradução minha: “Meighan cleared his throat and looked around at the board. ‘I’ve known him since he was an undergraduate student here and I’m absolutely convinced that he is an extremely creative thinker, that he’s doing anthropology. He’s working in an área of cognitive learning and the whole cross-cultural thing. He’s put his finger on things that no other anthropologist hás even been able to get at, partly by luck and partly because of his particular personality. He’s able to get information that other anthropologists can’t get, because he looks like an Indian and speaks Spanish fluently and because he’s a smart listener’.”
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. 149.
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. 154, tradução minha: “I get the impression that Carlos is a máster storyteller and that’s typical for a lot of Peruvians”.
WHITAKER, Kay Cordell. A Iniciação de uma Xamã. Trad. Ann Mary Fighiera Perpétuo. Rio de Janeiro: Record, 1995.
CASTANEDA, Carlos. The Active Side of Infinity. New York: Harper Collins Publishers, 1998.
GOODMAN, Martin. I was Carlos Castaneda; the afterlife dialogues. New York: Three Rivers Press, 2001.
Palavra tupi, é o nome de uma planta, caruru-de-espinho.
Cidade bonita, do tupi: mairy’poranga, mairy ou mairy’reya - vila, cidade; poranga - bonito. Nome dado pelos tupis aos agrupamentos dos franceses.
Oswaldo Euclides de Souza Aranha nasceu em 15 de fevereiro, em Alegrete, Rio Grande do Sul, foi articulador da Revolução de 30, deputado, Ministro da Fazenda do Governo de Getúlio Vargas em 31, líder do Governo na Constituinte de 32, embaixador nos EUA em 34, Ministro das Relações Exteriores de 38 a 44, organizou VIII Conferência PanAmericana em Lima em 38, foi eleito Secretário Geral da ONU em 1947 e reeleito em 1948, em 47 presidiu a reunião da ONU que partilhou a Palestina e criou o Estado de Israel, voltou ao Ministério da Fazenda no segundo governo de Getúlio em 1953, faleceu a 27 de janeiro de 1960.
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001. (Uma Viagem Mágica com Carlos Castaneda; a vida com o famoso guerreiro místico. Não há indicação de edição, esta é a (re)impressão que utilizei, mas a original é CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda. Victoria: Millenia Press 1996).
CASTANEDA, Carlos. A Erva-do-diabo; as experiências indígenas com plantas alucinógenas reveladas por Dom Juan. 32 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Record, 1993.
“¿En dónde estaríamos si todo se hubiera podido probar?” Entrevista a Carlos Castaneda por Kala Ruiz, “La Jornada”, Enero de 1997: “Deja de ser hombre, macho latino, deja las riendas. Tu madre te hizo creer que eras extraordinario, porque eres hombre de Chile. Te enseñaron que las mujeres son para tu uso, como decía Aristóteles: las mujeres son hombres lisiados. El que muchas de las mujeres y Carol Tiggs sean mejores que yo, eso es revolución”, tradução minha.
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. 13, tradução minha. Margaret se equivoca e escreve Bachianas Brasilerras. Não só por isso, mas por não perceber qual o contexto do país das cartas, e sua língua, pensamos o quanto alguns americanos, como Margaret, se alienam do todo da América, o grande continente onde vivemos todos nós!
LACAN, Jacques. Escritos. Trad Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, “O seminário sobre ‘A carta roubada’”, pp 13-66.
LACAN, Jacques. Escritos. Trad. Inês Oseki-Deprê. São Paulo: Perspectiva, 1988 (Paris: Éditions du Seuil, 1966), “Seminário sobre A Carta Roubada”, pp. 17-67.
CATAN, Ana. Pelo Caminho do Guerreiro. São Paulo: Saraiva, 1993, pp. 52 e 53.
Wikipedia em Espanhol: “Se dice por ejemplo que hubo otro Carlos Castañeda que nació en Perú, habiendo así confusiones conforme a su nacimiento y datos personales”, tradução minha, in http://es.wikipedia.org/wiki/Carlos_Castaneda
http://sustainedaction.org/Spanish_pages/las_paginas_en_espanol.htm
Deleuze e Guattari citam o cultivo de datura em A Erva do Diabo e a forma de colhê-lo, - todos que nascem nas trilhas que a chuva abriu desde a que você plantou são suas, são filhas da que você plantou -, como um exemplo de rizoma, em Mil platôs. O rizoma se opõe ao esquema da árvore, que tem um eixo pivotante. Se Castaneda é rizomático não é radial, mas uso o termo no sentido de algo que se espalha, sem, necessariamente, ter um centro.
“P: Las personas demostrando los movimientos son llamadas en el vídeo “chacmoles”. ¿Quienes son? ,¿Cual es su importancia?
R: Las tres personas que presentan este vídeo son Kylie Lundhal, Reni Murez y Nyei Murez. Las tres han trabajado con nosotros por muchos años. Kylie Lundhal y Nyei Murez son discípulas de Florinda Donner-Grau, Reni Murez lo es de Carol Tiggs. Don Juan nos explicó que las gigantescas figuras reclinadas llamadas chacmoles, encontradas en las pirámides de México, eran la representación de guardianes. El decía que la mirada de vacío en sus ojos y caras era debida al hecho de que eran guardianes-de-ensueño, que cuidaban de los ensoñadores y de los sitios de ensueño. Siguiendo la tradición de Don Juan, llamamos a Kylie Lundhal, Reni Murez y a Nyei Murez chacmoles, debido a la inherente organización energética de sus seres que les permite poseer un solo propósito, una genuina fiereza y osadía que las hace guardianes ideales de lo que escojan cuidar, ya sea una persona, una idea, un modo de vida o lo que sea”. /.../ In http://www.geocities.com/diablisima/nagual.html
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A Bruxa e a Arte do Sonhar. Trad. A. Costa. Rio de Janeiro: Record: Nova Era, 1998, pp. 14-15.
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SOLÓRZANO, Domingo Delgado. El Nahual de Cinco Puntas. Morelia, Michoacán, Mexico, 2004, texto da contracapa, tradução minha.
MATUS, Lujan. The Art of Stalking Parallel Perception; The Living Tapestry of Lujan Matus. Victoria: Trafford, 2005, pp. 57 e 67.
http://www.perceptica.com.mx/, tradução minha.
Expressão mazateca, que Don Juan preferia a “brujo” e “diablero”, ver entrevista transcrita em http://www.artforthemasses.us/castacon/viewtopic.php?f=9&t=474&start=0&st=0&sk=t&sd=a
DONNER-GRAU, Florinda. Sonhos Lúcidos: uma iniciação ao mundo dos feiticeiros. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Record, 1993.
Em inglês “assemblage point”, em espanhol “punto de encaje”, nos próprios textos de Castaneda (alguns dos livros foram vertidos por ele mesmo para o espanhol). No Brasil, desde o início, traduziu-se erradamente como “ponto de aglutinação”. Ora, encaixe é uma coisa, aglutinação outra. No caso, trata-se do ponto de encaixe.
V. http://www.utexas.edu/faculty/council/2000-2001/memorials/SCANNED/castaneda.pdf. V. tb. Knight Without Armor: Felix D. Almaraz Jr. Carlos Eduardo Castaneda, 1896-1958. Texas: College Station: Texas A&M University Press, 1999.
Washington: Documentary Publications, 1971.
“Carlos E. Castañeda desempenhou um papel central no desenvolvimento inicial do Latin American Benson Collection, que é considerado um dos repositórios de materiais da América Latina mais famosos do mundo. Ele era um Phi Beta Kappa de pós-graduação da Universidade do Texas em Austin, onde ele obteve os graus BA, MA, Ph.D. e graus. Dr. Castañeda foi bibliotecário da Coleção Latino-Americana de 1927 até 1946, e tem o crédito principal pela aquisição da incomparável coleção privada de Garcia Icazbalceta, do Mexico. Reconhecido como uma autoridade sobre o início da história do México e Texas, Dr. Castañeda atuou como um professor associado de História em tempo parcial de 1936 a 1946, quando foi nomeado professor de história da América Latina, cargo que desempenhou até sua morte em 1958 .
/.../ Castañeda recebeu o doutorado na Universidade do Texas, em Austin, em 1932. Sua dissertação, Morfi’s History of Texas, é uma edição crítica de um manuscrito original do Pe. Juan Augustin Morfi, que o Dr. Castañeda descobriu nos arquivos do Convento de San Francisco el Grande, na Biblioteca Nacional do México.” http://www.lib.utexas.edu/pcl/history/castaneda.html, tradução minha.
“Carlos Castaneda - One the nation’s top Spanish-language publishers who in a career spanning five decades was editor and publisher of the newspapers El Nuevo Herald and El Nuevo Dia and Life Magazine (Spanish language version naturally)” /.../ (http://www.lifeinlegacy.com/2002/WIR20021012.html#D92). O site escreve o nome sem til, mas este é com til, Carlos Mauricio Castañeda. Há uma Fundação Educativa com o seu nome.
To Amy Wallace
with best wishes.
“The way to freedom is sometimes a whisper in the ear,”
don Juan said that.
WALLACE, Amy. Sorcerer’s Apprentice; my life with Carlos Castaneda. 2 ed. (s/ indicação de edição). Berkeley: Frog, 2007, p 24, tradução minha.
Bibliografia alternativa:
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Corvalan, Graciela, “Magical Blend n15”, Carlos Castaneda, part II.
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Corvalan, Graciela, Der Weg der Tolteken - Ein Gesprdch mit Carlos Castaneda, Fischer, 1987
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b) Alguma Crítica e Alguma Teoria:
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Frank Giano Ripel: Nagualismo
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MILLE, Richard de. The Perfect Mirror Is Invisible. Zygon, Volume 11, Isse 1, pages 25-33, March 1976.
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TEREZA, Mariví de. “Las piezas del rompecabeza”, “A peças do quebra-cabeças”, in YOLILIZTLI, Juan. Los Testigos del Nagual; entrevistas a los discípulos de Carlos Castaneda, As Testemunhas do Nagual; entrevistas com os discípulos de Carlos Castaneda, p. 57, tradução minha. “En general, son personas que se sientem defraudadas. Es como si el Nagual les hubiera prometido algo y no les hubiero cumplido. Son gentes despechadas. Lo que tienem es pura importancia personal”.
PAZ, Octavio. “La Mirada Anterior”, in El Mercurio Revista Eletrónica de Estados Modificados de Consciencia y Nuevos Paradigmas, http://www.mercurialis.com/EMC/Octavio%20Paz%20-%20La%20Mirada%20Anterior%201.htm, tradução minha: “¿Qué pensará Carlos Castaneda de la inmensa popularidad de sus obras? Probablemente se encogerá de hombros: un equívoco más en una obra que desde su aparición provoca el desconcierto y la incertidumbre. En la revista Time se publicó hace unos meses una extensa entrevista con Castaneda. Confieso que el “misterio Castaneda” me interesa menos que su obra. El secreto de su origen -¿es peruano, brasileño o chicano?- me parece un enigma mediocre, sobre todo si se piensa en los enigmas que nos proponen sus libros. El primero de esos enigmas se refiere a su naturaleza: ¿antropología o ficción literaria? Se dirá que mi pregunta es ociosa: documento antropológico o ficción, el significado de la obra es el mismo. La ficción literaria es ya un documento etnográfico y el documento, como sus críticos más encarnizados lo reconocen, posee indudable valor literario. El ejemplo de Tristes Tropiques -autobiografía de un antropólogo y testimonio etnográfico- contesta la pregunta. ¿La contesta realmente? Si los libros de Castaneda son una obra de ficción literaria, lo son de una manera muy extraña: su tema es la derrota de la antropología y la victoria de la magia; si son obras de antropología, su tema no puede ser lo menos: la venganza del “objeto” antropológico (un brujo) sobre el antropólogo hasta convertirlo en un hechicero. Antiantropología”.
CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado. 4 ed. Trad. Theo Santiago. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1988.
VERNANT, Jean-Pierre. As Origens do Pensamento Grego. Trad. Ísis Lana Borges. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1972
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Idem, ibidem, “Introdução”, p. 4.
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RUIZ, Don Miguel. Os quatro compromissos; um guia prático para a liberdade pessoal. 11 ed. Trad. Luís Fernando Martins Esteves. Rio de Janeiro: BestSeller, 2008, “Introdução O espelho enevoado”, pp 14 e 15.
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CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. 149.
Em vários lugares, p. ex. CASTANEDA, Carlos. CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. 35 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2011, pp. 223- 236.
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AUSTIN, Alfredo López e LUJÁN, Leonardo López. El Pasado Indígena. México: El Colegio de México, Fideicomiso Historia de las Américas, Fondo de Cultura Económica, 1996, pp. 96-98, El preclásico mesoamericano, “El Preclásico y lo Olmeca”.
“La Venta was inhabited by people of the Olmec Culture from 1200 BC until 400 BC after which the site seems was abandoned. It was an important civic and ceremonial centre.
Today, the entire southern end of the site is covered by a petroleum refinery and has been largely demolished, making excavations difficult or impossible”, tradução minha http://www.ancient-wisdom.co.uk/mexicolaventa.htm
Podemos ver o Mapa dos povos da América Pré-Colombiana in SOUSTELLE, Jacques. A Civilização Asteca. Trad Maria Júlia Goldwasser. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987. P. 16. V. tb. Mapa Antiguo de México, Año 1780, in http://www.mexico-map.net/mapas-mexico/mapa-antiguo-de-mexico.php, e a lista dos povos indígenas em cada estado (entidad federativa) do México atual in Governo do México, Comisión Nacional para el Desarrollo de los Pueblos Indígenas, http://www.cdi.gob.mx/index.php?option=com_content&view=article&id=758&Itemid=68, Fuentes: Instituto Nacional Indigenista, Colección Pueblos Indígenas de México, México, 1994; Conaculta y otros, La diversidad cultural de México, mapa, 1998.
Estado Pueblo Indígena
Baja California Cochimí, cucapá, kiliwa, kumiai y paipai
Campeche Maya
Coahuila Kikapú
Chiapas Cakchiquel, chol, jacalteco, kanjobal, lacandón, mame, mochó, tojolabal, tzeltal (tseltal), tzotzil (tsotsil) y zoque
Chihuahua Guarijío, pima, tarahumara y tepehuán
Distrito Federal Maya, mazahua, mazateco, mixe, mixteco, náhuatl, otomí, purépecha, tlapaneco, totonaco y zapoteco
Durango Tepehuán
Guanajuato Chichimeca jonaz
Guerrero Amuzgo, mixteco, náhuatl y tlapaneco
Hidalgo Náhuatl y otomí
Jalisco Huichol
México Mazahua, náhuatl y otomí
Michoacán Mazahua, otomí y purépecha
Morelos Náhuatl
Nayarit Cora y huichol
Oaxaca Amuzgo, chatino, chinanteco, chocho, chontal, cuicateco, huave, ixcateco, mazateco, mixe, mixteco, triqui y zapoteco
Puebla Chocho, mixteco, náhuatl y totonaca
Querétaro Otomí y pame
Quintana Roo Maya
San Luis Potosí Huasteco, náhuatl y pame
Sinaloa Mayo
Sonora Mayo, pápago, pima, seri y yaqui
Tabasco Chontal y chol
Veracruz Náhuatl, tepehua, popoluca y totonaca
Yucatán Maya
Sobre o Distrito Federal: “Se trata de los principales grupos indígenas migrantes establecidos en esa entidad. --- Nota: Aguascalientes, Baja California Sur, Colima, Nuevo León, Tamaulipas, Tlaxcala y Zacatecas no tienen población indígena significativa. Asimismo hay que apuntar que en los distintos estados hay indígenas migrantes”, nota do site.
CASTANEDA, Carlos. CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. 35 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2011, pp. 112 a 118.
“Eso no te puedo decir. Cuando me tienes a mi, mi tiempo, tu no podrás decir donde me conociste, ni donde me viste, ni donde me encontraste, ni como me llamo. Esa es la regla con respecto a los brujos. Esa es la regla cuando se quiere, saber, cuando se tiene buena voluntad”. V. Anexo A.
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. 128, tradução minha: “Carlos’s years in the field had generated several hundred pages of field notes, some photographs, a brief 16-mm film and some tape recorded interviews, most of which he later denied having. He had reworked his field notes all along, trying to put them into a more readable form”.
Vou demostrar a meu modo, mas esta comprovação cabal levará um certo tempo e o esforço de muitos estudiosos. V. p. ex. GARZA, Mercedes de la. Sueño y Alucinación em el Mundo Náhuatl y Maya. México: Universidade Autónoma de México, 1990.
Ver TAPAJÓS, Vicente. História da América. 3 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1958, passim; v. tb. A Povoação das Américas - História da Povoação das Américas, http://www.historiadomundo.com.br/artigos/povoacao-da-america.htm.
“Together we were traversing the crack between the natural world of everyday life and an unseen world, which don Juan called “the second attention”, a term he preferred to ‘supernatural’”. “Carlos Castaneda speaks”, an interview by Keith Thompson, from New Age Journal, March/April 1994, tradução minha.
CASTANEDA, Carlos. CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. 35 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2011, p. 126.
RUIZ, Don Miguel, RUIZ, Don Jose e MILLS, Janet. O Quinto Compromisso; um guia prático para o autodomínio. Trad. Gabriel Zide Neto. Rio de Janeiro: BestSeller, 2010, p. 77.
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. 162: “It was the crack between worlds and the socerer’s plain /.../”.
http://www.fortunecity.com/olympia/wade/237/taisha9cam.htm, tradução minha. O texto também está nas Notas Brujas; Recopilación de notas sobre el material de Don Juan Matus. Rosario: 2002, edição eletrônica, pp. 37-42, disponível em http://www.4shared.com/document/PQY7hXVp/CASTAEDA_CARLOS_-__Recopilacin.htm
Diálogos de Guerreros; Foro Juan Yoliliztli - considerasiones sobre las enseñanzas de Carlos Castaneda. México: Alba, 2005, pp. 194-5, tradução minha.
SÁNCHEZ, Víctor. Os Ensinamentos de Don Carlos; Aplicações práticas dos trabalhos de Carlos Castaneda. Trad Ricardo Aníbal Reosenbuch. Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1997, p86.
SÁNCHEZ, Víctor. Os Ensinamentos de Don Carlos; Aplicações práticas dos trabalhos de Carlos Castaneda. Trad Ricardo Aníbal Reosenbuch. Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1997, pp. 79-92.
“Un nagual está tan lejos del ser humano común y corriente, como este último lo está de la ameba. Como dice el Códice Matritense, NAWALLI ATLAKATL, ‘el nagual no es humano’”.
http://aztlan.org.mx/foros-generales?func=view&id=86&view=flat&catid=39. V. tb. Frank, in SOCIEDAD NAGUALISTA, Grupo de guerreros interesados en el incremento de la conciencia y de la percepcion, http://www.phpbbplanet.com/forum/viewtopic.php?t=180&view=previous&sid=5ac59c733f9b559fb276d43e1c2b2b4a&mforum=juanyoliliztli
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O Anti-Édipo. Capitalismo e Esquizofrenia I. 2 ed. Trad. Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2011.
GOODMAN, Martin. I was Carlos Castaneda. New York: Three Rivers, 2001,Capítulo 8 “The Harmony of Brains”, pp 77-82.
Em vários lugares, por exemplo, http://www.youtube.com/watch?v=vS1AYztJew8&feature=fvst.
TOURNIER, Michel. Sexta-Feira ou os Limbos do Pacífico. Trad. Fernanda Botelho. São Paulo, Nobel, 1985.
SCHEURMANN, Erich. O Papalaqui; comentários de Tuiávii, chefe da tribo Tiavéa, nos mares do sul. 2 ed. Trad. Samuel Penna Aarão Reis. São Paulo: Marco Zero, /s.d.. (Original alemão: Der Papalagi. Zurich: Tanner & Staehelin, 1920).
“Cem Ānáhuac (pronunciado originalmente [sem.a:’na.wak]) es el nombre dado a la extensión del territorio conocido por la civilización mexica antes de la invasión y conquista de México por parte de Hernán Cortés y los europeos.
Se trata de un nombre náhuatl derivado de las palabras “cem” (totalmente) y “Ānáhuac”, que a su vez deriva de las palabras “atl” (agua) y “nahuac”, un locativo que significa “circunvalado o rodeado”. El nombre literalmente entonces puede traducirse como “tierra completamente rodeada por agua”, o “[la] totalidad [de lo que está] junto a las aguas”. La expresión hace referencia a la conciencia continental que tenían los mexica frente al territorio americano que conocían, rodeado por dos grandes océanos, el Atlántico y el Pacífico.
Derivado de Cem Ānáhuac, los antiguos pobladores de la Cuenca de México utilizaban el gentilicio ānahuacah para referirse a los habitantes de Cem Ānáhuac. Y para distinguir a las distintas naciones que habitaban en Cem Ānáhuac los denominaban como “ānahuacah maya”, “ānahuacah zapotecah”, “ānahuacahh mexicah” y así sucesivamente”.
http://es.wikipedia.org/wiki/Cem_%C4%80n%C3%A1huac. A Wikipédia referencia Guillermo Marín neste artigo: Marín, Guillermo. «LA CIVILIZACION DEL ANAHUAC». toltecayotl.org. Consultado el 17 de octubre de 2010.
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AUSTIN, Alfredo López e LUJÁN, Leonardo López. El Pasado Indígena. México: El Colegio de México, Fideicomiso Historia de las Américas, Fondo de Cultura Económica, 1996, passim.
Ver http://familylambert.net/History/bios/william.html, e os livros:
RONAN, Gerard. The Irish Zorro - The Extraordinary Adventures of William Lamport (1615-1659). Eaglemount: Mount Eagle Publications, 2004. (Editora australiana)
TRONCARELLI, Fabio. La Spada e la Croce - Guillén Lombardo e la inquisizione in Messico. Roma: Edizioni Salerno, 1999.
Ver também o documentário Zorro no History Channel, http://www.seuhistory.com/home.html.
“Os yora ou amahuaca são um grupo étnico da Amazônia Peruana, que se distribuem nas regiões de Ucayali e Madre de Dios. Falam o idioma amahuaca, que faz parte da família linguística pano.
Agrupam-se principalmente nos vales dos rios Mapuya, Curanja, Sepahua, Inuya e Yurúa. /.../
Foram os missionários franciscanos quem, em 1686, contactou pela primeira vez os yora, que eles chamaram de amahuaca. Os missionários encontraram 12 choças na zona do rio Conguari, em um momento histórico em que os yora viviam em constante medo por causa dos piro, shipibo e conibo, que os mantinham como escravos domésticos /.../”.
http://es.wikipedia.org/wiki/Yora, tradução minha. Ver tb The Amahuaca - Amazon Tribe of Peru in http://www.crystalinks.com/amahuaca.html
MARÍN, Guillermo. El Ānáhuac esencia y raiz de México, edição on line, passim.
http://es.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9xico_a_trav%C3%A9s_de_los_siglos
Internet Archive
http://www.archive.org/details/mxicotravsde01tomorich
http://www.archive.org/details/mxicotravsde02tomorich
http://www.archive.org/details/mxicotravsde03tomorich
http://www.archive.org/details/mxicotravsde04tomorich
http://www.archive.org/details/mxicotravsde05tomorich
PLATÃO. Timeu e Crítias ou A Atlântida. Trad, introdução e notas Norberto de Paula Lima. São Paulo: Hemus, 1981.
“La Atlantida en el Anáhuac”. CHAVERO, Alfredo. México a través de lo siglos. Libro Primero, 1880, in http://www.toltecayotl.org/tolteca/index.php?option=com_content&view=article&id=1004:la-atlantida-en-el-anahuac-alfredo-chavero&catid=26:general&Itemid=7, tradução minha.
DELGADO, Edgar. “Mi camino a la impecabilidad”, in YOLILIZTLI, Juan. Los Testigos del Nagual; entrevistas a los discípulos de Carlos Castaneda, p 46, tradução minha.
Sobre o toltecáyotl, v. tb. o site de Guillermo Marín http://www.toltecayotl.org/tolteca/. É um site precioso, que traz muita informação e doa vários livros para download, inclusive de Guillermo Marín.
Un Estúdio sobre el Folklore y Historia Nativa de América, de Daniel O. Brinton, A.M., M.D., L.L.D., D.SC. Profesor de la Universidad de Arqueología y Linguistica Americana de Pensylvannia. Philadelphia, MacCalla & Company, PH TBRS, 237-9 Dock Stkbet. Leído ante la Sociedad Filosófica Americana el 5 de Enero de 1894 Reimpreso el 23 de Febrero de 1894. From Proc. Amer. Philos. Soc., vol. XXXIII. Traducido al español por Cristina Segui.
Estas palavras aparecem várias vezes na tradução inglesa da obra do Dr. Paul, “Teatro Crítico Americano de Felix Cabrera”, publicada em 1822, em Londres. Adoptou-se a forma “nagual” en vez de “nahual”, “naual” ou “nawal”. (Nota do livro, traduzida por mim.)
Por exemplo, em “Os Nomes dos Deuses no Mito Kiche”, pp.21, 22, em “Procedimentos da Sociedade Filosófica Americana”, 1681; “Anais dos Catchiqueles”, Introducción, p46; “Ensaios de um Americanista”, p.170, etc. (Nota do livro traduzida por mim.)
BRINTON, Daniel O. Un estúdio sobre el folklore e historia nativa de América, pp. 4 e 5, tradução minha.
WALLACE, Amy. Sorcerer’s Apprentice; my life with Carlos Castaneda. 2 ed. (s/ indicação de edição). Berkeley: Frog, 2007, p, 104.
“O tonalamatl é um almanaque divinatório usado no México Central nas décadas, ou mesmo séculos, que precederam a conquista do México. A palavra é de origen nauatle, e significa “páginas dos días”.
O tonalamatl estava estruturado em redor do ano sagrado de 260 dias, o tonalpohualli. Este ano de 260 dias consistia de 20 trezenas. Cada página de um tonalamatl representava uma trezena, e era adornada com uma pintura da deidade reinante dessa trezena e decorada com os 13 sinais dos dias e 13 outros glifos. Estes sinais dos dias e glifos eram usados para produzir horóscopos e discernir o futuro”. http://pt.wikipedia.org/wiki/Tonalamatl
LEÓN-PORTILLA, Miguel. La filosofía náhuatl: estudiada en sus fuentes. 3 ed. México: UNAM, 1966, pp. 246 y 359, apud DÍAZ, Miguel Tapia. Tonalpohualli: Mathesis tolteca. México: 2005.
“Estos adivinos [los tonalpouhque] no se regían por los signos ni planetas del cielo, sino por una instrucción que según ellos dicen se la dejó Quetzalcóatl la cual contiene veinte caracteres multiplicados trece veces (…) Esta manera de adivinanza en ninguna manera puede ser lícita, porque ni se funda en la influencia de las estrellas, ni en cosa ninguna natural, ni su círculo es conforme al círculo del año, porque no contiene más de doscientos sesenta días, los cuales acabados tornan al principio. Este artificio de contar, o es arte de nigromántica o pacto y fábrica del demonio, lo cual con toda diligencia se debe desarraigar”.
Sahagún, Fr. Bernardino de, Historia general de las cosas de Nueva España. 3 ed., México: Porrúa, 1977, p 315, ibidem, tradução minha.
DÍAZ, Miguel Tapia. Tonalpohualli: Mathesis tolteca. http://www.4shared.com/file/16254398/299583df/, tradução minha.
TUGGY, David. Lecciones para un Curso del Náhuatl Moderno. pp. ix, 132. Sta. Catarina Mártir, Puebla, México: Universidad de las Américas-Puebla, electronic edition (1991-2002), p 1, http://www.sil.org/~tuggyd/index_english.htm, tradução minha.
A respeito da escrita náhuatl, seus números e logogramas, ver o site Ancient Scripts.com, a compendium of wold-wide systems from prehistory to today, de autoria de Lawrence, in http://www.ancientscripts.com/aztec.html. Eis alguns trechos traduzidos por mim, para dar uma idéia da escrita asteca: “/.../ O idioma que os astecas falavam era chamado Náhuatl, que foi também a língua da maioria dos povos do México Central e uma língua franca em grande parte da Mesoamérica. A origem da escrita Náhuatl ainda não é bem compreendida. Ela se assemelha com a escrita Mixteca, já que em ambos os casos utilizam-se pontos para números menores de vinte (em contraste com a nolação barra-e-ponto, usado em Maia e Zapoteca), partilham um estilo similar de construção de sinais compostos, e colocam a ênfase em textos curtos que dependem de cenas pintadas por narrativas em vez de textos mais longos. Pensa-se que a escrita Mixteca influenciou a escrita Náhuatl, mas ambas são possivelmente influenciadas por sistemas anteriores de escrita de cidades como Xochicalco, Cacaxtla, e a ainda mais antiga Teotihuacan,
A escrita Náhuatl foi primeiro escrita em suportes perecíveis, tais como pele de veado e códices de papel. Devido à devastação do tempo e à destruição proposital de livros tantos pelos astecas, quanto pelos conquistadores Espanhóis, nenhum livro pré-colombiano sobreviveu até a idade moderna, Todos os documentos sobreviventes que contêm a escrita Náhuatl foram compostas depois da Conquista, e apresentam uma mistura de glifos astecas e notas em Espanhol. Há alguns códices feitos antes da Conquista, da região de Puebla, em um estilo um pouco diferente conhecido como estilo Mixteca-Puebla ‘internacional’, mas a sua relação exata para ambos as escritas Asteca ou Mixteca é ainda um tanto obscura.
Panorama Geral
Escrita Náhuatl tinha três funções principais, a saber, para marcar as datas de calendário, para registro contábil de cálculos matemáticos, e para escrever nomes de pessoas e lugares. Nenhum texto contínuo, como dos sistemas de escrita Maia, Epi-Olmeca ou mesmo Zapoteca, foi encontrado. Como já observado, a representação pictórica de eventos é usada, em vez de textos longos, para registrar a história.
Como outras escritos Mesoamericanas, o núcleo da escrita Náhuatl consiste de um conjunto de sinais de calendário e um sistema numérico vigésima!. O ciclo mais importante observado pelos astecas era o calendário sagrado de 260 dias, chamado Tonalpohualli em Náhuatl. O Tonalpohualli é constituído essencialmente de dois ciclos paralelos e interligados, um dos 20 dias (representado por ‘sinais dia’), e um dos 13 dias (representado por números chamados ‘coeficientes’). A seguir estão os 20 sinais do dia no calendário sagrado Asteca.
A data no Tonalpohualli é composta de um sinal de dia e um coeficiente. Assim, por exemplo, o primeiro dia do ciclo de 260 dias seria l Cipactii. Como tanto osinal do dia como o coeficiente avançam, no dia seguinte seria 2 Ehecatl. Isto continua até que 13 de Acatl é alcançado, no ponto do em que o coeficiente do ciclo pula de volta ale, portanto, no dia seguinte seria l Ocelotl. Da mesma forma, ao chegar o último sinal no dia 7 Xochitl, o ciclo vai voltar para o primeiro sinal, e no dia seguinte seria 8 Cipactl.
Os astecas tinham um calendário de 365 dias solares chamado Xiuhpohualli, que consistia de 18 meses de 20 dias, e um período de azar de 5 dias, no final do ano. No entanto, eles raramente registravam as datas do calendário solar em manuscritos, e nunca em monumentos.
Além disso, como outras culturas Mesoamericanas, os astecas também empregavam o Calendário Cíclico, um período de 52 anos criado pelo bloqueio dos ciclos de 260 dias e 365 dias. Um ano no Calendário Cíclico era chamado pelo nome
Tonalpohualli do último dia do último mês no Xiuhpohualli para esse ano. Devido à forma como a matemática trabalhava, apenas quatro sinais de dias, ou seja, Calli, Tochtli, Acatl e Tecpatl, poderiam ser parte do nome de um ano, e, portanto, eles eram chamados de ‘portadores do ano’. Acompanhando os portadores do ano estavam os coeficientes, que podiam variar de l a 13. Para distinguir o ano do Calendário Cíclico dos dias no calendário de 260 dias, glifos para anos foram inserdios em ‘cartuchos’ retangulares. Um bom exemplo ocorre no Codex Telleriano-Remensis, um documento escrito após a Conquista Espanhola, mas num momento em que o conhecimento da cultura pré-colombiana ainda estava disponível. Neste documento, os ans astecas estão correlacionados aos anos do Calendário Gregoriano ocidental.
Como você provavelmente já percebeu, os números astecas são representados por longas seqüências de pontos. Em geral, os astecas utilizavam quase exclusivamente pontos em manuscritos, bem como em monumentos de pedra, mas o sistema barra-e-ponto, mais antigo,faz raras aparições em monumentos esculpidos, principalmente devido a considerações artísticas. O sistema de pontos, enquanto viável para o uso do calendário (uma vez que nenhum número será sempre superior a 20), era impossível quando se tratava de contagem, especialmente devido ao fato de que o Império Asteca tinha que registrar grandes quantidades de tributos freqüentemente cobrados de suas províncias. O Codex Mendoza, outro manuscrito da pós-Conquista, retrata a vida no México Central na época da Conquista e também continha uma seção sobre o tributo exigido pelo Império. Para contar os itens além de 20 de forma eficiente, os astecas usavam glifos para os números 20 (uma bandeira), 400 (uma pena) e 8000 (um saco de incenso).
Por exemplo, o número 500 seria uma pena e cinco bandeiras (400 + 5 x 20 = 500). Para indicar que os glifos múltiplos formando um número pertencem a um grupo único sinal, uma linha é desenhada para ligar todos os glifos. A linha é então ligada ao objeto que se está contando.
Os exemplos anteriores são retirados do Codex Mendoza, e eles fornecem tanto as versões Asteca quanto Espanhola das informações que eles estão transmitindo. À esquerda, você pode ver o pacote por uma série de cinco bandeiras, que é o número 100 (5 x 20), e que é secundado pela legenda em espanhol ‘çient cargas de cação’, que significa ‘100 cargas de grãos de cacau’. No meio, a representação Asteca é de quatro sinalizadores e um pássaro, que é traduzida na legenda em espanhol como ‘ochenta picles de pajaros deste color’, ou ‘80 peles de aves dessa cor’. E, finalmente, à direita, a legenda ‘cccc manojo de plumas coloradas’, o que significa ‘400 pacotes de penas vermelhas’, e é mostrado em Asteca como um esquema de penas pretas (400) com um feixe de penas vermelhas.
Logogramas
Além de sinais de calendário e numéricos, uma quantidade de logogramas altamente pictóricos foram usados para escrever nomes pessoais, nomes de lugares e acontecimentos históricos. Por exemplo, existem muitos registros do exército Asteca conquistando outras cidades, documentados no Codex Mendoza. Para mostrar que uma cidade foi conquistada, o nome da cidade está escrito ao lado do glifo para ‘conquistados’, que é um templo (pirâmide) em chamas, soltando fumaça e com sua parte superior caindo. No exemplo a seguir, as antigas cidades de Colhuacan e Tenayucan foram mostradas para sendo conquistadas. E para voltar ao ponto, guerreiros astecas são mostrados com cativos provenientes dessas cidades conquistadas.
A língua Nahuatl é polissintética, o que significa que palavras compostas e frases longas são construídas a partir de raízes e afixos. Refletindo essa característica, os nomes astecas são muitas vezes escritos como grupos de logogramas altamente pictóricos que compõem as raízes do nome. Os glifos são unidos, ou mesmo, às vezes, combinados em um único glifo (um processo chamado de fusão) para mostrar que eles formam uma palavra composta. A seguir estão alguns exemplos de logogramas formando blocos de glifos. Note-se que logogramas são transcritos em negrito usando letras maiúsculas nas suas formas de raiz, ou seja, a parte imutável da palavra. Observe também que substantivos Nahuatl são transcritos em letras minúsculas em itálico no caso absolutivo, que é a raiz mais um final -ti, -tli, ou -li. Embora seja muito longo para explicar aqui, o caso absolutivo em Nahuatl pode ser pensado como sujeito singular de uma frase. /.../
Escrita Rebus
Enquanto um monte de nomes em Náhuatl pode ser representado pela união de logogramas juntos por seu significado, por vezes, é difícil de retratar visualmente um conceito graficamente. Para resolver isso, em certos casos, um logograma é usado por seu valor fonético ao invés de seu significado, a fim de representar outra raiz, sufixo, ou sílaba(s) com sons idênticos ou semelhantes aos logograma. Este processo é chamado de escrita rebus e também é bastante produtivo na escrita asteca, como você pode ver nos exemplos a seguir. /.../
Glifos fonéticos
A escrita rebus é uma das maneiras de representar sons ao invés de significados na escrita Náhuatl. Além disso, um número de logogramas Náhuatl também pode funcionar como sinais fonéticos de uma única sílaba. E, de fato, como a escrita rebus, seus valores fonéticos são derivadas das palavras que os logogramas representam. Contudo, diferente da escrita rebus que usa o som completo da raiz, glifos fonéticos são sempre uma única sílaba e tomam o seu valor a partir da primeira sílaba (menos quaisquer consoantes final) da palavra que o logogramas representam. Este é o chamado princípio acrofônico e é encontrado em sistemas de escrita do mundo todo. /.../
Por exemplo, o glifo a é derivado de a-tl ‘água’, tia é um conjunto de dentes e baseado na palavra tlan-tli ‘dente’, e ko que vem da fonna comi-tl ‘pot’. Observe que, enquanto os logogramas são transcritos utilizando letras maiúsculas, sinais fonéticos são transcritos com letras minúsculas.
Com freqüência, nomes encontrados nos manuscritos e monumentos astecas incluem uma boa quantidade de glifos fonéticos. Às vezes, os glifos fonéticos servem para complementar logogramas, na medida em que representam uma ou mais sílabas do logograma. Às vezes, os glifos representam sílabas inteiras sem a presença de logogramas. E, um pouco mais raramente, o nome inteiro é gravado totalmente de maneira fonética. /.../”
http://www.worldlingo.com/ma/enwiki/pt/Nahuatl#Sounds. Tradução minha. Corrigi algumas traduções automáticas do Google, colocando, por exemplo, “oclusiva glotal”, no lugar de “batente glottal”.
http://en.wiktionary.org/wiki/Appendix:Swadesh_lists_for_Uto-Aztecan_languages, tradução minha.
http://www.lynnandrews.com/
WHITAKER, Kay Cordell. A Iniciação de uma Xamã. Trad. Ann Mary Fighiera Perpétuo. Rio de Janeiro: Record, 1995.
http://www.katasee.com/
http://www.worldbalance.com/
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. 164, versão minha do original: “We were both doing shamanism, so Donnan thought it would be a good idea. It’s no surprise, because shamanism wherever you find it hás structural components that are very similar. The surface may vary according to cultures, just as languages vary, but when you start getting down to the psychological core, there is a tremendous amount of simi¬larity. It’s no accident that there was all this similarity between what he was doing and what I was doing. /.../”
“Indígenas da América Central que habitam o México, a Guatemala, Honduras e São Salvador. Foram uma das civilizações mais cultas de toda a História, com grande destaque pa¬ra a Arquitetura, Escultura, Cerâmica e Astronomia. Povo de origem incerta, os maias, vindos talvez do norte estabeleceram-se no sul do México por volta do ano 1.000 a.C.” (http://www.tg3.com.br/maias/)
“O povo maia habitou a região das florestas tropicais das atuais Guatemala, Honduras e Península de Yucatán (região sul do atual México). Viveram nestas regiões entre os séculos IV a.C e IX a.C. Entre os séculos IX e X , os toltecas invadiram essas regiões e dominaram a civilização maia”. (http://www.suapesquisa.com/astecas/) V. tb:
ANNEQUIN, Guy. “Religião e Ciência entre os Maias”. In: A Civilização dos Maias. Rio de Janeiro: Otto Pierre Editores, 1977.
DANIKEN, Erich von. “O que teria acontecido em 11 de Agosto de 3114 a.C.?”. In: O dia em que os deuses chegaram. São Paulo: Círculo do Livro, 1986.
LEÓN-PORTILLA, Miguel. La Filosofía Náhuatl: Estudiada en sus Fuentes. 3 ed. México: UNAM, 1966.
MARÍN, Guillermo. Conocimiento y revaloración de la Filosofia del Anáhuac. Oaxaca, México: 2010, edição eletrônica, www.toltecayotl.org, p. 11, tradução minha.
SOLÓRZANO, Domingo Delgado. El Nagual de Cinco Puntas. Michoacán: Morelia, 2004, “La Regla del Nahual de Cinco Puntas”, início, pp. 118-119, tradução minha.
http://colombia.indymedia.org/news/2006/06/45227.php
E. g. Notes from a course with Merilyn Tunneshende, workshop 12-15 July 1999, Grimstone Manor, Devon, por Jim Peters, http://uazu.net/notes/merilyn.html
Merilyn Tunneshende, A Serpente do Arco-íris tolteca - Don Juan e a arte da energia sexual, versão online, p. 2.
Guillermo Marín, idem, ibidem, tradução minha.
BACATETE, Carlos Hidalgo de. “Sólo cuando uno encara la muerte total, alcanza la libertad total”, in YOLILIZTLI, Juan. Los Testigos del Nagual; entrevistas a los discípulos de Carlos Castaneda, pp. 34 e 35, tradução minha.
CASTANEDA, Carlos. Viagem a Ixtlan. Trad. Luzia Machado da Costa. São Paulo: Círculo do Livro, /s.d./, p. 65.
SOLÓRZANO, Domingo Delgado. El Nahual de Cinco Puntas. Michoacán: Morelia, 2004, p 13, tradução minha.
SOLÓRZANO, Domingo Delgado. El Nahual de Cinco Puntas. Michoacán: Morelia, 2004, p 19, tradução minha.
http://es.wikipedia.org/wiki/Neotolteca, tradução minha.
Os Mastral revelam que estes são na no alto da cabeça e na nuca, in MASTRAL, Isabela e MASTRAL, Eduardo Daniel. O Filho do Fogo; o Descortinar da Alta Magia. 2 volumes. 5 ed. São Paulo: Naós, 2001.
CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. 35 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2011, p. 233. V. trecho da fala original na p. 29: “Para mi solo recorrer los caminos que tienen corazon, cualquier camino que tenga corazon. Por ahi yo recorro, y la única prueba que vale es atravesar todo su largo. Y por ahi yo recorro mirando, mirando, sin aliento”.
O Presente da Águia. 7 ed. Trad. Vera Maria Whately. Rio de Janeiro: Record, /s.d./, p. 13.
MACIEL, Luiz Carlos, in CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. 35 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2011, contracapa.
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, pp. 147 e 168.
Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. e 25, tradução minha.
Ver Echinopsis peruviana, in http://en.wikipedia.org/wiki/Echinopsis_peruviana, e CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda. Idem, ibidem.
CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. 35 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2011, pp 39-40.
http://es.wikipedia.org/wiki/Peyotl
http://es.wikipedia.org/wiki/Datura_stramonium, tradução minha (conservei os nomes populares mexicanos)
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, pp. viii e ix, tradução minha.
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. 20.
Idem, ibidem.
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, pp. 70 e 159.
CASTANEDA, Carlos. CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. 35 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2011, p. 74.
Esta relação com o homem escolhido, o homem que andava procurando, se nos lembra Heráclito com a lanterna no meio da feira, também nos faz pensar em Plotino, o qual, ao conhecer Amônio de Sacas, declarou que “encontrara seu homem”.
“Amônio Sacas, (lat: Ammonius Saccas), (175-242) foi um grande filósofo grego de Alexandria, considerado como o fundador da escola neoplatônica. De origem simples, ele ganhava a vida como carregador; seu apelido era ‘carregador de sacos’, em grego sakkas ou sakkoforos. Detalhes sobre a sua vida são desconhecidos. Depois de muito estudo e meditação, Amônio abriu uma escola de filosofia em Alexandria. Seus princípais discípulos foram Herênio, os dois Orígenes (Orígenes e Orígenes, o Pagão), Cássio Longino e Plotino. Ele nunca escreveu nada e manteve secretas suas opiniões. Sua filosofia pode ser compreendida basicamente através dos escritos de Plotino. Hierócles, que escreveu no século V d.C, afirmou. que a principal doutrina de Saccas era o ecletismo, derivado de um estudo crítico de Platão e Aristóteles. Seus admiradores consideravam-no como o grande reconciliador das divergências entre as duas escolas. Sua morte provavelmente ocorreu entre 240 e 245”, in http://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%B4nio_Sacas.
V. PLOTINO. Tratados das Enéadas. Trad. Américo Sommerman. São Paulo: Polar, 2002.
V. tb. PLOTINUS. The Six Enneads. Transl. Stephen MacKenna and B. S. Page. London: Encyclopaedia Britannica, 1952.
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. 118, tradução minha: “‘I have begun to understand sorcery in terms of Talcott Parsons’s idea of glosses,’ Carlos says. ‘A gloss is a total system of perception and language. For instante, this room is a gloss. We have lumped together a sereis of isolated perceptions - floor, ceiling, window, lights, rugs, etc. - to make a single totality. But we had to be taught to put the world together in this way. The world is an agreement. /.../’”.
Idem, ibidem, p. 118, tradução minha: “Your friend Wittgenstein tied the noose too tight around the neck so he can’t go anywhere”.
Idem, ibidem, p. 95.
Adaptado de http://www.wordreference.com/espt/chocho.
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. 157.
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus Símbolos. Concepção e Organização. 2 ed. especial brasileira. Participação de John Freeman et alii. Trad. Maria Lúcia Pinho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008, pp. 31 e ss.
GOODMAN, Martin. I was Carlos Castaneda; the afterlife dialogues. New York: Three Rivers Press, 2001, p 87, texto original: “The trick of bringing the three brains into harmony is to open up to infinity. Invite down a force that sees you acting according to its designs. It’s the equivalent of opening up to our potential on this earth. That’s what our free will amounts to: opening ourselves fully to the plan that’s laid out for us”.
http://en.wikipedia.org/wiki/Carlos_Castaneda, tradução minha
BLAKE, William. The Marriage of Heaven and Hell, escrito em 1793, in http://www.gailgastfield.com/mhh/mhh.html e http://www.levity.com/alchemy/blake_ma.html, tradução minha.
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. 59, tradução minha.
Revista O Globo, 11 de julho de 2010, p. 29; reportagem nas páginas: 28-33.
McKENNA, Terence. Alucinações Reais; uma viagem cósmica inspirada pelo uso das plantas de poder. Trad. Alves Calado. Rio de Janeiro: Record, 1993.
______. O Alimento dos Deuses. Trad. Alves Calado. Rio de Janeiro: Record, 1995.
SANGIRARDI Jr. O Índio e as Plantas Alucinógenas; plantas alucinógenas, excitantes, narcóticas e psicodélicas. Rio de Janeiro: Alhambra, 1983.
ALVERGA, Alex Polari de. O Livro das Mirações; viagem ao Santo Daime. 2 ed. Rio de Janeiro: Record, 1995.
_______. ALVERGA, Alex Polari de. O Guia da Floresta. 2 ed. Rio de Janeiro: Record. 1992.
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. 171, tradução minha.
CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, pp. 181-2, tradução minha: “The final class period was held high in the hills north of Los Angeles, a spot Carlos called a place of power, where Yaqui sorcerers once had come to practice meditation and other shamanic rituals. He said it was a location that Don Juan had seen in one of his dreams, a huge ring of boulders arranged in a circle around a dense forest of chaparral, high above Malibu Canyon. /.../
/.../ When they got there, Carlos hopped up in front of everyone and began demostrating some exercises, some of the techniques of Yaqui sorcery, such as coming in contact with the lines of the world. Everybody gathered around him. Carlos stood with his feet at a right angle, his left arm extended and his right arm parallel to the ground and bent inward toward his chest. He turned his left palm toward the back and his right palm toward the front. Then the fingers on each hand began moving wildly as if they were pucking a giant banjo. Carlos made fists and turned himself around gracefully into a prizefighter’s stance.
He stood there tense and locked, his arms out and legs bent in his determined crouch, stony eyed. And suddenly, there they were... the lines of the world! The net, the web, the cosmic interstitial flow!”
Notas brujas, pp. 4 e 6, versão minha.
No youtube há vários vídeos com os passes mágicos, por exemplo:
http://www.youtube.com/results?search_query=Tensegridade&aq=f
http://www.youtube.com/results?search_query=passes+m%C3%A1gicos&aq=f
A Cleargreen vende os vídeos no seu site endereço:
http://www.castaneda.com/
http://www.castaneda.com/mirrors/portuguese/tenseg/questoes.html#1
Os quatro números do jornal podem ser encontrados no site http://alamogordo.wordpress.com/2008/11/15/the-warriors-way-readers-of-infinity/
http://heartjoia.com/1121-pedras-preciosas-gemas-listagem
CASTANEDA, Carlos. El Silencio Interno, o livro púrpura, pp. 5 e 6, versão minha.
SOLÓRZANO, Domingo Delgado. El Nahual de Cinco Puntas. Morelia, Michoacán, Mexico, 2004, pp 51 e ss.
CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. 35 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2011, “Comentários do autor em comemoração ao 30° aniverário de A Erva do Diabo”, pp. 16-17.
DONNER-GRAU, Florinda. Sonhos Lúcidos: uma iniciação ao mundo dos feiticeiros. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Record, 1993, p. 22.
http://en.wikipedia.org/wiki/Arthur_Posnansky. Obras de Arthur Posnansky: Que es raza?; Tihuanacu, the cradle of American man.
“Aymará (em aymará: aymará) é o nome de um povo e respectiva língua - língua aymará -, estabelecido desde a época pré-colombiana no sul do Peru, na Bolívia, na Argentina e no Chile. No Peru os falantes desta língua somam mais de 300.000 pessoas denunciando que o grupo étnico é bem maior. Aí estão mais concentrados no departamento de Puno (perto do Lago Titicaca), nas regiões Moquegua, Arequiça e Tacna. Na Bolívia existem cerca de 1.200.000 falantes do idioma aymará, sendo a forma falada na capital La Paz considerada a forma mais pura e estruturada da língua, havendo concentrações nos departamentos de Oruro e Chuquisaca. No Chile, a população aymará é grande, havendo cerca de 50.000 falantes também habitando nas regiões andinas do norte do pais, em Taracapá e Antofagasta. Existem também cerca de 10.000 falantes do idioma aymará no oeste da Argentina. Na atualidade há quase 2,5 milhões de pessoas de etnia e língua aymará, na zona dos Andes. São o segundo grupo nativo, só superado pelos quíchuas com quase 15 milhões de pessoas espalhadas pelos Andes da Colômbia até a Argentina. Alguns acreditam que o idioma aymará é aparentado com o idioma quíchua língua original do Império Inca embora fortes objeções de vários estudiosos. Os que defendem o parentesco ligüístico se baseiam nas similitudes, por exemplo a palabra Condor é Kuntura em aymará e Kuntur em quíchua. O que tem de se considerar é que embora adiantados e prósperos, os reinos aymarás originais acabaram sendo dominados pelo imperador inca Huayna Capac entre os anos de 1493 e 1525”. /…/ http://pt.wikipedia.org/wiki/Aimar%C3%A1s
Mudando um pouco de assunto, mas que ajuda a começar a desenvolver uma visão da coplexidade social dos povos antóctones dos Andes, recomendo o estudo da pesquisadora equatoriana María Auxiliadora Cordero Ramos El cacicazgo Cayambi; Trayectoria hacia la complejidad social em los Andes septentrionales. Quito: ABYA YALA, Universidad Politécnica Salesiana, 2009.
Línguas da família tupi-guarani: tupi, aikewara, asurini do Xingu, guarani kaiwá, guarani mbyá, guarani nhandeva, guarani paraguaio, kamaiurá, nheengatu, tapirapé, tembé.
Sobre o Caminho Peabiru:
BOND, Rosana. A Saga de Aleixo Garcia, o Descobridor do Império Inca. Florianópolis: Insular, 1998.
BUENO, Eduardo. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.
CABEZA DE VACA, Alvár Núñez. Naufrágios e Comentários. Porto Alegre: L&PM, 1999.
DONATO, Hernâni. Sumé e Peabiru. São Paulo: Edições GRD, 1997.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caminho_do_Peabiru. Ver tb http://www.brasilazul.com.br/peabiru.asp.
MAUTNER, Jorge, in Outros 500; Novas Conversas Sobre o Jeito do Brasil. Porto Alegre, Prefeitura Municipal de Porto Alegre - Secretaria Municipal da Cultura, 2000, pp. 82-83.
DONNER-GRAU, Florinda. Sonhos Lúcidos: uma iniciação ao mundo dos feiticeiros. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Record, 1993.
http://www.castaneda.com/mirrors/portuguese/index.html. A página citada traz a nota ainda: “Fuller’s description of this tensegrity principle in trees is well worth reading. Find it in: Buckminster Fuller: An Autobiographical Monologue/ Scenario. Documented & Edited by Robert Snyder. New York: St. Martin’s Press, 1980, pp. 46-7”.
De forma absurda, a “edição revista” brasileira não traz a dedicatória! Edições anteriores, da mesma casa, pelo mesmo tradutor, traziam, mas a importantíssima dedicatória foi retirada na nona edição: O Fogo Interior. 9 ed. Trad. Antonio Trânsito. Rio de Janeiro: Nova Era, 2008.
ABELAR, Taisha. A Travessia das Feiticeiras. 2 ed. Trad. Terezinha Batista dos Santos. Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1996, p. 13.
ABELAR, Taisha. A Travessia das Feiticeiras. 2 ed. Trad. Terezinha Batista dos Santos. Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1996, p 21.
Que consultei na versão espanhola, El Camino Tolteca.
FEATHER, Ken Eagle. El Camino Tolteca; guia práctica de las enseñanzas de Don Juan Matus, Carlos Castaneda y otros videntes toltecas. Madrid: Artes Gráficas Cofás, 1998, p. 5, versão minha.
http://www.4shared.com/document/dzo1seEc/CASTAEDA__CARLOS_-_Pases_Suelt.htm
http://www.4shared.com/document/PQY7hXVp/CASTAEDA_CARLOS_-__Recopilacin.htm
CASTANEDA, Carlos. Uma Estranha Realidade. 16 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2009, p. 253.
TEREZA, Mariví de. “Las piezas del rompecabeza”, “A peças do quebra-cabeças”, in YOLILIZTLI, Juan. Los Testigos del Nagual; entrevistas a los discípulos de Carlos Castaneda, As Testemunhas do Nagual; entrevistas com os discípulos de Carlos Castaneda, p. 64.
“O nascimento de um mundo/Se atrasou por um momento/Foi um breve lapso do tempo/Do universo um segundo /.../ Realizaram o trabalho/De desunir nossas mãos/E fazer com que os irmãos/Se mirassem com temor”, BUARQUE, Chico e MILANÊS, Pablo. “Canción por la unidad Latinoamericana”, in NASCIMENTO, Milton. Clube da Esquina 2. EMI/Odeon. 1978, faixa 2 do disco 2, tradução minha.
Em 1973 Pablo grava seu primeiro álbum, todo com melodias feitas por ele para versos de José Martí.
“José Julián Martí y Pérez (La Habana, Cuba, 28 de enero de 1853 - Los Ríos, Cuba, 19 de mayo de 1895) fue un político, pensador, periodista, filósofo y poeta cubano, creador del Partido Revolucionario Cubano y organizador de la Guerra del 95 o Guerra Necesaria. Perteneció al movimiento literario del modernismo”. http://es.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Mart%C3%AD
A versão toda em espanhol de Pablo traz ainda uma estrofe assim:
“Bolívar lanzó una estrella/Que junto a Martí brilló,/Fidel la dignifico/Para andar por estas tierras”. http://letras.terra.com.br/pablo-milanes/83776/
Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante
Copyright 2005 Jornal Pequeno, http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina243.htm
NERUDA, Pablo. Canto Geral. 5 ed. Trad. Paulo Mendes Campos. Revista por Maria José de Queiroz. São Paulo: Difel, 1982, pp.13-14, 78. Texto original do Canto General, I “La Lámpara en la tierra” III “Vienen los pájaros” e IV “Los Libertadores” I “Cuauhtemoc (1520)”, pp 7 e 81 da edição eletrônica http://www.4shared.com/document/vzqSkiX7/Canto_general.html
TAPAJÓS, Vicente. História da América. 3 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1958, p. 434.
DONNER-GRAU, Florinda. Sonhos Lúcidos: uma iniciação ao mundo dos feiticeiros. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Record, 1993, pp. 14-21.
CASTANEDA, Carlos. O Poder do Silêncio; Novos Ensinamentos de Don Juan. 7 ed. Trad Antônio Trânsito. São Paulo: Record, 1993, p. 122.
Apud El camino tolteca de la recapitulacion; sanando tu pasado para liberar tu alma (México, Lectorum, 2003, p. 12) de Victor Sánchez, autor também de Las enseñanzas de Don Carlos.
MAUTNER, Jorge e JACOBINA, Nelson. “Herói das Estrelas” in 1974 - LP Jorge Mautner. CBD PHONOGRAM, 2451.051.
ABELAR, Taisha. A Travessia das Feiticeiras. 2 ed. Trad. Terezinha Batista dos Santos. Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1996, pp. 57-8.
TEREZA, Mariví de. “Las piezas del rompecabeza”, “A peças do quebra-cabeças”, in YOLILIZTLI, Juan. Los Testigos del Nagual; entrevistas a los discípulos de Carlos Castaneda, As Testemunhas do Nagual; entrevistas com os discípulos de Carlos Castaneda, p. 63, tradução minha: “No, recapitular no es regodearte en el recuerdo de lo que te ocurrió, sino tratar de descifrarlo, encontrar las chaves para que puedas aplicar tu atención a los pontos donde se fraguaron tus hábitos y rutinas. El intento inicial de este ejecicio es recoger lo que te corresponde y entregar lo que no es tuyo, ver qué has hecho con tu capital energético.
“La palabra Capitular significa ceder una plaza, perder un espacio en la guerra. Así que recapitular es saber cuántas veces tu ser real ha cedido el dominio a tu domesticidad, cuántas vezes has capitulado, cuántas te has autoderrotado, dónde dejaste tu energia, en qué eventos, en qué intercambios, en qué emocionalidades, en qué compromisos, saber en qué te enrollas, cómo cedes tu potencial a la modalidad de tu época”.
ABELAR, Taisha. Palestra em Menlo Park, no ano de 1994, in Notas Bruxas, p. 7, versão minha.
ABELAR, Taisha. A Travessia das Feiticeiras. 2 ed. Trad. Terezinha Batista dos Santos. Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1996, pp. 62, 63 e 66.
SÁNCHEZ, Víctor. Os Ensinamentos de Don Carlos; Aplicações práticas dos trabalhos de Carlos Castaneda. Trad Ricardo Aníbal Reosenbuch. Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1997.
SÁNCHEZ, Víctor. El Camino Tolteca de la Recapitulación; Sanando tu pasado para liberar tu alma. México: Lectorum, 2003.
SÁNCHEZ, Víctor. El Camino Tolteca de la Recapitulación; Sanando tu pasado para liberar tu alma. México: Lectorum, 2003, pp. 242-243, tradução minha.
“Gazlic che, gazlic abah, huyu, k’o ru naual (La vida del árbol, la vida de la piedra, de la sierra, es su naual)
Ru g’alache, rohobachi, ti ru gaah, ru pocob, ru gh’amay a ghay ti be chi naualil (Hace magia com su escudo, su lanza, y sus flechas)
Tin naualih (Yo practico magia)”
BRINTON, Daniel O. Un estúdio sobre el folklore e historia nativa de América. Profesor de la Universidad de Arqueología y Linguistica Americana de Pensylvannia. Philadelphia, MacCalla & Company, PH TBRS, 237-9 Dock Stkbet. Leído ante la Sociedad Filosófica Americana el 5 de Enero de 1894 Reimpreso el 23 de Febrero de 1894. From Proc. Amer. Philos. Soc., vol. XXXIII. Traducido al español por Cristina Segui, p 23.
SAMS, Jamie. As Cartas do Caminho Sagrado; a descoberta do ser através dos ensinamentos dos índios norte-americanos. 6 ed. Trad. Fabio Fernandes. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, pp. 199/200.
V. tb. STEVENS, Jose e STEVENS, Lena. Os Segredos do Xamanismo; descobrindo a relação com o espírito dentro de você. Trad. Therezinha Batista dos Santos. Rio de Janeiro: Objetiva, 1992.
______. Viagem a Ixtlan. Trad. Luzia Machado da Costa. São Paulo: Círculo do Livro, /s.d./, p. 202.
Dados do Mamífero:
Nome: Tigre Dente de Sabre
Nomes Científico: Smilodon fatalis, Smilodon gracilis e o Smilodon populator
Época: Pleistoceno, há 12 mil anos atrás
Local onde Viveu: América do Sul e do Norte
Tamanho: 3 metros de comprimento
Peso: 300kg
Alimentação: Carnívora, adaptado de http://www.avph.com.br/smilodon.htm.
CASTANEDA, Carlos. Uma Estranha Realidade. 16 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2009, pp. 126, 127.
CASTANEDA, Carlos. Notas Brujas, p. 6.
CASTANEDA, Carlos. Viagem a Ixtlan. Trad. Luzia Machado da Costa. São Paulo: Círculo do Livro, /s.d./, p. 195.
TORRES, Armando. Encontros com o Nagual. México: Editorial Alba, 2004, pp 88-89.
CATAN, Ana. Pelo Caminho do Guerreiro. São Paulo: Saraiva, 1993, pp 51 e 52.
CATAN, Ana. Pelo Caminho do Guerreiro. São Paulo: Saraiva, 1993, pp 36-43.
CATAN, Ana. Pelo Caminho do Guerreiro. São Paulo: Saraiva, 1993, p 41.
CATAN, Ana. Pelo Caminho do Guerreiro. São Paulo: Saraiva, 1993, p 36.
CATAN, Ana. Pelo Caminho do Guerreiro. São Paulo: Saraiva, 1993, p 36.
CATAN, Ana. Pelo Caminho do Guerreiro, São Paulo: Saraiva, 1993, p 73.
“They’re reaching for infinity, Amy. They know their quest is futile, but they climb and climb and they never give up. The reach... that is man breaking his chains, fighting his way out of prison, when he knows his fight is hopeless but nothing will stop him. He is full of joy, he says, ‘Fuck it! Fuck God himself! The you is in the journey.’ Then he possesses everything. When what you have is more than enough, my love, then, and only then, are you on the edge of impeccability. Something sees; and that something loves our fight.”
WALLACE, Amy. Sorcerer’s Apprentice; my life with Carlos Castaneda. 2 ed. (s/ indicação de edição). Berkeley: Frog, 2007, pp. 106, a foto dos voadores do folclore, e 107, o texto, tradução minha.
O site em russo “Toltec Info” traz a foto de Antonio: http://castaneda-ru.com/foto18.php, outro site russo “Newfresh” também: http://www.newfresh.name/publ/ehzo/neorganiki/3-1-0-157
TEREZA, Mariví de. “Las piezas del rompecabeza”, “A peças do quebra-cabeças”, in YOLILIZTLI, Juan. Los Testigos del Nagual; entrevistas a los discípulos de Carlos Castaneda, As Testemunhas do Nagual; entrevistas com os discípulos de Carlos Castaneda, p. 61, tradução minha.
Um brinde ao leitor: duas entrevistas em áudio com Castaneda, uma para baixar, outra transcrita:
1) DON JUAN THE SORCERER - Carlos Castaneda interviewed by Theodore Roszak. Author of “The Teachings of Don Juan” discusses his experiences with hallucinogenic substances used under the guidance of his Yaqui Indian teacher, don Juan Matus. BROADCAST: KPFA, 30 Jan. 1969 (37 min.), BB2038 Pacifica Radio Archives, in http://www.archive.org/details/DonJuanTheSorcerer-CarlosCastanedaInterviewedByTheodoreRoszak
2) Entrevista de 50 minutos de Carlos Castaneda com Jane Hellisoe, em 1968 (transcrição completa):
“DON JUAN’S TEACHINGS: Further Conversations with Carlos Castaneda
I’m Jane Hellisoe of the University of California press, and I have here today, Carlos Castaneda, author of The Teachings of Don Juan. I’m assuming that most of you have read the book, you all look like you have. Laughter. So I think just turn it over to Carlos and let it go from there. Carlos...
O.K. Maybe you like to ask me something that you want to know?
How did you meet don Juan?
The way I, uh, got to know him,was very uh, very fortuitous type of affair. I was not not interested in finding what he knew, because I didn’t know what he knew. I was interested in collecting plants. And I met him in Arizona. There was an old man who lived somewhere around the hills, that knew a great deal about plants. And that was my interest, to collect information on plants. And uh, I uh, we went one day this friend and myself we went to look for him. And we were misguided by the Yuma Indians and we up in the hills and never found the old man. Um, it was later on when I was at the end of this first trip that I make to Arizona, at the end of the summer and I was ready to go back to Los Angeles, that I was waiting in the bus stop and the old man walked in. And that’s how I met him. Laughter. Uh, I talked to him for about a year, I used to visit him, periodically I visit him, because I like him, he’s very friendly and very consistent. It’s very nice to be around him. He has great sense of humor... and I like him, very much. And that was my first guiding thought, I used to go seek his council because he is very humorous and very funny. But I never suspected that he knew anything, beyond knowledgeable in the use of plants for medicinal purposes.
Did you have a sense that he knew how to live?
No, no, I didn’t I couldn’t respond? there was something strange about him, but anybody could tell that you know, there’s something very uh, very strange. There are two people that I have taken down to the field, with me, and that they know him. They found that that . . . he has very haunting eyes when he looks at you, because most of the time he squints or he seems to be shifty. You would say that he’s a shifty looking man. He’s not looking,
except sometimes when he looks, he’s very, whenever he looks he’s very
forceful. You could acknowledge that he’s looking at you. And I, but I never knew that he knew anything beyond that, I have no idea. When I went to do my fieldwork, I always I parted from the point of view that I was the anthropologist, in quotes, doing the fieldwork with uh, Indian, you know. And they were uh, I was the one who knew most everything (laughter), and uh they didn’t. But of course, that it was a great culture shock to find out that I didn’t know anything. It’s a great feeling that of arriving, a sense of uh, humbleness. Because we are the winners, the conquerors, you know, and whatever we do is great, is logical, it’s, it’s magnificent. We only the ones who are capable of anything noble, that’s in the back of our mind. We cannot avoid that, we cannot avoid that. And whenever we tumble down from that stand, I feels it’s great.
What country are you from?
I’m from Brazil, I was born in Brazil. My grandparents are Italian.
Uh, do you still think that he manipulated you into the last part of your book into a situation in which you supposedly in danger of losing your soul?
Sub-laugh. There, there are two explanations, you see, I prefer to think, that he was cueing me. It made me feel comfortable to think that this was an experience resulting from these manipulations or social cues. But maybe this witch was impersonating him. Everytime I am in U.C.L.A. of course I pretend the position that he was, manipulating me. That’s very coherent, cogent of the pursual of academia. But whenever I am in field, I think they were impersonating him. Laughter. And that’s incoherent with what takes place there. That’s a very difficult transition to make. If you are going to dwelling in a University, if I would be a teacher, if I know that I’m going to be a teacher all my life, I could say anything you know, and it’s nice, but I may wind up again in the field, very soon. Laughter. I uh, made up my mind. I am going to go back, later maybe at the end of this month, and uh, I’m very serious about that.
Could you describe the nature of your communication with don Juan, since you wrote the book?
We’re very good friends. He uh, uh he uh, he’s capable always to baffle me me, by kidding me. He never takes anything seriously. I am very serious in the sense like, I feel that I have withdrawn from this apprenticeship. And I’m very serious about that, I believe that I have.
He doesn’t believe you?
No.... laughter
Do you find that your approach to uh, uh reality, or whatever, is any different since meeting don Juan?
O yes, yes, very different. Very different as such. Laughter. Well I don’t take things too seriously anymore. Laughter, applause.
Why did you write the second part of your book?
Why? Essentially, I’m concerned with rescuing something that has been lost for five hundred years, because of superstition, we all know that. It’s superstition, and it’s been taken as such. Therefore, in order to render it,
serious, to go beyond the revelation, that there must be something that could be distilled from the revelation period. And to me, the only way to do it, is by presenting it seriously, in format of the socialist position. Otherwise, it remains in the level of oddity. We have in the back of our minds, the idea that only we could be logical, only we could be sublime, noble. Somehow, I think, maybe I’m speaking for myself alone, but that’s the end of character of our actions. In social science you see that. Every social scientist goes to the field, loaded with the idea that he’s going examine something and know. And uh, that’s not fair, that he so um, in that sense, I cannot escape that.
Don Juan in the book, he mentioned that he asked you never to reveal the name that Mescalito gave to you, or to reveal the circumstances under which you met, yet you wrote this whole book of don Juan’s to anyone who would read it.
I asked him about that. I wanted to know before I ever, ever, in writing something like that, I asked him if it was alright. I didn’t reveal anything that was not permitted. I didn’t. I was interested in the logical system. It’s a system of logical thought. It takes a long time, took a long time for me to discover, that this was a system of exhaustive, the best, presented in this, my world. This is what is appealing, is the order. And whatever, I reveal in it, has nothing to do with the things that were, let’s say, taboo. I reveal only the order, only the system. So, as to make us realize that the Indians are very, very tenacious, they are persistent people and as intelligent as anybody.
Cut in: I think it’s significant how Carlos is bending over backwards to present a system of non-ordinary reality, non-linear reality in a conceptual framework so that it can be accepted by his peers at the University of California by the American public. It’s almost as if Carlos had wasn’t taking any chances that the psychedelic generation was really going to be there and ready to read the book, the psychedelic generation could get the message, be a large enough part of the readership to to pass the word. He’s talking about people, he talks about non-people there’s some really some really remarkable instances there where I remember the one where don Juan walks or Carlos walks off into the chaparral and he comes back and there are these three beings there who turn out later according to don Juan not to be even beings. Apparently, they don’t have these fibers coming or they don’t look like eggs. Do you have any insights into what these are, that aren’t really people, from having listened to that? I’m not too much into that, that was part of so-called phantoms that Carlos was describing, but it wasn’t very clear to me where they fit into the whole picture, except these were people you know, phantoms were entices that you had to look for, and be careful about. It seems also like only a sorcerer and a man-of- knowledge can tell who they are, because to Carlos it looked very much like real people, and Genero and Juan can recognize them and unless we’re into that other kind of knowledge, I can’t claim (sub-laugh), to be able to recognize them. Carlos talks about his experience with the datura plant, or the jimson weed, the devil weed in the first book and the second book which is dealing very heavily the need for the psychotropic plants. He drank the root extract and rubbed himself with the paste, and what followed was an extraordinary experience. Afterwards Don Juan discusses with him the lessons he learned. Carlos says there was a question I wanted to ask him. I knew he was going to evade it, so I waited for him to mention the subject; I waited all day. Finally, before I left that evening, I had to ask him, ‘Did I really fly,
don Juan?’ ‘That is what you told me. Didn’t you?’ ‘I know, don Juan. I mean, did my body fly? Did I take off like a bird?’ ‘You always ask me questions I cannot answer. You flew. That is what the second portion of the devil’s weed is for. As you take more of it, you will learn how to fly perfectly. It is not a simple matter. A man flys with the help of the second .portion of the devil’s weed. That is all I can tell you. What you want to know makes no sense. Birds fly like birds and a man who has taken the devil’s weed flies as such’ . ‘As birds do?’ ‘No, he flies as a man who has taken the weed.’ ‘Then I didn’t really fly, don Juan. I flew in my imagination, in my mind alone. Where was my body?’ ‘In the bushes,’ he replied cuttingly, but immediately broke into laughter again. ‘The trouble with you is that you understand things in only one way. You don’t think a man flies; and yet a brujo can move a thousand miles in one second to see what is going on. He can deliver a blow to his enemies long distances away. So, does he or doesn’t he fly?’ ‘You see, don Juan, you and I are differently oriented. Suppose, for the sake of argument, one of my fellow students had been here with me when I took the devil’s weed. Would he have been able to see me flying?’ ‘There you go again with your questions about what would happen if . . . It is useless to talk that way. If your friend, or anybody else, takes the second portion of the weed all he can do is fly. Now, if he had simply watched you, he might have seen you flying, or he might not. That depends on the man’. ‘But what I mean, don Juan, is that if you and I look at a bird and see it fly, we agree that it is flying. But if two of my friends had seen me flying as I did last night, would they have agreed that I was flying?’ ‘Well, they might have. You agree that birds fly because you have seen them flying. Flying is a common thing with birds. But you will not agree on other things birds do, because you have never seen birds doing them. If your friends knew about men flying with the devil’s weed, then they would agree’. ‘Let’s put it another way, don Juan. What I meant to say is that if I had tied myself to a rock with a heavy chain I would have flown just the same, because my body had nothing to do with my flying’. ‘If you tie yourself to a rock,’ he said, ‘I’m afraid you will have to fly holding the rock with its heavy chain’.
Why did you leave?
Why did I leave? I got too frightened. There is this assumption in all of us, that uh, we could give ourselves agreement that this is real. I’m sure that many humans have taken psychedelic substance like LSD, or something like that, the distortion that you suffer, under this psychedelic, is accountable, by saying I’m seeing such and such, and that and that, or this this and that because I have taken something, that’s in the back of our mind - always. So, anything could be let’s say, accounted for in a strange way. But, whenever you begin to lose that security, I think that’s time to quit. Laughter. That’s my fear.
But you haven’t really quit. That’s the problem. Laughter. That several visions that you said you were more-or-less clairvoyant visions, that told you about the past, things that you supposedly didn’t know about, other than the visions or examples that reported in the books. Did you ever check to find out what you saw was true or not?
Well, that’s sort of funny you know, there must be something. I’ve been involved in hunting treasures lately. Mexican came to me and told me that there was a house that uh, belonged to a man who apparently stored a lot of money and never used a bank, ever, in his life. He figure and calculated that there was at least $100,000 dollars and he asked if I could discover where the money was. So I thought that’s an interesting proposition. Laughter. So, um I followed this ritual. It was a minor ritual that produces in quotes, a vision, not as clear as a divination procedure. But it’s a vision that could be interpreted. A fire that has to be made to attract whatever it is that has to be attracted. So this bunch of about four people and I, they did all the ritual they followed me they trusted me, I suppose and we waited for a vision but nothing came at all. And then the fact was that everybody was looking for this treasure under the house, the house on the still, very high, underneath the house and they and dug up the whole house. And uh, the guy who was digging up, was bitten by a Black spider, a black widows spiders. And it was disastrous, they never found anything. So then I came into the picture, I have this vision, I have this dream. A dream in which the owner of the house was pointing to the ceiling. And I said, ‘Uh ha! It’s not in the basement, it’s in the ceiling’. And we went, one day, tried to find it in the ceiling, but we didn’t we couldn’t find anything. Laughter. It was disastrous though, because one of the Mexicans, very big, he weighs about 315 pounds. He’s a big moose. Laughter. There’s a small hatch towards the ceiling and it’s an old house constructed in the 20’s probably and the ceilings paper thin. So I was kinda walking on the beams and this guy got very suspicious he thought that we were going to cheat him out of his money, we never did it. And came into the scene, he came up. He walked up to where I was, I was in the center of the house, center of the room, because that’s the place I thought he had pointed in my vision, stood by me, and he went through the ceiling. Laughter. He got hooked you know, the legs were hanging in the upper part.
Did don Juan make any uh restrictions or any regulations that the circumstances in which you question yourself?...
Yes, good very good. I went to see don Juan, and I told him this failure. And how you know very, and he said was very natural, whatever is left of a man, guards whatever he’s hiding. I have my notes, you know that I took in the field that I treasure a great deal. I’ve become very possessive with my notes. And don Juan says, ‘Will you leave your notes for any idiot to get?’ No, I won’t. Sub-laugh. That’s the point. And what’s the difference? A guy loves his money. And he’s not going to let an idiot like me come and get it. Therefore, he sets all kinds of traps and obstructions. That’s the turning point in my approach with don Juan. From then on, I never been able to think that I could trip him. He flipped me intellectually. I thought that that piece was very neat, very simple and coherent. From then on, I was not ever able to think of myself as the student of Anthropology the University student coming to look down on an Indian. He completely destroyed dislodged my affiliation to the intellectual man.
He made you think yourself as a man?
He made me think of myself as a man who doesn’t know anything, in relation to what he knows. But I don’t know what he means. All I’ve given you is what he gave me. I don’t how fear could be vanquished. Because I haven’t vanquished it myself. I have an idea, that perhaps applicable. I like to go into the field and test it. But that’s another story that’s very different.
Did he vanquish fear?
Well, he has. Yes, (entirely?) yes . . . it looks like it is very simple. Once you have the mechanics, I suppose, he is parting at all times from a different point of view. He set like uh , whatever is between the phenomena and that I am experiencing, and me, there’s always an intermediate, it’s a set of expectations, motivations, language, you name it. It’s there, it’s a whole set. But that’s my, my heritage of the European. To use the set which is common to all of us. That’s why understand each other. But don Juan has a different set, entirely different. That’s the incapacity to understand him. Very difficult to understand what he’s talking about. When he says that one could conquer fear. There’s an interesting idea that occured to me now, that I would like to test in the field. I have attended recently a peyote meeting. It was a gathering, which I just took water to them. I didn’t participate. I just went there to watch, to observe. Because I have this I have arrived to the conclusion that the consensus the agreement that he gave me, that I narrated in this book, a private agreement, special between the teacher and the student, but something else takes place. There’s a collective agreement, a whole bunch of people agree upon things which cannot be seen, ordinarily. But I was thought that this agreement consisted in cueing the others. Therefore, there must be a leader I thought that could cue, you know, by twisting the eye, you know, something like that, you know, twist of the fingers, and therefore, they all say that they have agreed. Because one gives the cue. They believe that for instance in the matter of peyote, anybody who intakes peyote hears a buzzing in the ears. However the Indians believe that there a seventeen types of buzzing. And each one then will then respond to a precise nature of the visitation. The deity Mescalito, comes in a specific way. And it announces it, by buzzing. There must be an agreement among them a) ten people as to what buzzing is it in the first place and then the nature of it. How is the lesson going to be? Is it going to a ferocious lesson, very dramatic, very mild, amenable, depends on what is the, uh, I suppose the mood of the deity. That, I thought this agreement was accomplished by means of a code. So I went I asked don Juan to I could drive them, I took my car and drove a whole bunch of people. I made myself available in that form. And then I could serve, I said, you know, bringing water to them. So I watched. And I couldn’t detect any code, at all. However in my effort to watch, I got involved, very deeply involved, and at that moment, I flipped. I walked into this experience, I had taken peyote, which I didn’t. This is my stand, O.K.? I think what they do, is they hold judgement. They drop this set. And their capable of gaining the phenomena in a different level. Their capable of viewing it, in a level from what I do ordinarily, the way I do it ordinarily. So if I drop this set, whatever it is that is interfering, intermediate, the intermediate set between the phenomena and me, I arrive to this area of special agreement. Therefore, it’s very simple to them to arrive to that. I thought that
experience in distorted a whole series of days, five or six days in which they intake peyote. I thought the last day was the only day in which they agree. But they agree every day. I don’t know. I have to go and find out. I
know that it’s possible to hold judgement.
That girl asked you a question about fear, vanquishing fear entirely. At any, as I read it, or understand I, as I mean, as far as fear is no longer your enemy, doesn’t mean you don’t have it anymore. Because he said the
man-of-knowledge goes to knowledge, and this could be anywhere along the line even after you vanquished fear. Would fear, respect, wide-awake and the four things, so fear is no longer your enemy, isn’t that true?
No, maybe, maybe, though perhaps we are afraid only because are judging. That’s another possibility. Once we drop the prejudgment, what’s there to fear? At the moment, like uh he used to cure years ago, that’s before I met him. Today, he’s not interested anymore in curing or bewitching. He says that he’s beyond company or solitude. So, he just exists . . . he lives in central Mexico.
What does he do with his time?
Maybe he flies . . . Laughter. I don’t know. I really don’t know. I feel, I always feel, I projected him, and I say, ‘Poor little old man, what does he do with his time?’ But that’s me, you see, I, poor little old man, what do I do with my time? But that’s a different set, you see, he has a different system, completely.
You smoked mushrooms in the state of Oaxaca. I’m wondering what the names of those mushrooms. Laughter. The mushrooms belong to the psilocybe family. I’m sure of that. And they grow in central Mexico. Then you make a journey to central Mexico. You collect them and then you take them to wherever you live. And wait for a year, before they are useable. They spend a year inside of a gourd. And they are utilized.
Were these the ones where they from Oaxaca.?
Their from central Mexico, that area, yeah, Oaxaca. They are fourteen species of psilocybe.
Could you tell us about the need and nature for secrecy and mystical teachings such as don Juans?
I don’t know. He feels that in order to return from one of the trips, in quotes, you had to have a great degree of help and knowledge, without which you don’t return. Maybe he’s right, maybe he’s right, maybe you need, the not so much the encouragement of the friendly man telling you everything’s O.K. Joe, don’t do it. More than that. Maybe you need another type of knowledge, that would render the experience utilizable, meaningful. And that cracks your mind, that really busts you.
Do you discourage someone from using these drugs?
I do, I do. I don’t think they should. Because, perhaps they would get to know more about it. Otherwise, they become spearheads. And spearheads burn, period.
Do you know what the psychoactive substances in datura?
Atropine, and hyoscyamine. And there are two more substances, something like somebody called Scopolamine, but nobody knows what scopolamine was. It’s very toxic, terribly toxic. Very, very harmful plant in that sense. Strychnine? Strychnine, peyote contains eight types of strychnine.
Were there other men of knowledge considered to be like don Juan?
Yes, Don Juan likes to think that his predilection is talking. He likes to talk. There are other men who has another type of predilection. There is a man who gives lessons in waterfalls. His predilection is balance and movement. And the other one I know dances, and he accomplishes the same thing.
What about mushrooms in your book?
There are no hallucinogenic mushrooms. Muscaria that’s not in old world though. Yeah, yeah...
Datura is growing all over Berkeley.
Well, it’s a plant that grows anywhere, in the United States. The intake of Datura produces a terrible inflamation of the proxic glands. It’s not desirable to use it. So uh, it’s a very toxic plant.
It happened to you?
No, no after it’s prepared, it loses its toxicity. The American Indians I think learned a great deal in manipulating plants. And how they learned, perhaps like don Juan said you could arrive to a direct knowledge of complex procedures directly via tapping whatever you tap.
What do you see any meaning in terms of good and bad or good and evil or...?
No, I don’t know. They interpreted in any way, again as a state of special ordinary reality. He again I think manipulated me and uh, or perhaps it is possible to see colours. I have a friend who reported though to me that to me he saw magenta, he says. That was the only thing he say, he tried to do this at night, and uh, he was capable of arriving to this distortion of colours, whatever.
One thing I noticed about reading the book, all these experiences take place at night.
No, I think the night is very friendly, very amenable. It’s warmer, for some reason. And the darkness is a covering, it’s like a blanket. Very nice. On the other hand, the daytime is very active, it’s too busy. It’s not
conducive to feeling for anything like that. I like the night, I don’t know why, maybe I’m owl, something like that. I like very much, it’s very amenable to me. I turn the lights in my house off all the time. I feel very funny, for some reason, it’s very comfortable, it’s dark, and very restless when there’s much light.
Could you tell more about Mescalito?
Like what, what, how?
First, of all the American Indians have a god not called Mescalito, it’s called something else...
They have different names, yes. Mescalito is a circumlocution, that he uses, like to say, little Joe, little Billy. Circumlocution is to mean William.
Is he one of, one god, or is like a thousand million gods?
That’s power, it’s a teacher. It’s a teacher that lives outside of yourself. You never mention it by name. Because the name that he gives you is personal. Therefore, you use the name peyetero. Because peyetero means something else. It’s not applicable to that. It’s a word that’s been used by Spaniards. Peyetero is a state, very much like datura, in the Mexican, Spanish use in Mexico. Datura is called toloache. Toloache is a people say toloache is a state of knowledge, related to the datura. It’s not the plant, it’s a state of knowledge. Ololiuhqui, Sahagun, the Spanish priest was very concerned with. And people have identified it as the seeds of the Morning Glory. But that belongs to the datura also. But again it’s a state, state of knowledge.
Does don Juan or any of the other brujos have any difficulty with the Church, because of his...
Well, I suppose they do. They couldn’t care less one way or the other. They are capable of short-circuiting the works of the dominant society. Which is very, very appealing to me, at least, to be able to short circuit them and render them meaningless, and useless, and harmless. You see, don Juan is not trying to fight anybody, therefore nobody with him. He’s very capable, he’s a hunter. He’s a hunter, he’s a capable man, he does everything himself.
He hunts animals for food?
Many ways, metaphorically, and um, in a literally way. He hunts in his own way. He’s a warrior, meaning he’s alert on his toes consistently. He never lets anything beyond, by him. There’s a great argument that I have with his grandson. His grandson says my grandfather is feeble minded. I said, ‘You know, perhaps you’re wrong. Do you think you could sneak up on him?’ And the young guy, Fernando says, ‘No, my grandfather, you cannot sneak on the grandfather, he’s a brujo’. Laughter. It’s absurd, you know, how could you that he’s feeble minded and then you said that you could not sneak up on him. That’s the idea, you see, he maintains everybody, under this this sort of control. He never lets me out of his sight. I’m always within his view. And it’s an automatic process, unconscious. He’s not aware of it, but I’m always there, at all times. He’s very alert. He’s not isolated man. He’s a hunter, a warrior. His life is a game of strategy. He’s capable of rounding up his armies, and using them in a most efficient way. The most efficacious way. He’s not a Guy who cuts corners. But his great motto is efficacious. And that’s totally opposed to my motto. My motto is waste, like all us, unfortunately. You see, I get caught in tremendous upheavals of meaning. And things split me. I begin to whine. You know, why, why, how did it happen to me? But if I could be able to live like don Juan, I could set up my life in way of strategy, set my armies strategically. Like he says, then if you lose, all you lose is a battle. That’s all. You’re very happy at that. But not with me, because if I lose they took me, they raped me, I’ve been taken, in my furor. You know, no end to my fury. Because I was not prepared for it. But what would happen if I was prepared? Then I was just defeated, and defeat is not so bad. But to be raped, that’s terrible, that’s horrendous, and that’s what we all do. By one, we are raped by cigarettes. We can’t stop
smoking, ah, you know, people are raped by food, they can’t stop eating. I have my own quirks, I get raped by certain things, I cannot mention them. Weak and feeble, and helpless. Don Juan thinks that and feels that it’s na indulgence, and he cannot afford to. And he’s not indulgent at all. He does not indulge, and yet his life is very harmonious. Terribly funny, and great. And I pondered, how in the devil can he do it? And I thinks it’s by cutting his indulgence to nothing. And yet he lives very well. He doesn’t deny himself anything, there’s the trick. That’s the funny trick. It’s a normal semantic manipulation. Like he says, since he was six years old, he likes girls. He says that the reason why he likes girls, because when he was young he took one with datura, with the lizards, and the lizards bit him nearly to death. And he was sick for three months. He was in a coma for weeks and then his teacher told him not to worry about it, because from then on, he was going to be virile until the day he died. He says the lizards do that. You know, they bit you too hard, you become very virile. So I asked him, ‘How could I get a couple of bites?’ Laughter. He said, ‘You would need more than a couple of bites’. He’s not frugal in sense of denial, but he doesn’t indulge. Maybe that doesn’t make sense.
Could you tell me more about the Yaquis?
The Yaquis? The Yaquis are Christians, Catholics, nominal Catholics. They allowed the Catholic missionaries to come in 1773, voluntarily. And after 80 years of colonization, they killed all the missionaries. And no missionaries has ever come. Laughter. They involved themselves in this war against the Mexicans. After the independence of Mexico. The Yaquis have been in war with the Mexican army for 100 years, of solid war. Solid. They raided the Mexican towns, they killed them. And finally, in 1908, at the beginning of the
century, Mexico decided to put an end to this nonsense. They rounded them up, sending huge troops, armies, round up the Indians put them in trains in boats and ship them to the south, to Oaxaca, Veracruz and Yucatan, dispersed them completely and that was only the way to stop them. And then in 1940, after the war, he says, masses of people in Mexico being the avant garde of democracy of Latin America, they couldn’t stand the things that they did to the Yaquis. So they rounded the Yaquis again, laughter, brought them back, they are again in Sonora now. They are seasoned warriors, they are very, very, very aggressive people. It is inconceivable that don Juan could enter into that society. It’s a closed circuit. It’s very aggressive. They wouldn’t trust me, because I’m an Mexican. They see me as a Mexican. They would trust an American, much much better, much easier. They hate Mexicans, they call them the Yoris. Which means pigs, something like that. Because they have been so oppressed...
Do you know about don Juan as brujo or don Juan as diablero?
It’s the same thing. A brujo is a diablero, those are two Spanish words, to denominate to design, they signify the same thing. Don Juan does not want to use that because it connotes a sense of evilness. So he uses the word man-of-knowledge, it’s a Mazatec term. I concluded that whatever he learned from a Mazatec, because man-of-knowledge is one who knows. And one who knows is a Mazatec term. A brujo, a sorcerer, is one who knows. I hope that I arrive to that. I doubt very much that my makeup is one that is required to make a man-of-knowledge. I don’t think I have the backbone.
Well, does don Juan agree with that?
No, he never told me that, you know. He thinks that I have a very bad probably frank. I do think because I get get bored, which is pretty bad, terrible, suicidal nearly. Presented me the example of a man who was courageous. He found a woodcarver, who was very interested to in the idea of taking peyote. Don Juan took me to Sonora as a show, so he could convince his grandson that is was very desirable to take peyote. That it would change his life. His grandson is very handsome chap, terribly handsome. He wants to be a movie star. Laughter. He wants me to bring him to Hollywood. And he always asks me, his name is Fernando, he always asks me, ‘Do you think I’m handsome Carlos?’ ‘You’re really handsome’. And then he says, ‘Do you think
I could work in the movies as a chief in a cowboy movie or something?’ He would, he would be a magnificent chief. He wants me to take him to Hollywood. He says, ‘Just take me to the door, and leave me there’. Laughter. I never had the opportunity of bringing him to the door. But uh, however don Juan has the intention to turn his grandson to the use of peyote. And he failed everytime. And he took me one day as a show, and I told them my experiences, there were eight Indians and their listening. They said it, peyote causes madness, causes insanity. Don Juan says,’But that’s not true, if that would be so, look at Carlos, he isn’t mad’. They said, ‘Maybe he should be’. Laughter.
Do you think you could have found the level of understanding that you found now, by intaking the drugs without don Juan?
No, I am very emphatic about that. I would be lost. I just talked to Timothy Leary. And he flipped. Laughter. I’m sorry, that’s my personal feeling. He cannot concentrate, and that’s absurd.
Is that the difference between he and Don Juan?
Don Juan can concentrate.That’s it. He could pinpoint things. He could exhaustively laugh at things, and kick one subject until its death. I don’t know why, it’s very amenable to do that. He has a sense of humor. What he
lacks is the tragedy of a western man. We’re tragic figures. We’re sublime beings ... grovelling in mud. Laughter. Don Juan is not. He’s a sublime being. He told me himself, I had a great discussion with him once about dignity. And I said I that I have dignity and if I’m going to live without dignity, I’ll blow my head off. I mean it. I don’t how I mean it, but I do mean it. He said, ‘That’s nonsense, I don’t understand about dignity, I have no dignity, I am an Indian, I have only life’. But that’s his stand. And I argue with him, I said, ‘Listen, please I want so desperately, to understand, what I mean by dignity, what happened to the Indians when the
Spaniards came? They actually forced them to live a life that had no dignity. They forced them to take the path that had no heart’. And then he said, ‘That’s not true. The Spaniards rounded up the Indians who had
dignity. Only the Indians that had already dignity’. Maybe he’s right. They never rounded him up. I told don Juan when I met him, his guy who introduced me, said my name is so and so. In Spanish my name is spider, Charley Spider. If I told him my name is Charley Spider. He’d crack up. (Laughter) We kidded around. After that, I found that was my golden opportunity to make my entry. And I said, ‘Listen, I understand that you know a great deal about peyote. I do too, I know a great deal about peyote, maybe to our mutual benefit we
could get together and talk about’. Laughter. That was my presentation, I mean, my formal presentation, I used it over and over. Laughter. And he looked at me, in a very funny way, I cannot portray. But I knew at that moment, that he knew I didn’t know anything. Laughter. I was just throwing the bull, you know, completely bluffing him. That’s what bothered me very much, I never been looked at in that way, ever. That was enough for me to be very interested to go and see him. Nobody ever looked at me that way.
The guidance of a teacher. What about people that don’t have a person like don Juan?
That’s the real problem. I think, it’s an untenable position. I placed myself in that position, by myself, an untenable position. I wouldn’t know. It’s like uh.... when I went to see him, um for instance, when the book came out, I took it to him, and I got a book, and pretended that it was the first book that ever came out of the presses, you know, and I wanted to take it to don Juan. Maybe it was the first book, I don’t know, perhaps it was. I wanted to believe that it was, anyway, and I took it to him, I gave it it was very difficult to reach him in the first place, because he was way up in the central part of Mexico I had to wait for a couple of days. And then finally he came down to town and I gave him the book. I said, ‘Don Juan look, I finished a book,’ and he looked said, ‘Very nice,’ he said, ‘a Nice book’, and in a state of passion I said , ‘I want you to have it want you to keep, I want you to have it’. He said, ‘What can I do with a book,’ laughter, ‘you know what we do with paper in Mexico’. Mucho laughter”. In http://www.artforthemasses.us/castacon/viewtopic.php?f=9&t=474&start=0&st=0&sk=t&sd=a
“Nos enseñaron 41 líneas enteras de pases mágicos. Yo no tengo secretos, quiero causar conmoción cerebral para que se muevan a una revolución energética. Nada de old o new age (vieja o nueva era), religión ni nada... pero sí tenemos el interés de usar esos pases mágicos de miles de años; no se pueden quedar nada más con nosotros. Los amalgamamos, tenemos 15 años haciéndolo para ver si se puede hacer un aglomerado de campos energéticos todos juntos. Cerrar el linaje con una gran explosión, que ustedes me dejen tocarlos, revelar, transmitir los conocimientos”. “¿En dónde estaríamos si todo se hubiera podido probar?” “Onde estaríamos se tudo tivesse que ser provado?” Entrevista a Carlos Castaneda por Kala Ruiz, “La Jornada” Enero de 1997 – A Jornada, Janeiro de 1997, http://xamanismoguerreiro.blogspot.com/2010/11/entrevista-com-carlos-castaneda-janeiro.html, postado por Fernando Augusto in http://xamanismoguerreiro.blogspot.com/2010/11/entrevista-com-carlos-castaneda-janeiro.html
http://pistasdocaminho.blogspot.com/2008/08/ponto-de-aglutinao.html. Escrevi para Fernando Augusto pedindo autorização para usar o texto, que eu pensava ser dele, e recebi este e-mail no dia 22/06/2011:
“Oi, Luis! A autoria do texto é do Júlio César Guerrero, já falecido, portanto não tenho como autorizar, só através de alguém da família, mas também não tenho nenhum contato direto. Vou tentar fazer esse link através de uma amiga e te retorno. Sorte! F.A.” O texto pode ser lido no site indicado.
SOLÓRZANO, Domingo Delgado. El Nagual de Cinco Puntas. Michoacán: Morelia, 2004, “La Regla del Nahual de Cinco Puntas”, início, p. 12, tradução minha.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anabolismo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Catabolismo
DELGADO, Edgar. “Mi camino a la impecabilidad”, in YOLILIZTLI, Juan. Los Testigos del Nagual; entrevistas a los discípulos de Carlos Castaneda, p 47, tradução minha.
SOLÓRZANO, Domingo Delgado. El Nahual de Cinco Puntas. Michoacán: Morelia, 2004, p. 124, tradução minha.
“En 1973, don Juan se transformó en luz, la serpiente emplumada. El y sus congéneres dieron una vuelta final. Llega un momento en que la tierra te dice: estás libre... ¡vete! ¡Una existencia tan enorme que esté consciente de un microbio como yo! (casi llorando) ¡Me descompone!.. como una madre amorosísima”. “¿En dónde estaríamos si todo se hubiera podido probar?” “Onde estaríamos se tudo tivesse que ser provado?” Entrevista a Carlos Castaneda por Kala Ruiz, “La Jornada” Enero de 1997 – A Jornada, Janeiro de 1997, postado por Fernando Augusto in http://xamanismoguerreiro.blogspot.com/2010/11/entrevista-com-carlos-castaneda-janeiro.html
SOLÓRZANO, Domingo Delgado. El Nahual de Cinco Puntas. Morelia, Michoacán, Mexico, 2004, p 38.
SOLÓRZANO, Domingo Delgado. El Nahual de Cinco Puntas. Morelia, Michoacán, Mexico, 2004, p 38:
“También me recomendó emplastos en la boca del estómago o en el ombligo, de hojas de chayote, jugo de limón, copal y semillas de cirián. La verdad sea dita, nunca le hice caso y considere todo aquello como una vacilada de don Chema”, tradução minha (sei que precária, pois não consegui identificar bem certos regionalismos mexicanos, como o nome em português da planta “cirián”; com certeza, “semillas de cirián” não quer dizer “sementes de velas”!
http://www.consciencia.org/castaneda/ensaio.html
ABELAR, Taisha. Palestra em Menlo Park, no ano de 1994, in Notas Bruxas, p. 7, versão minha.
V. DELEUZE, Gilles. Rhizome (com Félix Guattari). Paris: Minuit, 1976.
______. Superpositions (com Carmelo Bene). Paris: Minuit, 1979.
______. Mille plateaux (com Félix Guattari). Paris: Minuit, 1980.
O Presente da Águia. 7 ed. Trad. Vera Maria Whately. Rio de Janeiro: Record, /s.d./, pp 243, 244.
NIETZSCHE, Friedrich W. “Dos desprezadores do corpo”, in Assim Falou Zaratustra; um livro para todos e para ninguém. 4 ed. Trad Mário da Silva. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986, p. 51.
“Los suyos (em quechua: šuyu ‘parcialidad, provincia’) eran los cuatro grandes distritos del Imperio inca, en los cuales estaban agrupadas sus diversas provincias (wamani)”. http://es.wikipedia.org/wiki/Suyos_del_Imperio_incaico
http://es.wikipedia.org/wiki/Imperio_incaico, tradução minha; v. ainda: http://umbilicum.blogspot.com/
CHAMALU. Apu Inti - O Oráculo Solar. Trad. Ricardo Anibal Rosenbusch. São Paulo: Record/Nova Era, 1995, p 10. V tb o glossário na p 140: “AMAUTA: Xamã Andino. Guia. Ser guardião do conhecimento Sagrado. Mestre dos Homens Medicina e dos corações disponíveis”, etc.
CHAMALU. Apu Inti - O Oráculo Solar. Trad. Ricardo Anibal Rosenbusch. São Paulo: Record/Nova Era, 1995, Estância 245, p 57. Ver tb o site de Chamalu http://www.chamalu.com/
Díaz, Frank. El Evangelio de la Serpiente Emplumada; La vida y enseñanzas del gran maestro tolteca. Primera edición, Evangelio de Quetzalcoatl, México: Tomo, 2000. Segunda edición, The Gospel of the Toltecs, Rochester: Bear and Co., 2002 (USA). Tercera edición, Evangelio de la Serpiente Emplumada, México: Ce-Nahuacalli, 2005. Introducción “El último Avatar de la Serpiente Emplumada”, p. 5. http://frank-diaz.info/libros/evangelio.pdf , tradução minha.
“Quetzalcóatl (náhuatl: Quetzalcōātl, ‘Serpiente emplumada’) es uma deidad de las culturas de Mesoamérica. Es considerado por algunos investigadores como dios principal dentro del panteón de esta cultura prehispánica, sin embargo autores como Miguel León-Portilla - ver ensayo ‘Tezcatlipoca Dios Principal’ - consideran a Tezcatlipoca como el dios principal, y aun otros consideran a los dioses que dieron origen a Quetzalcóatl como los dioses principales. En contrapartida, autores como Alfredo López Austin y otros dedicados al estudio de las religiones mesoamericanas, lo consideran como la deidad principal a partir de la cual se generan los demás nùmenes, por medio de un fenómeno por el cual la divinidad se desdobla en otras. /.../ Quetzalcóatl es el nombre que dieron los pueblos de habla náhuatl al Ser Supremo. Se compone de dos raíces: cóatl, ‘serpiente’, y quetzal, ‘ave de plumaje precioso’.
Para la cultura de los aztecas (y otros pueblos de habla náhuatl) era hermano de Tezcatlipoca, en cambio para la de los toltecas eran rivales. Quetzalcóatl y Tezcatlipoca eran dos nombres - entre muchos otros - que los mesoamericanos aplicaban al Ser Supremo, en sus funciones de creador.
Otros significados de las raíces del nombre ‘Quetzalcóatl’ que ayudan a entender este concepto tolteca (tomado de los diccionarios: ‘Vocabulario Náhuatl-castellano’, del padre Molina, México 1966, y ‘Diccionario de la Lengua Náhuatl’, de Remi Simeón, Ediciones Siglo XXI, México 2001), son los siguientes: Cóatl: ‘serpiente, doble, gemelo, ombligo, experiencia, generación, masculinidad, inmovilidad, pecado’. Este término da origen al aztequismo Coate, ‘hermano’.
La combinación Quetzal-Cóatl contiene los siguientes significados, todos relativos a las funciones de Quetzalcóatl en la teología tolteca: ‘serpiente con plumas’, ‘doble precioso’, ‘ave de las edades’, ‘gema de los ciclos’, ‘ombligo o centro precioso’, ‘serpiente acuática fecundadora’, ‘el de las barbas de serpiente’, ‘el precioso aconsejador’, ‘divina dualidad’, ‘femenino y masculino’, ‘pecado y perfección’, ‘movimiento y quietud’. Era también importante para la civilización teotihuacana.
Quetzalcóatl representa la dualidad inherente a la condición humana: la ‘serpiente’ es cuerpo físico con sus limitaciones, y las ‘plumas’ son los principios espirituales. Otros nombres aplicados a esta deidad era: Nahualpiltzintli, ‘príncipe de los nahuales’, Moyocoyani, ‘quien se crea a sí mismo’, Ipalnemoani, ‘aquel por quien vivimos’ y Tloque Nahuaque, ‘dueño del cerca y el junto’.
Quetzalcóatl es también el nombre nahuatl de los mesías mesoamericanos y el título de los sacerdotes supremos de la religión tolteca. Se manifestó en diversos profetas históricos, el último de los cuales fue Ce Acatl Topiltzin, rey de Tula que vivió entre los años 947 y 999 de la era cristiana.
Las enseñanzas de Quetzalcóatl quedaron recogidas en ciertos documentos llamados Huehuetlahtolli, ‘antiguas palabras’, transmitidos por tradición oral y puestos por escrito por los primeros cronistas españoles. Se han publicado traducciones parciales de los mismos, la última debida al antropólogo Miguel León-Portilla. Este concepto también se relaciona con el sexto sol y la finalización del calendario maya en el año de 2012.
Debido a que consideraban que todo el Universo tiene una naturaleza dual o polar, los toltecas creían que el Ser Supremo tiene una doble condición. Por un lado, crea el mundo, y por el otro lo destruye. La función destructora de Quetzalcóatl recibió el nombre de Tezcatlipoca, ‘su humo del espejo’, cuya etimología es la siguiente: Tezcatl, ‘espejo’, I, ‘suyo’, Poca, ‘humo’.
Los informantes del padre Motolinía describieron a esta deidad del siguiente modo: ‘Tezcatlipoca era el que sabía todos los pensamientos y estaba en todo lugar y conocía los corazones. Por eso le llamaban Moyocoya (ni), que quiere decir que es Todopoderoso o que hace todas las cosas. Y no le sabían pintar sino como aire’. (Teogonía e Historia de los Mexicanos)
Con un fin didáctico, el mito acentuaba la contradicción entre Quetzalcóatl y Tezcatlipoca. Sin embargo, su identidad esencial queda establecida en los códices y otros testimonios gráficos, donde ambas deidades comparten los mismos atributos”. /.../
http://es.wikipedia.org/wiki/Quetzalc%C3%B3atl
DÍAZ, Frank. El Evangelio de la Serpiente Emplumada; La vida y enseñanzas del gran maestro tolteca. Primera edición, Evangelio de Quetzalcoatl, México: Tomo, 2000. Segunda edición, The Gospel of the Toltecs, Rochester: Bear and Co., 2002 (USA). Tercera edición, Evangelio de la Serpiente Emplumada, México: Ce-Nahuacalli, 2005. http://frank-diaz.info/libros/evangelio.pdf
Popol Vuh; o Livro Sagrado dos Quichéw. Trad. Raul Xavier. Rio de Janeiro, Cátedra, 1980, p. 10, Notas ao Preâmbulo. Ver tb na mesma página: “Quando os Toltecas emigravam de uma zona para outra, os seus sacerdotes levavam os painéis em que se figuravam os feitos das tribos. Assim procediam outros povos da atual América Central e com base nesses painéis e tradições orais se apoiariam as narrativas compendiadas no Popol Vuh”.
Idem, ibidem, p 7.
WALLACE, Amy. Sorcerer’s Apprentice; my life with Carlos Castaneda. 2 ed. (s/ indicação de edição). Berkeley: Frog, 2007, p 107, tradução minha.
DONATO, Hernâni. Dicionário das Mitologias Americanas. São Paulo: Cultrix/MEC, 1973, pp. 212-3, ortografia original.
Viagem a Ixtlan. Trad. Luzia Machado da Costa. São Paulo: Círculo do Livro, /s.d./, pp 118-120.
“5. Auh oncan quinnotz in Diablo quimilhui Mexicaye ye onca yecin, auh yece amo quitta in Mexica in aquinquinotza ic oncan tlatocayotique Tenochtitlan auh niman ye ic choca in Mexica quitohua otocnopiltic, otomacehualtic caotic mahuizoque in taltepeuh yez, maoctihuian, maoctitocehuiti”.
“5. Le habló el dios y así les dijo: - ¡Ah, mexicanos: aquí sí será! ¡México es aquí! Y aunque no veían quién les hablaba, se pusieron a llorar y decían: - ¡Felices nosotros, dichosos al fin! ¡Hemos visto ya dónde ha de ser nuestra ciudad! ¡Vamos y vengamos a reposar aquí!”
“La fundación de México Tenochtitlan”, in Mexica, http://mexica.ohui.net/textos/6/
http://ateus.net/artigos/critica/jesus-cristo-nunca-existiu/
http://www.clap.org.br/artigos/guadalupe/g_quemens.asp
DONNER-GRAU, Florinda. Sonhos Lúcidos: uma iniciação ao mundo dos feiticeiros. Being-in-dreaming. Harper Collins Publishers, 1991, p. 54.
SOLÓRZANO, Domingo Delgado. El Nagual de Cinco Puntas. Michoacán: Morelia, 2004, “La Regla del Nahual de Cinco Puntas”, início, pp. 36/37, tradução minha.
FREUD, Sigmund. O Mal-estar na Civilização, Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise e Outros Textos. Obras Completas, volume 18. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, pp. 157-191.
FREUD, Sigmund. O Mal-estar na Civilização, Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise e Outros Textos. Obras Completas, volume 18. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, pp. 190-191.
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O Anti-Édipo. Capitalismo e Esquizofrenia I. 2 ed. Trad. Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2011.
LABERGE, Stephen. Sonhos Lúcidos. Trad. J. E. Smith Caldas. São Paulo: Siciliano, 1990.
WEINTRAUB, Pamela e HARARY, Keith. Sonhos Lúcidos em 30 Dias. Trad. Marli Berg. Rio de Janeiro, Ediouro, 1993. A edição original americana é de 1989.
Ver filme O Segredo, The Secret (2006), documentário áustralo-estadunindense, produzido pela Prime Time Productions e dirigido por Drew Heriot; http://www.osegredo.tv/ e o livro de BYRNE, Rhonda. The Secret, do mesmo ano, editado pela Atria Books.
MASTRAL, Isabela e MASTRAL, Eduardo Daniel. O Filho do Fogo; o Descortinar da Alta Magia. 2 volumes. 5 ed. São Paulo: Naós, 2001.
DELEUZE, Gilles. Foucault. Trad. Cláudia Sant’Anna Martins. São Paulo, Brasiliense, 1988, pp. 141-142.
http://news.stanford.edu/news/2005/june15/jobs-061505.html
“Descoberta que contradiz teoria de Einstein intriga cientistas”, 23/09/2011 - 07h38 in http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultimas-noticias/bbc/2011/09/23/descoberta-que-contradiz-teoria-de-einstein-intriga-cientistas.jhtm
MAGNO, Oliveira. A Umbanda Esotérica e Iniciática. 4 ed. Rio de Janeiro: Editora Espiritualista, 1962.
ARHAPIAGHA, Yamunisiddha. Psicografia do Caboclo Sete Espadas. Umbanda a Proto-Síntese Cósmica; Epistemologia, Ética e Método da Escola da Síntese. São Paulo: Pensamento, 2007. O original é de 1987, a primeira edição é de 1989; esta não traz o número, deve ser a segunda, só indicada como “edição revista e atualizada”.
SARACENI, Rubens. O Cavaleiro do Arco-Íris; O Livro dos Mistérios. Inspirado por Pai Benedito de Aruanda. São Paulo: Madras, 2009.

WHITAKER, Kay Cordell. A Iniciação de uma Xamã. Trad. Ann Mary Fighiera Perpétuo. Rio de Janeiro: Record, 1995., p. 95.
BLAVATSKY, Helena Petrovna. A Doutrina Secreta - Síntese de Ciência, Filosofia e Religião. Volume 1: Cosmogênese. Trad. Raymundo Mendes Sobral. São Paulo: Pensamento, /s.d./. Parte I: A Evolução Cósmica. Sete Instâncias do Livro Secreto de Dzyan com comentários. Comentários aos textos e expressões das sete instâncias (segundo a numeração das Estâncias e dos Slokas). Estância IV As Hierarquias Setenárias, pp. 140-141.
“Nossa Senhora de Guadalupe (em espanhol Nuestra Señora de Guadalupe, em náuatle Nicān Mopōhua), também chamada de Virgem de Guadalupe, é um culto mariano originário do México. É considerada pelos católicos a Patrona da Cidade do México (1737), do México (1895), da América Latina (1945) e Imperatriz da América (2000). Sua origem está na aparição da Virgem Maria a um pobre índio da tribo Nahua, Juan Diego Cuauhtlatoatzin, em Tepeyac, noroeste da Cidade do México, em 9 de Dezembro de 1531.
Pelos relatos, uma “Senhora do Céu” apareceu a Juan Diego, identificou-se como a mãe do verdadeiro Deus, fez crescer flores numa colina semi-desértica em pleno inverno, as quais Juan Diego devia levar ao bispo, que exigira alguma prova de que efetivamente a Virgem havia aparecido. Juan foi instruído por ela a dizer ao Bispo que construísse um templo no lugar, e deixou sua própria imagem impressa milagrosamente em seu Tilma, em um tecido supostamente de pouca qualidade (feito a partir do cacto), que deveria se deteriorar em 20 anos mas que não mostra sinais de deteriorização até ao presente. Um estudo realizado no Instituto de Biologia da Universidade Nacional Autônoma do Méximo, em 1946, comprovou que as fibras do tecido correspondem às fibras de agave, tais fibras não duram mais do que vinte anos.
Em ampliações da face de Nossa senhora, os seus olhos, na imagem gravada, parecem refletir o que estava à Sua frente em 1531 - Juan Diego, e o bispo. Porém, alguns acreditam que isto pode ser explicado pelo fenômeno da pareidolia. O assunto tem sido objeto de inúmeras investigações científicas. É venerada no Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe e a sua festa é celebrada em 12 de Dezembro. /.../”
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_de_Guadalupe. V. tb Centro Latino Americano de Parapsicologia - Site oficial do Padre Quevedo http://www.clap.org.br/ e http://www.clap.org.br/artigos/guadalupe/g_computador.asp
http://www.igreja-catolica.com/nossa-senhora/nossa-senhora-de-copacabana.php
http://www.clap.org.br/artigos/guadalupe/g_quemens.asp
CASTANEDA, Carlos. A Roda do Tempo. Trad Luiz Carlos Maciel. Rio de Janeiro: Nova Era, 2000, pp. 178,179.
CASTANEDA, Carlos. The Wheel of Time. Los Angeles: Eidolona Press, 1998, pp. 168,169, citações de The Second Ring of Power:
“The only freedom warriors have is to behave impeccably. Not only is impeccability freedom: it is the only way to straighten out the human form. Any habit needs all its parts in order to function. If some parts are missing, the habit is desassembled.”.
CASTANEDA, Carlos. A Roda do Tempo. Trad Luiz Carlos Maciel. Rio de Janeiro: Nova Era, 2000, pp. 178,179.
Trecho da reportagem:
No começo do ano passado, Carlos Castaneda encontrou-se com seu amigo Price-Williams. Combinaram realizar alguns experimentos, envolvendo o envio do “aliado”, a força invisível que Castaneda adquiriu, após os ensinamentos de Don Juan. Price-Williams formou diversos grupos de experimentação que receberam efetivamente, através de sonhos, o “aliado”. Este veio em formas diversas, mas idênticas para todas as pessoas. Williams afirma que ainda não tem uma conclusão final sobre o objetivo final de Castaneda. Mas neste congresso não se apresentaram apenas conclusões objetivas, mas também experiências em curso. É provável que Castaneda queira provar, através da “bruxaria”, que a mente humana possui canais que podem ser sintonizados entre si, coisa que a ciência comum já está tentando demonstrar também, com bons resultados. E é neste ponto que este relato de Price-Williams se coloca dentro da filosofia do encontro de Bogotá: ciência antiga - ciência moderna.
Douglas Richard Price-Williams, antropólogo e psicólogo de ori¬gem inglesa, descreveu no Primei¬ro Congresso Mundial de Bruxa¬ria os resultados de uma série de experiên¬cias que realizou com Carlos Castaneda sobre a transmissão telepática através dos sonhos. A idéia desses experimentos nasceu durante um almoço de Price-Williams com Castaneda, em março de 1974 no restau¬rante da UCLA - Universidade da Cali¬fórnia em Los Angeles, onde ambos tra¬balham como antropólogos pesquisadores. Na ocasião, o autor da tetralogia sobre os ensinamentos do bruxo Don Juan de¬monstrou interesse em comprovar essa pos¬sibilidade de comunicação, sobre a qual se refere várias vezes em seus livros. O obje¬tivo prático seria o de transmitir - como o fazia Don Juan - para um grupo de pes¬soas adormecidas, mensagens através de imagens e símbolos, cujo significado pudes¬se ser lembrado e compreendido por essas pessoas acordadas. Castaneda sugeriu que tentaria a comunicação através do envio de um seu “aliado” que deveria aparecer de alguma forma durante os sonhos dos participantes.
Price-Williams chega a supor, embora sem uma confirmação do próprio Castaneda, que o verdadeiro objetivo deste era a exploração das reais possibilidades do processo visando a sua utilização com pessoas que não con¬seguiriam captar plenamente, através da lei¬tura, os ensinamentos sobre bruxaria conti¬dos nos seus livros. Os resultados dessas experiências são bastante curiosos. /.../
“Realizamos uma série de três experiências de transmissão telepática através dos so¬nhos, com intervalos de alguns meses entre uma e outra, e incluindo grupos de sete e oito pessoas. Os resultados foram muito in-teressantes, especialmente os da segunda ex¬periência. Antes de tudo, é preciso deixar claro que os acontecimentos que vou des¬crever não foram conduzidos sob condições de laboratório. Apesar disso, podem ser considerados verdadeiras ‘experiências’, in¬duzidas deliberadamente. Durante um almoço que tivemos em mar¬ço de 1974, Carlos Castaneda sugeriu-me que gostaria de efetuar uma experiência na qual pudesse mostrar - de maneira não verbal - a natureza do ‘aliado’ para pes¬soas absolutamente ignorantes dos proces-sos da bruxaria. Pediu-me para formar um grupo de pessoas interessadas. No final de abril do mesmo ano, o grupo estava forma¬do: além de mim mesmo, consistia em um psicólogo pesquisador, um candidato a dou-toramento em antropologia, um físico, um arquiteto, e mais duas pessoas cujos nomes foram sugeridos pelo próprio Castaneda. De todos esses, apenas os dois últimos e mais o candidato a doutoramento conheciam pessoalmente o autor. O psicólogo tinha visto Castaneda uma vez numa conferência; o cientista e o arquiteto nunca o tinham visto: o arquiteto tinha ouvido falar nele, mas nunca lera seus livros. /.../
Encontrei-me novamente com Carlos Cas¬taneda no compus da UCLA em 26 de ja¬neiro de 1975. Eu não o via desde aquele encontro em outubro do ano passado. Tive¬mos uma longa conversa, na qual ele anun¬ciou que estava disposto a iniciar uma se¬gunda série de experimentos com sonhos. Disse que enviaria uma mensagem através de um ‘aliado’, e pediu-me para escolher pessoas que comporiam o grupo destina a receber essa mensagem. Mas fez questão de não conhecer os nomes dos participantes do grupo. Incluí nesse novo grupo quatro elementos do anterior, e acrescentei um outro, um estudante graduado. Por sugestão de minha esposa, acabei acrescentando um nosso amigo parapsicólogo no grupo. É importante dizer que essas seis pessoas não foram informadas de que seriam objeto de uma nova experiência. Assim sendo, a identidade de todos os componentes do grupo era conhecida apenas por mim e minha mulher.
Logo no dia seguinte, a 27 de janeiro, pela manhã, encontrei-me com o psicólogo que me relatou o sonho que tivera pela madrugada daquela noite. Vou relatar agora esse sonho, seguido pelos sonhos que os diversos membros do grupo tiveram naquela semana. O psicólogo, em janeiro de 1975: ‘Castaneda estava em pé, parado sobre uma duna de areia, com uma corda em volta do pescoço. O final da corda estava suspenso no ar. No céu, num círculo difuso, voando ou nadando, havia uma quantidade de peixes. Pareciam ser de uma espécie de carpas que é muito conhecida no Havaí’.
O candidato a doutoramento, em 29 e 31 de janeiro: ‘Na primeira data sonhei que estava dentro de um edifício junto a uma espécie de chimpanzé adulto. Podia observar também um bando de macaquinhos novos, alegres e coloridos, do tamanho de ratos. Apareceram outros chimpanzés, que começaram a comer os macaquinhos. No segundo sonho, eu estava para encontrar um amigo comum, meu e de Castaneda. Em lugar dele, encontrei-me com um bando de cachorros coloridos do tamanho de ratinhos’.
Eu mesmo, em 28 de janeiro: Eu estava em companhia de um amigo íntimo de Castaneda. Dois ratinhos brancos estavam perto de nós, e nos observaram.
O antropólogo, em 28 ou 29 de janeiro: ‘No sonho, meu amigo Douglas Price-Williams tinha comprado uma criação de carpas no Havaí, e estava procurando uma pessoa que tomasse conta dela. Eu então sugeri o nome de um amigo comum para desempenhar essas funções’.
O arquiteto, em 28 ou 29 de janeiro: ‘Sonhei com toda espécie de coisas peludas voando e zumbindo ao redor de minha cabeça: in¬setos, roedores, grandes insetos em forma de espigas de milho. Estas criaturas não eram ameaçadoras. Elas apenas pareciam curiosas em me observar. O sonho foi tão fora do comum, que assim que acordei contei para minha mulher, e mais tarde para um amigo’. O cientista, em 31 de janeiro ou 1.° de fe¬vereiro: ‘Durante esse tempo, fui acometido por uma gripe muito forte, e portanto não sei ao certo se o que tive foi um sonho ou delírio. Tive a visão de um ‘elemento estra¬nho’, parecido a um gato deformado, de cor parda, e pelos curtos. Poderia ser um grande rato com pernas compridas. Esse animal me olhava, e tinha no olhar uma estranha ex¬pressão de superioridade ou de desprezo. Estava parado no ar, flutuando perto de mim. A sensação que eu tinha era a de que alguma coisa estava para acontecer, talvez o animal quisesse me propor algo. Nos seus olhos brilhava uma refinada inteligência’. O parapsicólogo, no dia 30 de janeiro, entre 5 horas e 6h30: ‘Eu estava no banheiro olhando dentro do vaso da privada, no qual havia dois peixes. Eles pareciam estar vindo em minha direção, querendo pular fora do vaso. Não pareciam agressivos, mas havia neles uma espécie de aversão ou desprezo pela minha pessoa. Tinham corpos cor-de-rosa, orelhas pretas, e longas caudas pretas. Decidi puxar a descarga, e foi o que fiz. Mas observei que as duas criaturas engancharam-se no encanamento aparecendo claramente visíveis através da parede. A água transbordou, inundando o banheiro de de¬tritos. Olhei desanimado toda aquela sujeira e disse a mim mesmo: eu não vou limpar toda essa porcaria. Acordei em seguida’. O estudante graduado, possivelmente nos dias 28 ou 29 de janeiro: ‘Tive pesadelos a semana inteira e por isso não consigo determinar exatamente a data do sonho. Perto de mim estava um gato que tinha seios de mulher. Tive a impressão de que a criatura era uma gata’. /.../
A terceira experiência foi por nós consi¬derada um fracasso, embora apresentando alguns pontos curiosos. Conversei com Castaneda no dia 19 de março de 1975, quando ele me informou que estivera transmitindo algumas coisas quatro vezes durante aquela semana, e que o faria também no dia se¬guinte. Não comuniquei nada dessa conver¬sa aos membros do grupo. Os dias foram passando, e nada aconteceu. No dia 26 do mesmo mês de março, procurei Castaneda para contar-lhe que até então o resultado tinha sido nulo. Pela primeira vez ele pa¬receu vivamente interessado no meu relato. Disse que havia interferências, que as pes¬soas do grupo tinham bloqueado a comu¬nicação, e que quando a expectativa das mesmas se esgotasse, então, provavelmente, algo aconteceria.
Castaneda, contudo, parecia satisfeito com uma ocorrência que lhe fora relatada pelo parasicólogo, membro do nosso grupo. Um dos seus alunos tivera, naquela semana, uma aparição que o perturbara. Teve uma alucinação na qual uma mulher loura apareceu e acenou para ele. Essa aparição surgiu quando ele se preparava para dormir, e de¬sapareceu tão logo o aluno acendeu a luz. Outro acontecimento tangente merece ser descrito. Uma moça, secretária da UCLA, contou-me que tivera um sonho estranho no dia 5 de março. Nesse sonho, ela vira Castaneda no meio de outras pessoas no inte¬rior de uma sala com a forma de L. Por três vezes, ele tentara lhe dizer alguma coisa, mas foi sempre interrompido. A atenção da secretária foi então desviada para alguma coisa em cima da sua mesa. Prestando aten¬ção, ela verificou que eram dois blocos, de consistência aparentemente granular. Um desses blocos tinha pintado na superfície um peixe. Ela tocou o bloco com a mão, e esse se desintegrou como se fosse feito de areia. Ela então teve medo de tocar o outro, que no momento pareceu conter um desenho de cachorro ou gato.
Castaneda procurou essa secretária, e ela lhe contou pessoalmente o sonho. Ele depois me disse que estava muito surpreso com o fato, pois realmente, no período de 12 a 18 de fevereiro, tivera aqueles tipos de imaginações mentais. Ao saber que essa moça não tinha sido recrutada para compor o meu grupo de sonhos, ele considerou que possivelmente eu a tinha ‘recrutado’ de uma forma inconsciente. Tal suposição perturbou-me um pouco. /.../
“Procuramos estabelecer uma linha metodológica para a análise em conjunto desses sonhos. Precisamos, primeiro, admitir a possibilidade de eles terem sido puramente coincidentes e, portanto, incorretamente atribuídos a Castaneda. Considerada essa hipótese, tentamos aplicar no conjunto as complicadas teorias das possibilidades baseadas em análise dos conteúdos dos sonhos, e elabo¬radas por pesquisadores como Van der Castle. Em poucas palavras, são consideradas as probabilidades contidas numa extensão de 48 horas para os sonhos de três pessoas referentes a uma mesma pessoa. Considera-se também os particulares comuns desses sonhos, como o caso dos cabelos, peixes, ou estranhas espécies de minúsculos animais. Foi considerada a hipótese da sugestão, logo afastada por não apresentar indícios concre¬tos, principalmente no caso da segunda série de sonhos, quando os integrantes do grupo nem sequer sabiam que eram objeto da ex-periência.
Após submeter as séries de sonhos ao crivo das citadas teorias das possibilidades, con¬cluímos, admitindo que essas considerações não sejam pura loucura de seis ou sete pes¬soas, que Carlos Castaneda é possivelmente capaz de introduzir elementos da sua pró¬pria mente nos sonhos das pessoas. Além do mais, temos que admitir também que ele consegue fazer isso através de um interme¬diário , já que, na segunda série de sonhos, e que foi a mais bem sucedida, ele desco¬nhecia quais eram os integrantes do grupo escolhido. E esse intermediário poderia ser eu mesmo, ou minha esposa, que, como já disse, tinha conhecimento da lista de nomes. Uma segunda possibilidade é a de que Cas¬taneda não esteja enviando coisa alguma para todos nós: ele estaria apenas funcio¬nando como catalisador de uma minha ca¬pacidade de transmissão telepática - a qual, caso exista, me é absolutamente desconhecida.” (“As mentes dos homens podem ser sintonizadas entre si: a ciência e o ‘bruxo’ Castaneda estão conseguindo”, in Revista Planeta. N° 37-A, Outubro de 1975, Especial “O Congresso de Bruxaria de Bogotá”. São Paulo: Editora Três, pp. 22-33)
Carlos Castaneda’s Don Juan’s Teachings, in http://www.prismagems.com/castaneda/, tradução minha.
Periódico Uno Más Uno, 1984, entrevista de Carlos Castaneda a Javier Molina, en México.
Periódico Uno Más Uno, Junho de 1984, entrevista de Carlos Castaneda a Carlos Velasco Montes, tradução minha.
Armando Torres. Encuentros con el nagual, pp. 14/15, tradução minha.
WALLACE, Amy. Sorcerer’s Apprentice; my life with Carlos Castaneda. 2 ed. (s/ indicação de edição). Berkeley: Frog, 2007, pp 7, 8, tradução minha. (A edição original é de 2003, esta traz um capítulo extra: “Afterword to the 2007 Edition”). Amy não é justa com vários autores espanhóis de Don Juan, inclusive o original, Tirso de Molina, El burlador de Sevilla y convidado de piedra, e Andrés de Claramonte, Tan largo me lo fiáis, v. http://es.wikipedia.org/wiki/Don_Juan
http://paulocoelhoblog.com/tag/carlos-castaneda/
COELHO, Paulo. O Vencedor Está Só. Rio de Janeiro: Agir, 2008. Apesar das décadas de experiência na profissão de escritor, de pertencer à Academia Brasileira de Letras e do batalhão de revisores, Paulo Coelho comete, e passa pelo crivo da editoração, um erro do naipe de utilizar o pronome oblíquo direto (“os”) no lugar do pronome oblíquo indireto (“lhes”), duas vezes, em frases do tipo: “ninguém os telefonou”, p. 361; pelo menos na primeira edição, que compulsei; mas isso não é tão importante assim.
V. CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, pp. 155 a 157.
Entrevista na casa de Luiz Carlos Maciel, a 8 de julho de 2005. Ele fala também que conheceu Howard Lee, mestre de kung fu e terapeuta, que foi procurado por Carlos quando este estava muito mal, nos anos 80, e que o ajudou a recuperar sua energia. Maciel pensa que Carlos foi dominado pelas bruxas e pelos seres inorgânicos nos anos 90; claro que não concordo com sua opinião. VALLE, Cid Prado (org). Tecnogaia; Revista Independente de Cultura, Pesquisa e Saber. N° 2. Rio de Janeiro: TecnoGaia Cultural/Círculo ETER, Junho de 2007,pp. 148-164. V. Anexo B.
CATAN, Ana. Pelo Caminho do Guerreiro. São Paulo: Saraiva, 1993.
http://donjuan.tribe.net/thread/bb30459b-54bf-490a-a2e4-5019127907c3, http://en.wikipedia.org/wiki/Patricia_Partin, http://www.sustainedaction.org/Chronologies/chron_blue_scoutI.htm
TEREZA, Mariví de. “Las piezas del rompecabeza”, in YOLILIZTLI, Juan. Los Testigos del Nagual; entrevistas a los discípulos de Carlos Castaneda, p. 55, tradução minha.
DELGADO, Edgar. “Mi camino a la impecabilidad”, in YOLILIZTLI, Juan. Los Testigos del Nagual; entrevistas a los discípulos de Carlos Castaneda, p. 46, tradução minha.
TORRES, Armando. Encontros com o Nagual; conversações com Carlos Castaneda. Trad Ana Carolina Yamashita. México: Alba Editorial, 2002, “Creio porque quero”, p. 202. Quem fala é sempre Carlos para Armando, claro; estou usando a edição espanhola, a americana e brasileira, mas todas são feitas pela editora Alba, do México.
MATUS, Lujan. The Art of Stalking Parallel Perception; The Living Tapestry of Lujan Matus. Victoria: Trafford, 2005. (Victoria fica no Canadá)
______. Awakening the Third Eye; Discovering the True Essence of Recapitulation. Charleston, sem editora, 2011. (Charleston é nos Estados Unidos; parece ser uma edição independente, do autor)
______ e BOYCE, Chris. Unveiling the Bible: A Warrior’s Revelation. Edição eletrônica, sem data, que ele fornece no site www.parallelperception.com.
ABELAR, Taisha. A Travessia das Feiticeiras. 2 ed. Trad. Terezinha Batista dos Santos. Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1996, pp 8, 9.
CATAN, Ana. Pelo Caminho do Guerreiro. São Paulo: Editora Saraiva, 1993, pp 17-31.
Idem, ibidem, p 29.
“El tolteca es sabio, es una lumbre, una antorcha, una gruesa antorcha que no ahuma. Hace sabios los rostros ajenos, les hace tomar corazón. No pasa por encima de las cosas: se detiene, reflexiona, observa... El tolteca es un espejo horadado por ambos lados. Suya es la tinta, los códices; él mismo es escritura y sabiduría, camino, guía veraz para otros; conduce a las personas y a las cosas, y es una autoridad en los asuntos humanos... El tolteca es cuidadoso; respeta la tradición, posee la transmisión del conocimiento y lo enseña a otros, sigue la verdad. Nos hace tomar un rostro y desarrollarlo, abre nuestros oídos, nos ilumina. Es maestro de maestros...”, http://es.wikipedia.org/wiki/Neotolteca, tradução minha.
CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. 35 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2011, “Comentários do autor em comemoração ao 30° aniverário de A Erva do Diabo”, pp. 11-23.
TORRES, Armando. Encontros com o Nagual; conversações com Carlos Castaneda. México: Editorial Alba, 2004, p. 117.
Notas de Campo del Antropólogo Carlos Castaneda con información Inédita

Hoja # 1

Sábado abril 8 1962
Cuando estaba por irme a casa don Juan me pregunto:
“y cuando vuelves?”
“en dos meses” le respondí.
“nunca aprenderás, para aprender hay que darle a toda madre sin falta, y tu no tienes voluntad para hacer eso”.
“voluntad tengo, pero lo que no tengo es tiempo”.
“a mi, mi benefactor me llevo a su casa de chico y nunca salí hasta que me hizo hombre”.
Su tono era un poco despectivo y parecía estar molesto.
“¿Cuánto tiempo estuvo con su benefactor?” le pregunte.
“Años”.
“Cuantos años?”.
“Quien sabe”.
“¿Y luego que hizo cuando se fue de la casa de su benefactor?”.
“Me fui de ahí cuando el murió”.
“¿Estaba usted desde chiquito con el?”.
“Pues si, en ese tiempo había mucha necesidad y el me cuido como a su propio hijo”.
“¿Dónde vivieron?”.
“Eso no te puedo decir. Cuando me tienes a mi, mi tiempo, tu no podrás decir donde me conociste, ni donde me viste, ni donde me encontraste, ni como me llamo. Esa es la regla con respecto a los brujos. Esa es la regla cuando se quiere, saber, cuando se tiene buena voluntad”.
“Porque es la regla así don Juan?”.
“Es lo que los brujos decidieron. Del brujo no se cuenta ni sus costumbres, ni su muerte, y uno nunca debe mal usar esos secretos. Te lo digo ahora. No digas nunca donde me conociste, y cuando me muera, nunca averiguen donde se sepulto mi cuerpo”.
“le dije que existían muchas personas que sabrían donde nos

Hoja # 2

habíamos conocido.”
“nadie sabe nada” dijo muy convencido.
“¿y Fernando y don Nacho?” le pregunte.
“Esos son unos pendejos, ni siquiera saben donde se paran.
“¿y su nuera don Juan?”
“Esa no cuenta para nada. Esa es otra vieja pendeja. Pero son otras gentes que cuentan”.
“¿Quién por ejemplo?”
“tu ya sabrás quienes son, cuando te pregunten algún día, cuando te pregunten donde se sepulto mi cuerpo.”
“¿Quién me preguntara?”
“ya veras, la vida del brujo es muy extraña y las cosas le salen a uno al encuentro sin que se las busque o aun quiera”.
Le pregunte otra vez, porque habría de guardar tal secreto
Dijo que “al aprender mas me daría cuenta de que hay cosas que no se pueden decir; que hay cosas que le pertenecen solamente a uno”.
“cuando se mueve en el camino del conocimiento,” dijo “no hay que decirle a nadie lo que uno hace.”.
“no diré a nadie. Se lo prometo don Juan.”.
“Si que lo dirás. Tienes la boca muy grande.”.
“y que puedo hacer para evitarlo?”.
“Nada”.
Quise asegurarle a don Juan que no tenia la mínima intención de divulgar sus secretos, y que como era que los iba a revelar?, si ni siquiera tenia la oportunidad de hacerlo.
“la tendrás y lo dirás” dijo con una afable sonrisa.
“dirás aunque no lo quieras. Pero no vale la pena hablar o platicar de eso.”
“Así que es malo mencionar esos cosas don Juan?”.
“Por supuesto, especialmente para ti. No faltara quien quiera

Hoja # 3

robarte el poder. Te lo robaran porque hablar espanta la fuerza. Hablar roba el poder.
“¿y si yo no quisiera el poder?”
“Para que aprendes entonces si no quieres el poder?”
“pues nomás que para saber”
“no sabes lo que dices, pero ya veras, comprenderás cuando te des cuenta. Cuando sepas más, el poder lo usaras de un modo u otro”.
“le dije que yo solo quería saber, y que en realidad no tenia interés en vivir la vida del brujo”.
“El hombre que sabe, tiene que emplear su poder” dijo “¿ O para que quiere saber? ¿y tu como te las vas a arreglar si te tocan las de malas y tienes que usar el poder del brujo?”.
“tu no sabes como es esa ayuda. Una vez que la empiezas ya no hay manera de pararla.”
“¿Usted dice que no se puede parar la vida de brujo?”
“Pues no se puede. A menos que se llegue a aprender mucho y para aprender mucho hay que usar el poder de brujo. Tu no sabes lo que dices.”
“un hombre de conocimiento tiene que actuar tarde o temprano no se puede vivir nomás que pensando. El hombre que sabe, tiene fuerza para actuar y los conocimientos para todo lo que quiera hacer. Ya veras no hay manera de parar ya cuando uno empieza en el camino del conocimiento. Te lo digo. No se puede parar o cambiar.”
“Uno que sabe llega siempre a ser mas misterioso que la chingada.”
“nadie te podrá detener, si es que llegas a ser un hombre que sabe, un hombre de conocimiento.”
“¿quien es el hombre de conocimiento? ¿ es el brujo un hombre que sabe?” Pregunte.
“puede que sepa, si es que ha seguido de buena ley el camino del conocimiento.”

Hoja # 4

“pero como se sigue ese camino?”
“uno tiene que aprenderse a las buenas del rigor de aprender; y sin mucha prisa, pero sin faltar, uno debe meterse hasta donde se puede, para ir desenredando los secretos del poder y el conocimiento”
“¿puede cualquiera de nosotros ser un hombre de conocimiento?”
“no todos nosotros”
“¿entonces quien puede?”
“El que desafía y vence a los cuatro enemigos naturales, el hombre de conocimiento debe enfrentar a sus cuatro enemigos, después debe pelear con ellos, y luego debe vencerlos. Después de vencerlos. Puede entonces llamarse hombre de conocimiento”
“Le pregunte que si todo lo que se necesitaba era vencer a los 4 enemigos para ser ya hombre de conocimiento” dijo que si podía llamarse hombre de conocimiento, si-
“uno era capaz de vencer a los cuatro enemigos; y que cualquier persona podía hacer eso”.
“¿puede cualquiera de nosotros pelear con los cuatro enemigos, o hay requisitos especiales?” le pregunte
“no hay requisitos, cualquiera de nosotros puede tratar de llegar a ser un hombre que sabe, pero muy pocas personas. - llegan a serlo, esto es muy natural. Los enemigos son formidables pero de a verdad los cuatro enemigos son poderosos, y la mayoría de nosotros, pues nos perdemos”.
“¿Qué clase de enemigos son don Juan?”
“de que vale hablar?, total no vas a entender. las cosas se ponen muy feas cuando no se puede entenderles.”
“pero yo necesito saber don Juan, aunque no entienda”
“ya sabrás a su debido tiempo; eso es si no te pelas por ahí del susto, te diré, no vale la pena platicar de estas cosas - ¿para que?”.
“cree usted que yo seré hombre de conocimiento algún día?”

Hoja # 5

“Y como puedo saber eso? Nadie puede saber lo que le pasara a uno en su camino”
“¿no hay modo de saber?”
“no lo hay. ya te lo dije, todo depende de la batalla contra los 4 enemigos si los vences o te vencen a ti. Pero así nomás no se puede saber eso”
“¿puede usted adivinar con sus poderes?”
“no, porque el llegar a ser hombre de conocimiento es algo que no dura mucho, yo diría que es algo pero demasiado rápido y de este tanto (hizo un gesto de tamaño minúsculo con sus dedos)”
“pero entonces como se puede ser hombre de conocimiento si eso no dura nada”
“pues, uno nunca es hombre de conocimiento del todo. Llegar a serlo no dura nada. No es permanente, uno en realidad nunca es, un hombre que sabe. lo que pasa es que uno tiene un instante de “luz”, de verdadero conocimiento después de vencer a los cuatro enemigos”
“Dígame don Juan ¿Qué clase de enemigos son?”
“no vale la pena platicar; y no vamos a platicar. Tú siempre quieres platicar y platicar de todo ¿Qué no te cansas? yo no tengo esa necesidad, a mi no me gusta la platica”
“yo le seguí discutiendo que para mi modo de pensar el único modo de entender era a través de la platica, pero don Juan se puso serio y dejo de hablar. No quise irme dejándolo molesto así que me quede todo el día con el”

2 PM

En la tarde nos pusimos a hablar de los cristales mágicos de los brujos. Un tópico que no acabo de discutir la ultima vez que lo visité.
“hay tres modos de ver espíritus” dijo don Juan “hay tres clases de espíritus. Los espíritus que no dan nada, porque no tienen nada que dar, los espíritus que cuentan, porque esos si-

Hoja # 6

Domingo abril 15, 1962

Otra vez volvimos hoy a conversar de los enemigos del los hombres de conocimiento, y de nuevo nuestra conversación tuvo lugar a ultima hora, ya cuando me iba a casa. Le pregunte de nuevo quienes eran esos enemigos. Yo esperaba que no me lo dijera, sin embargo me lo explico detalladamente.
“cuando uno empieza a aprender” dijo “nunca se sabe lo que va a encontrarse”
“el camino nunca esta claro. El propósito esta lleno de fallas; la intención es vaga. Uno anda siempre confundido porque espera que pasen cosas que nunca pasaran, porque no sabe lo difícil que es el conocimiento, uno no sabe los trabajos que cuesta el aprender.”
“pero uno aprende así, poquito a poquito al comienzo, luego mas y mas, y los pensamientos se dan de topetazos y se hunden en la nada. Lo que se aprende no es nunca lo que uno hubiera querido, y así se empieza a tener miedo. El conocimiento no es nunca lo que uno esperaba. cada nuevo paso es un atolladero, y así sin mas ni mas el miedo se le sube a uno al pescuezo y comienza a apretarlo sin misericordia y no se puede hacer nada porque el propósito, es un campo de batalla. Y así es como se tropieza con el primer enemigo, el rival de uno, el miedo. Un enemigo terrible, traicionero y enredado como los cardos, se halla siempre acechando por ahí, escondido, siempre escondido, en cada rendija, el miedo nada más esta siempre esperando.”
“y si uno se llena de terror y se pela, el primer enemigo acaba con sus ganas”.
“¿Qué le pasaría a uno si corre así?”
“nada, solamente que uno nunca aprenderá, nunca llegara a ser un hombre que sabe. Uno llegara a ser tal vez un maleante, o un cualquier cobarde lleno de miedo, un hombre.

Hoja # 7

“Vencido, un hombre al que el miedo le acabo las ganas”
¿se puede hacer algo para vencer al miedo?”
“se puede y es muy simple. uno debe desafiar al miedo y a pesar de su miedo uno debe seguir aprendiendo, y debe dar otro paso, y otro, y otro. Se debe tener miedo, pero aun así se debe seguir y no parar y menos aun correr. ¡esa es la regla! y llega un momento en que el primer enemigo se vuelve atrás y uno empieza a sentirse seguro y tranquilo. La intención se hace aun mas fuerte, el conocimiento no es ya tan espantoso
“cuando ese momento llega, se puede decir a lo macho, que ya esta venciendo al miedo y el miedo se va desvaneciendo poco a poco, al comienzo, hasta que de repente el miedo se pela de sopetón”.
“¿y uno no tendrá miedo ya nunca mas?” pregunte.
“no una vez que se ha vencido al miedo, se esta libre para el resto de la vida, porque en lugar del miedo, se tiene la claridad. La claridad es la que desvanece al miedo. Para ese entonces ya uno sabe sus deseos y como satisfacer esos deseos. ya se pueden anticipar los caminos, y una claridad nítida rodea a todo. Uno siente y sabe que nada puede estar oculto ya mas”.
y así sin esperarlo, se encuentra uno ante el segundo enemigo. La claridad. Esa misma claridad que desvaneció al miedo y que es tan difícil de lograr, también enceguece. La claridad lo fuerza a uno a no dudar y le da seguridad, la seguridad de que puede hacer lo que se le de la gana, porque todo lo que uno ve, lo ve con claridad. Y como es valiente porque ve claro, y uno no se detiene ante nada porque ve claro. Pero eso de ver claro es un error, es como si se viera claro, pero incompleto.

Hoja # 8

“si uno cree en esa ilusión de poder hacer lo que se le de la gana, uno se ha dejado vencer por el segundo enemigo, uno se ha dejado cortar, y no se puede aprender mas, porque el conocimiento se le va de entre las manos. Y como se impacienta cuando debe ser generoso, o es generoso cuando debe ser impaciente”.
“El conocimiento se cae de entre las manos. y se acaba por no aprender mas”.
“¿Qué le pasa a uno si ese enemigo lo vence? se muere?”
“no uno no muere, el segundo enemigo nada mas le ha puesto a uno las manos, y lo ha parado en seco. Ya no se podrá jamás llegar a ser un hombre de conocimiento, se podrá solo llegar a ser un valiente lleno de fuerza o un generoso muy suave. pero aun así, su claridad por la que se pago tan caro no lo abandonara y ya nunca mas le temerá uno a la oscuridad del miedo. Uno vera claro por el resto de su vida, lo único es que ya no deseara aprender, ni deseara ya nada mas”
“¿Qué se debe hacer para vencer al segundo enemigo?”
“se debe proceder como con el miedo, se debe encarar la claridad y usarla solo para ver claro se debe esperar pacientemente y medir bien antes de tomar un nuevo camino. uno debe pensar sobre todo que su claridad es como un error. y llegara así el momento cuando se entiende que la claridad es solo un puntito delante de los ojos. así es como se vence al segundo enemigo, y se llega a una posición donde ya nada lo puede tocar a uno, ya nada le puede hacer daño y eso no es ilusión, ni tampoco un punto delante de los ojos, Ese es el poder. El nuevo rival uno sabe para ese entonces que el poder que había estado persiguiendo, ya es finalmente de uno, esta vez si que se puede hacer lo que se le de la gana, uno tiene para”.

Hoja # 9

“ese entonces aliados y los comanda, su deseo nomás es ley uno ve claro y parejo todo lo que se le presenta, todo lo que le rodea, pero así mismo uno se topo también con el tercer enemigo, el poder. El mas fuerte de todos los enemigos. Y como es natural lo más fácil es abandonarse a el. Después de todo uno es de veras invencible. Si se encuentra poder. Y así uno empieza a tomar riesgos, riesgos muy calculados al principio y acaba haciendo leyes, reglas, porque uno es invencible, uno es el amo del poder, y ni siquiera nota que el tercer enemigo esta acechándolo, de pronto sin saberlo o sentirlo se pierde de vista y el tercer enemigo lo vence a uno y lo vuelve caprichoso y malo”
“¿Cuándo un hombre a sido vencido así, pierde su poder?”
“uno nunca pierde el poder o la claridad”
“¿pero entonces cual es la diferencia entre un vencido y
-un hombre de conocimiento?”
“el hombre vencido por el tercer enemigo, nunca sabrá jamás como se debe manejar el poder, para el el poder es como una maldición”
“cuando a uno lo vence el tercer enemigo, uno no tiene control sobre los deseos, uno es a madres engreído y por lo tanto no se puede saber cuando o como usar el poder”
“le pregunte a don Juan, si la derrota es un acto final?”
No me entendió y nos pusimos a discutir, hasta que le xplique que lo que quería saber era si uno podía huir y volver a la arena y seguir luchando después de una derrota.
“cuando uno de los enemigos gana la mano ya no hay nada que hacer, y a los deseos de llegar a ser un hombre que sabe se los lleva la chingada y uno tiene que resignarse, porque no hay nada que hacer”

Hoja # 10

“¿es posible que las derrotas que causa el poder sea nomás que una cosa de tiempo? Y que pueda uno recuperarse y vencerlo?”
“si es una cosa de tiempo, entonces uno no ha sido vencido. La batalla sigue; si sigue tratando de llegar a ser un hombre que sabe, uno puede considerarse vencido solo cuando a uno ya no le importa nada mas cuando ya no hay mas ganas”.
“¿puede abandonar uno la lucha por años? por ejemplo; abandonarlo por miedo para luego volver y vencer al miedo?”
“!No¡ eso no es posible. No se puede sucumbir al miedo y luego vencerlo cuando se sucumbe ya no hay nada que hacer. No se puede aprender ya mas porque el conocimiento da miedo, y uno no hace nada de aprender. Pero en cambio si se trata de aprender por años a pesar del miedo, uno al final acabara por conquistarlo porque uno no se ha echado a perder”
“¿y como se vence al tercer enemigo, don Juan?”
“uno tiene que enfrentársele al desafió, y espolearlo, y darle duro; uno tiene que darle al poder con mucha cabeza. Uno tiene que entender sobre todo que el poder que parece conquistado no es en realidad nunca de uno. Sin entender esto uno se pierde para siempre entre las rendijas de uno mismo. Pero si se usa el poder con medida, uno se va dando cuenta de que hay solamente un modo de proseguir. El seguir fiel y respetuosamente lo que se ha aprendido en el camino del conocimiento. Solo así se puede ver que la claridad y el poder sin el control sobre lo que es “uno mismo” son fines que no (il) valen”
si uno se da cuenta de que hay maneras de seguir con paciencia y medida, se llega a un punto donde todo, absolutamente todo, esta bajo control. Para ese entonces ya se sabe como y cuando usar el poder. Así es como se vence al tercer enemigo pero para ese entonces ya se esta al final de la travesía por El camino del conocimiento. Y casi sin darle tiempo a uno, casi sin aviso, uno se da el sopetón con el ultimo de sus enemigos

Hoja # 11

“la vejes, El mas cruel de todos, el enemigo que no se vencerá jamás. El enemigo al cual uno nomás que puede ahuyentar por momentitos. para ese entonces ya no se tiene el miedo que oscurece todo o la claridad que lo vuelve a uno impaciente. Para ese entonces todos los poderes están bajo control. Pero uno tiene en cambio un deseo invencible de descansar. y si uno no se las pelea con su adversario y su deseo de (¿huir?)(il) si uno se recoge en la vejes se pierde la ultima (¿batalla?) (il) y el cuarto enemigo lo vuelve a uno una criatura inútil. el deseo de descansar y olvidar dominaran a la claridad, al poder y al conocimiento”.
“pero si uno se despega del cansancio, y vive como manda su destino, hasta el ultimo tirón, uno puede entonces llamarse Hombre de Conocimiento. Aunque solo sea por esos momentitos cuando se logra ahuyentar al ultimo, al enemigo invencible esos momentos de claridad, de poder y de conocimiento son suficientes”.
Don Juan se acostó contra el horcon de la ramada y miro hacia los cerros del bacatete en la distancia, a mi me invadió una extraña melancolía y dije por decir
“a la vejes no se puede evitarla”
“no, ya vez, a mi me ha tirado al suelo” don Juan dijo “ya me anda correteando, ya me hunde muy seguido”
Su voz era seria y enfática, su manera era sencilla y a la vez histriónica, el drama estaba encerrado en su tono sobrio. un tono que me hizo dudar en ese momento, que don Juan parecía un personaje inmortal, joven y eterno, que solo estaba jugando a ser viejo
“usted es un verdadero hombre de conocimiento, don Juan” le dije con sincera admiración.

Hoja # 12

Me miro con una expresión medio seria y luego se rió
“¡No le Hagas!” dijo
No parecía estar triste o cansado o sentirse de ningún modo diferente al don Juan que conozco. Sin embargo había algo en su aire que me había hecho entender, por primera vez, la intensidad con la que luchaba contra el último enemigo, su enemigo invencible.

Conteúdo obtido no endereço eletrônico Carlos Castaneda y chamanismo - http://www.geocities.com/castanedaychamanismo/raiz/notas-de-campo-de-cc.html - transcriptor: Owe.
CASTANEDA, Carlos. CASTANEDA, Carlos. A Erva do Diabo - Os Ensinamentos de Dom Juan. 35 ed. Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro: Nova Era, 2011, pp. 112 a 118.
“Chingada madre”, correspondente a “puta que o pariu”, em espanhol; algo como “mother fucker”, em inglês.
Este artigo pode-se ler no link http://www.consciencia.org/castaneda/casmaciel.html
“Carlos never got his M.A. Instead, he continued taking upper-level classes and began the second book, the plan being to go directly for his Ph.D”. In CASTANEDA, Margaret Runyan. A Magical Journey with Carlos Castaneda; Life with the famed mystical warrior. San Jose, New York, Lincoln, Shangai: iUniverse, 2001, p. 147.